Capítulo 9 – Apenas sorria...
Por: AlimacSeug
Mais uma vez, estavam frente a frente em silencio absoluto. Aparentemente, era como se o seu comportamento houvesse retrocedido, entretanto, apenas era difícil para si. Não tinha o costume de falar sobre si, e mesmo que fosse com ele, alguém que ela estimava muito, a simples ideia de estar falando abertamente sobre si a incomodava. Tudo bem, estava lá para isso, e ele mesmo já havia dito que não era necessário que fosse feito nesse momento, mas sentia que precisava desabafar o quanto antes, pois não aguentava mais guardar tanta coisa para si. Não sabia como começar e pela quinta vez, murmurava algo que nem mesmo ela compreendia e desistia logo em seguida, sentindo-se impotente e fraca. Mais uma vez – como de costume – sentiu pena de si mesma.
Desde o dia do encontro, o tempo passara bem rápido e não tinham conversado muito como os outros dias, pois o loiro estava sempre atarefado, e, ainda assim, sempre falava com ela o mínimo que fosse, como demonstração do carinho e de que a amizade dela era importante e isso influenciou diretamente em sua decisão sobre conversar mais sobre si e tentar desabafar, pois para si, apesar das várias dúvidas que tinha, a certeza que mais lhe parecia sólida era a de que Naruto era a figura mais importante para si naquele momento. Muito além de seu psicólogo, era seu amigo, o que representava muito mais do que a ideia temporária enquanto profissional. Em suma, era puramente sua confiança querendo ser demonstrada.
Olhou diretamente para ele e notou que os olhos azuis a fitavam intensamente e seu semblante estava tranquilo e sereno. Ele realmente era real? Não poderia ser simplesmente tão compreensível assim, provavelmente fazia parte do profissional que ele era... olhou para o relógio e constatou que faltava apenas 30 min para o fim de sua consulta e até então a comunicação não havia passado dos cumprimentos básicos e de suas tentativas falhas de lhe dizer tudo o que lhe afligia e da tentativa de ser tranquilizada pelo outro.
- Hinata, fique calma. Você sabe que lhe darei o tempo que for necessário, consigo perceber muito bem a luta interna que está tendo e em nenhum momento pretendo tirar isto de você. Eu confio em você, vá com calma e diga aos poucos, assim como já falei antes, não tem que falar tudo de uma vez. Não se puna, vamos devagar conforme te for possível. De toda forma, se tornar teu amigo me mostrou muitas coisas que não pude perceber ou que demonstraram estar erradas naquela primeira vez que esteve aqui. Sua força é admirável, saiba disso, está sempre me surpreendendo e sempre de maneira positiva. Eu sei que o problema está entorno da sua relação com seu pai e isto é complicado, portanto, podemos simplesmente começar pelo mais simples...
- Eu te admiro muito! – Falou o interrompendo, tirando uma expressão de surpresa em seu rosto – Como não te admiraria quando você é tão bom e legal comigo...? – Perguntou de forma receosa em um tom incerto, mas que ainda assim, alto o suficiente para que fosse ouvido pelo jovem – Eu sei, faz parte do seu trabalho, mas para mim... p-para mim isso, digo, sua atenção e preocupação são extremamente importantes. Você acredita em mim, e sabe como sei? Para além de toda a nossa conversa, eu tive um sonho com você... sim, aquele sonho que cheguei a comentar, e nele, você me guiava por todos os problemas que eu tinha que enfrentava... sem a sua presença, não seria possível vencer todos eles! – Seu coração estava a mil, ainda não acreditava que ousara falar tudo aquilo! Apesar do nervosismo e o rosto em chamas que certamente estava denunciado suas emoções naquele momento, sentia uma partizinha mais leve. Permitiu-se respirar profundamente para tentar se acalmar, atrevendo-se a encará-lo, vendo que este fazia o mesmo consigo carregando um – charmoso – sorriso de lado.
- Viu como você é surpreendente? – Perguntou divertido – A verdade é que, talvez, eu seja um pouco mais atencioso com você, apenas sinto que você precisa um pouco mais da minha atenção. Muito provavelmente, essa é uma das chaves dos nossos problemas, mas vamos por parte. Primeiro, obrigado por confiar em mim, para que possamos avançar, isso é fundamental. Agradeço também por compartilhar comigo algo tão íntimo quanto o seu sonho, que a propósito é bem claro de ser compreendido: ao mesmo tempo que quer a minha ajuda, confia em mim e também deseja sair dessa situação de desconforto. Basicamente é disso que precisamos. O passo inicial e decisivo já foi dado. Ainda que não tenha vindo aqui por vontade própria, confessou uma necessidade sua de autodescoberta assim como o desejo de mudança. O querer e o reconhecimento de um problema é o básico, o resto vem com calma... - Ouvi-lo falar daquela forma consigo a fazia se arrepiar e – inconscientemente – desejar que ele nunca saísse de sua vida. Muito provavelmente, ela não tinha a mesma importância para o Uzumaki quanto o mesmo tinha para si, entretanto, isso nada lhe importava.
Após ouvir essas palavras, simplesmente não conseguia olhar diretamente em seus olhos, apertando a cadeira, olhando para seus pés tentando evitar ao máximo que ele pudesse ver a vermelhidão do seu rosto. A ideia e ter o loiro consigo a deixou com uma sensação desconfortável que não sabia dizer o que era, uma vez que nunca tinha sentido algo como aquilo antes, a única coisa que poderia afirmar é que a incomodava, pois se transformava em ansiedade. Já ao loiro, estava incrivelmente encantado com a coragem que havia dentro daquela pequena jovem e sentia-se imensamente feliz ao perceber que toda aquela primeira imagem de alguém extremamente tímido e com medo fosse quem ela era, de fato. A verdade é que se deliciava ao se ver contrariado com as atitudes dela, demonstrando sempre algo diferente. Com certeza não se tratava de um caso simples de uma garota rebelde ou mimada, também não se encaixava em um mais grave que envolvesse depressão ou algum complexo, todavia, não se tornava simples quando estabelecia uma relação direta com o seio familiar. Se tivesse que apontar algo, falaria que era a imponência/onipresença de seu pai, contudo, não poderia simplesmente apontar o ponto crucial do problema. Na verdade, até poderia o fazer, mas não era assim que ele trabalhava, já que isto em muito “facilitaria” e não faria com que ela percebesse sozinha a razão de seus tormentos, apenas seria uma verdade imposta, e isto era algo que muito repudiava. Chutava que tudo se resolveria rápido, mas não a forçaria a falar mais.
- Lembra que eu lhe disse sobre uma certa ficha que eu preencheria conforme informações que eu obtive de você? – Ela apenas assentiu – Pois bem, já posso dizer? – Outro assentimento – Hyuuga Hinata, 22 anos, natural de Konoha. Do que me importa essas informações? Não muito. A senhorita Hyuuga, que aparentemente parecia ser extremamente tímida e medrosa mostrou-se ser bem corajosa e, possivelmente, muito mais do que eu. Ainda que com receios, vai em busca daquilo que quer, parecendo ser bem determinada e que não desiste facilmente. Também é uma pessoa divertida e surpreendente, desenha muito bem, é uma ótima companhia. Ainda que não saiba quem é, o fato de ir em busca disto já a torna incrível e o que eu disse, é apenas uma base daquilo que pude obter de informações ao te observar, você está livre para discordar... – Falou sorrindo, esperando que ela o olhasse, mas não o fez. Ouviu-a fungar e sentiu-se preocupado.
- O-obrigada... – Murmurou não conseguindo evitar que as lágrimas escapassem, tentando secá-las assim que começavam a percorres o seu rosto, porém, era uma batalha perdida, já não podia ter o controle sobre elas, se foi surpreendida ao sentir seu corpo envolto pelos braços do loiro, em uma tentativa de acalmá-la; tentativa esta, que deu muito certa. Ao sentir o calor do corpo do outro, automaticamente suas lágrimas cessaram e deram lugar a um coração que batia desesperadamente, a assustando ainda mais. Estava muito emocionada com as palavras para sua definição, alguém havia a notado. Ele havia a notado. Sempre se julgara ser invisível, com alguns momentos negativamente marcantes os quais fora notada e o resto, passava-se em branco. Já sobre os batimentos acelerados, não sabia opinar, possivelmente fosse a timidez...
- Não agradeça, Hinata. Falo isso pois acredito no que eu digo... – Retirou um lenço do bolso do paletó que usava e pôs-se a secar o rosto dela, ainda úmido. – Por favor, não chore, assim eu fico preocupado... eu lhe disse coisas boas, apenas sorria... – Pediu de forma divertida e sorriu para ela, que o encarou retribuindo o sorriso que lhe foi dado. Sim, ele realmente era demais... – Você quer encerrar a consulta aqui? – Perguntou receoso, sabia que ela tinha mais a lhe dizer, no entanto, após aquele choro, talvez o melhor fosse deixar para um outro dia. Ela negou e ele sorriu mais uma vez para ele, admirado, mais uma vez, com sua coragem, rumou novamente para sua poltrona e sentou-se confortavelmente, esperaria que ela falasse quando se sentisse à vontade.
- Eu não posso fazer nada além de lhe agradecer, Naruto-kun... obrigada! – Sorriu discretamente, ainda que não olhasse diretamente para ele, pôde notar muito bem. Ela não tinha certeza se queria dizer mais alguma coisa. Ou melhor, se ousaria falar mais alguma coisa. Ainda sentia o calor do corpo do outro próximo ao seu e isto deixava sua mente turva. Como se não bastasse o seu teimoso coração que ainda estava inquieto... – Obrigada. – Disse mais uma vez, como uma necessidade interna de alguém que realmente precisava fazer tal coisa para sentir-se bem. – Eu tenho tato a lhe dizer, mas me sinto tão confusa agora... eu quero muito a sua ajuda, e desejo mudar minha situação o quanto antes. Mas não sei bem o que falar agora... – Foi sincera.
- Hinata, não precisa forçar nada. Se está confusa, tome um tempo para pensar, sempre estarei aqui para você, lembra? Não se preocupe, agiremos conforme a necessidade, sem pressa alguma... – Suas palavras eram doces, mas não superava o carinho com o qual ele as pronunciava. Sim, teria um tempo para pensar, seria o melhor.
- Certo, terei esse tempo então... – Ainda não estava em total acordo, porém, pensaria com calma. Apenas queria ficar um tempo a mais ali...
- Se assim desejar, podemos marcar para o quanto antes... – Comentou analisando sua agenda. – Poderia ser na terça? – Questionou. Ela apenas assentiu. – Certo, na terça de manhã? Teremos mais tempo, poderá ficar à vontade sem se preocupar com o tempo...
- Tudo bem...
- Certo então, até lá, mas antes disso, até depois, né? – Comentou brincalhão, fazendo o já quieto coração acelerar novamente. Ela apenas sorriu carinhosamente e deu um "tchauzinho". As pernas estavam trêmulas e julgou-se incapaz de andar até a porta, porém venceu mais este obstáculo. “Apenas sorria...” lembraria disso para sempre, com toda a certeza... ainda estava quente, e seu calor ainda se somava ao dele...
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