História Treat You Better - Falling onto my kness

— EU VOU CONHECER O SHAWN MENDES! — Gritei pulando na cama igual uma criança.

— Por todas as suas reações desde que eu te dei o presente e considerando que você deixou a comida esfriar, isso quer dizer que eu acertei em cheio. — Abigail falou rindo e pegando um pedaço da pizza.

— Eu já falei que você é a melhor amiga que alguém pode ter? — Perguntei a enchendo de beijos pela milésima vez.

— Você pode repetir isso quantas vezes quiser, está massageando o meu ego. — Ela falou tentando ficar séria.

— Você vai comigo ao show? — Perguntei guardando o envelope dentro da gaveta da cabeceira.

— Vou sim. E amanhã vamos sair para comprar roupas, já que o show é no sábado. — Ela falou com comida na boca.

— Sua porca. — Falei puxando a caixa da pizza.

— Mas você me ama. — Ela deu um sorriso onde pude ver toda a comida em sua boca.

— Eca. — Falei dando uma tapa de leve no seu braço.

Passamos o resto da noite conversando e escutando música.

Despertei com o celular tocando na manhã seguinte. Levantei da cama num pulo e notei que o quarto estava completamente bagunçado. Tinha caixa de pizza no chão, computador jogado no tapete e uma Abigail esparramada na minha cama. Cocei os olhos numa tentativa falha de fazê-los ficar abertos por mais de um segundo. Tomei um susto quando o celular começou a tocar pela segunda vez.

— Atende logo essa merda! — Abigail deu um grito.

Peguei o celular em cima da mesa e olhei no visor. “Roan”. Atendi antes que parasse de tocar de novo.

— Aonde você está que ainda não chegou na entrada? Já estou aqui fora. — Ele falou de um modo grosseiro.

— Eu estou em casa. — Falei seca.

— Por que você não veio para a aula? — Ele não mudou o tom de voz.

— Roan, acho que depois do que aconteceu ontem eu não te devo mais explicações da minha vida. — Falei impaciente. Quem ele achava que era?

— Estou indo pra sua casa para conversarmos. — Ele falou bufando e desligou a ligação antes que eu respondesse algo.

— Idiota. — Falei jogando o celular na mesa.

— O que aconteceu? — Abigail perguntou enquanto se levantava.

— Roan está vindo pra cá. Ele quer conversar sobre o que aconteceu ontem. — Falei me jogando na cama e cobrindo o rosto com as mãos, num ato de impaciência.

— Vou passar na casa do Trevor ainda, então vou embora logo, tá? — Ela falou enquanto guardava suas coisas na bolsa e calçava o sapato.

— Mais tarde eu te ligo. — Falei a encarando.

— Não esqueça. — Ela falou antes de sair pela porta e fechar a mesma.

Encarei o teto por longos minutos e deixei o meu pensamento mais vazio possível. Não queria ter que encarar uma briga com Roan.

Peguei meu notebook para terminar o trabalho do curso por enquanto. Fazia alguns dias que eu estava fazendo aquele trabalho e ainda não tinha conseguido terminar a conclusão.

Estava terminando de enviar para o professor quando vi que a porta do meu quarto se abriu e eu tive a visão de Roan. Ele estava bem arrumado e recém-tomado banho, exalando aquele cheiro que aprendi a gostar tanto.

— Por que você não me avisou que não ia para o curso hoje? — Ele perguntou se aproximando de mim e parando bem na minha frente.

— Depois do que aconteceu ontem eu não te devo mais satisfações, Roan. — Falei mantendo a expressão séria.

— Ainda somos namorados e você me deve satisfações sim. — Ele falou cruzando os braços na frente do peito.

— Não ache que você é meu dono só porque namoramos. — Falei levantando e ficando na mesma postura que ele.

— Você é MINHA namorada, Gabriela. Eu tenho que saber tudo. — Ele falou descruzando os braços, mas não suavizou a expressão facial.

— Eu vou voltar para o Brasil. E como você não aceita essa minha decisão, acho que devemos acabar agora mesmo. — Soltei de uma vez e me arrependi no segundo seguinte.

— Você não vai voltar para o Brasil e vai ficar aqui. — Ele falou apontando o dedo em direção ao meu rosto num gesto de autoridade.

— Roan, pare de achar que eu sou sua propriedade. Desde quando você se tornou tão estúpido? — Falei aumentando o tom de voz para igualar com o dele.

— Desde que você resolveu que pode me abandonar quando quiser. — Ele falou diminuindo o tom de voz.

Aquela atitude me chocou. Eu não sabia se deixava aquilo me tocar de uma forma positiva ou negativa. Ele estava se mostrando apaixonado ou possessivo?

— Roan, eu já falei que posso voltar sempre pra cá. — Falei tocando seus braços suavemente.

— Mas eu já falei que não vou deixar você ir. — Ele falou sério me encarando.

— Roan, para com isso...

— Gabriela, eu te amo. — Ele me interrompeu.

Arregalei meus olhos e provavelmente fiquei com a cara mais surpresa imaginável. Nesses meses que estávamos juntos ele nunca tinha falado que me amava.

— Não fale isso como uma forma de me manter aqui. Não era assim que eu imaginava que você iria me falar. — Falei visivelmente chateada.

— Eu te amo, Gabriela. E vou fazer de tudo para você ficar aqui comigo. — Ele falou e me beijou no segundo seguinte, sem me deixar responder.

Roan agarrou minha cintura com suas mãos e possuiu minha boca com sua. Fiquei completamente sem reação. Ele me beijou com toda a vontade possível e deixando bem claro o seu desejo por mim. Tentei corresponder o beijo, mas eu não estava conseguindo raciocinar direito.

Suas mãos começaram a percorrer todo o meu corpo e ele foi me empurrando em direção à cama. Ele me deitou de costas e ficou por cima de mim. Continuou percorrendo suas mãos por toda a extensão do meu corpo enquanto me beijava com veracidade. Senti uma de suas mãos tocando minha barriga por baixo da blusa fina do pijama e tentando tirá-la.

— Roan, eu... — Tentei começar a falar.

— Depois conversamos. — Ele falou tentando me calar com um beijo.

— Roan, essa discussão não pode ser resolvida com sexo. — Falei o empurrando.

— Mas eu preciso sentir você. — Ele falou segurando as minhas mãos e beijando o meu corpo.

— Me larga. Eu não quero. — Comecei a me debater enquanto me esquivava de seus toques.

— Até parece que você não adora me sentir dentro de você. — Ele falou com um sorriso safado.

— Eu não estou para brincadeiras, Roan. Me larga. — Falei conseguindo sair de baixo do seu corpo e correndo para longe da cama.

— O quê deu em você, Gabriela? — Ele falou levantando e me encarando.

— Roan, sai da minha casa. — Falei tentando esconder o quanto estava me tremendo.

— Você está com outro, é isso? — Ele falou aumentando o tom de voz e se aproximando de mim.

— Não. — Falei me segurando para não chorar.

— Claro, ninguém iria querer uma sem graça como você além de mim. — Ele falou se gabando e soltando um riso sarcástico.

— O quê deu em você? — Perguntei o encarando.

— Eu que pergunto. — Ele falou se aproximando e agarrando um dos meus braços com muita força. — O quê deu em você?

— ME SOLTA. — Gritei sentindo meu braço doer.

— Você é minha e eu faço o que quiser. — Ele falou me chacoalhando e me empurrando longe.

Me apoiei no guarda roupa para não cair. Senti que poderia desmaiar a qualquer momento com tamanha tontura que estava sentindo. Observei Roan de longe e vi que ele estava colocando seu casaco de novo. Enquanto se ajeitava notei um envelope pequeno caindo no chão perto de mim. Peguei o mesmo e notei que era cocaína.

— O quê significa isso? Você está se drogando? — Levantei e fui na sua direção mostrando o envelope.

— Isso não diz respeito a você. — Ele tomou das minhas mãos com brutalidade.

— É por isso que você está agindo desse jeito? Roan, eu posso ajudar você a sair dessa. — Falei me aproximando dele e afagando suas costas.

— Não fale merda. — Ele falou dando um empurrão forte nas minhas mãos.

— Roan, eu posso ajudar você a sair disso. Podemos superar isso juntos. — Falei tentando não me importar com as dores que estava sentindo.

— Gabriela, você é mesmo uma estúpida. — Ele falou agarrando meus dois braços com muita força, me fazendo sentir mais dor.

— Me solta. — Falei sem conseguir segurar as lágrimas enquanto me debatia para sair dos seus braços.

— Não. — Ele me segurou por mais tempo. Seus olhos estavam sombrios e ele parecia que estava apreciando o meu sofrimento.

— Roan, me larga. Me deixa em paz. Some da minha vida. — Falei sem forças e chorando descontroladamente.

— Você é uma vadia estúpida. — Ele deu uma tapa no meu rosto e me soltou. — Não sei como algum dia eu quis algo com você. — Ele falou com cara de nojo e saiu do meu quarto.

Meu mundo parou por algum tempo. Eu não consegui me movimentar. Não tive reação alguma. Senti que um buraco se abriu em baixo de mim e eu estava sendo sugada.

Aos poucos a minha ficha foi caindo. Meu namorado estava se drogando e agiu como um psicopata comigo. Namorado? Não. Agora era ex namorado. Tanta coisa se passou um poucos minutos e minha cabeça não estava conseguindo processar direito. Senti meus braços completamente doloridos e meu rosto ardendo. Fui em direção ao espelho e me espantei com a imagem que tive. Eu estava com um lado do rosto inchado e com uma marca de mão. Meus braços estavam vermelhos e aos poucos começavam a formar marcas roxas. Continuei me encarando por algum tempo e desabei de chorar no chão.

O que tinha acontecido? Com quem eu estava me envolvendo durante todos esses meses? Como pude ser tão estúpida?

De repente um filme começou a rodar na minha cabeça.

Nos últimos dois meses o Roan tinha começado a agir diferente comigo e eu não consegui notar. Aos poucos ele foi me proibindo de sair desacompanhada dele. Depois eu já não podia voltar do curso sem ele. Há uns dias eu não podia nem esquecer de carregar o celular que ele acabava aparecendo na minha casa completamente transtornado e supondo histórias sobre o que eu poderia estar fazendo para ter esquecido de “simplesmente carregar o celular”.

Como que eu entrei num relacionamento abusivo e nem ao menos consegui notar? Quem ele havia me tornado?

Tentei secar as lágrimas que insistiam em cair. Foi em vão. Fui em direção ao espelho de novo e tudo o que eu consegui ver foi uma garotinha frágil. Eu não conseguia mais me reconhecer.

Senti as tonturas piorarem e tentei me levantar do chão. Minhas pernas não conseguiam obedecer aos meus comandos. Procurei algo para me apoiar e tentei me segurar na mesa enquanto me esforçava para encontrar forças para levantar. Minhas pernas estavam fraquejando a cada passo que eu tentava dar. Senti meus braços pesados e doloridos. A dor estava ficando cada vez pior. Procurei meu celular e acabei caindo sentada na cama. Minha cabeça começou a rodar mais forte e senti a bile subindo. Inclinei a cabeça para o chão e vomitei. Tentei me levantar para terminar de vomitar no banheiro, mas antes de conseguir levantar vomitei mais ainda. Apoiei minhas mãos na cama e senti meu celular embaixo da minha mão. Peguei depressa e tentei ligar para a Abigail. Minhas mãos estavam trêmulas e só consegui digitar o seu número depois de muito esforço.

­— Gabe, você está bem? — Ela atendeu no primeiro toque.

— Eu preciso que você venha aqui em casa urgente. — Falei sentindo ânsia de vômito de novo.

— O que aconteceu, Gabriela? — Ela falou agitada e nervosa ao mesmo tempo.

— Só vem aqui, por favor. — Falei sem conseguir controlar o choro.

— Estou saindo da casa de Trevor agora e ele está indo me levar. Fica calma que eu chego aí em poucos minutos. — Ela falou e eu escutei um barulho de motor de carro ao fundo.

— Estou te esperan... — Não consegui terminar a frase.

Senti tudo girando ao meu redor e de repente minha visão foi escurecendo. A última coisa que me lembro foi da voz da Abigail perguntando gritando o que tinha acontecido e se eu ainda estava na linha.