Ao abrir os olhos, tive que piscar algumas vezes, pois parecia que ainda os mantinha fechado. Primeiramente, pensei que havia ficado cega, mas após alguns instantes, percebi que o lugar que eu estava é que era escuro demais. Aos poucos, meus olhos se acostumaram com a escuridão e eu pude ver melhor. Não havia janelas, apenas o colchão em que eu estava deitada e duas portas, não precisei levantar e tentar abri-las para saber que estavam trancadas. O lugar estava cheio de infiltrações nas paredes cinzas, o que deixava ali uma sensação de frio.
Repassei os últimos acontecimentos em minha cabeça, ainda um pouco desorientada. Como havia parado ali mesmo? Forcei minha mente a lembrar, e, aos poucos, as memórias foram voltando. Oh, Aiden e Peter! Eles haviam sido os responsáveis por me raptar! Uma sensação de tristeza invadiu com força o meu âmago, eu confiava em ambos. E os dois me traíram, da pior forma possível. Me entregaram para o monstro que me queria fazer mal. Só então fui reparar que minhas roupas haviam sido trocadas, agora ei vestia uma calça de moletom e uma blusa de flanela, e em minhas mãos haviam algemas que me prendiam a parede. A única coisa que permaneceu comigo, fora o anel que Stiles me deu.
Com um suspiro, eu pus na minha cabeça que teria que achar um jeito de sair dali, o mais rápido possível. Contudo, como o faria estando acorrentada ali? Não poderia usar minhas mãos, obviamente. Passei as horas seguintes tentando bolar um plano, mas nada me veio a cabeça, eu estava com fome demais para isso. Devia ter ficado desacordada tempo demais, e somando com as horas que eu estava acordada e cativa, devia ser compreensível minha fome.
Durante todo o tempo que fiquei ali, não chorei nenhuma vez, apenas me limitei a encarar o nada, apesar de estar com medo, estava confirmada. No fundo, eu sabia que, apesar dos esforços de Sites, Deucalion conseguiria pôr as mãos em mim, mesmo que demorasse. Apenas aconteceu antes do que eu esperava, e de uma forma pior do que a que imaginei. Ao lembrar de Stiles, um suspiro involuntário saiu dos meus lábios. Será que ele já sabia que eu havia sumido? Stiles iria me procurar, tentaria me resgatar? Enquanto eu não conseguir pensar em um plano, um resgate por parte do meu namorado é a única chance que eu tenho de sair dali com vida.
O sono chegou, pouco tempo depois, a fome me fez permanecer acordada por mais tempo que eu queria. E talvez o medo que eu sentia também tenha ajudado, mas, no final, o sono acabou vencendo. Me deixei embalar num sonho doce, onde eu estava livre, na casa de Stiles, numa tarde ensolarada na piscina, rodeada pelas pessoas que eu amava. Ate mesmo meu sogro e a mãe do Scott estavam lá. Quando eu acordei, não sei quanto tempo depois por não ter noção de hora ali dentro, a primeira coisa que fiz foi chorar.
Talvez minha conformidade tenha passado durante a noite, e o desespero tenha tomado conta. O medo de nunca mais ver os rostos que eu vira no sonho me atingiu com uma força enorme, apenas de pensar em nunca mais ver minha doce irmã Lucy sorrir, de não mais ver Allison nem Stiles, meu coração se apertava. Passei longos minutos deitada, chorando, ate ouvir um barulho na porta que ficava de frente para o colchão. Me sentei, apoiando as costas na parede e encolhi minhas pernas, abraçando meus joelhos com os braços, com a limitação que as algemas permitiam, como se aquilo fosse me esconder de quem quer que estivesse para entrar ali.
Uma fresta de luz entrou no quarto quando o homem alto entrou porta adentro, e ela fora o suficiente para que eu reconhecesse a pessoa.
- Aiden. - Eu sussurrei com desgosto, sem me importar em esconder as lagrimas que ainda escorriam dos meus olhos.
- Quase. - O moreno se aproximou do colchão, trazendo em sua mão uma bandeja. - Sou Ethan, o irmão gêmeo do Aiden. - Eu assenti, passando as costas das minhas mãos nos meus olhos, tentando afastar as lágrimas. Já havia conhecido Ethan, a versão gay de Aiden, ele fora um amor durante toda a noite, na balada em que havíamos nos encontrado, foi empatia a primeira vista. Equivoco meu.
- Hm. - Foi o que eu respondi, me encolhendo mais. As algemas estavam machucando minha mão, graças a posição, mas não tive vontade de me mover dali.
- Você deve estar com fome, não? - Ele se aproximou mais, sentando na ponta do meu colchão. .- Sei que esta assustada. Mas eu não vou te machucar. Só quero ajudar. Deucalion te deixou o dia todo sem comida ontem, e boa parte do dia de hoje, só permitiu que trouxesse agora.
- Que horas são?
- Claro, você deve estar perdida. - Ethan colocou a bandeja na minha frente, para então averiguar a hora no relogio que trazia no pulso. - São 11 da noite. Você ficou desacordada o dia inteiro de ontem. Aiden ficou preocupado, pensou ter usado Clorofórmio demais. - Não sei qual noticia me surpreendeu mais, se era a de que eu já estava a dois dias presa, ou se a de que Aiden estava preocupado.
- Ele se preocupou comigo? - Não contive a ironia que transbordava em minha voz. - Pois devia ter se preocupado antes de me jogar nas mãos de um homem que quer sabe-se lá Deus o que comigo!
- Coma. - Ethan mudou de assunto, empurrando a bandeja para mais perto.
Apenas naquele instante me permiti olhar para ela. Havia pouca coisa, um pão, uma torrada e um copo de suco, contudo, com a fome que eu estava, aquela pouca comida seria considerava um banquete. Foi um pouco difícil comer com as mãos algemadas, mas não impossível. Não me importei com os modos, devorei tudo, que não era muito, em menos de 5 minutos, e, mesmo após comer, eu sentia meu estômago protestar de fome, mas eu não reclamei.
- Hm, eu estou realmente apertada. - Murmurei meio sem jeito, já fazia um tempo que a vontade de usar o banheiro me afligia.
- Desculpe. - Ethan balançou a cabeça e riu brevemente, se aproximando de mim.
Num reflexo, eu me encolhi mais perto da parede, mas ele, ainda assim, deu fim a distancia e, com uma chave tirada do bolso, desprendeu minhas mãos da algema. Automaticamente, virei meus olhos para a porta, calculando se conseguiria fugir dali ou não, contudo, Ethan se adiantou, negando com um balançar de cabeça.
- Se eu fosse você, não tentaria isso. Ha guardas nos corredores e eles são muito bem treinados. Alias, você não passaria nem por mim. - Ele me deu um sorriso prepotente.
Não senti raiva, apenas soltei um suspiro e aceitei a ajuda dele para me levantar. Minhas pernas não me davam segurança, por isso, deixei que Ethan praticamente me arrastasse para a porta fechada que eu ainda não conhecia, a qual julguei ser o banheiro. Ele destrancou a porta e a abriu, possibilitando a mim ver o interior dela. O banheiro era todo de azulejo branco, e parecia ser mais bem cuidado que o “quarto” em que eu ficava, nele havia um chuveiro, um vaso e uma pia apenas.
- Duas vezes ao dia, eu ou outra pessoa vira te dar comida e levar ao banheiro. - Ethan informou, se escorando no batente da porta. - Vá tomando banho que eu tratei novas roupas.
Eu apenas assenti, não fazia sentido responder. Esperei que ele fechasse a porta, aguardei mais alguns segundos e ouvi o barulho do trinco sendo trancado. No modo automático, me livrei das minhas roupas e abri o box, entrando no chuveiro. E, meia hora depois, eu já estava novamente no meu “quarto”, sentada no colchão e algemada, agora com roupas novas, mas parecidas com as antigas. Ethan havia me deixado sozinha, após me algemar de novo. O medo voltou com força total, eu ainda sentia fome, apesar de ser mais branda, eu sentia frio, tendo apenas uma fina coberta para me esquentar.
Eu me encolhi no colchão, cobrindo-me ate o pescoço com o cobertor que cheirava a mofo. Pela primeira vez em muito tempo, eu rezei. Pedi a Deus que, caso ele ainda olhasse para sua pobre filha pecadora, que ele me livrasse daquele lugar. Estava ali a um dia e sentia que logo enlouqueceria, caso não fosse morta antes. No meio de minha prece, eu acabei dormindo. Dessa vez, eu não sonhei com as pessoas importantes para mim, pelo contrário, meu sonho foi povoado por pessoas que queriam me ferir.
Infelizmente, esse pesadelo não teve fim quando eu abri os olhos. Ao acordar, dei de cara com um homem alto, com cabelos castanhos e olhos claros, um pouco mais atrás estava Aiden, ou Ethan, eu não saberia dizer. O homem eu conhecia apenas por fotos e era a última pessoa que eu gostaria de ver naquele meu cativeiro. Deucalion, a quem eu havia visto em fotos na TV quando a morte de Hearth foi anunciada, me encarava com uma expressão calma, em pé, ao lado do colchão. Num instante eu estava sentada e encolhida, queria me fundir a parede, ou que um buraco aparecesse no chão e me engolisse, me levando aos confins da terra.
- Stiles sempre teve bom gosto para mulheres. - Ele sorriu para mim, como se aquilo fosse um elogio, mas, em vez de me sentir lisonjeada, aquilo me causou nojo e eu me encolhi mais. - Mas veremos se vai continuar tão linda depois que de eu acabar com você. - Não sei se foi minha expressão assustada ou meu olhos arregalados, mas Deucalion riu, achando graça no meu espanto. Ele agachou na minha frente e apertou minhas bochechas entre o dedão e o indicador. - Você vai pagar por ter entrado no caminho da felicidade da minha filha. E pagara mais caro ainda por ter tirado a vida dela.
Toda a graça se fora, e o homem assumiu uma postura ameaçadora, em seus olhos eu pude contemplar a loucura. Se antes eu estava assutada, agora eu beirava a um ataque de pânico. Um tapa forte fora desferido em meu rosto, eu não tive forças para tentar escapar do golpe, apenas consegui chorar. Deucalion agarrou meu cabelo e bateu minha cabeça contra a parede, fazendo-me ficar tonta no mesmo instante.
- Não, por favor. - Eu encontrei minha voz, finalmente, sussurrando em um tom frágil. Eu não me importava em implorar pela minha vida. - Eu não queria machucar ela, nunca quis interferir na vida de ninguém. - Meu choro saiu mais agudo, minha cabeça latejava.
- Não chore, querida. - A voz, outrora assustadora, ficou amorosa e Deucalion acariciou minha face. - Eu sei, a culpa não foi sua, você não sabia com quem estava se envolvendo. Mas Stiles devia fidelidade a minha garota, é ele quem tem que pagar. Você é apenas um meio para isso. Um jeito de fazer aquele infeliz sofrer, não é nada pessoal. - O tom de voz dele deixava tudo mais assustador, por isso, eu chorei mais. - O único culpado por seu sofrimento é Stiles, não se esqueça disso.
- Por favor, me deixe. - Eu tentei novamente, apesar dos soluços que escapavam da minha boca terem transformado a frase em algo incompreensível.
- Shii. - Deucalion pressionou o indicador sobre minha boca, impedindo que eu continuasse a implorar. - Guarde sua voz para nossa brincadeira mais tarde. Iremos gravar um pequeno vídeo para que Stiles veja como você está sendo bem cuidada. Eu irei te torturar, tentar arranjar informações sobre Stiles que eu sei que você não tem. Mas lembre-se, não é pessoal.
Ele se levantou, ajeitou as roupas e virou-se para o moreno que o acompanhava.
- Pode alimentar ela, quero que consiga gritar bastante durante nossa sessão. - E então saiu.
Se possível, meu choro se tornou ainda mais intenso. Um medo sem precedentes tomou conta de mim. Eu queria minha casa, queria meus amigos, queria qualquer coisa que fosse familiar para mim, ate mesmo preferia estar me deitando com um homem desconhecido a estar ali.
- Me desculpe. - A voz conhecida de Aiden chamou minha atenção. Sabia que era ele porque Ethan não tinha motivos para se desculpar.
- Eu te odeio. - Murmurei ressentida, a voz fragil não me deu muita credibilidade. - Eu confiava em você. - Continuei, abaixando a cabeça.
- Eu sei, me desculpe. - Ele suspirou, e saiu do quarto.
Pensei que ficaria sozinha, mas ele voltou, 5 minutos depois, trazendo uma bandeja numa mão e uma muda de roupa na outra. Era difícil encarar o rosto dele sem me sentir apunhalada, não sabia dizer qual traição havia sido pior, a dele ou a de Peter. Talvez a de Aiden superasse porque o considera um amigo, além de um ótimo amante, havia confiado nele o suficiente para compartilhar minha cama sem ser por obrigação.
- Não quero você aqui, prefiro o Ethan. - Disse, quando ele colocou a bandeja na minha frente e foi deixar a roupa no banheiro. Dessa vez, havia um prato fundo com sopa, um pão e um copo de suco. Não era a melhor das refeições, mas não reclamaria.
- Ele não pode vir.
Eu não prolonguei o assunto, apenas enxuguei as lágrimas que ainda escorriam do meu rosto e comi em silêncio, sabendo que Aiden ainda me observava. Não pude deixar de me perguntar o porquê dele ter me entregado para Deucalion, ou o porquê dele estar ali ainda, junto de Ethan. Já trabalharia para o mafioso ainda de me conhecer? Aquilo era coincidência demais para meu gosto. Talvez perguntasse na próxima oportunidade para Ethan, me sentia melhor conversando com ele, afinal, ele fora o gêmeo que não me traiu.
- Eu vou querer saber o que acontecera mais tarde? - Eu perguntei, após ter tomado banho e voltado para o quarto.
- Não, não vai. - Aiden respondeu, depois de um silêncio desconfortável. - Apenas se prepare, não vai ser fácil.
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