História Treat You Better - You don't have to do this alone

Por um momento eu me senti desnorteada e sem saber ao certo onde eu estava. Lembrei dos últimos acontecidos e de ter ligado pra Abigail. As coisas começavam a ficar claras aos poucos.

Abri os olhos lentamente enquanto tentava me situar. Reconheci os móveis do meu quarto e escutei umas vozes distantes e conhecidas. Virei o corpo lentamente e consegui ver Abigail e Trevor sentados no tapete conversando. Abigail estava com o rosto inchado, provavelmente tinha chorado recentemente, e Trevor estava fazendo carinho nela. Era uma cena bonita de se ver.

— Gabe, você está se sentindo bem? — Ela notou que eu tinha acordado e veio imediatamente na minha direção.

— Estou só os cacos. — Falei com sinceridade.

— O que aconteceu com você? O que são esses machucados? — Ela perguntou tentando esconder o pânico.

— Roan. — Falar seu nome me fez desabar de chorar de novo.

— Amiga, o que ele fez com você? — Ela falou chorando também.

— Gabriela, você precisa nos contar o que aconteceu. Ele não pode te machucar e ficar só por isso. — Trevor falou sentando do meu lado e segurando uma das minhas mãos num gesto de carinho.

Trevor tinha a mesma idade que eu e Abigail, mas aparentava ser mais velho. Ele era bem alto e com porte levemente atlético. Tinha cabelos castanhos e olhos verdes bem vivos. Ele tinha se tornado um grande amigo meu desde pouco tempo depois que eu e Abigail nos tornamos praticamente inseparáveis.

Suspirei fundo e comecei a contar tudo o que tinha acontecido quando Roan veio até a minha casa. Tudo nos mínimos detalhes. A cada coisa que eu contava Abigail chorava mais ainda e Trevor ficava com mais raiva do Roan.

— Eu vou matar esse desgraçado. — Trevor falou serrando os punhos.

— Não! — Dei um grito. — Vocês dois têm que me prometer que não vão fazer nada. — Falei tentando manter a calma.

— Por que você está nos pedindo isso? — Abigail falou incrédula.

— Vocês não viram o olhar dele. — Falei cabisbaixa.

— Mas isso não pode ficar desse jeito. — Trevor passou as mãos pelos cabelos nervosamente.

— Eu imploro pra vocês. Deixem-no pra lá. — Implorei.

— Vamos com a condição de você não falar mais com ele sob nenhuma hipótese. — Abigail tentou fazer acordo.

— Nós acabamos, eu acho. — Respondi sentindo as lágrimas voltarem a escorrer.

— Você não acha. Saia desse tipo de relacionamento. — Trevor falou tentando manter a calma.

Assenti com a cabeça baixa. Olhei ao redor do meu quarto e notei que eles tinham limpado as poças de vômito.

— Vocês não precisavam ter limpado aquela sujeira. — Falei completamente sem jeito só de imaginar eles limpando toda aquela sujeira.

— Claro que não iríamos deixar pra você limpar. — Trevor respondeu afagando as minhas costas.

— Vá tomar um banho. Nós vamos ficar aqui com você. — Abigail falou me levando até o banheiro e me entregando roupas limpas.

Entrei no banheiro e despi-me. Liguei o chuveiro e esperei a água esquentar. Me encarei no espelho completamente nua e observei as marcas que se formaram no meu corpo. Estava deplorável. Tinham marcas roxas nos meus braços e outros mais leves nas pernas. Meu rosto ainda estava um pouco inchado do lado que recebi a tapa. Aos poucos fui revivendo aqueles momentos de terror. Senti um tremor percorrer o meu corpo e logo tentei afastar aqueles pensamentos.

Tomei um banho razoavelmente demorado para tentar limpar toda aquela sujeira física e emocional. Tentei fazer com que toda aquela dor e vazio fossem junto com a água pelo ralo.

Depois de longos minutos, me enrolei na toalha e vesti a roupa que Abigail tinha separado para mim. Dei uma última olhada rápida no espelho e estava me sentindo um pouco melhor.

Voltei para o quarto e encontrei as minhas duas pessoas preferidas do mundo. Passamos o resto do dia fazendo maratona de série e comendo porcarias. Pegamos no sono os três jogados na minha cama.

Acordei na manhã seguinte e notei que os dois continuavam dormindo. Chequei meu celular: nenhuma mensagem ou ligação. Fui até a cozinha beber água e tomei o maior susto quando vi a porta do apartamento sendo aberta.

­— Ai que susto do caralho, Emma. — Falei com a respiração acelerada e uma das mãos no coração.

— Estava tentando não fazer barulho para não te acordar. — Ela falou rindo da minha expressão de pânico.

— Acabou quase me matando do coração. — Falei tomando o resto da água e guardando o copo no armário.

— Vou para o meu quarto, estou cansada. — Ela falou indo em direção ao seu quarto.

Pelo visto a noite de alguém tinha sido muito boa. Soltei uma risada por estar pensando na vida sexual da minha colega de apartamento.

Voltei para o quarto e encontrei Abigail levantando da cama.

— Aonde você foi? — Ela perguntou enquanto se espreguiçava.

— Só fui beber água. — Respondi passando por ela e sentando em cima da mesa.

— Você está se sentindo melhor? — Ela falou puxando a cadeira da mesa para perto de onde eu estava e sentando-se.

Eu estava me sentindo melhor? Parei pra refletir um pouco e notei que o vazio ainda estava ali comigo. Olhei para o lado e abri uma das gavetas. Peguei o envelope que ganhei da Abigail e o encarei por algum tempo.

— Amanhã eu vou ficar. — Finalmente respondi a sua pergunta.

Ela me deu um abraço longo e confortante. Eu só precisava dela, do Trevor e de algum tempo para me recuperar dos últimos acontecimentos.

Por falar no Trevor...

— AI CARALHO! — Olhamos em direção a cama num susto e vimos que o Trevor tinha caído no chão.

— Como você conseguiu cair? — Abigail perguntou tentando segurar o riso.

— Claramente eu não faço ideia. — Ele falou enquanto levantava. — Eu sei que vocês duas estão se segurando para não rirem de mim.

Eu e Abigail nos encaramos e tivemos um ataque de riso que parecia que nunca ia ter fim.

— Você é uma anta. — Falei colocando a mão na barriga de dor que estava sentindo na mesma de tanto rir.

Nossa manhã foi resumida nisso: risadas. Depois do almoço Trevor levou Abigail e eu até o shopping para comprarmos roupas para o show e irmos ao salão de beleza. Acabamos comprando muito mais do que apenas a roupa para o show e passamos a maior do tempo no salão fazendo unhas, cabelo, sobrancelha e depilação. No final do dia Trevor foi nos buscar e fomos jantar num restaurante brasileiro. Há alguns meses atrás eu tinha levado os dois até lá para que eles pudessem provar a culinária do meu país e desde então se tornou o nosso restaurante preferido e íamos lá com bastante frequência. Fomos ao cinema de tarde e passamos a noite numa pub.

No dia seguinte recebi um e-mail do meu professor avisando que eu tinha conseguido nota máxima no trabalho final e já estava de férias. Eu só precisaria passar no curso para pegar meu certificado.

Meu dia começou da melhor forma possível, hoje era o dia que nada poderia tirar a minha felicidade.

Passei a manhã toda escutando músicas no volume máximo, aproveitando que a Emma não estava em casa. Fiz um almoço em casa mesmo e recebi uma mensagem da Abigail enquanto estava lavando a louça.

“Daqui a duas horas passo aí para irmos.”

Terminei de lavar a louça e corri para me arrumar. Tomei um banho quente e lavei os cabelos. Sequei-os e me enrolei na toalha para escolher minha roupa. Passei alguns minutos olhando as roupas que eu tinha comprado no dia anterior com Abigail. Eu acabei optando por um short e uma blusa simples com um cardigã de manga média por cima para cobrir as marcas que ainda estavam evidentes no meu corpo. Passei pouca maquiagem e caprichei no perfume. Peguei uma bolsa pequena e coloquei minha documentação, dinheiro e o ingresso. Chequei o horário no celular e faltavam dez minutos para Abigail chegar. Resolvi a esperar na entrada do prédio.

Logo ela chegou e começou a gritar quando eu entrei no carro.

— PARABÉNS, GABE! — Ela me agarrou e me encheu de beijos na bochecha.

— Obrigada. — Falei entre risos.

— 18 ANOS, GABRIELA! — Ela falou rindo. — Estamos ficando velhas.

— Velha está você, eu estou ficando experiente. — Falei fazendo uma expressão de pessoa madura.

— Ui. — Ela zombou. — Preparada para o melhor dia da sua vida?

— Não sei responder, sinceramente. — Respondi respirando fundo.

Abigail ligou o som do carro e fomos cantando todas as músicas do Shawn durante todo o percurso.

Eu estava a poucos minutos de conhecer meu ídolo e não sabia como agir. A ficha ainda não tinha caído.

Desde que fui pra Toronto, sempre que eu podia tentava achá-lo. Depois que comecei a namorar o Roan parei com a minha obsessão porque ele sempre dizia que aquilo era doentio. “Você fica correndo atrás de uma pessoa que nunca vai saber da sua existência.” “Você parece uma pessoa doente e psicopata.” Depois de ouvir àquelas palavras algumas vezes acabei desistindo. Mas minha melhor amiga tinha me dado o melhor presente que eu poderia um dia pensar em ganhar: o Meet & Greet. Eu ia conhecê-lo. Meu sonho estava cada vez mais perto de se tornar realidade.

Chegamos do lado de fora da arena onde aconteceria o show e fomos estacionar.

— Parece até que eles triplicam o preço do estacionamento quando tem show. — Abigail falou bufando.

— Melhor do que deixar lá fora ou pagar um absurdo de táxi. — Falei descendo do carro.

— Pensando por esse lado... — Ela refletiu enquanto íamos em direção à fila.

Tinham muitas pessoas sentadas do lado de fora da arena esperando o horário de abertura dos portões e perto de alguns seguranças tinha uma fila de mais ou menos trinta pessoas, que deveria ser do Meet.

— Vou ficar na fila para entrar na arena, se não só entro quando o show começar. — Abigail falou enquanto caminhávamos em direção à fila do Meet.

— Acho que vou ser a última. — Falei olhando a fila e verificando o horário no celular.

— Pensa pelo lado bom: talvez você possa ficar um pouco mais. — Ela falou segurando uma das minhas mãos que estava trêmula.

— Não sei se eu vou conseguir falar alguma coisa. — Falei e um frio percorreu minha espinha.

— Lembra que eu vou te matar se você não falar nada. — Ela falou me abraçando. — Boa sorte. E agarra esse homem. — Ela falou perto do meu ouvido para que ninguém mais pudesse escutar.

— Não é um pedido tão ruim assim. — Falei rindo enquanto ela ia para a fila da pista.

Depois de alguns minutos os seguranças começaram a verificar nossos ingressos e documentação. Deram-nos uns crachás e mandaram acompanhá-los. Fomos em fila por dentro da arena até um corredor de frente para duas portas enormes. Os seguranças começaram a passar algumas instruções básicas para quando entrarmos: deixar os pertences com o segurança da porta, não fazer escândalo e nem demorar muito lá dentro.

Depois de alguns minutos a primeira fã da fila entrou. Em pouco mais de um minuto ela saiu chorando e abraçando sua amiga que era a próxima da fila.

— Como foi lá dentro? — Perguntei quando ela passou por mim.

— É um pouco rápido para absorver algo. Mas o Shawn é completamente fofo e cheiroso. — Ela falou se tremendo. — Boa sorte.

— Obrigada! — Falei enquanto ela saía da área do Meet.

Falar com aquela menina me fez ficar mais nervosa do que eu estava antes. Eu estava só a alguns metros de distância do Shawn Mendes. Aquilo ainda parecia bem irreal na minha mente.

Todas as meninas que saíam da sala do Meet estavam em total êxtase e felizes. Tentei me distrair pegando o celular e mandando mensagem pra Abigail.

“Todos que saem da sala do Meet estão o elogiando. Só estão me deixando mais nervosa.”

“Agarra esse macho. Faz esse favor pra mim.” Ela respondeu em menos de um minuto.

“Só se eu não desmaiar antes.” Respondi rindo.

“Nem ouse.”

Depois dessa última mensagem, guardei meu celular no bolso de trás do short e continuei a observar as pessoas saindo do Meet.

Quando me dei conta só faltava uma menina na minha frente. Ela deu sua bolsa para o segurança e o mesmo abriu as portas para ela. Enquanto ela entrava pude ver rapidamente o Shawn. Ele estava lindo e sorridente. Logo as portas se fecharam de novo e meu nervosismo triplicou, se isso era realmente possível.

Depois de mais ou menos dois minutos, mas que para mim tinham parecido duas horas, a menina saiu, pegou sua bolsa com o segurança e foi embora.

— Me dê sua bolsa para entrar. — O segurança falou para mim me fazendo despertar.

­— Ah, aqui. — Falei o entregando.

— Boa sorte. — Ele falou sorrindo de leve para mim.

Ele abriu as portas e eu dei o primeiro passo para dentro. E travei. Eu não conseguia acreditar que aquilo era real. Seria um sonho?