Capítulo 10 – Uma nova cor
Por: AlimacSeug
Ainda podia sentir seu coração inquieto. A verdade é que lhe tinha faltado coragem para voltar lá e fazer com que o loiro a ouvisse. Parecia já estar em seu limite e mesmo assim, o que faria? Falaria apenas que precisava dele? Que a sua presença a confortava de tal modo que podia se sentir única? Definitivamente deveria ter dito tudo o que vinha passando ao longo dos anos... sim, era isto que tinha de ter feito e, no entanto, lá estava ela agora, angustiada, arrependia e ansiosa; ansiosa pois não aguentaria esperar até terça-feira. Não que fossem muitos dias, já era sexta à noite, poderia muito bem esperar, mas seu pobre coração não queria. Precisava desfazer-se de tudo aquilo que esteve a incomodando por tanto tempo. E para tanto, não havia outro a quem lhe traria a paz necessária a não ser ele. Sim, ali estava a chave, e seu miserável ser sabia disto. Novamente era como no sonho e também na realidade: ele estaria ali para e principalmente, com ela. Era isso, independentemente de qualquer coisa, precisava daquele conforto novamente. Queria suas palavras gentis, seus conselhos, sorrisos, a fé que mantinha nela e principalmente, o seu abraço. Sim, aquele ato de afeto tão repentino, tão inesperado e que desejava intensamente que se repetisse, pois aquilo, lhe era uma novidade.
Jogou-se em sua cama como se seu corpo pudesse se fundir ao colchão e permitiu que tudo o que sentia, simplesmente fosse liberto, sem mais reprimir nada, sentindo as grossas lágrimas passeando em seu rosto antes mesmo de se dar conta do fato de estar chorando. Sim, esta era a figura de Hinata: resumida em lamentações, dúvidas e acima de tudo, medo; medo do que poderia vir a acontecer. Temia por si e o futuro que lhe era tão incerto. Chorava por todas as vezes que fora fraca até mesmo para que pudesse se permitir a isto; chorava, pois era isto que lhe era possível no momento. Ele havia dito que o surpreendia? Certamente não tinha essa convicção para si. Não quando tudo que via em seu interior era frustrações. Se pudesse se definir com base em um desenho, não teria muito o que dizer. Poderia ser a própria folha em branco ou a mesma pintada por inteiro em preto. Sim, estava desesperada. Desespero era o sentimento que lhe acometia por inteiro, de modo que estar deitada ali naquele momento trazia a sensação de estar presa sobre a cama, com mãos invisíveis a segurando. Queria ser o mínimo daquilo que lhe fora dito naquela tarde. Queria poder pintar sua vida para além de cores neutras ou tons pastéis. Desejava e ansiava pela intensidade de coisas boas, e não somente para as ruins. Até então, poderia dividir a sua vida nas seguintes cores: amarelo, preto, cinza, branco, rosa pastel e azul claro. Exatamente nesta ordem e claro, sempre com altos e baixos. Seu coração pesava e já não podia mais abafar os sons que desejavam sair por sua garganta. Por que se sentia tão fraca assim? Suas palavras eram claras, não precisava de pressa para aquilo, contudo, encontra-lo aquele dia tinha incendiado a sua necessidade de viver, ter alguém para si era incrivelmente bom. Respirou fundo, tentando parar com seus soluços assim como amenizar os sons de sua angústia. Ainda que seu pai não houvesse retornado, não permitiria que Kurenai a visse assim. Não quando havia feito uma promessa para a mulher. Promessa esta, que no momento, parecia-lhe simplesmente impossível... de fato deveria ser um pouco mais forte, e acima de tudo, decidir o que tanto lhe incomodava, uma vez que não apenas sua situação, mas algo mais a machucava. Havia algo em si que a incomodava, um certo vazio e chutaria, até mesmo, um certo orgulho ferido, embora fosse apenas palavras aleatórias de uma pessoa qualquer que já não saberia dizer que dia era... estava perdida em meio a tudo; emaranhada entre seus desejos, medos, sonhos, receio, sentimentos, sofrimentos, mágoas e angústia. Sim, talvez aquela lhe fosse a melhor definição, entretanto, não poderia deixar que tudo acabasse tão facilmente, não é mesmo? Ainda que quase sem forças, precisava resistir, e naquele momento, lutar contra si mesma. Sairia da folha pintada de preto e partiria para a folha em branco. O importante era querer? Sim! Em meio a este súbito pensamento e ao torpor o qual sua mente estava envolvida, fez aquilo que lhe parecia o correto. Era o que queria e precisava, e realmente não estava disposta a deixar que tudo acabasse ali. Lhe faltava tão pouco tempo para escapar, não pode deixar de sorrir ao sentir-se um pouco mais calma em pensar assim. Faria o necessário.
(...)
Não tinha muito tempo que havia chego em sua casa, porém, lá estava ele, preparando todos os papéis e pastas informativas a respeito de seus pacientes. Estava cansado, estressado e confuso. Pela primeira vez há muito, estava um tato quanto desanimado em relação a ter que trabalhar em um horário fora de seu expediente. Precisava de um tempo para assim, assim como naquela tarde que esteve com a Hyuuga. Precisava de algo que lhe desse energia e não que levasse o resto que lhe tinham sobrado. Pensar isto, de certa forma era divertido já que aquele encontro tinha sido tão divertido que realmente esperasse mais momentos como ele assim como a presença da morena, porque já a considerava uma grande amiga, assim como os outros e diria, até mesmo, que sua compainhia conseguia ser mais agradável... talvez fosse por seu carisma, pela forma carinhosa que conversava e acima de tudo, o agradava o brilho nos olhos, de uma pessoa sonhadora. Sim, deveria ter dito isto a ela no momento da consulta, mas de toda ela perceberia isso por si só. Terminou de organizar sua escrivaninha e concentrou-se no que era importante: estudar os pacientes que tinha atendido naquela sexta para que pudesse perceber quais precisariam de uma maior atenção assim como uma melhor preparação para que pudesse lidar melhor com o problema, e claro, isso incluía ela. A verdade é que após vê-la chorar daquela forma, ficou um pouco preocupado sobre o estado emocional dela. De repente, ela poderia ser ou estar muito mais frágil do que apresentava, e desde então, pegava-se se questionando se deveria ou não a questionar sobre como estava se sentindo. Bem, aparentemente não seria algo anormal, afinal, eram amigos e realmente se preocupava com ela e desejava profundamente que não perdesse o desejo que enfrentar toda essa situação problemática e descobrir-se. Já tinha passado por algo semelhante e como conhecimento de causa, podia afirmar com todas as suas forças que não era e nem seria fácil. Poderia simplesmente lhe dizer que ela conseguiria e que estaria ali caso precisasse, mas disto, ela já sabia, pois já tinha afirmado aquilo. Era decepcionante, mas não podia fazer nada, pois dependia exclusivamente dela e sua força – coisa que sabia que tinha sobrando ali. Sorriu e olhou fixamente para a ficha do primeiro paciente daquele dia. Olhou e olhou, já havia mais de 15 minutos e nada. Sim, estava sem foco devido a agitação, tendo sua consciência dividida em duas: fazer seu trabalho e questionar para a jovem se ela estava bem. Para que esperar quando poderia simplesmente acabar com toda aquela inquietude?
Levantou-se da cadeira e saiu em busca de seu celular. Por algum motivo, as palavras de sua obaa-chan haviam retomado a sua mente, mas não se tratava de paixão, mas sim de uma preocupação absolutamente normal que as pessoas sentem por aqueles que lhe são caros. Assim que avistou o aparelho, não tardou em abrir o aplicativo, pois tinha uma certa urgência e como de costume, deu prioridade a mensagem que ela tinha enviado para si, deixando para responder os outros mais tarde. Desta vez, era um áudio, o que despertou muito mais a sua curiosidade. Ouviu o mesmo com calma. Não uma, mas cinco vezes e neste momento, era certo afirmar que a calma já não existia mais. Pegou o paletó que estava apoiado na cadeira e rumou apressadamente onde deveria ir. Sim, não poderia e nem sequer conseguia manter a calma naquele momento. Sabia que toda aquela agitação não era atoa. Não acreditava muito nessas coisas, porém, naquele momento, poderia creditar tal sensação a sua intuição. Se não estivesse tão desesperado, riria de seu próprio pensamento por cogitar algo assim, de forma séria, mas não, não era um momento para risos. Seu coração batia freneticamente em seu peito, e sempre que pensava na possibilidade mais séria que aquelas palavras a levariam, sentia-se sufocado. Não, isto nunca tinha lhe ocorrido e não deixaria que logo agora isso acontecesse, principalmente ela, que era sua amiga e que em tão pouco tempo, conquistara espaço entre as pessoas mais importantes de sua vida. Definitivamente não deixaria isto ocorrer.
Em meio ao desespero o qual não estava acostumado, corria o máximo que podia, evitando ruas com semáforo e muita movimentação. Em alguns momentos, sentiu lágrimas solitárias escorrerem por seu rosto, pois temia perder mais alguém, estava tudo tão perto e certo para si, que talvez não o fez agir como deveria com ela. E sim, ele estava se culpando naquele momento e tinha consciência de que não se perdoaria caso algo acontecesse. Não pensaria mais naquilo, não ajudaria em nada...
Não demorou muito e lá estava seu carro parando em frente à casa dela. Só naquele momento que havia se lembrado que não tinha respondido o áudio e, portanto, ela não fazia ideia de que estava ali. De fato, ficara tão atordoado que não pensou nos detalhes de sua ação, apenas agiu por impulso, conforme necessidade e importância, resultando nisto. Imediatamente escreveu-lhe dizendo que estava ali, esperando por ela. Estava visivelmente alterado e apesar do intenso frio que fazia em Konoha, saiu do carro para que pudesse ao menos se sentir mais livre. Respirou fundo, andando de um lado para o outro enquanto não recebia nenhuma resposta para sua mensagem, fazendo com que se preocupasse ainda mais. Ao sentir seu celular vibrar no bolso da calça, prendeu o ar e leu a resposta. Só o fato dela ter o respondido, já aliviou a enorme pressão que sentia. Informara que já tinha pedido para que alguém lhe trouxesse para dentro e que o estaria aguardando, não pôde deixar de sorrir e suspirar aliviado. Ela está viva! Em seguida, uma mulher abriu o enorme portão e pediu para que a seguisse, pois o conduziria até onde estava a jovem. Sequer reparou no caminho que fizera, apenas tinha a consciência de que aquela casa daria ao menos 3 da sua. Ao ver a porta do local onde ela estava a ser aberta, sentiu seu coração bater freneticamente mais uma vez. Agradeceu a mulher e a mesma se retirou, deixando ambos ali, sozinhos no escritório. Sorriu docilmente para ela, mas logo desfez ao ver o rosto da jovem tão inchado e os olhos extremamente vermelhos.
- N-Naruto-kun... – chamou chorosa, sentindo que a qualquer momento voltaria a chorar e que nem que tentasse, poderia interromper o fluxo. Estava sendo tão tola, como se fosse fazer diferença...
- Hina-chan... você está bem? – Pergunta estúpida, ele sabia disto. – Digo, eu ouvi o seu áudio e fiquei tão preocupado. Eu realmente sei que não está bem, mas você nem imagino o que me veio em mente... – a última parte saiu mais como um murmúrio e não sabia se ela havia conseguido o ouvir. Estava incomodado por não saber que fazer e o clima entre eles não era o melhor, ambos tinham dúvidas do que deveriam fazer e, logo, simplesmente não faziam nada. Apenas olhavam-se a distância martirizando-se por serem fracos. E fraqueza, era algo que o loiro repudiava. A passos lentos foi se aproximando dela, parando em frente dela, envolvendo-a em seus braços. Era isso que tinha que fazer, acolhe-la para si e tomar todas as dores que lhe fosse possível. Desejava apenas o bem-estar e que toda essa fase difícil passasse. A desejava bem, e agora sabia, precisava dele, ela mesmo tinha dito isto, porém acrescentou: - Eu estou e sempre estarei por você, mas estás aí por ti? – questionou, aumentando a proximidade entre os corpos, sentindo ser correspondido com ela o envolvendo assim como ele tinha feito. Percebeu que ela estava chorando e a afagou seus cabelos, apertando-a ainda mais. – Eu sei que isso é egoísta, mas se eu pudesse escolher, gostaria apenas de vê-la sorrindo, assim, como pedi nesta tarde. Sei que é importante chorar e que isso nos ajuda a chorar, mas te ver assim, me preocupa e sinceramente, dói. Você não imagina o quanto me preocupou com aquela mensagem... estava fungando e sua voz saí tão fraca... dizia que não conseguiria sem mim e egocentricamente, fiquei feliz, entretanto, em seguida vi que este não era o caminho. Confie não apenas em mim... – sussurrou com calma e carinhosamente, para que a fizesse pensar. Talvez, apenas o abraço não fosse o suficiente e certamente, estava correto sobre isso. Não poderia saber, mas tais palavras a comoveram de verdade, o que não era nenhuma novidade, mas agora, suas lágrimas tinha um outro motivo. Ele. Que se eternizasse aquele sentimento que brotava em si... tão intenso e cheio de vida e que a angustiava e fazia sofrer, assim como lhe trazia alegria. Uma nova cor em sua vida: o vermelho. Naquele momento seu corpo entrou e combustão, passando por sua mente, algo que ainda não tinha cogitado. A possibilidade de amá-lo para além da amizade, e por enquanto aquilo bastava.
- Eu tenho sorte de te ter aqui comigo... – sem esforço o arrependimento, soltou aquelas palavras naturalmente, sentindo-se muita mais leve, afinal, estava sendo apenas sendo sincera. Registraria aquilo em sua mente da melhor forma possível: a de como estar nos braços dele agia tão bem em seu espírito. Estar ali, por si só, lhe era suficiente, toda a necessidade, duvidas e um pouco de sua dor estava sendo postos de lados, pois aos poucos, a calmaria a acometia de tal modo que o mais importante, era aproveitar aquele gesto de carinho como podia. A única coisa que tinha feito, fora falar que precisava dele e, no entanto, fora o suficiente para que automaticamente viesse até ali para ter esse momento consigo. Era reconfortante saber que não eram palavras jogadas ao vento e que, apesar de tudo, neste instante, sentiu-se feliz. Sentiu-o se afastar um pouco e depositar um leve beijo em sua testa, retomando o abraço mais uma vez. E em meio a tanta confusão, as batidas frenéticas de seu coração, pareciam fundir-se aos dele... mas talvez, fosse apenas uma impressão sua, sorriu, agarrando-o e se esquecendo de todo o resto.
Hold on to my hands
(Agarre minhas mãos)
I feel like sinking
(Eu me sinto afundando)
Sinking without you
(Afundando sem você)
And to my mind
(E na minha imaginação)
everything's stinking
(E na minha imaginação)
Stinking without you
(Perecendo sem você)
- Where You´re Gone
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.