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História Trato Feito - Especial - Deixa Eu Te Amar


Escrita por: sonhodeleitura

Notas do Autor


ATENÇÃO, ESSE É UM CAPÍTULO ESPECIAL SOBRE AMBAR E RAFAEL.
Boa leitura e, por favor, leiam as notas finais!!!

Capítulo 18 - Especial - Deixa Eu Te Amar


Fanfic / Fanfiction Trato Feito - Especial - Deixa Eu Te Amar

Corri desesperada porta a fora e, ao sentir o impacto do vento forte, meu corpo se arrepiou, tremendo por um instante. Mas aquilo nem de longe se comparava ao que eu tinha acabado de passar, eu simplesmente não podia acreditar que aquilo fosse real, que aquilo tivesse realmente acontecido. Meu noivo e minha prima, juntos!

Mesmo que já tivesse sido há seis anos, aconteceu e não pode ser apagado, como poderia eu encarar a Luna agora? Como poderia eu entender os motivos deles? Não dava, porque não há explicações ou justificativas para tamanha traição.

Entretanto, o que me deixava mais intrigada era o fato de eu estar tão brava, mas ao mesmo tempo sentir como se um grande peso tivesse sido tirado dos meus ombros, afinal, o que significava isso?

Eu não sabia, só queria ficar sozinha, então corri até o meu carro e quando estava prestes a abrir a porta uma mão a segurou, logo depois agarrando a minha. Eu me virei para ver quem era e notei que era o Rafa.

Suspirei aliviada e me joguei em seus braços, Rafa me abraçou forte e deixou que eu chorasse em seu peito, e eu chorei alto, soluçando e sentindo o corpo estremecer com a dor que era extravasada por lágrimas. Apertei mais forte meus braços ao redor dele, querendo apenas ficar ali e me perder para sempre no lugar mais aconchegante do mundo.

Senti sua mão acariciar meu cabelo e aos poucos eu consegui me acalmar, me afastei o suficiente para olhar seu rosto, seus olhos azuis pareciam preocupados enquanto seu cenho franzido formava um pequeno v entre as sobrancelhas, eu toquei ali com cuidado.

- Vai ficar tudo bem – ele sussurrou.

- Me tira daqui, por favor – eu pedi baixo.

Rafa assentiu em silêncio e me guiou até o banco do passageiro, eu me sentei ali e observei enquanto ele tomava seu lugar no banco do motorista. Coloquei o cinto de segurança e ele deu a partida no carro, olhei pela janela e vi quando Luna e Matteo saíram da mansão, ela chorava enquanto ele a segurava pelos ombros.

Eu revirei os olhos, voltando à atenção para a estrada a frente, Rafa apertou as mãos em volta do volante.

- Isso é patético – murmurei.

- Quer me contar o que aconteceu? – Rafa perguntou.

- Eu descobri que a Luna e Matteo ficaram juntos há seis anos, e quando eu digo “juntos” é juntos mesmo – sacudi a cabeça em negação – Nunca imaginei que minha própria prima me trairia dessa maneira.

Fiquei surpresa por eu não ter pensado duas vezes antes de despejar tudo, esse era mais um dos efeitos do Rafa sobre mim, ele me traz segurança.

- E você parou para ouvir a explicação deles? – ele me perguntou.

Eu bufei, rindo logo em seguida.

- Não teve explicação – eu joguei as mãos para o alto em frustração – Eles simplesmente confessaram e a Luna ainda admitiu que aconteceu outras vezes, isso é um absurdo! Ela nem pensou em você ao despejar tudo isso, Rafa!

- E por que ela teria que pensar em mim?

- Porque você é o namorado dela, ora bolas.

Rafael me surpreendeu ao rir alto, uma gargalhada linda e contagiante que eu precisei lutar muito para não acompanhar, eu precisava mostrar que estava brava, então tentei fechar a cara.

- Do que você está rindo Rafael? – perguntei tentando parecer zangada.

- Desculpe loirinha – ele sacudiu a cabeça – Mas eu acho muito fofo sempre que você fala “ora bolas”

Eu revirei os olhos, mas foi impossível não sorrir ao me lembrar da primeira vez que ele me escutou falando aquilo, foi quando nos conhecemos...

~

Algumas semanas antes...

Eu estava animada para rever a Luna depois de tantos anos, nós nunca tínhamos ficado tanto tempo separadas, ainda mais sem nos falar todos dias, acredito que o máximo que tenhamos nos falado foi umas quatro ou cinco vezes em seis anos.

Bom, poderia ter sido mais, se eu não tivesse ocultado todas as dezenas de cartas que o Matteo escreveu para ela. Hoje eu me arrependo, não sei por que fui dar ouvidos à minha mãe, eu não tinha o direito de interferir na amizade deles e muito menos ela. Pobre Matteo, sofreu muito acreditando que a melhor amiga não queria saber dele, e a culpada fui eu.

Se hoje eles são mais distantes a culpa é minha e jamais irei me perdoar por isso.

Matteo parou o carro em frente a mansão e eu tentei pedir que ele ficasse, mas ele disse que tinha coisas pra terminar no Roller, da festa surpresa da Luna, então deixei ele ir.

- Nós deveríamos mesmo ter ficado por lá, não vejo motivos para termos voltado a Buenos Aires – escutei minha mãe resmungar quando saímos do carro.

- Para ver a Luna! – exclamei animada.

- E desde quando essa menina me interessa, Ambar?

Eu suspirei alto e me afastei um pouco, Matteo já tinha saído com o carro e eu precisava manter distancia da minha mãe, mais um minuto aguentando resmungos dela eu iria a loucura, graças a Deus meu pai era diferente.

- Não ligue para sua mãe, querida – ele veio para o meu lado – Nós sabemos a pedra que ela tem no lugar do coração.

Vi minha mãe revirar os olhos e eu ri alto, agarrando-me ao braço do meu pai para entrar em casa.

Assim que passei pelas portas, corri animada para a sala de estar de onde eu podia escutar as vozes, ali dei de cara com todos reunidos, minha madrinha, Rey, Miguel, Monica, Luna e um rapaz loiro de olhos azuis que me fez cambalear por um momento.

Uau.

- Ambar! – escutei Luna exclamar.

- Luninha! – gritei de volta.

Nós corremos o curto espaço entre nós e eu a abracei forte, ela era mais baixa do que eu o que tornava o abraço ainda mais gostoso e de fácil aconchego, eu poderia apertá-la em meus braços que cabia facilmente.

A saudade que eu estava daquela garota ninguém nunca entenderia, a ligação que temos vai além de primas de segundo ou terceiro grau, é uma ligação de irmãs, eu sinto que ela daria a vida por mim assim como eu daria a minha por ela sem ao menos hesitar.

- Senti tanto a sua falta – sussurrei.

- Eu também – ela sussurrou de volta – Eu já aguentava mais essa dor.

- Fico muito feliz que esteja de volta – comentei enquanto caminhávamos para perto dos outros – Matteo estava me dando nos nervos sem você.

Luna riu sem jeito e colocou o cabelo atrás da orelha.

- Encontrei com ele ontem, ele parece... Bem.

Eu franzi a testa.

- Sim, ele está bem.

Matteo comentou que escondeu de Luna que estamos juntos de novo, mas a verdade é que eu estava me coçando para contar e ainda acrescentar a parte do meu plano de nos casarmos. Mas Luna me interrompeu ao me puxar para perto do garoto loiro que me deixou sem fôlego.

- Ambar, esse é o Rafael – disse-me ela – Estudamos juntos em Oxford.

Seria ele namorado dela? Uma ponta de animação se acendeu, mas outra muito estranha também estava ali, assoprando a animação para que fosse apagada.

- É um prazer finalmente te conhecer – o belo rapaz estendeu a mão e eu a apertei – Luna falou tanto de você que sinto que já a conheço.

Minhas bochechas esquentaram e vi Luna sorrindo ao meu lado.

- Bom, queria pode dizer o mesmo, mas ela nunca me falou de você nas nossas ligações – dei de ombros – Mesmo assim, é um prazer.

Ele sorriu para mim. Merda. Que sorriso!

Eu me afastei para falar com o restante do pessoal, enquanto Luna era abraçada por meu pai e beijada nas bochechas de maneira falsa pela minha mãe. Não entendo como ela pode não gostar da Luna, uma menina tão divertida e ainda por cima filha da falecida prima dela.

Mas Alice Smith era uma pessoa difícil de entender, um mistério que eu desisti de desvendar a muito tempo.

Quando a família se separou para arrumar o almoço, Luna se sentou comigo e com o Rafael, conversamos animadamente enquanto ela me contava como tinham sido as aulas, tudo o que aprendeu e todos seus planos, eu fiz o mesmo, mas nenhuma de nós duas tocou no nome do Matteo, ela nem ao mesmo reclamou ou me questionou sobre ele não ter lhe procurando, o que tecnicamente era mentira já que eu escondi as cartas.

Monica apareceu chamando por Luna e ela correu ate lá, agora eu estava sozinha com o Sr. Olhos Azuis Que Hipnotizam.

- Então – ele puxou assunto – Luna me contou que você é a rainha da pista de patinação.

Eu arregalei os olhos, surpresa.

- Do Roller? – perguntei, depois sacudi cabeça me sentindo idiota, claro que ele falava do Roller – Ah sim, claro. Eu patino desde pequena e por isso sei fazer alguns truques bem legais.

- Luna me mostrou alguns vídeos, legal é pouco para o que você faz.

- Eu gosto de me superar sempre em tudo o que faço! – comentei – Acredito que quanto mais eu fizer isso me tornarei sempre a melhor, em tudo o que eu quiser.

Rafael assentiu.

- Tem toda razão – disse ele – Mas não cansa tentar ser a melhor em tudo?

Eu engoli em seco, não esperava por aquela pergunta e pensei um pouco no assunto antes de responder.

- Bem... – tentei começar – Não é como se fosse um esforço muito grande, eu só vou lá com a melhor das intenções e quando me dou conta já sou considerada a melhor, acho que nasci com isso. Não é nenhum desgaste muito ardo, ora bolas.

- Ora bolas? – Rafael perguntou rindo um pouco alto demais para o meu gosto.

Eu franzi a testa e ele notou, tentou segurar o lábio inferior com os dentes para não rir mais.

- Desculpa, mas eu achei isso muito fofo – ele comentou.

Eu arregalei os olhos e quando me dei conta estava sendo contagiada por sua gargalhada sincera.

- Nunca vi alguém falar ora bolas bem na minha frente – ele disse – É uma gíria bem antiga que eu não sabia que realmente existia, se não em filmes.

- Bom eu sou uma pessoa bem eclética e gosto de coisas retrós, eu assisto diversos filmes antigos, e quando vi já tinha se tornado uma gíria impossível de eu tirar de mim.

- Curioso – ele comentou, ainda rindo – Bem, então, ora bolas!

- Ei – eu resmunguei – Não faça isso, não fica tão legal em você.

- Tem razão, é bem melhor ouvir você – ele piscou para mim.

Alguém gritou nos avisando sobre o almoço estar a mesa e ele se levantou, estendendo a mão para mim.

- Vamos comer, senhorita rainha da pista que é eclética e gosta de gírias retros e tem um lindo sorriso e cabelos loiros maravilhosos sem mencionar os belos olhos azuis?

Eu engoli em seco, parando um momento, perplexa, diante de tanto elogios maravilhosos dos quais eu não tenho recebido ultimamente. Das duas uma, ou esse cara estava me cantando porque não sabia que eu era comprometida, ou era apenas o jeito dele de ser simpático com todas as pessoas.

Minha parte irracional gritava e esperneava para ser a primeira opção.

Eu ri tentando voltar ao normal e agarrei sua mão, permitindo que ele me levantasse e me guiasse em direção a sala de jantar.

- Espero que meus elogios não tenham te assustado, gosto de ser simpático.

- E eu gosto de receber elogios – eu sorri pra ele – Não tem problema, ora bolas.

Eu disse a ultima parte de propósito arrancando dele aquela gargalhada que eu escutei a pouco, eu gosto muito daquilo.

Ora bolas.

~

- Pra onde eu vou? – Rafa perguntou, interrompendo minhas lembranças.

Eu suspirei alto e sacudi a cabeça em negação.

- Não sei, apenas me leve para algum lugar onde eu não conheça ninguém e onde ninguém possa nos achar.

- Você não quer falar com sua mãe ou...

- Não – eu o interrompi – Já estou humilhada o suficiente, ela certamente berraria na minha cara “Eu te avisei” – bufei alto, com raiva de mim mesma – Não acredito que eu pude ser tão burra!

Rafa esticou a mão para agarrar a minha e eu a apertei em agradecimento.

- Aposto que eles devem ter passado horas rindo de mim, pensando o quanto foi fácil me enganar – continuei resmungando tentando controlar as lágrimas – Como eu pude ser tão estúpida?! Eu me deixei enganar pela minha prima, eu jurava que ela era um doce e veja o que ela fez, me apunhalou pelas costas!

- Loirinha, calma, não tire conclusões precipitadas.

- Ela ainda teve coragem de trazer você aqui! – exclamei, largando a mão dele para jogar os braços para o alto em frustração – Colocou o namorado e o amante frente a frente!

- Ambar, eu preciso falar...

- E ele?! – continuei interrompendo-o – Ele todo cínico! Dizendo que estava feliz por vocês, fazendo encontro de casais e tudo mais, que cafajeste! Ele sabia que vocês estavam namorando, mas que pilantra!

- Ambar eu realmente preciso te contar...

- Você devia bater nele! – exclamei.

- O que?! – Rafa exclamou.

Por um momento o carro saiu um pouco da linha que seguia, eu o tinha assustado tanto que ele quase perdeu o controle do carro, eu devia mesmo me controlar melhor, mas eu estava tão nervosa...

- Você deveria arrebentar com a cara dele, não só por vocÊ, mas por mim também – eu fechei as mãos em punho – Você devia socá-lo até que suas próprias mãos sangrassem, Rafa!

- Ambar você tem noção do que está falando?

- E eu devia mesmo pegá-la né? Acho que é exatamente isso que vou fazer, volte com o carro e...

- Ambar! – ele parou o carro abruptamente, eu me lancei um pouco para frente e depois ele me encarou – Olha as coisas que você está dizendo!

Eu permaneci em silêncio, lutando para não dar o braço a torcer.

- Ela é a sua prima e ele era o seu noivo! – disse ele – Eu sei que foi muito errado o que fizeram, mas violência não leva a lugar algum.

- E quanto a dor que eu estou sentindo hein?! – grunhi – A violencia deles foi pior por está dilacerando meu peito, Rafael!

Só então percebi que estava chorando de novo, Rafa suspirou voltando a agarrar minhas mãos.

- Eu sei, loirinha... Acredite, parte de mim quer acabar com o Matteo, mas eu sei que é a raiva falando mais alto – murmurou ele – Então tenta se acalmar, ficar assim só vai ser pior para você. Promete que vai tentar, pelo menos até chegarmos ao hotel.

Hotel?

- Tudo bem – suspirei e funguei, limpando as lágrimas.

- Ótimo – ele concordou, ligando o carro de novo – E eu preciso muito falar com você.

- Ta, assim que chegarmos lá – eu pedi baixo – Acho que minha cabeça vai explodir.

Suspirei alto e fechei os olhos, encostando a cabeça no vidro do carro, era perturbar o quanto aquilo me machucava, eu passava mais tempo pensando em Rafael do que em Matteo, então porque aquilo me machucava tanto? Eu não entendi.

Senti a mão de Rafa novamente sobre a minha e eu a apertei, completamente grata por tê-lo ali comigo.

***

Ao entrar no quarto, meus olhos tiveram que se acostumar com a pouca luz até que eu conseguisse observar o quarto com atenção, demorando-me nos detalhes como uma forma de escapar dos meus pensamentos tenebrosos e lembranças perturbadoras.

O quarto era simples e pequeno, os papeis de parede eram antigos de um tom creme e flores vermelhas desenhadas, as camas de solteira estavam separadas por um criado mudo que suportava um único e antigo abajur, mais a frente tinha uma televisão pequena e à nossa direita uma porta pequena que dava acesso a um banheiro menor ainda, ali não cabia mais de uma pessoa.

Eu suspirei baixo e escutei Rafael atrás de mim, fechando a porta e brigando com o interruptor para acender a luz. O quarto se iluminou e eu me sentei na beirada de uma das camas, observando enquanto ele fechava as cortinas finas.

Rafa estava sendo muito legal comigo, me trazendo para esse lugar e ficando aqui comigo apenas para que eu tenha um lugar para descansar minha cabeça enquanto penso no que eu vou fazer.

- Você está bem? – o ouvi perguntar.

Segui o som de sua voz e notei-o sentado na cama a minha frente, o corpo inclinado na minha direção enquanto as mãos estavam entrelaçadas n colo, seus olhos azuis transbordavam curiosidade e... Preocupação?

- Vou ficar – eu garanti mais para mim mesma do que para ele – Acho que já encarei coisas piores, e talvez seja uma questão de tempo.

- Eu preciso mesmo falar com você – ele insistiu no assunto que tinha tocado no carro – É muito importante pra mim te deixar a par de tudo, eu odeio esconder as coisas de você.

Eu gemi baixo, cobrindo o rosto com as mãos e sacudindo a cabeça. O que seria o grande segredo agora? Acho que eu não suportaria outro baque desses, eu seria capaz de desabar.

- Fala de uma vez antes que eu desmaie – sussurrei.

Senti as mãos quentes de Rafael em meus pulsos frios, ele tirou as mãos do meu rosto e me encarou de novo, dessa vez apertando minhas mãos nas deles. Ele respirou fundo.

- Loirinha... Luna e eu nunca fomos namorados – confessou.

Eu arregalei os olhos, mas, ao contrario de que pensava, não arranquei as minhas mãos das suas.

- Como é? – perguntei baixo.

- É a verdade, Luna e eu somos apenas amigos de infância, nos conhecemos no orfanato – explicou Rafa – Ela só inventou o lance de namorado quando você falou do casamento, ela entrou em pânico querendo que você não achasse que ela era uma solteirona e que não tinha alguém para ir ao casamento com ela – ele riu baixo, sem humor, depois reviro os olhos – Uma besteira completa né? Mas ela tinha feito e eu não poderia mais voltar atrás, então entrei no embalo e não neguei nada. Eu sabia o quanto significava para ela.

Eu respirei fundo, Rafa esperou pacientemente enquanto eu absorvia a informação que acabara de receber. Então todas aquelas histórias de que Luna me contou, sobre como conheceu o Rafa e de como eles tinham planos, era tudo mentira? Ela não precisava ter feito isso, eu jamais a julgaria por não ter um namorado ou um acompanhante para o meu casamento. Somente sua presença seria importante para mim e para o Matteo.

Então me ocorreu uma ideia, talvez Luna tenha fingido namorar o Rafa não somente por vergonha de estar solteira, mas sim porque não queria que nada transparecesse sobre a relação secreta com o Matteo, Era um esconderijo para que eu não descobrisse nada, e aquilo me deixou com mais raiva.

- Ela mentiu para esconder que amava o Matteo e que teve algo com ele – murmurei baixo, rindo em seguida – Claro!

- Na hora isso não me ocorreu e eu fiquei assustado, achei que ela só tivesse dito por impulso e fim – ele deu de ombros – Mas depois ela me explicou tudo, e eu entendi e, sendo o amigo que sou, aceitei tudo.

Eu franzi a testa e soltei a minha mão da dele de repente, fazendo-o arregalar os olhos.

- Como assim ela explicou tudo? – perguntei em choque – Você sabia?!

Ele não respondeu, apenas abaixou a cabeça, desviando os olhos.

- Você sabia! – repeti, dessa vez nervosa enquanto me levantava – Eu não acredito Rafael! Você sabia que a minha prima e meu noivo estavam tendo um caso e não teve a decência de me contar! Fez-me passar por idiota, uma boba, uma burra de olhos fechados. Como você pode?!

Rafael se levantou e se aproximou de mim, quando eu me afastei ele se assustou e parou onde estava.

- Loirinha...

- Não!

- Ambar – ele se corrigiu – Ambar me desculpe, eu queria te contar, eu queria... Deus! Só Deus sabe quantas vezes eu quase te contei, mas eu sabia e você também sabe que não poderia ser eu a contar – ele passou a mão na testa, empurrando o cabelo que caía ali – Luna me implorou para não contar, ela jurou para mim que ia te contar, eu aceitei essa condição e quando o Matteo descobriu sobre o namoro falso eu o fiz jurar que não ficaria mais com a Luna, eu seria capaz de...

Rafa parou fechando as mãos em punho, meu rosto estava banhado em lágrimas enquanto ele tremia olhando para todos os lados antes de olhar para mim.

- Eu seria capaz de matá-lo se ele te magoasse! – ele disse por fim entre dentes – Eu não suportava vê-lo abraçando você e te beijando enquanto escondia esse segredo horrível, mas eu sabia que não poderia contar, tinha que ser ele e tinha que ser a Luna, mas eu os fiz jurar que não ficariam juntos enquanto não lhe contassem a verdade e enquanto suas vidas não tomassem os devidos rumos.

Apesar da raiva, eu sabia que ele tinha razão, se o segredo fosse meu, eu não gostaria que meu melhor amigo contasse ao invés de mim. Seria um tipo de traição.

Mas será que eles obedeceram as ordens de juramento do Rafael?

- Eles ficaram recentemente? – perguntei baixo.

- Não – Rafa sacudiu a cabeça – A ultima vez que eles ficaram juntos foi há seis anos, um dia antes de Luna ir para Oxford.

Um dia antes? Matteo e eu estávamos discutindo para reatar o namoro, e ele não quis...

- Meu Deus – eu arfei baixo, e então voltei a chorar, afundando no chão enquanto puxava as pernas para junto do peito – Eu estava... Eu lutei por aquele relacionamento, agora percebo que lutei sozinha!

Rafael se abaixou e fez menção de se aproximar, mas hesitou e me olhou como se me pedisse permissão, eu não respondi a ele, apenas me joguei em seus braços. Ele me abraçou forte e me deixou chorar em seu peito enquanto nós permanecíamos sentados no chão frio e sujo.

- Ver você chorar é a pior dor do mundo – eu o ouvi sussurrar.

- Por que ele fez isso comigo Rafa? – perguntei chorando – Por que ela me traiu assim? Ela sabia que eu o amava.

Amava? Isso é um avanço para mim.

- Por favor, não fique assim, ele não merece nenhuma de suas lágrimas.

Eu fechei os olhos com força, tentando me controlar e apertando o rosto contra o peito do Rafael, seu doce aroma me acalmava, que perfume maravilhoso.

- O que aconteceu teve uma razão, eu não sei o que foi e nem quero saber – ele continuou – Mas sabemos que a Luna ama você e ela certamente está muito arrependida, um dia se você quiser saber, eles terão de lhe explicar e você decidirá se os perdoará ou não – ele parou um momento, acariciando meu cabelo com delicadeza – Mas agora eu preciso que você entenda que ele não te merece, não merece seu tempo e nem seu choro. Você sabe melhor do que eu como tudo mudou entre vocês.

Ele tinha razão, eu não sentia o mesmo que há sete anos, quando Matteo e eu começamos a namorar eu era loucamente apaixonada por ele, nós não nos desgrudávamos e estávamos sempre nos divertindo, o fato de ser um namoro escondido tornava tudo ainda mais excitante.

Depois de alguns meses, as coisas começaram a ficar preocupantes, nós brigávamos o tempo todo por besteiras, as vezes por ciúmes – a maioria pela minha parte –, as vezes por idéias divergentes, outras vezes apenas por não ter atendido uma ligação;

Eu achei que precisava de um tempo distante pra gente perceber que nos amávamos e que precisávamos parar de brigar, foi quando eu viajei com minhas amigas e depois com meus pais, passando todo o verão por vários lugares, menos em Buenos Aires.

As coisas só pioraram, nós brigávamos feio por telefone, eu gritava com ele por ter saído com os amigos solteiros, ele brigava comigo por ter bebido e dançado até tarde em baladas, nós simplesmente não conseguíamos nos entender. Então nos separamos.

Eu chorei por dias, e corri atrás dele através de mensagens e ligações, eu não podia deixar um ano de namoro ser jogado pela janela por causa de brigas desnecessárias, mas era tarde. Matteo sempre deixou claro que odiava escândalos e tempestades em copo d’água e eu confesso que eu tinha culpa por ter exagerado tanto em minhas reações, mas eu ainda o amava, será que ele me amava? Era o que eu me perguntava.

Matteo ignorava minhas ligações e mensagens, quando nós nos falávamos era sempre resultante em brigas porque ele não me contava onde estava, o que eu não sabia é que ele estava com a Luna, na época eu poderia não ter discutido se ele me contasse, mas hoje eu entendo, ele estava com Luna, mas estava me traindo. Canalha.

Quando reatamos em Harvard, o começo foi tranquilo e familiar, era bom, mas tudo mudou quando voltamos a Buenos Aires, a necessidade que eu sentia em me casar com ele não era a mesma, quando eu fazia planos, raramente me lembrava de incluir ele, eu tinha sonhos para nós dois e depois de tudo eu estava fazendo sonhos para mim mesma, eu não me importava com ele estar distante ou com suas escapadas durante a noite para ficar sozinho ou sei lá o que, era tudo diferente e eu sabia exatamente o porque.

Afastei o rosto um pouco para conseguir olhar nos olhos de Rafael.

- Foi você – eu sussurrei – Você chegou e me acordou, você me mostrou que eu estive errada o tempo todo. Eu não precisava mais me casar com ele, eu não dependia mais dele como antes. Tudo por você.

Rafa tocou meu rosto e seus olhos azuis encararam os meus, fazendo-me arrepiar da cabeça aos pés, era o efeito que ele tinha em mim sempre que me olhava.

~

Algumas semanas antes...

Eu estava sentada no grande sofá da sala da mansão da minha madrinha, estava perdida entre as revistas de noivas que tinha em meu colo e espalhadas pelo estofado. Ao meu lado meu celular brilhava indicando algumas mensagens, mas eu não queria responder nenhuma delas.

Matteo tinha desaparecido a tarde inteira e eu não fazia a mínima ideia de onde ele estava, mas não estava preocupada com isso, o que era bem estranho e diferente.

Eu ri sozinha imaginando que a Ambar de seis anos atrás ficaria orgulhosa de mim.

- Qual é a piada da vez? – ouvi aquela voz e tremi um momento com o susto.

Olhei para trás a tempo de ver o Rafa se aproximando, ele usava uma de suas calças jeans apertadas, no tom de azul que eu adorava, escuro. A camisa branca fazia seus olhos azuis brilharem e saltarem de seu rosto em contraste com o cabelo loiro, o sorriso era tão grande que eu automaticamente abri um sorriso em resposta.

- Nada de mais, só algumas noivas engraçadas – apontei para as revistas, mentindo descaradamente.

Rafael se aproximou mais e tirou um pouco das revistas, apontando o lugar vazio ao meu lado, eu assenti e ele se sentou, tomou a revista das minhas mãos e começou a folhear, eu mordi o lábio para não rir do atrevimento dele.

- Santo Deus – ele exclamou, depois começou a rir – Quem em sã consciência usaria um vestido desses?

Eu me aproximei mais vendo o vestido que ele apontava, ele era grande e redondo, como um bolo, bastante cheio e com as mangas nos ombros relativamente altas para a época, certamente um vestido retro e bem bufante, eu o acompanhei rindo alto.

- Eu certamente não.

- Ainda bem – ele respondeu e voltou a folhear – Porque ele é horrível.

- Há quem goste, mas eu prefiro vestidos justos – comentei dando de ombros.

- Tipo esses?

Ele me apontou um vestido longo e muito justo, com mangas até os pulsos e gola alta que iam até o topo do pescoço, ele era branco, mas as flores de renda eram no tom de creme. Eu explodi em risadas enquanto Rafael gargalhava alto, jogando a cabeça para trás dramaticamente.

- Esse não! – respondi alto, rindo – Esse é horroroso para mim!

- Ah qual é, ele é lindo! – ele disse brincalhão – Você iria ficar igualzinha a uma filha santa de um fazendeiro bravo que não entrega a filha a qualquer um, como naqueles filmes.

- Filha santa? – eu ri ainda mais – As santas são as piores, você sabe.

Ele abriu a boca em uma falsa surpresa e colocou a mão no peito.

- Está confessando seu próprio crime, que audácia – ele sacudiu a cabeça depois riu quando bati em seu braço.

Nós continuamos ali por um tempo, folheando as revistas, sempre rindo e tirando sarro de vestidos extremamente feios e de penteados estranhos.

- Esse mais parece um ninho de passarinhos – eu comentei rindo.

- Se você não usar esse penteado, eu nem vou ao seu casamento – Rafa brincou com um tom de seriedade, depois voltou a rir.

Eu mordi o lábio inferior, tentando me controlar, enquanto mantinha minha cabeça apoiada no braço e meu corpo estava virado para ele ao meu lado, estávamos tão próximos que eu podia sentir se doce perfume. Algo estranho acontecia com meu estomago, uma sensação estranha, seria fome?

- Você já escolheu o seu? – ele perguntou.

- Separei alguns, mas nada oficial.

- Posso ver? – ele se virou e me olhou nos olhos.

Por um momento eu perdi o fôlego, com aquele tom de azul lindo e tão intenso, todo o meu corpo entrou em alerta e eu me arrepiei por completo, eu achava que meus olhos eram bem azuis, mas os dele eram ainda mais, tão azuis que eu juraria serem lentes, se não tivesse tão perto. Parecia literalmente com o azul do céu em um dia ensolarado de verão.

Ouvi seu pigarro baixo e sacudi a cabeça, voltando a realidade.

- Ah, claro, pode sim.

Eu me afastei e inclinei para frente, pagando a revista na mesinha de centro. Abri na pagina com o post-it rosa, eu tinha colocado diferente dos amarelos para lembrar que aquele tinha sido o meu favorito. Entrei a revista aberta ao Rafael e ele ficou em silêncio olhando a fotografia.

O vestido era justo, mas não de uma maneira exagerada, ele tinha alças de renda de uma largura de no Maximo 2cm, a renda descia até o decote onde se espalhava pelo busto do vestido e se perdia entre o tecido branco, ao chegar no quadril o vestido continuava colado ao corpo e perto dos joelhos se abria de modo que parecia ser uma flor de copo de leite de cabeça para baixo.

Ao lado estava a foto das costas do vestido, a renda continuava em cima e depois se abria, formando um decote redondo nas costas que terminava rente ao fim da coluna, voltando ao justo de vestido e depois se abrindo novamente como a frente. Aquele vestido me fazia perder o fôlego.

Mas Rafael ficou em silêncio e aquilo me assustou. Será que ele tinha odiado? Ele riria do meu vestido favorito? E por que eu estava tão preocupada com sua opinião ou reação? Não é nada de mais...

- É lindo – o ouvi sussurrar – Ambar ele é incrível. Você ficará deslumbrante nesse vestido.

- Mesmo?

- Mesmo – eu olhei seu rosto e o vi sorrindo – É absolutamente lindo, e é a sua cara, já posso vê-la nesse vestido, você vai ficar lindo, absurdamente maravilhosa, eu estou... Uau; Eu preciso te ver nesse vestido.

Ele se virou para mim rindo e minhas bochechas ficaram quentes, certamente eu estava toda vermelha, depois meus olhos encontraram os seus outra vez e me arrepiei de novo.

Mas que droga é essa?!

- Eu aviso quando for experimentar – eu disse sem pensar – E obrigada.

- Você não precisa me agradecer por dizer a verdade – ele não tirou os olhos dos meus – Sinceramente você ficaria linda até com um saco de lixo.

Uau. De onde esse príncipe veio?

~

Eu sorri levemente, voltando a realidade depois daquela linda lembrança. Rafa ainda acariciava meu rosto enquanto limpava minhas lágrimas e me acalmava em seu abraço, era a melhor sensação de todas.

Depois de beijá-lo, é claro – pensei.

- Por que você antecipou o casamento? – ele perguntou depois de um tempo, e então, como se tivesse lido meus pensamentos, acrescentou: – Foi por que nos beijamos?

Eu engoli em seco e me esforcei para levantar um pouco, mas continuamos sentados no chão e seu braço continuava ao redor da minha cintura, apoiando minhas costas. Eu respirei fundo sem conseguir olhar para ele.

- Eu estava assustada – confessei baixo – Eu sempre estive no controle de toda a minha vida, um habito horrível que minha mãe fez o favor de me ensinar – revirei os olhos – Eu me planejo em tudo, eu iria me casar com o Matteo, nós teríamos nossa casa, eu começaria meu emprego como editora de uma das revistas mais importante da cidade, tudo seria incrível, estava tudo sob o meu controle.

Eu suspirei baixo, ainda olhando para o meus dedos enquanto cutucava o canto das unhas, completamente nervosa com aquela conversa.

- Mas ai você apareceu e mudou tudo – sussurrei – Eu gostei de você logo de cara, achei que ia ser incrível ter um amigo como você, mas era estranho porque eu passei a me esquecer dos meus planos, você me chamava para sair e eu ia correndo, eu fazia alguma coisa e só conseguia pensar no que você diria que nos faria rir, no fim de todos os meus dias eu só queria encontrar você lá na mansão e contar sobre tudo o que aconteceu e escutar você falar sobre seu dia com esse sotaque mexicano que eu amo.

Ele riu baixo e eu o acompanhei, finalmente consegui olhar para ele e notei o lindo sorriso, eu sorri de volta.

- Rafa eu estava me apaixonando por você – confessei e ele sorriu ainda mais, era contagiante – Por isso entrei em pânico, comecei achar que era uma loucura, eu estava noiva de uma cara que namorava há tanto tempo e desistia de tudo por um cara que eu conhecia há um mês e que namorava a minha prima, bom, pelo menos era o que pensava naquela época – eu dei de ombros, rindo baixo – E quando você me beijou, eu... Nossa, eu fui ao céu e voltei. Não me lembro de ter sentido algo parecido antes, e aquilo foi o suficiente para eu antecipar o casamento, achei que se me casasse logo com o Matteo eu me esquecia de você, achava que era uma paixonite de verão.

- Sou uma paixonite de verão? – ele perguntou fingindo estar magoado, mas riu logo depois – Não sei se fico magoado ou dou pulos de alegria.

- Seu bobo – eu o empurrei de leve e ele agarrou minha mão.

Rafa apertou minha mão e beijou os nós dos dedos, eu prendi a respiração por um momento, minha vontade era pular em seu pescoço e matar a saudade daquele beijo que não saia da minha cabeça.

- Ambar...

- Loirinha – eu corrigi com um sorriso tímido.

Rafa sorriu para mim, o sorriso mais lindo da noite.

- Loirinha – ele se corrigiu – Você não precisa estar no controle de tudo, eu sei o quanto é assustador gostar de alguém quando se está com outro que já é seu há tanto tempo, mas o amor é assim – ele deu de ombros – Eu também não esperava vir pra cá e conhecer a garota mais linda que eu já vi, muito menos esperava me apaixonar por ela, mas aconteceu e eu não posso lutar contra isso.

Eu fiquei em silêncio enquanto ele me olhava, era maravilhosa a sensação de saber que alguém me amava. Era como ir ao céu. Rafa riu depois de um tempo.

- Seria muito egoísta da minha parte dizer que estou feliz que o casamento acabou? – ele perguntou.

Eu ri alto, sacudindo a cabeça e depois pousando-a em seu ombros.

- Ai, loirinho – eu suspirei, rindo – Não, não é egoísmo. É estranho, mas te entendo, acho que o casamento iria acabar de qualquer maneira, eu descobrindo a verdade ou não.

- Você planeja isso? – ele perguntou, voltando a me abraçar.

Eu assenti em silêncio.

- Eu estava paranoica com as duvidas frequentes, pensando se era certo ou não, se deveria ou não cancelar, e então eu cheguei a uma conclusão – olhei para ele de novo – Se tenho muitas duvidas então não estou certa do que quero, por isso não iria me arriscar.

- Então você não ficou brava com o termino de tudo, porque já ao terminar – Rafa franziu a testa – Mas ficou brava com o fato de eles terem feito o que fizeram pelas suas costas?

- Exatamente – disse por fim – Se ele tivesse sido sincero quando aconteceu da primeira vez, esse escândalo não teria acontecido. Mas ele deixou isso se arrastar e me fez de boba.

Rafa concordou em silêncio.

- Eu sei que fiz errado em não enviar as cartas também, mas eu segui o que minha mãe dizia, ela enchia a minha cabeça com ideias de que Luna e Matteo eram mais que amigos, ela estava certa.

- Luna sofreu muito longe dele – ouvi Rafa murmurar – Todos os aniversários eu fazia de tudo para anima-la, mas ela ficava até o ultimo minuto checando o celular na espera de uma ligação e ele nunca ligou.

Eu engoli em seco, aquilo de certa forma me machucou, eu sabia que o Matteo fazia o mesmo no aniversário dele, e no aniversario dela ficava se segurando para não ligar, por minha culpa obviamente. Mas nada se compara ao que eles fizeram comigo.

- Não quer pensar neles agora, preciso urgentemente me deitar ou minha cabeça vai explodir.

- Vem, vamos pra cama.

Rafa se levantou e me ergueu consigo, ele me carregou pelo curto caminho até a cama e me colocou deitada, com algum esforço consegui tirar o edredom embaixo de mim e pude me cobrir. Ele beijou minha cabeça e fpo saindo, mas eu agarrei seu braço.

- Fica comigo – pedi baixo.

- Tem certeza?

Assenti de olhos fechados e senti quando Rafa levantou o edredom para se acomodar junto comigo, eu envolvi sua cintura com o braço e deitei a cabeça na curva do seu ombro. Nós dois suspiramos ao mesmo tempo.

- Me desculpe ter escondido as coisas de vocês – ele sussurrou.

- Não precisa se desculpar, eu entendo que o segredo não era seu – murmurei – E olha o que você está fazendo por mim, é... Tudo!

- Queria poder fazer mais.

- Você sempre faz, sabe disso.

Por algum motivo eu me lembrei da vez que nós fomos para o ensaio da dança dos padrinhos e dos noivos, aquele professor maluco que mandava a gente ficar trocando os pares.

- Se lembra do ensaio da valsa? – perguntei baixo.

Rafa riu baixo, balançando os nossos corpos.

- Você estava tão brava!

E estava mesmo...

~

Algumas semanas antes...

Eu já tinha trocado de pares duas ou três vezes e já estava espumando de raiva, eu não podia acreditar que minha mãe tinha contratado aquele homem maluco! Onde já se viu, ao invés de estar fazendo essas doideiras, ele deveria ensinar-nos a dançar valsa!

- Troca! – eu o ouvi gritar.

O meu par da vez era o Rafa, ele me olhou com divertimento enquanto sua mão agarrava a minha mão e a outra se mantinha firme na minha cintura, eu envolvi um de seus ombros, me mantendo perto.

- Juro que se eu escutar esse homem falando troca de novo eu vou dar um berro – sussurrei no seu ouvido.

- Ah, qual é loirinha, o cara é um gênio – ele ironizou, me fazendo ir ao escutar sua risada em meu ouvido – Acho que ele deve ser tudo, menos professor de dança.

- Não é tão difícil ensinar valsa, ora bolas.

- Ora bolas – ele me imitou e eu bati nele – Você está muito brava hoje.

- Claro, porque esse homem é maluco e está estragando tudo!

- Troca! – o “professor” gritou.

Eu bufei de raiva, mas Rafa continuou me segurando e girou nossos corpos, de modo que ninguém visse se trocamos ou não os pares.

- Calma, vamos te tranquilizar – ele murmurou – Vou te ensinar uns passos de dança incríveis.

Rafael começou a me conduzir, direita, esquerda, direita, esquerda, pra frente, pra trás, girando, voltando a posição original, direita e esquerda de novo.

- Nossa, e não é que você dança mesmo?!

- Claro que sim, minha mãe fez questão que eu aprendesse – ele me contou – Sempre tínhamos bailes em nossas festas de natal, ela me vestia como um manequim do século quinze.

Eu ri alto imaginando um Rafael mais jovem sendo obrigado a aprender dançar.

- Era um daqueles ternos ridículos de um azul bem extravagante e uma gravata cheia de babados que mais parecia um babador.

Eu ri ainda mais imaginando novamente as cenas.                                       

- Você só pode estar brincando!

- Estou falando serio – ele riu comigo – E ai eu ficava tão bravo com ela que começava a estragar tudo. Eu comia toda a comida, quando as pessoas queriam apertar minhas bochechas eu virava de costas e dizia “apertem essas bochechas então!”.

Eu gargalhei sem parar, jogando a cabeça para trás e perdendo até os ritmos da dança, meus olhos cheios de lágrimas de tanto rir. Rafael estava do mesmo jeito.

- Sem falar nas mulheres que iam com aqueles vestidos bufantes que mais pareciam fantasias e eu entrava embaixo da saia do vestido e mordia a perna de todas elas.

- Você era um menino muito atentado! – eu gargalhei – E safado também.

- Ah, sabe como é, eu adoro coroas, ainda mais loiras – ele piscou – Sua mãe que não se cuide, viu.

Eu arregalei os olhos e ele gargalhou alto, mostrando que era brincadeira e eu o estapeei sem parar, até ele segurar minhas mãos e nós rimos juntos. Olhei ao redor para ver se alguém nos olhava, mas todos prestavam atenção no estranho casal de amigos que dançavam perfeitamente bem, com truques, sorrisos e abraços que eu nunca tinha visto antes.

A química de Luna e Matteo era algo de dar inveja. Eu olhei para o Rafa que os encarava encantado, eu suspirei.

Quero ser feliz assim também.

~

Meus pensamentos voltaram ao tempo presente para seus lindos olhos que me observavam.

- Eu ainda queria poder fazer mais – ele murmura.

- Rafa, você me ama?

A pergunta o pega de surpresa, posso ver por seus olhos, mas isso não impede de acenar com a cabeça freneticamente antes de colocar a mão sobre meu rosto.

- Amo – ele sussurra e é como se anjos cantassem para mim.

Eu sorrio, saboreando o momento daquelas palavras, o quanto eu esperei para ouvir isso? Matteo já tinha me dito que me amava um milhão de vezes acho, mas nunca soou tão verdadeiro e tão intenso como dessa vez. Então dou de ombros.

- Isso já me faz a mulher mais feliz do mundo.

- Não seja boba – ele ri e me aperta mais – Eu ainda tenho um longo caminho para trilhar até te fazer a mulher mais feliz desse mundo. Lembra?

Levo um momento para entender do que ele está falando, mas antes que eu possa sorrir com a lembrança, Rafa interrompe de novo.

- Eu disse para você, eu te prometi que você seria amada da forma como merecia e estou disposto a lutar por isso todos os dias, a cada dia mais, se você me permitir.

Respiro fundo algumas vezes, a sensação calorosa invade meu peito e me aquece em meio a tristeza que estava ali, minha mente viaja e retorna ao dia em que Rafa me fez essa promessa.

~

Duas semanas antes...

Eu estava estranhamente calma enquanto arrastava minhas malas lá para fora com a ajuda de alguns empregados. O fato do Matteo ter dito que vai ficar para resolver coisas e vai pro sitio só no dia seguinte era para ter me irritado ao ponto de eu querer arrebentar tudo e arrastá-lo comigo a força;

Mas ao contrario disso eu prossigo com as malas, cantarolando uma melodia desconhecida enquanto avisto de longe o Rafa brincar feliz dentro do carro de Matteo. Uma risada pequena escapa de meus lábios, ele é tão criança! Mas não de um modo maldoso ou que o prejudique, é apenas o Rafa sendo o Rafa.

Sempre tão divertido, vendo o lado bom em todas as coisas e muito disposto a trazer o melhor para as pessoas, não importa seu humor ou o que esteja acontecendo.

Com um sorriso eu corro até o carro e me inclino sobre a sua janela. Rafa pula assustado e aquilo me faz rir.

- Pronto para decolarmos, capitão? – eu pergunto.

- Sim senhorita! – ele bate continência – Próximo destino: as estrelas!

Eu solto um gritinho de animação e corro para o outro lado do carro, entro no mesmo e coloco o cinto de segurança, quando tudo está pronto Rafa liga o carro e dirige rápido – até demais – pelas estradas a frente. Disfarçadamente eu agarro as laterais do meu banco, temendo pela própria vida.

- Nessa velocidade chegaremos mesmo as estrelas – eu brinco

Rafa ri e diminui a velocidade, de modo que consigo ouvir meus próprios pensamentos, uma ótima oportunidade para conversarmos, e então eu puxo o primeiro assunto que me vem a cabeça.

- Me fala sobre sua família, Rafa – eu sorri carinhosa e ele solta a falar.

***

Quase uma hora depois e estamos na grande mansão do sitio Benson, aos poucos a grande turma vai chegando e a casa vai ficando mais cheia. Nós dividimos os quartos e por um momento penso em dividir um quarto com as meninas, mas não sei como isso vai afetar as coisas entre mim e o Matteo.

Nós já estamos frios o suficiente um com o outro e não quero criar mais problemas, então separo um quarto para nós dois ficarmos a sós.

Lá embaixo o pessoal ri e se diverte, eu me permito participar daquele momento, esqueço de todos os problemas e pensamentos que martelam em minha cabeça e durante aquela noite eu sou apenas Ambar.

Rafa está sempre por perto agarrando minha mão, gargalhando sobre algo idiota, me contando piadas, me fazendo gargalhar igualmente idiota como ele, mas ele está ali, me fazendo bem.

Mas então quando estou sozinha tudo volta. Deitada na enorme cama eu me sinto só e os pensamentos voltam a minha cabeça. Por que eu não estou pensando em Matteo? Por que eu não estou trocando mensagens com ele? Por que eu não estou pensando no casamento? Por que, de repente, a casa que escolhemos não me agrada muito? Por que tenho tantas duvidas?

Por que me sinto tão bem perto do Rafael?

Com um suspiro alto eu me livro dos lençóis e salto da cama, desço apressadamente para a cozinha e disparo até a geladeira, bebendo a água gelada diretamente da garrafa.

- Eca – uma vez surge na escuridão e me faz pular – Isso não é higiênico.

Reconheço a voz do Rafael e ele se aproxima, a luz da lua que entra pela janela ilumina seu rosto e quando vejo seus olhos eu me arrepio, não é mais surpresa para mim, se torna uma reação normal, como piscar por reflexo.

Apesar do comentário anterior, sei que Rafa está brincando e ele prova isso ao tomar a garrafa das minhas mãos e beber ele mesmo diretamente da garrafa, eu tento conter o sorriso com o lábio inferior, mas a verdade é que eu achei aquilo muito sexy.

Sacudindo a cabeça eu me encaminho até uma das cadeiras da bancada e ali me sento, Rafa larga a garrafa ali em cima e se aproxima, sentando ao meu lado.

- Por que está acordada? – ele pergunta.

Eu encolho os ombros.

- Muitas coisas na cabeça.

- Estou aqui para ouvir cada uma delas – ouço murmurar – Talvez isso ajude a tirar um pouco da sua cabeça e assim você pode dormir.

Embora eu não acredite muito, o seu argumento me faz pensar que seria uma boa ideia, mesmo que eu não me abra para ninguém, com o Rafa é diferente, eu não preciso nem pensar, as palavras simplesmente saltam da minha boca e dessa vez não é diferente.

- Não sei se sou amada e se amo o suficiente para me casar.

- O que? Por quê?

- Não sei Rafa, mas hoje... Acredita que hoje eu disse a ele que o adorava? – eu ri baixo – Não foi “eu te amo” foi “te adoro”, isso é brochante.

Rafael ri comigo e sacode a cabeça em negação ao mesmo tempo.

- Mas por que diz essas coisas? – ele insiste.

- Ah, não sei Rafa – suspiro baixo – As vezes eu olho para mim e para o Matteo e é tudo tão diferente, não é como nos filmes ou como...

Eu paro ali sem ter coragem de falar o que falaria, não sei se Rafa levaria aquilo na esportiva, ele poderia se incomodar e ter ele com raiva de mim é a última coisa que eu quero.

- Como o que? – ele me pressiona.

Ele me olha, mas eu sacudo a cabeça em negação.

- Fala Ambar, somos amigos e estou aqui para te ouvir.

- Como a Luna e o Matteo.

Como esperado, o rosto de Rafael ficou branco, eu sabia que não devia ter falado nada. Luna e Matteo são amigos e, embora minha mãe tenha colocado ideias na minha cabeça, sei que são apenas amigos. Mas a química que eles tem é um coisa de se invejar.

- Por que diz isso? – Rafa finalmente pergunta.

- Eles são só amigos, eu sei. Mas a química deles me da inveja – eu rio sem jeito.

Surpreendo-me quando o Rafa ri comigo.

- Loirinha você não tem que ter inveja – diz ele, sacudindo a cabeça – Sabe, as coisas podem mudar com o tempo, pessoas, sentimentos, tudo muda nada nunca é o mesmo. Talvez isso tenha acontecido com você e com o Matteo, mas não significa que ele não te ame, ele não se casaria com você se não amasse – ele suspira baixo – Mas também sabemos que casamento é uma coisa bem séria e como seu amigo eu te aconselho a pensar bem sabe? Não precisa ter pressa de casar.

- É que é o ideal... – não tinha me dado conta que estava quase chorando, mas minha voz sai embargada – Minha mãe me ensinou a fazer esses planos desde pequena, namorar até certo tempo, noivar, casar, ter filhos e o principal ser feliz.

- Quem disse que precisa seguir essa regra? – ele pergunta rindo – Ambar a única regra que precisamos seguir é a regra de ser feliz!

Rafa se levanta e começa andar e gesticular enquanto fala, eu preciso virar na cadeira para olhá-lo.

- Que se dane casamento, que se dane noivado, filhos planejados, a vida não é assim e todo mundo sabe – ele para e se aproxima um pouco – As pessoas encontram a felicidade em viajar, outras em ter filhos, outras em comida, outras em dança, em música, em pinturas, a felicidade está por toda parte!

- Mas eu quero ser amada!

- Mas você é! – ele se aproxima mais e agarra meu rosto em suas mãos, eu quase caio para trás quando vejo seus olhos tão pertos dos meus, a respiração se misturando com a minha – Você é amada...

Engulo em seco enquanto tento falar, mas sua proximidade me intimida e me causa sensações que não esperava ter, sensações boas.

- Como... Sabe? – consigo perguntar.

- Eu só sei, ok? – ele finalmente se afasta e solta meu rosto, mas ainda assim ficamos perto – Olha, o que eu sei é que se fosse eu demonstraria o quanto é amada todos os dias da minha vida, seria a minha missão. Eu sairia por ai de mãos dadas com vocês e te faria rir o tempo todo, faria coisas estranhas só pra te deixar com vergonha para ver esse rosto lindo corando, te encheria de beijos e abraços na frente de todos para que soubessem que era minha e que estávamos juntos, eu te levaria para conhecer todos os lugares que não conhece, desde a esquina da rua tal até o outro lado do mundo, eu diria que te amo em todos os idiomas possíveis, eu te abraçaria todas as manhas, te beijaria todas as noites, eu secaria suas lágrimas e te recompensaria por cada uma delas que fosse por minha causa, acima de tudo eu seria capaz de abrir mão da minha felicidade para ver a sua, porque isso é amar alguém, é ser apaixonado o suficiente para ver quer a pessoa merece alguém melhor e deixá-la ir, mesmo que isso parta seu coração. E, Ambar, se o Matteo não consegue ver isso em você, se ele não consegue fazer isso por você, então me desculpe, mas ele não é digno de passar o resto da vida ao seu lado – ele para um momento tomando fôlego, depois seus olhos estão nos meus de novo – Mas eu posso te prometer, que se fosse eu no lugar dele faria você a mulher mais feliz desse mundo até o meu ultimo suspiro.

Uau. Eu estou... Isso foi... Uau.

Não percebo quando as lágrimas escorrem por minhas bochechas até o Rafa se inclinar e beijar meu rosto, limpando-as de um modo carinho e que me faz perder o fôlego.

- Desculpe se isso foi demais – ele sussurra depois de limpar a ultima lágrima – Mas você precisava escutar e precisa entender, então pensa bem... – seu sorriso é lindo e ele toca meu rosto – Durma bem, minha loirinha.

Ele saí do meu campo de visão e quando o escuto subindo as escadas consigo finalmente soltar o ar que estava prendendo mesmo sem perceber. Ninguém nunca tinha feito uma declaração tão linda como essa, eu sinto que posso flutuar com tantas borboletas em meu estomago, e o sorriso no me rosto seria capaz de partir o rosto em dois.

Eu sabia, eu estava me apaixonando pelo Rafael. Mas aquilo não era certo, como eu poderia me apaixonar por alguém que conheço há algumas semanas estando de casamento marcado com a pessoa que conheço e amo – ou acho – há praticamente sete anos?

Isso vai estragar tudo!

~

- Você pode fazer isso agora – sussurrei acariciando seu rosto.

- Se você me permitisse... – ele colou sua testa na minha e eu fechei os olhos – Ambar se você ao menos me permitisse, eu fugiria com você sabia?

- O que? – perguntei rindo.

- É serio – ele confirmou ainda rindo – Eu fugiria com você onde ninguém nos perturbasse, onde fosse só você e eu, teria coisa melhor?

- Não mesmo – concordei com um sorriso.

Rafa se aproximou ainda mais e quando abri os olhos encontrei os seus sedentos por mim. Já podia sentir sua respiração próxima da minha e o coração acelerado, isso me lembrava do nosso primeiro beijo.

~

Dois dias antes...

Matteo foi viajar a trabalho, eu deveria ficar mais triste, com saudade né? Mas não sinto muito isso. Pra ser sincera acho que é bom mesmo termos um tempo separado, afinal só falta uma semana para casa e depois passaremos o resto da vida juntas.

Uau, isso é muita coisa.

Eu até ficaria com a Luna, mas ela foi para casa da Nina e também o Rafa disse que ela ia trabalhar nesse fim de semana e ele, sendo o maravilhoso amigo que é, topou passar o fim de semana comigo.

Na sexta a noite nós comemos pizza e fizemos maratona de friends durante a madrugada inteira, foi incrível e me rendeu muitas risadas com as imitações perfeitas do Rafa de todos os personagens, principalmente o Ross. No sábado de manha nós fomos a praia, eu quase morri afogada enquanto me deitava na areia perto do mar para tirar uma foto, claro que o Rafa sendo quem é quase se mijou de tanto dar risada enquanto eu cuspia água, mas eu tinha que confessar, tinha sido mesmo muito engraçado.

Durante a tarde nós fomos a uma feira ali perto e compramos pulseiras iguais, Rafa achou meio brega, mas eu achei muito fofo.

- Luna e Matteo tem uma tatuagem, nós temos pulseiras – foi a explicação que dei a ele e não sei se foi isso que o convenceu ou se foi meu olhar suplicante.

No sábado a noite Rafa me levou para comer fora, um restaurante maravilhoso que serve diversos tipos de hambúrguer e batata frita, sem falar nos copos gigantes de refrigerante. Depois nós saímos para dançar e nos divertimos a beça com os passos engraçados que fazíamos tentando impressionar, o que ocasionou em muitas risadas e olhares de quem não conhecíamos.

- Foi demais! – eu disse enquanto saímos do clube de dança, estava chovendo forte lá fora.

Já passava das três da manha e eu não lembrava nem onde estava o carro, mas também não me importava, eu passaria a noite toda ali dançando com ele e rindo.

- Podemos vir mais vezes depois que você... – ele parou ali e suspirou – Depois da sua lua de mel, se seu marido não se importar.

Meu marido. Pensar naquilo me causa um enjoo estranho e me faz correr pela chuva até uma viela do outro lado da rua, onde despejei toda a comida e bebida que tinha ingerido, eu nem ligava de estar toda encharcada, mas sim porque Rafa estava ali segurando o meu cabelo e me vendo vomitar. Que vergonha.

- Você tá bem? – ele perguntou.

- Acho que não estou acostumada a beber tantas batidas com vodca – explico com um sorrisinho e limpo a boca, fico constrangida – Desculpe.

- Não se preocupe – Rafa ri baixo – Eu entendo.

Nós dois ficamos ali parados tomando chuva e não está ruim, eu até que gosto. Inclino minha cabeça para trás e abro a boca, deixo a água da chuva cair na minha boca e recebo-a com sorrisos, é maravilhoso e serve até para limpar a boca. Rafa ri para mim e faz o mesmo arrancando-me um sorriso sincero.

Rafa me surpreende ao pegar minha mão e me puxar para o meio da rua, está tarde então não tem muitos carros o que é bom porque certamente um caminhão atropelaria dois malucos que dançam na chuva no meio da rua.

- Disse que não queria parar de dançar – ele grita sob o som alto da chuva e dos trovões – Pois dance rainha da pista, dance como se não houvesse amanha.

Eu o obedeço e começo a rodopiar de braços abertos na chuva, danço de um lado para o outro e agarro sua mão para que ele pule e rodopiei comigo.

- Gritei rainha da pista!

- Eu adoro isso! – gritei.

Rafa riu alto e eu o acompanhei, nós ficamos ali dançando juntos por longos minutos, até que eu pisei numa poça e escorreguei, mas antes de cair ele me segurou e nós gargalhamos.

- Cuida loirinha – disse ele, seu rosto a centímetros do meu, eu podia sentir sua respiração se misturando com a minha – Melhor ficar quieta um pouquinho.

- Posso ficar quieta aqui – sussurro, me inclinando mais pra ele.

Não sei se foi a bebida, mas tudo o que tinha planejado de ficar longe do Rafa para esquecer ele e impedir que meu casamento foi estragado foi literalmente por água abaixo. Eu sabia que minha mãe ia me matar por estragar tudo, mas eu não podia me controlar, eu não podia resistir.

Ele estava tão perto de mim que eu... Deus!

- Rafa eu acabei de vo...

- Eu não ligo – ele me interrompeu rindo e então me beijou.

Quando senti seus lábios urgentes nos meus era como se todo o meu corpo relaxasse de uma maneira que nunca senti igual, me arrepiei quando sua língua tocou meus lábios e eu abri a boca, aprofundando o beijo. Eu o abracei pelo pescoço e o puxei para perto de mim de modo que nossos corpos molhados ficassem colados.

Se me pedissem para descrever a sensação desse beijo ou ao menos o que eu estava pensando, eu não conseguiria. Era algo novo, algo que eu nunca senti antes e estava tão envolvida que nada mais me importava a não ser o delicioso sabor de menta na sua boca e suas mãos que me mantinha perto, agarrando minhas costas e cinturas.

Eu queria que aquele momento durasse para sempre, queria que aquele fim de semana nunca acabasse, por mim existiria somente nós dois em nosso mundinho, sem minha mãe, sem o Matteo, sem a Luna... Ah meu Deus, Luna!

Imediatamente interrompi o beijo empurrando-o com gentileza. Rafa me olhou confuso e eu respirei fundo tentando recuperar o fôlego.

- Não posso – sacudi a cabeça e as mãos em negação – Não posso.

- Por quê? – ele se aproximou e eu fui para trás.

Sacudi a cabeça de novo, dessa vez chorando sem acreditar que tinha acabado de trair meu noivo e, pior, com o namorado da minha prima. O que deu em mim? Droga, sou apaixonada por ele, eu não deveria ter deixado ele chegar tão perto.

- Isso não podia ter acontecido – sussurrei ainda chorando – A Luna...

- Não, Ambar, me deixa explicar uma coisa...

- Não Rafa – respirei fundo – Não fala nada. Acho melhor a gente não se ver por um tempo.

- O que?! – ele quase gritou.

- É o melhor – suspirei – Meu casamento é semana que vem, melhor me deixar em paz.

Tentei seguir meu caminho, mas Rafa agarrou meu braço fazendo-me olhar para ele, as lágrimas se misturavam com a água da chuva, mas os soluços não podiam ser disfarçados.

- E se eu te dissesse pra não se casar? – ele perguntou.

- Não Rafael! Não é tão simples assim, tem a minha mãe, tem o Matteo e a Luna, caramba você namora a Luna!

Consigo me soltar de seu aperto e suspiro alto enquanto ele sacode a cabeça negativamente.

- Obrigada por tudo Rafa – sussurrei baixo e então, com passos apressados, corre para longe dali, chorando e tremendo não de frio, mas de medo.

~

Mas ali estávamos agora, quase três dias depois, e não tinha nada nem ninguém que nos impedisse, então me entreguei por completo, colando meus lábios aos seus e o beijando com intensidade, eu sentia as mãos de Rafa em minha cintura, puxando para perto enquanto eu me afundava no beijo, enroscando as mãos em seu pescoço, agarrando seu cabelo, acariciando seu rosto...

Rafa gemeu baixo quando eu subi em cima dele e comecei a beijar seu rosto, suas mãos desceram para meus quadris e eu sorri em seu pescoço. De repente ele agarrou meu rosto em suas mãos, fazendo-me olhar para ele.

- Deixa eu te fazer feliz Ambar – ele sussurrou, me causando arrepios – Deixa eu te mostrar que eu sou a pessoa certa para você, não precisa ter medo e nem pensar no que vão dizer, só se entrega e vamos tentar. Eu juro com a minha vida que eu nunca vou magoar você, sinto que não posso mais viver sem você, então, por favor... – ele implora – Deixa eu te amar, Ambar. Me ame.

- Eu te amo Rafael – sussurrei e me inclinei, beijando-o de novo.

- Fala de novo – pediu ele, sorrindo em meus lábios.

Eu sorri também.

- Eu te amo Rafa, ninguém me faz tão feliz quanto você, é estranho porque te conheço a pouco tempo, mas sei que é o certo então sim, eu aceito, me faça feliz, fuja comigo, me sequestre, faça o que quiser comigo.

Rafa gritou alto comemorando e gargalhou animado, eu também ri sentindo seu corpo tremendo embaixo de mim, não demorou muito para ele me beijar de novo, depois se virou na cama, me deixando por baixo, seus beijos levaram a caricias, que levaram a suspiros, que levaram as gemidos, que levaram as nossas roupas ao chão e logo estávamos nos perdendo um no outro. Amando um ao outro.

***

Duas semanas depois, parecia mais com um sonho, passei o tempo todo com o Rafa, naquele mesmo hotel, mas todos os dias nos divertíamos de alguma maneira, assistíamos filme e no fim da noite estamos na cama de novo, para mim não existia coisa melhor, pela primeira vez em muito tempo eu estava feliz de verdade.

Eu tinha ignorado todas as ligações da minha mãe, somente mandei uma mensagem ao meu pai avisando que eu estava viva e bem, mas não contei onde estava ou minha mãe seria capaz de vir acabar com a minha alegria.

- O que acha? – escutei a voz do Rafa.

- Desculpa o que? – perguntei.

Ele se sentou ao meu lado na cama, depois de ter escovado os dentes, tínhamos acabado de acordar e estávamos os dois com preguiça de sair para tomar café.

- Eu disse que você devia vir passar um tempo comigo no México – ele sorriu – Conhecer minha família, se desligar um pouco da sua, talvez seja bom.

Eu sorri diante da ideia, era realmente muito bom, ficarmos só nos dois como foi esse semana e sem falar que eu ia conhecer a família dele, um salto e tanto que tornava nosso relacionamento sério.

- Claro, eu ia amar!

- Serio? – seu sorriso era gigante.

- Serio – eu ri com sua empolgação e beijos comemorativos – Quando vamos?

- Domingo – respondeu já se levantando – Então acho que seria bom você voltar para casa, falar com seus pais e...

- Não quero falar com Luna e Matteo agora – me apressei, também levantando – Não acho que esteja pronta.

- Claro, eu te entendo – ele assentiu e me seguiu para o banheiro – Mas acho legal falar com seus pais, contar sobre nós e sobre a viagem.

Ele tinha razão, eu tinha que criar coragem e contar para a minha decisão, afinal a data do casamento já passou, ela deve estar furiosa pelo dinheiro que perdemos e ainda mais por eu não ter de dado uma explicação plausível para que ele retorcesse tudo e contasse aos convidados de modo que não fosse um escândalo.

- Tudo bem – concordei com um sorriso – Vamos lá.

- Essa é a minha garota – ele sorriu e me agarrou por trás, enchendo meu pescoço de beijos e mordidas, arrancando risos meus.

***

- Oi Amanda – sorri para ela quando passei pela porta da frente com Rafa ao meu lado.

- Senhorita Ambar, bom vê-la de volta.

- Minha mãe está por ai? – perguntei.

- Está no quarto dela.

Assenti e troquei um rápido olhar com o Rafa, nós seguimos juntos até a sala, tendo Amanda logo atrás de nós.

- Pode pedir para ele descer com meu pai, por favor, Amanda? – pedi enquanto nos sentávamos.

Amanda assentiu e saiu dali, nos deixando sozinhos, Rafa agarrou minha mão e a beijou, me passando um pouco de coragem, eu sorri para ele. A casa parecia calma, nenhum sinal da minha madrinha, ou da família Valente e muito menos de Luna e Matteo, talvez ele estejam juntos em um lugar longe, como eu e Rafa fizemos.

Mas não me importava, contanto que eles não me aparecesse ali agora, eu não estava pronta.

- Ei, o que é isso? – ouvi Rafa perguntar.

Ele se inclinou e pegou algo na mesinha de centro, eu me aproximei para ver melhor, era um convite azul marinho muito bonito e obviamente caro, os nomes me chamaram imediatamente a atenção.

“Ambar e Matteo”

- Que merda é essa? – exclamei tomando o convite da mão do Rafa.

Minha mãe estava mandando convites? Não pode ser.

Eu o abri rapidamente e li tudo, de olhos arregalados, sem acreditar que minha mãe fez convites dizendo que meu casamento era no sábado, ou melhor, amanha. Como assim? Ela sabe que acabou!

- Resolveu voltar? – ouvi sua voz vindo da escada.

Eu me levantei para encará-la, ela vestia um de seus vestidos longos, o cabelo loiro solto sobre os ombros, atrás dela vinha meu pai com a cabeça baixa.

- O que significa isso?! – exclamei mostrando o convite.

Senti a mãos de Rafa me puxando delicadamente para trás.

- Seu convite de casamento – ela sorriu cinicamente – E espero do fundo do coração que não esteja de caso com esse ai.

Meu sangue ferveu e eu precisei me segurar para não gritar com ela, ao invés disso apertei o convite, rasgando-o e amassando-o.

- O nome dele é Rafael – disse entre dentes – Eu amo ele e ele me ama. Vamos para o México depois de amanha e você não vai me impedir com suas ideias malucas.

Minha mãe respirou fundo, então fechou a cara e voou na minha direção, sua mão agarrou meu pescoço com força no mesmo instante em que a outra empurrava Rafael com força, derrubando-o no chão. Eu gritei assustada e observei meu pai correr em nossa direção para soltá-la de mim, ele conseguiu, mas logo ela voltou e ficamos nessa briga.

Rafael se levantou e me agarrou pela cintura, puxando-me para trás e me escondendo dela, eu comecei a chorar, passando a mão pelo pescoço.

- Sua louca! – eu gritei.

- Você não vai estragar tudo pelo que eu lutei! – ela gritou, se afastando dos braços do meu pai, Rafael a parou antes que ele me alcançasse – Você vai fazer o que eu mando ou eu sou capaz de acabar com sua felicidade nesse instante, Ambar!

- Você é louca, você precisa se tratar! – continuei gritando – Para com sua obcessão de querer me casar com o Matteo! Por que você quer isso? Não se importa comigo?!

- É porque me importo que faço isso! – ela gritou de volta e, não sei como, mas conseguiu agarrar meu pulso, apertando-o com tanta força que pensei que quebraria – Você vai fazer o que eu mando!

- Alice já chega! – meu pai gritou – Eu não vou deixar você fazer isso com a nossa filha!

- A escolha é dela Alice – Rafa também se meteu – Ela escolheu a felicidade dela.

- Chega vocês dois! – ela gritou ainda mais, até os empregados vieram espiar, ao notar isso, ela baixou o tom de voz e me encarou com um sorriso medonho – Você vai agarrar aquele homem com unhas e dentes, e eu sei exatamente como. Agora se prepare, porque o jogo vai virar.

Rafa olhou para mim, assim como o meu pai, eu funguei e limpei as lágrimas. Sem duvidas nenhuma a minha mãe estava fora de si, eu não sei porque ela tem essa obcessão com o Matteo, ou talvez seja com Luna, mas o que sei é que essa obcessão afetou seu psicológico. Ela precisa se tratar, mas não vai querer se isso vier de nós.

Mas por sorte sou tão esperta quanto ela, então eu já tinha um plano. Assenti para o meu pai e para o Rafa em um sinal de que tinha tudo sobre controle.

- Tudo bem mamãe – eu disse – O que vamos fazer?

- Essa é a minha menina – ela sorriu e me puxou dali.

Parei no meio do caminho e suspirei para o Rafa, ele sorriu para mim me encorajando, ele confiava em mim e aquilo significava muito.

Seja lá o que a louca da minha mãe esteja aprontando não vai dar certo, eu sei exatamente o que fazer.

~

As unhas afiadas pintadas de um vermelho sangue tamborilavam no braço cruzado à frente do corpo os olhos azuis permaneciam vidrados na cena a sua frente, eles riam e sorriam um para o outro enquanto brincavam de ser normais. Como se cozinhar juntos fosse fazer eles menos culpados do que já eram.

Ela achava que não era justo que eles fossem felizes depois do que fizeram, afinal, que tipo de pessoa ela seria se deixasse eles saírem impunes enquanto ela tinha sido afetada? Simplesmente não justo e não ficaria assim.

Nem que para isso ela tivesse que sujar as próprias mãos, nem que para isso ela precisasse gastar até seu ultimo centavo, eles não sairiam impunes.

- E a história se repete – sussurrou ela, fuzilando-os com os olhos depois lhes dando as costas.

Os saltos batiam com força no piso de mármore e causava eco no espaço vazio, ela sabia, era a hora de reverter o jogo.

- Vejamos o que eles acham desse trato – ela sorriu no escuro.


Notas Finais


OLÁÁÁÁÁÁAÁ. Cacete, um mês sem postar, prometi que não ia fazer isso de novo, mas fiz. Desculpa mesmo pessoal é que com as ferias eu acabei me envolvendo com os livros, li cerca de treze livros, amoooo. Mas enfim, aí está esse capitulo especial para quem gosta da Ambar e do Rafael, espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu, eles são fofos hahaha.
Bom, tenho uma boa, e má ao mesmo tempo, noticia: o ultimo capitulo já está pronto o que é ótimo, e eu já vou postar na sexta feira as 22h, o que é bem triste porque vou morrer de saudade dessa fic ):
MAS TIVE UMA IDEIA E QUERO SABER SE VOCÊS TOPAM
Seguinte, pensei em gravar um vídeo para você de despedida, se vocês quiserem que eu faça é bem simples, é só comentar aqui que querem e logo em seguida vocês deixam uma pergunta para mim junto do nome de vocês e da cidade de vocês, por exemplo:

"Loh, eu quero o vídeo! Minha pergunta é: Qual o nome da próxima fic? - Fulana de Tal da Cidade Ciclano"

Entenderam? É bem simples, esse foi um jeito que pensei de me aproximar de vocês e achei que ia ser super legal. Vocês podem me perguntar o que quiserem, podem perguntar sobre o fim da fic, sobre meus planos para próximas fics, sobre vida fora daqui, sobre o que quiserem, qualquer coisa. Fiquem a vontade.

Bom, é isso, espero realmente que tenham gostado e que queiram participar desse vídeo comigo. Então, um beijão enorme e até sexta feira para o adeus a Trato Feito. Amo vocês de coração, little dreamers <3


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