História Travels - Fuga

- O que faremos com o caso 31-B referente à invasão da sede da unidade Delta Technology?
A grande sala circular de reuniões do Alto Senado, no Tribunal Máximo de Delta da Paz, ficou em total silêncio por alguns segundos. Os 22 senadores estavam discutindo o que fariam com Matheus Do Santo Delta, que há poucos minutos havia invadido a Sede Central, junto de um cúmplice ainda foragido, Alexandre Augusto de Delta.
- Ele é apenas um jovem. - Jonathan Greathouse de Delta se pronunciou - Eles são assim mesmo. Talvez uma multa ou alguns dias de serviço comunitário fazer-lhe-ão algum bem. Vamos dar uma chan...
- Ele é um criminoso! - Daves Juarez do Delta interrompeu-o. - Ter invadido uma indústria de altíssima importância para nossa sociedade é um crime grave, e ele deve pagar à altura.
- A idade imposta pelo código penal é de...
- ...17 anos.
- O rapaz tem 16.
- Os dados apontam que completará 17 em uma semana. Ele deve ir para a cadeia, ou pior.
Novamente, a sala foi tomada pelo silêncio. Senadores se entreolhavam, esperando que alguém o quebrasse.
- Resolveremos por uma votação. Para que seja aprovado, é necessário 50% de votos mais um, ou seja, 12 senadores devem votar em uma das opções para que seja aprovada. Todos de acordo?
Vinte e um sonoros "Sim" foram ouvidos na sala de reuniões.
- Pois bem. Quem vota para que o rapaz receba alguns dias de serviço comunitário? - Dez senadores levantaram a mão, confirmando seus votos. - E quem vota para que ele receba 8 meses em cárcere na prisão de segurança nível 2 de Delta da Paz? - Novamente, dez senadores levantaram a mão. Os outros dois mantiveram-se neutros à votação.
- Vocês dois também devem votar, Daves e Jonathan.
- Nós já expressamos nossos pontos de vista. - disse Jonathan - A votação está empatada. Então abriremos uma terceira opção. Caso esta receba 8 votos, será aprovada.
- E qual seria essa opção?
O Greathouse suspirou. Não gostaria de ter aberto aquela opção, mas precisava de um consenso naquela reunião para que iniciassem o julgamento em breve.
- Quem é a favor de que Matheus do Santo Delta seja executado?
Mais uma vez, o silêncio cobriu a cúpula. Agora a atmosfera estava tensa, tomada pela preocupação de alguns senadores em ter sangue jovem em suas mãos. Se aquele caso viesse à público, se tornaria um escândalo. Mas a votação precisava ser feita.
Nove. Nove senadores, incluindo Daves, votaram a favor da execução do rapaz. Nove senadores foram a favor de matar a sangue frio um garoto que teria todo um futuro para viver, e que estava apenas defendendo um amigo em sua causa.
- Aprovado. Reunião encerrada. Às 16:35, Matheus do Santo Delta será julgado. Caso não tenha provas para se livrar da acusação, o mesmo receberá a pena de morte.
* * *
Em um metrô, do outro lado da cidade, um rapaz pensava em como livrar o amigo da acusação de ter invadido Delta Technology. Alexandre se julgava, pois era por causa dele que Math estava prestes à ser julgado como criminoso. Estava com o capuz sobre a cabeça para que não o reconhecessem.
- Eu poderia te entregar agora. - disse uma voz feminina para o rapaz. Do seu lado, estava sentada Stella duDelta.
- Por algum acaso você está me seguindo ou algo do tipo?
Alex sequer fez contato visual. Não podia se dar a esse luxo. O metrô possuía algumas câmeras instaladas, e caso se virasse para o lado errado, seria descoberto.
- Talvez eu esteja. Sabe, meu pai disse ter visto alguém parecido com você na linha de produção hoje.
- Apenas um engano.
- E disse também que ele estava procurando um certo manual de um certo robô.
- Como eu disse, apenas um engano.
- Você descobriu a peça não é? - Alex ficou mudo. - Se você me entregá-la e prometer não abrir o bico, não falarei nada para a DESIDEL.
- E o que te faz acreditar que eu posso confiar em você?
Stella aproximou-se de Alexandre, sorriu e sussurrou em seu ouvido, de uma forma que apenas uma garota consegue fazer.
- Eu sou a única em que você pode confiar além de Math, por quê tenho uma certa paixão por você e seu senso de perigo.
Novamente, Alex se calou. Suspirou e levantou-se, iria descer naquela parada mesmo.
- Até mais Stella.
Desceu, deixando a garota no metrô. Agora precisaria ir até o Tribunal Máximo à pé. Iria andar, no mínimo, 3 quilômetros, precisando evitar policiais e câmeras de segurança.
Enquanto isso, Matheus esperava pelo seu julgamento na cela de contensão provisória do Tribunal. Mais dois homens estavam lá, também aguardando seus julgamentos.
- Ei, garoto. - um deles, o que tinha melhor aparência, chamou a atenção de Math - O que alguém da sua idade fez para estar aqui?
Math ficou em silêncio. Não gostava de falar com estranhos, e naquele momento não queria falar com ninguém. Mas novamente, o homem o questionou. E outra vez, e outra vez. Até que cedeu.
- Invadi Delta Technology com um amigo. Feliz?
- Invadiu a Sede Central?! - o outro homem, que tinha mais aparência de marginal se pronunciou. - Nem eu tentaria isso. O Alto Senado costuma dar pena de morte para quem faz isso.
- Espera. Pena de morte? Não é apenas alguns meses na cadeia?
- Dos dois caras que eu conheci que tentaram entrar lá, nenhum sobreviveu pra contar a história. Você tem sorte de estar vivo. - Math se sentou no chão. Massageou as têmporas e suspirou. - Mas porquê tentaram ir naquele lugar?
- Meu amigo e eu presenciamos um robô defeituoso. Ele dizia coisas como "Seguir diretriz", "Exterminar", e outras frases estranhas. Descobrimos uma peça que não tem sequer registro em manuais. E a DT esconde algo no nono andar do edifício.
- Caramba. Tão jovem e tantas histórias. Você poderia ter uma boa velhice, se fosse chegar até ela.
- Obrigado por me animar. Ajudou muito. - o ruivo disse, irônico. Novamente ficou de costas para os dois, apoiado nas grades da cela.
- Bem... - o mais arrumado respondeu. - Você foi de grande ajuda para seu amigo. Talvez ele também o seja para você agora.
E com aquela frase, despertou dentro de Matheus uma chama de esperança.