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História Trekking - Trecho 02. Neutro. 1 minuto.


Escrita por: RED_BOSS

Notas do Autor


apaguem as luzes, peguem "2 hours of horror music", desliguem as notificações e bora lá

~Boa leitura! <3

Capítulo 3 - Trecho 02. Neutro. 1 minuto.


 

Uma fumaça negra demarcava o local da queda. A neblina não podia mais ser vista, contudo seu contato frio e úmido ainda tocava a pele daqueles corpos. Não muito longe, os grilos, apenas os machos, emitiam seus sons, pediam por mais chuva, chamavam pelas fêmeas.

O sol não podia ser visto, muito menos as estrelas, as copas altas de as árvores cobriam com cautela aquele solo, impedindo que os raios solares e as demais manifestações de a natureza atrapalhassem aquele ciclo; contudo, estava claro, tão claro que alguns vultos podiam ser vistos com exatidão caminhando por entre os corpos. Cheiravam os corpos, tocavam corpos, diziam palavras impossíveis de serem traduzidas, procuravam pelos corpos. Estava quente. O fogo causado pelo acidente, deixava que aquela clareira se transformasse em um enorme forno; tendo a fumaça contaminando a mata virgem e deixando o ar impossível de se respirar. Porém os vultos não se importaram com aquilo.

Os grilos continuavam a cantar e outros animais passaram a segui-los; alguns aproximavam-se para comer, outros afastavam-se o mais depressa possível. As plantas iam murchando a medida que o fogo se aproximava e este, deixava tudo tão claro como o sol.

Os toques dados nos corpos ficaram mais persistentes, o cheiro era nítido, amargo e real, traziam juntos uma concordância nata; foram sendo arrastados, sendo tocados pelo fogo azul. Os destroços foram empurrados para longe, o metal arrastado e o fogo, aquele fogo vermelho e laranja, contido por um breve momento, apenas. 

 

AM 02:24:05

10 de agosto de 2017

 

A dor acordou Baekhyun. O cheiro de mato queimado e gasolina fizeram-no abrir os olhos. A neblina misturada com aquela fumaça negra fez com que ele ousasse se erguer, antes, porém, mexeu os membros com cuidado, para se certificar de que nada havia sido quebrado ou que nenhuma lesão grave o obrigasse a ficar imóvel; somente o pulso doía, estava inchado e vermelho.

Baekhyun sentou-se na grama. Estava molhada e a fumaça fez com ele tapasse o nariz com a própria camiseta. A visão demorou para se estabilizar, via tudo em vultos esfumaçados ou vultos duplicados.

Lá estava o ônibus... parte dele, pelo menos. Dividido ao meio, em um corte quase tão perfeito quanto suas janelas, intactas, todas elas. Baekhyun viu poltronas inteiras espalhadas no solo, mochilas presas nos galhos das árvores e roupas dispostas de forma a parecer um grande tapete. A parte traseira do ônibus estava ali, em pé, com poucos corpos e nenhuma chama; o miolo do veículo ardia afastado, em pé feito uma tora de madeira, com chamas apenas na parte superior, deixando que o tanque de gasolina vazasse solto pelo solo da clareira. O fogo já deixava claro: não havia vida ali, era impossível que alguém sobrevivesse as chama alaranjadas que iluminavam boa parte clareira extensa, deixando que a noite se tornasse clara, com poucas estrelas e menos fria do que realmente estava.

Baekhyun notou o fogo se aproximando, descendo por sua tora, arrastando-se pelos pertences perdidos e queimando os corpos que encontrava pelo caminho; o mato úmido conseguia impedir que as chamas chegassem na parte traseira do veículo, porém não por muito tempo.

Baekhyun se ergueu e começou a cambalear até a parte do veículo intacta pelo fogo. Mancava, mas não sabia dizer se pelo tempo que ficou deitado ou por alguma torção em seu tornozelo. Segurava o pulso esquerdo junto ao corpo, para que tentasse imobilizá-lo.

Tentou gritar por seus amigos assim que entrou no que havia restado do ônibus, mas a garganta seca e o escasso oxigênio impediram-no de conseguir chamar por Jongdae, Chanyeol e Junmyeon.

Nos pés de uma mulher com a cabeça decepada um objeto metálico chamou-lhe a atenção. Era a câmera de Chanyeol. Parecia intacta, Baekhyun abaixou-se e pegou-a.

Os poucos corpos que não haviam sido jogados para fora do ônibus, encontravam-se com ferimentos graves, algum sangue já seco e ossos expostos. Encontrou Jongdae jogado no corredor do ônibus, teve medo de ir até o amigo, mas observou com rapidez o peito subindo e descendo. Havia um outro corpo em cima do amigo, da cabeça saia sangue e o braço havia ficado preso entre algumas mochilas.

— J-Jongdae… — soluçou Baekhyun, afastando os objetos que impediriam o amigo de se levantar. — Jongdae!

Uma tosse seca fez com que Baekhyun procurasse ao redor por sobreviventes. Parecia ser um dos policiais, mas não tinha certeza, a neblina invadia com rapidez a parte traseira do ônibus. O fogo continuava contido, mas o cheiro de gasolina impedia que Baekhyun ficasse tranquilo por aquilo.

— Jongdae! — Chamou-lhe novamente, desta vez sacudindo seus ombros com força, em seguida dando tapinhas em seu peito, rosto e pescoço. Os olhos foram abrindo vagarosamente, mas estavam se abrindo! — Graças a Deus!

Com o corpo criando alguma estabilidade e força, Baekhyun colocou ambas as mãos nas costas do amigo e ajudou-o a se sentar, talvez assim o sangue fluíssem com mais agilidade. Ergueu-se então a procura dos outros.

Chanyeol estava ali. Um suspiro aliviado saiu de sua boca. O grandalhão continuava sentado em sua poltrona, com o sinto prendendo-o e a cabeça encostada no vidro, deixando que um líquido vermelho demarcasse um caminho espesso até o chão.

Outros iam se levantando, poucos, mas aqueles que conseguiam se levantar, se levantavam. Uma criança chorava, tinha a perna quebrada; um homem não muito mais velho que Baekhyun, usando um avental manchado de sangue, debatia-se; outro começara a gritar ao ver que metade de sua perna havia sido arrancada; uma mulher debruçava-se sobre o corpo de sua filha; Chanyeol abriu os olhos antes de Baekhyun chegar até ele.

Apenas duas ou três janelas se encontravam quebradas, observou Baekhyun, notando também um corte fundo em seu próprio antebraço esquerdo e mais um em sua clavícula.

— Chanyeol, — chamou-o, observando que o corpo do amigo não aparentava ter sofrido nenhuma lesão, exceto pelo sangue em sua cabeça, — consegue se levantar? Me ouvir? Precisamos sair, agora!

Baekhyun continuava segurando a câmera, encontrou a bolsa de Junmyeon jogada embaixo do banco em que o amigo estava sentado, tinha a certeza de que ali dentro encontraria uma caixa de primeiros socorros. Procurou ao redor, mas não encontrou o dono da bolsa. Junmyeon não estava ali. Observou Jongdae em pé, apoiando-se em um dos bancos, Chanyeol não precisou de esforços para se erguer, os demais sobreviventes iam saindo do ônibus, iam gritando pela dor, iam chorando por seus familiares que haviam morrido. Não eram muitos. Sete? Talvez dez pessoas.

— Onde está Junmyeon? — Perguntou Jongdae, com a voz falha.

— Não está aqui... deve ter sido jogado para fora, assim como eu.

Como eu, pensava Baekhyun, havia sido jogado para fora?

Jongdae, no mesmo instante, virou-se para a saída, mas conteve-se; precisavam do máximo de suprimentos que conseguissem reunir. Pode ver as chamas se aproximando e pelo cheiro de gasolina o tanque do ônibus não estava tão protegido, talvez estivesse aberto ou deixando o solo encharcado. Precisavam sair dali.

Os três amigos percorreram cada corpo pelos corredores e também aqueles que estavam embaixo dos bancos. Não havia sinal de Junmyeon.

— Ele deve ter estar lá fora. — Disse Chanyeol, o olho direito não podia ser aberto, uma crosta pesada de sangue havia secado em cima dele. Tinha sua própria mochila nas costas, com seus aparelhos que pouco fariam diferença naquele momento e alguns mantimentos.

Jongdae e Baekhyun ajudaram o policial que possuía uma perda quebrada, arrastaram-se todos os três para fora do ônibus.

Chanyeol detinha de sua câmera.

 

[power on]

REC - 00:00:00:13 – 50Mbps 1920 x 1080

 

— É um milagre estarmos vivos. — Murmurou ele, dando zoom acima de sua cabeça, na tentativa falha de calcular a distância que haviam caído. Notou que não havia tanta lama ou sequer indícios dela nem pedras ou móveis quebrados, naturalmente esperava encontrar um ambiente muito mais hostil, no entanto, tudo que via eram árvores saudáveis e grama úmida.

Não estava tão escuro para que a visão noturna fosse necessária. Chanyeol procurou pelos escombros do ônibus queimado por Junmyeon, deu zoom em cada canto, em cada bagagem espalhada, afastou todos os pensamentos negativos que surgiram em sua mente, mas não encontrou nenhum vestígio do amigo.

— Ele estava com uma jaqueta térmica azul, — disse Jongdae, tendo uma maior dificuldade para andar do que Baekhyun, —  o tênis vermelho...

— Nós vamos achá-lo. — Afirmou Chanyeol. — Precisamos nos afastar do fogo, vamos.

Os três, apoiando-se uns nos outros, afastaram-se o máximo que puderam do fogo; observaram em silêncio os destroços queimarem, as pessoas choravam, outras gritavam por suas dores. Não havia muito o que fazer por aquelas pobres coitadas.  

Baekhyun retirou da bolsa de Junmyeon a caixa de primeiros socorros, Chanyeol retirou da própria mochila um casaco mais quente e um cobertor térmico para Jongdae. Não estavam dispostos a comer nada ainda, não com os poucos sobreviventes desmaiando de dor.

— Temos que racionar. — Alertou Baekhyun, imaginando que seria a primeira coisa que Junmyeon falaria. — Comida, água, remédios... não sabemos se o resgaste virá cedo.

Chanyeol apoiou a câmera em cima de sua mochila e puxou seus cabelos para cima, segurando-os com as mãos pesadas e gemendo pela dor causada pela limpeza que Jongdae fazia no sangue seco e no corte aberto em sua sobrancelha.

— Não abra o olho, — disse Jongdae, — isso vai arder... acho que não caímos muito longe... a carcaça do ônibus está quase... intacta, praticamente. Alguns metros, talvez.

Chanyeol gemeu.

— Perceberam? Não tem destroços do desmoronamento.

Os outros dois olharam com atenção para o local da queda. A clareira estava, de certa forma, limpa. O fogo ainda ardia forte, os sobreviventes se reuniam em pequenos grupos, tentando não ouvir os gritos causados pela dor ou seus próprios pensamentos. Não havia mais policiais, donas de casa, trabalhadores rurais, estudantes ou esportivas, havia apenas sobreviventes.

— Junmyeon pode ter sido arremessado para parte da frente do ônibus... — murmurou Baekhyun,

Era uma ideia lógica ou pelo menos a ser pensada. O desastre não parecia ter sido pequeno, não de acordo com o que Chanyeol havia gravado pouco antes de o ônibus cair, logo o resgaste devia vir rápido.

— Quase quinze horas. — Disse Chanyeol com a câmera na mão, deixou que está ficasse apoiada novamente na mochila, filmando os três amigos.

Era uma imagem escura e embaçada, com uma fumaça escura se mesclando com a neblina noturna, com um clarão forte iluminando seus rostos.

Baekhyun e Jongdae se entreolharam antes que qualquer pergunta pudesse ser feita.

— A última filmagem acabou ás onze horas... do dia nove de agosto. — Disse ele, engolindo em seco suas próprias palavras. — A filmagem que iniciei logo após sair do ônibus teve início ás duas e trinta e sete... do dia dez de agosto.

— E não houve resgaste?! — Questionou Baekhyun. Cerca de quinze horas haviam se passado... não foi um pequeno acidente, foi desastre ambiental; os jornais deveriam fazer reportagens, as famílias deveriam ser contatadas... por que ainda estavam ali? — Talvez... talvez esperem o dia raiar ou... ou foram pedir reforços...

— Baekhyun... — murmurou Jongdae, pousando a mão no ombro do amigo. Em seu olhar um único pensamento: não virá ninguém. — Não vamos durar muito aqui, está esfriando rápido e os cortes podem infeccionar... tem pessoas feridas por todo o lugar e Junmyeon... precisamos achar Junmyeon.

— Vamos achá-lo. — Afirmou Chanyeol, retirando a câmera de sua mochila, passando-a para Baekhyun que começou a filmar a sua volta, dando zoom, tal como o amigo havia feito, na tentativa falha de encontrar Junmyeon jogado sozinho pela clareira.

Chanyeol retirou um papel amassado da mochila, jogou-o no chão e deixou que Jongdae o abrisse. Tratava-se de um mapa da região. Mostrava todos os lugares de Rishikesh e como era ao seu redor. Obviamente não havia precipícios, mas podiam ver um rio.

— Estávamos aqui. — Disse Jongdae, confiante. Encontrou com facilidade dois garfos cruzados, indicando a localização exata de onde ficava a lanchonete. — Não sei o quanto caímos, mas é muito provável que tenhamos passado a altura da trilha que iríamos fazer.

Baekhyun aproximou-se com a câmera do mapa, filmando a folha amassada.

— Então precisamos nos elevar e ir para o Sul?

— Sim! — Respondeu Jongdae. O rio podia ser visto no mapa, porém a caminhada não seria fácil. — Junmyeon caiu sem sua bolsa, então está sem suprimentos e medicamentos... ele vai encontrar alguma nascente e seguir até a fonte principal.

— O rio. — Concluiu Chanyeol, assentindo com a cabeça.

— É o que eu faria. — Disse Jongdae. Se pudesse andar, pensou consigo mesmo, e no mesmo instante lembrou-se do homem agonizando em dor dentro do ônibus, tendo sua perna decepada e o outro com o braço preso entre dois ferros espessos. — Junmyeon é esperto... ele sabe se virar na mata fechada.

— Para o rio, então! — Anunciou Chanyeol, erguendo-se de supetão.

Nenhum dos outros se mexeram.

Jongdae analisou o pulso enfaixado, precariamente, de Baekhyun, em seguida analisou sua própria perna, tocando-a na altura da coxa, era possível que algum ligamento tivesse sido rompido, talvez algum nervo ou até mesmo o choque da queda, Jongdae rezava pela última opção, assim conseguiria andar.

— Precisamos ser realistas, — disse Jongdae com a voz fria e calma, o coração, no entanto, batia de forma acelerada, as lágrimas queriam cair a qualquer custo, mas ele precisava ser forte, — Baekhyun está com uma torção de nível dois. É provável que eu tenha rompido um ligamento... não podemos arriscar sair andando em mata fechada sem nenhum caminho em mente, se o ferimento piorar... tudo piora.

Chanyeol assentiu e voltou a se sentar.

— O que eu faço?

— Nossa trilha para o rio Ganges está aqui. — Disse Jongdae, mordendo os lábios pela dor aguda que o atingiu. — Devemos estar cerca de cinquenta metros, se dermos sorte, para fora dela. Percorra ao redor... você achará a trilha ou quem sabe a frente do ônibus, não podem estar longe.

— Não acho bom dividirmos o grupo. — Falou Baekhyun. — Espere uma hora, duas talvez e serei capaz de caminhar.

— Junmyeon talvez não tenha duas horas! — Rugiu Chanyeol, erguendo-se novamente. Com a mão estendida, pediu a câmera a Baekhyun. Colocou a mochila nas costas, pegando a lanterna de cabeça das mãos de Jongdae e uma garrafa de água da bolsa de Junmyeon.

— O fogo está ardendo. — Disse Jongdae, quando Chanyeol olhou para cada um deles pensando se deveria dizer algo ou se deveria apenas dizer que voltava logo. — E ficará assim por algum tempo, não se afaste dele. Apenas faça o reconhecimento da área, marque o território com as fitas em sua mochila para não se perder. Sabe o que precisa procurar... o que achar primeiro é para onde iremos.

Chanyeol sorriu com os comandos que seu amigo lhe dava, era diferente ouvir aquilo de Jongdae e não de Junmyeon, porém a sensação era a mesma. Ele estava vivo. Ajoelhou-se diante dos amigos e colocou sua mão de maneira que ficasse no centro dos dois.

Trekking in Rode!

— Trekking in Rode! — Disseram Jongdae e Baekhyun juntos.

O navegador fora se afastando, levava a câmera e o suficiente para não morrer de frio e fome. As horas pareciam caminhar lentamente, ainda era madrugada, ainda estava escuro, eram apenas três horas.

Chanyeol sabia se virar, não teve ferimentos graves e não parecia com traumas corporais, ele voltaria em breve e trazendo boas notícias.

Os sobreviventes haviam parado de gritar, alguns ainda choravam, no entanto. Muitos desejavam se acomodar junto ao fogo, mas nenhum deles era tão idiota, aquilo poderia explodir a qualquer momento e todos ali já estavam correndo um risco enorme sentados tão próximos.

Jongdae e Baekhyun mantiveram as pernas aquecidas e apoiadas em suas mochilas, rezavam para que os ferimentos se curassem naquele instante, não durariam muito se tivessem que depender da polícia de Rishikesh.

— Você acordou em que lugar? — Jongdae perguntou de repente.

— Do lado de fora, uns três metros de distância do ônibus.

Jongdae assentiu e refletiu consigo mesmo algumas questões que, agora com sua mente mais calma e fria, vinham à tona.

— Por que a pergunta? — Quis saber Baekhyun.

— Não acha estranho? ... as janelas não estavam quebradas e você estava sentado no corredor. O certo seria afirmar que eu e Chanyeol tivéssemos sido jogados para fora, pela janela... e você e Junmyeon, caíssem no corredor. 

Baekhyun nada disse, não sabia o que pensar.

— Se lembra de mais alguém caído próximo de você? — Perguntou Jongdae, recebendo um murmúrio negativo do amigo. — Como é possível você ter ficado quase quinze horas no relento e não sofrido nenhuma convulsão, estamos o que? Doze graus?

— Onde quer chegar?

Jongdae nada disse, não sabia onde queria chegar. Sabia apenas que as informações que tinham não se encaixavam e que o ônibus, antes de caírem, estava lotado e agora não possuíam nem um terço daquelas pessoas.

 

[night vision on]

REC - 00:00:44:56 – 50Mbps 1920 x 1080

 

A luz do fogo continuava ali, porém a cada passo que Chanyeol dava para longe a mata fechada fazia-lhe o favor de esconder a claridade, fazendo com que Chanyeol fosse obrigado a ligar a lanterna para cabeça. Não havia caminhos fáceis ali, contudo Chanyeol já havia feito aquilo antes. É apenas mais um trek, pensava consigo mesmo.  

Os dedos que seguravam a câmera estavam frios, suas luvas cor de abóbora não foram encontradas na mochila nem nas coisas dos amigos. Chanyeol também não conseguira encontrar seus fones nem seu spinner, objeto que era de grande ajuda quando seus pensamentos estavam atordoados, como naquele momento.

Apenas pequenos animais podiam ser ouvidos, grilos e cigarras, a lua nem ao menos conseguia entrar dentro da mata e lá longe, onde o fogo continuava a queimar parte do ônibus, encontrava-se o único ponto de referência que o grandalhão tinha. Virou-se na direção da luz. Com o zoom da câmera podia vê-la melhor.

A imagem esverdeada que a câmera fazia não era muito tranquilizadora; as chamas pareciam crescer absurdamente naquelas imagens.

O som de um galho se partindo ao meio, fez com que Chanyeol virasse o corpo rapidamente, apontando a câmera com sua visão noturna e a luz que levava em cima da cabeça na direção onde imaginou ter ouvido aquilo. Podia ser apenas um animal, uma cobra ou quem sabe um macaco-prego, era possível que houvesse alguns naquelas montanhas. 

Chanyeol soltou um longo suspiro e prosseguiu com sua caminhada, levava um facão na mão esquerda, enquanto a direita segurava a câmera. Tudo era escuro e proporcionava pouquíssimo espaço para que Chanyeol pudesse se mexer.

Olhou para trás novamente.

Não havia nada.

Dois, três passos, Chanyeol parou mais uma vez; achou ter visto alguma coisa atrás de duas árvores com raízes enormes. Movimentou a câmera ao redor daquele breu. Todas as imagens na tela eram escuras e esverdeadas, conseguiam ver diante do contorno das árvores algumas alterações de temperatura, como o fogo lá longe, sendo agora apenas uma bolinha luminosa no meio da mata.

Decidiu parar de subir e começar a caminhar para o Sul, talvez encontrasse alguma abertura para uma possível trilha ou quem sabe uma outra clareira feita pela queda do ônibus.

O facão abria caminho quando necessário, cortando galhos e podando plantas trepadeiras que impediam sua passagem. Chanyeol enroscava-se constantemente em teias de aranhas, mas aquelas não o assustavam.

 

[night vision on]

REC - 00:01:26:09 – 50Mbps 1920 x 1080

 

Escutou algo, sentiu-se incomodado com aquele pressentimento bobo de quem imaginava estar sendo observado, caminhou com cuidado por entre as trepadeiras; galhos puxavam-no para trás e troncos caídos no chão faziam com que ele tropeçasse. Estava escuro, muito escuro, estava frio, mas o solo ali parecia seco e quente, como o solo de um país tropical deveria ser; Chanyeol tocou aquela terra, tentando sentir umidade, seria a direção para alguma fonte ou quem sabe o próprio rio, mas ele não contava muito com isso, estavam muito distantes de qualquer rio.

Agachado, procurando no solo seco indícios de nascentes, Chanyeol ouviu novamente.

As folhas roçavam umas nas outras. Ele não se ergueu, movimentou apenas a câmera pelo local, não gostaria de ser pego por algum leopardo. Já não podia ver o fogo nem mesmo ouvi-lo, estava muito longe e sabendo disso e dos riscos que poderia arremeter caso se perdesse, decidiu que voltar seria a melhor opção.

Levantou-se. Precisava apenas fazer o caminho de volta, não fez grandes curvas, seguiria reto até poder avistar o fogo novamente.

                       

 [night vision off]

STBY – 00:00:00:00 - 50Mbps 1920 x 1080 – bat. 87%

 

Com a visão noturna desligada, Chanyeol abriu o último vídeo gravado, começando a rodá-lo de trás para a frente, possibilitando desta forma que ele pudesse comparar o caminho que tinha feito com o caminho que iria começar a fazer. Chanyeol ia andando com o facão erguido, observando ora em outra o vídeo que se desenrolava na pequena tela. A luz que saia de sua lanterna ajudava pouco, porém nem pensaria em reclamar dela.

Após dez minutos andando com seus passos largos e lentos um fulgor  pequeno começou a ser visto, era apenas um pontinho e talvez nem mesmo fosse o fogo, poderia ser qualquer outra coisa, porém Chanyeol trazia pensamentos fortes, pensamentos que lhe diziam que se tratava do fogo, apenas do fogo.

O filme continuava rodando, não mostrava nada além de mato e uma escuridão contornada por traços verdes, deixando tudo parecer como em um daqueles filmes que Chanyeol odiava assistir. A imagem no vídeo mexeu-se com rapidez, Chanyeol diminuiu o passo para que conseguisse assistir sem tropeçar e correr o risco de quebrar uma perna. O vídeo mostrava a primeira vez que ele havia se assustado, rodando a câmera ao redor do ambiente e dando zoom no fogo que vinha de baixo.

Notou algo estranho e nesse momento seus pés já haviam parado de andar. Chanyeol pausou o vídeo e deixou-o rodando quadro a quadro... pareceu ver algo por entre as árvores... uma grande sombra, mas dois quadros depois a sombra misturava-se as árvores e seus galhos enormes.

Devo estar desidratado, pensou consigo mesmo. Pegou então a garrafa de água que levava na bolsa em suas costas e tomou um longo gole.             

 

[night vision on]

STBY – 00:00:00:00 - 50Mbps 1920 x 1080 – bat. 87%

 

Já conseguia ver o fogo dali, estava distante, mas certamente era o mesmo fogo que queimava o miolo do ônibus... quinze horas, pensava ele, quinze horas e ninguém havia aparecido.

Chanyeol ergueu a câmera para que pudesse ver o caminho com mais nitidez, dava-lhe certa aflição ter apenas a iluminação da lanterna que levava na cabeça.

O breu ao seu redor começava a deixá-lo apreensivo. Jongdae e Baekhyun estariam bem? E quanto a Junmyeon? Estaria vivo? Nada daquilo deveria estar acontecendo, pessoas morreram, pessoas perderam amigos, familiares, nada daquilo deveria estar acontecendo.

Um grito surgiu das sombras.

Chanyeol parou de caminhar. Vinha de longe, mas não tão longe que ele não pudesse identificar, era uma mulher.

Mais gritos surgiram. Vieram misturados, apavorados. Chanyeol abaixou a câmera, ficou atento, porém não se mexeu. Ele sabia de onde os gritos vinham, não existia nenhum outro lugar, tinha de ser lá.

Podiam ser pedidos de socorro ou pessoas implorando pela morte, pessoas acordando e vendo seus corpos destruídos... não, não era aquilo. Certamente Chanyeol sabia reconhecer gritos de desespero. E desesperado, como havia ficado, acordou de seu choque emocional e correu. Segurou o facão com mais firmeza, movendo-o sobre qualquer coisa em seu caminho. Os gritos prosseguiram e a luz de sua lanterna ainda iluminava boa parte de seu caminho, contudo era a única luz que possuía agora.

A luminosidade que vinha do fogo já não existia mais.

 

[power off]

 


Notas Finais


eu quero meu junmyeon :')

Mais questões do que respostas? Vai ficar pior kkkkkkkkkkkkkkk sorry not sorry
Contem ai o que estão achando, o que esperam que aconteça daqui para frente e, calma! O lance pesado só começa no 4 cap., então é <3 Espero que quem chegar até aqui, goste do que estiver lendo. Dicas, sugestões e correções são sempre bem vindas ^^

Volto na próxima terça, beijos e me chamem se precisarem conversar ^^


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