Ela havia passado dos limites.
Essa frase rodeava minha cabeça sendo a única coisa que eu conseguia pensar. Provavelmente eu tinha exagerado na maneira com que falei com a Aily agora pouco, mas eu estou pouco me fodendo. Aquilo foi demais, a gota d’agua.
Afinal, que tipo de mulher esconderia aquilo? Eu tenho em mente que ela é fechada, mas o fato era diferente. Era uma gravidez e não uma simples gravidez, e sim uma gravidez abortada. Quando parei o carro no estacionamento da central minha mente estava um bombardeio de sentimentos, alguns eu nem sabia que eu possuía.
Eu estava ao mesmo tempo triste, por n motivos, e puto. Ah como eu estava puto. Meu coração precisava de respostas, e respostas urgentes sobre aquilo, mas por conta de minha mente impaciente acabei explodindo tudo de uma vez e terminando por ter minha mulher chorando e eu sem conseguir fazer nada.
Uma parte de mim queria entender sua parte, porem em meu estado realmente não estava conseguindo e seu insistisse naquilo só encontraria mais coisas para ficar com mais raiva do que já estava. Decidi tentar esquecer aquilo enquanto trabalhava, já que hoje meu período seria durante uma parte da noite, ou seja, muito cansativo.
Adentrei no prédio e já fui bem recebido por minhas adoráveis secretarias que tanto insistiam em me levar para um motel ou em algo parecido. Min-Ji e Bom.
- Hm.. TaeTae.- Min-Ji caminhou rebolando ate mim, enquanto eu retirava o cartão de ponto da bolsa.
- Diga, Gong. – Entreguei o cartão para sua amiga, que tinha os mesmos interesses que ela, Park Bom que me olhou da mesma maneira, e olhei para Min-Ji. – Está precisando de alguma coisa?
- Nada.. – Ela puxou minha gravata, me colocando mais para perto dela. – Você parece tão para baixo hoje.
- É, estou tendo um dia ruim. – Suspirei e fitei a janela agora embaçada por causa da chuva.
- Não quer sair hoje? O pessoal vai para um bar hoje, seu irmão vai. – Bom disse.
- O Bae vai? – Arqueei uma sobrancelha, voltando a olhar para Min-Ji.
- Vai sim. – Min-Ji disse sorrindo, já animada com minha possível ida. – Ele que pediu para te chamar.
- Invente outra. – Passei minha mão por sua nuca e a puxei a milímetros de meu rosto, sussurrei em seu ouvido com aquela voz. – Ele sabe que eu sou casado.
Afastei-me dela tampando o riso de seu rosto excessivamente vermelho. Particularmente eu adorava surpreender a Min-Ji com quase beijos ou com frases de duplo sentido apenas para rir de sua cara brava depois. Fui em direção ao elevador, bagunçando seus cabelos ao passar por ela.
- Até mais tarde. – Sorri para ela, que correspondeu encabulada.
O expediente foi corrido. As horas se passaram se arrastando e eu já estava excessivamente cansado quando ainda faltavam vinte minutos para o fim do horário. O sono estava quase me sufocando, já que quase não dormi noite passada e por um dos piores motivos que poderiam existir: Sonhos com Irene.
Pisquei mais forte e tentei me concentrar em outra coisa sem ser minha namorada morta, que alias, iria se fazer três anos amanhã.
- Preciso ir à sua casa. – Suspirei silenciosamente.
A Irene não havia sido enterrada, mas sim transformada em cinzas e guardada em um pequeno altar na casa de seus pais, então toda vez que eu a queria ir visitar teria que ir para lá. Apoiei minha cabeça em minha mão e fechei os olhos tentando desviar meus pensamentos para ela. Tentando me afastar das memorias que me fizeram entrar em depressão.
●
- Taehyung.. Pelo amor de Deus. – Minha mãe insistiu batendo na porta de meu quarto, seus soluços agora eram escutados. – Saia daí, meu filho, você não come há dias.
- Não como porque não sinto fome. – Eu disse para mim mesmo, minha voz quase era imperceptível. – Nem vontade de viver.
- Ela não iria querer ver você assim. – Minha mãe cerrou com as batidas, mas continuou chorando. – Irene iria odiar te ver assim querido.
E novamente, ela havia tocado em uma ferida aberta.
- A Irene esta morta, mãe! Pare de falar como se ela estivesse viva. – Gritei para ela, voltando a chorar. – Ela está morta.. Já acabou.
- Kim Taehyung se você não abrir essa porta e sair desse quarto, eu vou arromba-la. – A voz do meu pai soava abatida, mas mesmo assim, dura.
- Eu não ligo mesmo. Pode arrombar. – Eu disse baixo, afundando debaixo dos lençóis. – Que diferença vai fazer a porta arrombada?
- Se afaste daí mulher, eu irei derrubar isso. – A voz dele foi ficando mais baixa e depois um barulho gigante.
- Meu filho! – Minha mãe correu para meu lado e se ajoelhou ao lado da minha cama.
- Mais que coisa.. Só me deixem sozinho. – Mordi o lençol para controlar o choro, me virando de costas para ela. – Por favor..
- Sozinho você não fica mais. – Senti meu pai se sentando na cama. – Você que tem que aceitar isso e seguir em frente Taehyung. Todos nos sabemos que ela não vai mais voltar e ficar ai trancado o dia todo não vai trazê-la de volta. Você sabe.
- Só me deixem aqui.. – Repeti.
Senti algo tocando meus fios, minha mãe estava dando aquele clássico cafune que só te faz ficar ainda pior e com vontade de se jogar em cima dela e chorar ate acabar o estoque de lagrimas. Bom, foi o que eu fiz.
- Vai passar, meu bebezinho.. – Por conta de seu tamanho, ela tinha que ficar na ponta dos pés para me abraçar. Mamãe também chorava. – Vai passar.
●
- Tch. Droga de lembrança. - Forcei minha mente a se concentrar no último relatório que eu tinha para assinar.
Voltei para casa e descobri mais outra chatice para colocar no caderninho. A Aily simplesmente não estava em casa. Procurei em todos os lugares e ela não estava lá, e nem seu telefone atendia. Bufei amargurado e segui para meu quarto. Joguei-me na cama e abracei um travesseiro. Claramente abatido com tudo.
Por que ela era tão complicada?
Não havia sido só hoje que tínhamos brigado, mas essas duas semanas passadas quase todos os dias tinha uma discursão, e pelos motivos mais idiotas possíveis. Esse de hoje foi o mais sério, e único, de todas.
Por dentro eu me sentia um merda por não a ter escutado e ter a ter deixado sozinha, mas eu tinha motivos? Tinha, não é?
Eu sou muito sensível com quem eu amo e sempre quero ajudar, e ela ter abortado e não me contado foi praticamente um soco no meu estomago na categoria: Confiança da Alysson em mim.
E se tinha uma coisa que minha mente estava pedindo o dia todo para fazer era comparar a Aily com a Irene.
Quanto mais eu tentava desviar daquilo mais ficava cansado daquilo até que eu resolvi me entregar logo às comparações idiotas de minha mente com a Aily e com a Irene. E cara, elas eram terrivelmente parecidas e ao mesmo tempo absolutamente diferentes dependendo do aspecto.
E naquela noite fria, meu coração se tornou de Irene. Sua voz, seu toque, sua companhia foram me afogando em um mar de saudade onde a Aily era minha salva vidas, mas ela não estava lá então fui submergindo lentamente.
Eu a queria perto de mim. Algo que eu tentava mascarar, mas que no fundo eu queria de toda a minha alma. Irene ainda dominava meu pensamento e eu tentava esconder aquilo, algo patético se pensar direito.
Todas as nossas memorias passaram como o filme mais rápido do mundo em minha mente. Tudo, até o final. Os sentimentos e as sensações não deixaram de comparecer também.
Sua voz me convidando para passar na sua casa depois do colégio. Seu abraço acalmando minha mente em um dia estressante. Seu corpo no dia em que seus pais saíram de casa.
Tentei mais uma vez ligar para a Aily e dessa vez o telefone atendeu, mas não foi bem como eu queria que tivesse atendido. No lugar de sua voz, era um barulho alto de uma balada, pelo menos era o que dava para se imaginar por conta da música alta e dos gritos.
Ela estava em uma festa.
E as sombras vieram à tona novamente.
Então aquilo era estar de volta aos sintomas da depressão?
Sufocante. Agoniante. Estressante. Nauseante.
●
Consegui dormir chorando calado e acordei ainda mais estranho.
Levantei-me sentindo uma leveza em minhas costas, como se a noite passada não passasse de um pesadelo e eu tivesse acordado em perfeito estado. Olhei para o relógio ao lado da cama que marcava: 10:37 – Sexta Feira.
“Dia de Folga.” Sorri por poder ficar em casa o dia todo e me levantei bagunçando o cabelo.
Tomei um banho e fui para a cozinha comer alguma coisa. Eu estava estranhamente feliz e sentia como se estivesse esquecendo algo, mas deixei para lá. Voltei para meu quarto e notei que minha empregada estava terminando de arejar minhas roupas. Ela me percebeu e deu um sorriso.
Min-ki caminhou até mim. Sua mão subiu por meu tórax puxando a gola de minha camiseta nos fazendo ficar perto a ponto de sentir sua respiração quente.
- A Alysson não vai chegar tão cedo hoje... – Seus dedos entraram por debaixo de minha blusa e arranharam meu peito. Ela disse com a língua passando pelos lábios. – Você parece tão pra baixo... Não quer se animar um pouquinho?
- Não. – Tentei protestar, mas parei quando senti meu pênis ser apertado levemente. – Eu agradeço.
- Hm...? – Ela mordeu o lábio e continuou com a carícia.
- Por favor, me deixa em paz.
Mas ela não parou. E eu não sabia o que fazer. Min-Ki continuava a me tocar e quanto mais eu andava para trás, mais ela se aproximava de mim; em um determinado momento, quando minhas pernas já haviam encostado na borda da cama, Min-Ki levou suas duas mãos ao meu tórax e as pousou lá.
- Por favor, eu não quero te machucar. – Segurei meu tronco com força e não pendi para trás, colocando minhas mãos nos ombros da mulher. – Já te falei, eu não quero fazer nada com você.
- Você quer, Tae. – Sua franja escura cobria seus olhos. - Eu vejo isso em você.
- Você cria isso na sua cabeça, Min-Ki. A gente já conversou sobre isso. – Quando senti sua mão descendo novamente até minha virilha, eu puxei o ar pelos pulmões. – Eu não quero ter que te empurrar, então, por fav-
Mas antes que eu terminasse a frase, ela me empurrou com força e nós dois acabamos caindo em cima da cama.
Min-Ki, então tomou meus lábios contra os dela.
Meus músculos doeram por darem de conta sobre o que estava acontecendo. Minha mente deu uma pane só em pensar em como nossa imagem deveria estar para alguém que entrasse no quarto e pequenas lágrimas se formaram em meus olhos.
Min-Ki se deitou por cima de mim, roçando em minha virilha suavamente, enquanto me beijava com vontade.
Naquele momento, um peso caiu sobre mim, quando abri meus olhos por um momento e encarei nosso cachorro ao pé da cama; com a cabeça levemente tombada para a esquerda.
Ele não gostava de Min-Ki, assim como Aily, que o havia adotado a pouco tempo junto com minha mãe.
Aily.
Alysson.
Kim Alysson.
Minha esposa.
Eu quis morrer ao lembrar de seu rosto.
Tudo durou menos de quinze segundos e eu desesperadamente segurei o maxilar de Min-Ki, para que ela não tentasse mais nada e já estava reunindo força para me levantar do colchão quando escutei um dos piores barulhos que poderia escutar naquele momento. O barulho da porta do quarto se fechando.
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