◻
Como a sorte já estava virando algo ausente no meu dia a dia, quando cheguei na sala de estar, lá Gaara estava sentado na poltrona com os ombros encolhidos e um rosto perturbado. Com olhos vermelhos e uma expressão tensa, e uma visível respiração contada me deixa com receio de ele ter um possível crise ansiedade ou ataque de pânico, já havia acontecido outras vezes mas já fazia bastante tempo. Com o tempo aprendemos a lidar e apoiar ele de maneira a evitar as situações. Ele indo a um psiquiatra e a um psicólogo mensalmente também havia ajudado muito em um progresso, mas é impossível tentar evitar todos os gatilhos.
—Temari, eu acabei com sua vida, eu te destruí – começou a murmurar enquanto se encolhia e abraçava o próprio corpo — me desculpe, por favor, eu não devia ter falado do filho dele durante a reunião – ele levantou e observo que ele está tremendo e a respiração se torna ofegante, me aproximo com calma dele e levo a mão em seus ombros, porém ele se levanta desviando do meu toque e começa a falar novamente
– O Pai não ouve, nem eu nem o Kankuro, eu não queria isso, por favor me perdoa, eu quero te ajudar a sair disso, vo-você é a Temari! — diz sorrindo em desespero e apontando para mim com as duas mãos — Você sempre dá um jeito, não é? — ele cita começando a passar as mãos nos cabelos com violência e a puxá-los, vejo que eles está hiper-ventilando e uma sensação de medo se apossa em mim. Vi uma lágrima escorrer em seu rosto e aquilo dá um nó na minha barriga.
Eu tinha lido e pesquisado muito sobre e sabia como lidar, tanto por experiência, por conversar com os médicos dele, quanto por pesquisar sobre; contudo, toda vez que acontecia, o mesmo temor corria pelo meu corpo. Hoje não é tão evidente como antes, graças a consultas e tratamentos, e infelizmente, na época em que começou a ter depressão eu por influência de alguns da família me afastava e contribuía para que a doença piorasse. Muito tempo depois eu me toquei que era meu irmão e que eu precisava ajudá-lo, porém ele já tinha perdido toda a infância com medos e já passava o início da adolescência com sequelas de traumas que poderiam ter sido evitados. Por talvez uma conversa e uma abraço poderiam ter o ajudado.
– Gaara – Digo com a voz mansa e tentando transparecer toda a calma que conseguia – Não é culpa sua – falo com um sorriso fraco para o acalmar e me aproximando de seu braço o tocando levemente com receio de que desviasse novamente de meu toque, mas por sorte ele mantem o corpo e apenas começou a chorar alto. O abraço levemente e faço carinho singelo em seu pescoço – Eu vou dar um jeito – falo em um tom baixo e logo me lembro que a forma de acalmá-lo é dá-lo certezas de soluções – Eu já pensei em algo, tá bem? Está tudo bem – falo e sinto ele me devolver o abraço, apertando minha cintura e abaixando o rosto na altura do meu ombro — Eu sou a Temari — digo no mesmo tom que ele me disse mais cedo e ele concorda sem dizer nada.
Meu celular vibra e presumo ser Sakura me mandando mensagens. Respiro fundo, eu precisava conversar com ela. Sinto meu irmão parar de chorar e aos poucos e seus braços afroxarem um pouco a força, já não o sinto tremer e sua respiração se acalmou, tinha acabado. Ele provavelmente tinha tomado a medicação que o ajudava a se acalmar e com minha assistência ele ficaria bem. Deixo um suspiro de alívio escapar de meus lábios.
– Vem, eu te ajudo a ir para o seu quarto – falo afastando um pouco seu rosto e o encarando. Seus olhos estavam inchados, se misturando com as olheiras e seu nariz estava vermelho. Passo as mãos em seu rosto com carinho e vejo os olhos dele marejarem de novo. O acompanho até a cama, ficando ao seu lado mexendo em seu cabelo até ter certeza de que ele havia realmente dormido. Ele tinha problemas com insônia e dormir sem remédios para a insônia era algo raro então eu realmente velei o sono dele por um tempo, logo me levantei peguei meu celular e fui para o banheiro, ligando para a Sakura que atendeu na primeira chamada:
—Diga amore – disse Sakura num ânimo admirável e parecia muito feliz.
— Oi Sakura, desculpa não ter respondido as mensagens que mandou, eu tive alguns problemas aqui – falo suspirando ligando a banheira e esperando encher
– Um segundo – falou com a voz um pouco mais séria, ouço alguns murmúrios e logo ela volta – O que aconteceu, Tema?
Então contei sobre o comportamento do meu pai, o que ele fez, sobre a reação dos meus irmãos, sobre ele estar irredutível. Enfim, contei tudo a ela e recebi de volta seu silêncio
– Você me faz mais mal quieta que falando besteira – murmuro e ela ri. Mexo na água da banheira, que já estava cheia, logo tirando a roupa e entrando, me ajeitando – Fala alguma coisa, Saky
— Tema, você sabe que eu tô noiva né? — diz e murmuro que sim — De um casamento arranjado! Conhece o cara, vê a primeira impressão e tenta explorar o que der e vê as atitudes dele — diz de maneira animada e eu apenas suspiro negando para mim mesma — Eu sei que pode ser algo estranho, mas talvez seja interessante.
—Saky com você foi diferente, vocês já tinham uma boa impressão um do outro, e você tinha interesse por ele —diz afundando na banheira — e tinham amigos em comum, tinham convivência e tinham interesse de ficar com ele. Eu ouvia uma hora de áudio no Waaatzap de você falando dele — comenta quase como uma reclamação.
— Admito que ele sempre me chamou atenção e que já tínhamos nos aventurado algumas vezes antes do noivado, mas o que ele fez de tão ruim que você não quer nem se encontrar com ele?
—Vou colocar por gravidade ou alfabética? Nas poucas vezes que nos encontramos ele estava bêbado e tentou me arrastar pelo pulso, quase me derrubou da sacada, já tentou me agarrar, ficava me perseguindo durante as festas, fora que que ouvi que ele é uma pessoa violenta – Falo apoiando a cabeça na banheira e pensando na gravidade do que tava acontecendo.
— Eu tentaria te agarrar – murmurou do outro lado da linha me fazendo rir soprado e murmuro um "tarada" baixo – Mas provavelmente eu levaria um soco bem forte — fala a me fazendo rir mais ainda — Você não quer vir para cá? — pergunta baixo, como um segredo — Você fica na minha casa até a poeira abaixar.
— Fugir e deixar meus irmãos? — pergunto expressando o quão absurdo era a ideia — Deixar o Gaara de novo? Não consigo, isso é impossível — digo em um ponto final.
–Olha, eu vou te apoiar em todas suas alternativas, você só precisa pensar um pouco. Se organizar, tenho certeza que vai escolher o certo – fala me fazendo me sentir pouco pressionada. Parte de mim nunca gostaria de ter de lidar com aquela escolha – Aqui já é madrugada, eu estava assistindo um filme com Sasuke, eu preciso voltar, quando decidir ou precisar de ajuda pra decidir me liga, pra você sempre estou disponível – fala baixinho e a imaginava sorrindo – Até mais, Tema
— Vou pensar, obrigada, Sakura, boa noite, aproveita teu noivo.
– Eu já aproveitei – fala com malícia – Não se esqueça de jantar, Temari – fala apressada e bufo, rindo baixo quando ela fala "é sério" e desliga. Fiquei mais um tempo na banheira antes de sair, quando começo a sentir a água fria começar a me fazer arrepiar
Gaara ainda estava lá, dormindo de maneira serena e aquilo me deixa tranquila por dentro, eu não consigo imaginar eu longe dele, não de novo, não agora, isso faz meu coração doer.
Fui até na cozinha para cumprir a ordem recebida de jantar, mas parei ao ouvi um barulho estranho, já armei minha guarda e cheguei aos poucos, peguei por trás dei um golpe de judô no ser que estava ali, e aos ouvir o gemido reconheci que era meu irmão mais velho. O solto com raiva
—IDIOTA! QUASE ME MATOU! SEU FILHO DA-
—NÃO COLOQUE O NOME DA MAMÃE NO MEIO, e calma, merda — diz balançando o braço com dor e eu ameaço o ajudar e ele apenas se afasta — Eu não vi o Gaara e tenho pressentimento de que ele não tomou o remédio dele para dormir, e ele brigou feio com o pai, até falou que largaria a administração da empresa se ele o fizesse, mas ele não mudou de opinião – disse e ficou um silêncio estranho entre nós. Seus cabelos castanhos estavam bagunçado, como se tivesse passando as mãos por ele várias vezes e seu olhar parecia um pouco cansado. Respirei fundo e passei por ele, indo até o armário peguei a cápsula de café, e coloquei na cafeteira. Logo o som da maquina preencheu o silêncio.
—Temari, o que você vai, hm, fazer? –Comentou baixo
— Não sei ainda, tenho que pensar até terça para pensar, talvez consiga falar com o pai em meio a isso — fala pensativa e fazendo o irmão suspirar
—Tema você sabe que ele é violento e que te dizem que ele já assediou outras garotas em festar — diz pontuando nervoso — ele não é uma pessoa boa, por favor, não me diga que está levando essa ideia a frente, pelo sangue de kami-sama.
— Kan., eu sei — falo frustrada passando as mãos no cabelo — mas eu não tenho outra saída!
— Temari, mata ele, sei lá – comenta começando a elevar a voz, a deixando mais alta que o som cafeteira. Rio fraco o fazendo rir também de nervoso. Pego um biscoito em um pote, me apoio na bancada e passo a o encarar – Vai embora e volta quando tivermos resolvido isso – fala e me engasgo começando a tossir
— Como? –falo com a voz elevada
— Mas Tema, é só por um tempo — explica antes que eu rebatar — É só até o pai entender a situação, não quero você com aquele sujeito, não por ser ciumento, mas por querer seu bem — fala ficando com a voz baixa — Olha Temari, você sabe que por você e pelo Gaara, sou capaz de fazer qualquer coisa. Eu mataria aquele sujeito se eu pudesse – fala sussurrando – Pensa bem, você acha que o Gaara vai ficar feliz em ver você com ele? – fala me encarando com um rosto com um olhar com preocupação – É capaz de ele ter uma decaída, e-eu nem sei.
— A Sakura disse a mesma coisa, ela disse que me acolheria caso eu decidisse fugir, mas odeio depender das pessoas, KanKuro, não quero ficar longe do Gaara nunca mais, e muito menos de você, sempre fomos o porto um do outro — comento o vendo concordar — Sempre eu e você contra o mundo — Eu preciso estar aqui pra ver você e meus futuros sobrinhos – falo — Se é que vocês tem vida sexual– Resmunguei baixo.
— Temos sim, Temari – fala me encarando e com um sorriso sugestivo – bem ativa.
— Não precisava de detalhes — digo agradecendo secretamente a quebra do clima pesado — O Gaara está dormindo, e pelo visto ele não tomou remédio, mas não vou acordá-lo para dar um remédio pra dormir – Falei servindo o café na caneca e experimentando, sinto minha língua queimar e faço uma careta. Logo olhando pro meu irmão – tá afim de maratona alguma coisa comigo? Preciso distrair um pouco.
— Claro, faço esse esforço de maratonar alguma série de nerd ou sangrenta com você — diz pegando o celular — Só preciso avisar minha esposa, um segundo só – já discando os números e saindo da cozinha.
— Tudo bem, vou arrumando as coisas na sala — digo o vendo me dar um joinha e ir para outro cômodo.
E assim foi o resto da minha noite. Alguns minutos depois de termos começado a maratona, Gaara apareceu na sala coçando os olhos atrás do remédio para dormir, mas acabou se juntando a nós. Quando começou a amanhecer, fomos todos para o meu quarto. Kankuro deitou no grande sofá e Gaara deitou na cama do meu lado, soltando meu cabelo e mexendo, fazendo tranças e penteados tortos. Até que passou algum tempo e ele comenta:
— Tema, você quer fazer faculdade em Konoha? - Diz com uma voz mansa e calma.
– Vocês querem se livrar de mim? – pergunto sarcástica, mas com o coração na mão. Ele ri fraco
—Ir para Konoha, tenho um amigo lá, que eu gosto muito e confio muito. Nós trocamos favores sabe? Eu penso que é melhor do que você ser obrigada à isso — comenta sem alterar a voz
— Não – falo mais rápido do que pensei ser capaz –Eu quero ficar com vocês — digo encarando os dois — Com você e com KanKuro, por favor tire isso da sua cabeça, tem de ter outro jeito.
— Tema, você é muito teimosa – diz com a voz cansada mas com um tom divertido – não descarte tão facilmente, eu não quero você do lado daquele cara, você sabe o que sou capaz de fazer para isso não acontecer? – fala e sinto sua voz embolar no final. Ele resmungou mais algumas coisas, porém os remédios o deixavam um pouco grogue por serem fortes e eu apenas ignoro. O ouço resmungar que eu estava o ignorando, mas poucos minutos depois o sinto suas mãos pararem de mexer no meu cabelo. Ele acabou dormindo.
Penso no que ele havia falado, no que Sakura havia falado e no que meu irmão mais velho havia falado até pegar no sono ali mesmo com o meu irmão mais velho chegando deitando na minha barriga e me abraçando.
Os dias passaram correndo, dentre eles nenhum avanço em relação a atitude de meu pai, que após a notícia não vi uma vez sequer para conseguir conversar. Seria no dia seguinte o encontro e a noite se arrastava. Meu pai tinha colocado alguns funcionários pra me vigiar, caso tentasse fugir e tudo isso fazia um sorriso triste surge em meu rosto enquanto eu realmente cogitava a ideia de deixar minha casa, minha cidade para conseguir me salvar.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.