O rei não era um bom homem, nem um bom marido, tampouco um bom rei. Jack era frio, calculista e agressivo. Rosie estava andando pelo castelo, era cedo e ela acabara de acordar, quando ouviu gritos. Ela seguiu a voz até encontrar a fonte, soltou uma exclamação alta ao dar de cara com os aposentos reais.
Eram gritos femininos, gritos da rainha. Estava prestes a chamar os guardas quando ouviu também a voz do rei, alta e clara. Então um baque, e outro grito, dessa vez mais alto e estridente.
A rainha implorando e suplicando que o rei parasse quebrou Rosie. Ela sabia o que estava acontecendo, sentiu mais medo do que havia sentido em toda a sua vida. Nunca imaginou que seu tio fosse um homem agressivo. Rosie sentiu vontade de entrar e interromper aquilo, queria abraçar Chloe e dize-lá que tudo ficaria bem, queria protegê-la, mas não podia, porque ninguém podia impedir o rei de ter o que queria. Só havia uma coisa que Rosie podia fazer: matar o rei e se tornar rainha.
Rosie tinha um plano, mataria-o com um veneno personalizado, algo novo, desconhecido. O veneno só agia em um código genético, não era rápido, o homem só morreria depois de horas, e os sintomas poderiam ser confundidos com uma intoxicação alimentar, assim ela ficaria acima de qualquer suspeita. Era o plano perfeito, ou quase, ninguém deveria conhecer aquela substância, mas se conhecessem, Rosie se tornaria uma suspeita e sua reivindicação ao trono seria invalidada, o rei dos Estados Unidos a mataria se isso acontecesse.
Rosie se escondeu em uma sala que nunca entrara antes, estava escura mas mesmo assim conseguiu ver o local. Filas de poltronas vermelhas percorriam a sala em uma espécie de escada, terminando em um telão branco - o único local iluminado. Ela sabia o que era, ficou animada, quase animada demais, não via um daqueles a tempos. Em sua casa o cinema era privado, somente o rei poderia liberar o acesso à ele, e a última vez que ele liberara o seu acesso a garota tinha 10 anos.
Um único homem estava sentado na quarta fila a partir da porta, ele virou o rosto no momento em que a porta foi aberta, parecia surpreso ao ver alguém ali. Ele se levantou e fez um gesto com a mão, o filme parou e as luzes se acenderam.
Ela pôde observá-lo melhor, estatura alta, ombros largos, braços fortes, a pele bronzeada, o cabelo escuro assim como os olhos e a barba por fazer, ele parecia alguém que acabara de sair de uma revista de moda. Se não fosse o terno sob medida sem vida ela diria que ele era um super modelo.
- Quem é você? - perguntou o homem, não parecia irritado por ela tê-lo interrompido, parecia intrigado. Os ombros estavam relaxados, a voz era sexy e provocante, o tipo de voz que você adoraria ouvir o dia todo.
- Desculpe, eu não queria interromper, só estava fugindo de uma coisa - a garota apressou-se a explicar, só muito tarde percebeu que talvez ele quisesse saber de quê ela estava fugindo, por isso mudou de assunto - Aliás - estendeu a mão -, sou Rosalie Walker.
O homem abriu um enorme sorriso e aceitou a mão da garota.
- Matthew Lewis - em seguida fez uma reverência - Seu professor particular, alteza.
- Professor particular? - a garota estava confusa, quem havia arrumado-lhe um professor, Carter, Michael, Blair ou Jack? Será que algum deles se importava?
- Sim, trabalho para a corte há alguns anos, normalmente ensino crianças nobres. Mas fico feliz em ensinar alguém mais maduro - Matthew sorriu malicioso. Um arrepio percorreu sua espinha, desde a base até a C1.
- Acredito que nosso tempo juntos será prazeroso para ambos - Rosie sorriu- Tenho muito a aprender ainda.
- Começaremos as aulas ainda hoje, tudo bem?
- Claro, eu tenho que ir agora - a garota sorriu, antes que ela cruzasse a porta Matthew chamou sua atenção.
- A propósito, as aulas começaram as três. Não se preocupe, irei aos aposentos da senhorita.
*
Batidas ecoaram pelos novos aposentos de Rosie, a garota estava distraída no banho, havia se esquecido das aulas.
- Holly, se importaria de atender a porta? - a mais nova dama de Rosie assentiu, Jessy, uma antiga dama que viera dos EUA com a princesa permaneceu banhando-a.
- Senhorita, é o sr. Lewis, o professor da corte. Ele diz ter vindo para lhe dar aulas, deixo entrar? - Holly, uma mulher jovem e delicada demais para trabalhos como aquele, perguntou.
- Oh, Deus! Eu me esqueci completamente. Diga-o que pode entrar, já estamos acabando aqui, não estamos Jessy? - a princesa usou um tom incrivelmente calmo.
Rosália Walker
“Você está destinada a grandeza”, meu pai dizia “Um dia, minha querida, você ascenderá, e sua ascensão será magnífica, você será magnífica”. Quando pequena eu não entendia como isso poderia acontecer, quer dizer, eu sempre estive na linha de sucessão ao trono, mas sempre fui a segunda. Sempre me senti a sombra de Mary, isso até crescer, e perceber que era exatamente o contrário, sendo futura rainha ou não, Mary estava à minha sombra.
Conforme eu fui crescendo a minha opinião sobre o mundo mudou pelo menos uma centena de vezes, a minha concepção do certo e errado também. Sempre estive sobre aquela linha, cambaleando um pouco, mas sempre de pé sobre ela, sem jamais cruza-la. Até Carter ameaçar a minha vida e a da pessoa que eu mais amo em todo o mundo. Foi naquele momento em que aceitei a proposta dele, que eu cruzei a linha, mas eu não apenas passei para o outro lado, eu me enfiei em seus pontos mais obscuros.
Eu nunca quis ser grande, nunca quis cruzar a linha. Eu nunca quis nada disso, eu sequer quis as coroas. Nunca quis trair Mary, jamais desejei colocar Diego em perigo. Tudo simplesmente aconteceu, eu descobri uma verdade maluca e a proposta caiu de paraquedas na minha vida.
Naquele dia, eu estava tão confusa que me esqueci de Matt. O que veio a ser um grande erro.
- Oh, Deus! Eu me esqueci completamente. Diga-o que pode entrar, já estamos acabando aqui, não estamos Jessy? - usei o tom mais calmo que conseguia, torcendo para que minha voz não denunciasse o meu nervosismo.
Jessy assentiu e saiu, Holly me ajudou a sair do banho, me ajudou a me secar, me deu um robe preto e também saiu do quarto. Eu não pretendia me envolver com ninguém, muito menos seduzir um homem senão o rei. Mas quando percebi, estava em meu quarto, a sós com Matt, trajando apenas um robe.
Vista de fora a situação parecia, no mínimo, conveniente demais. Parecia até algo forjado. Mas eu não queria seduzi-lo. Era algo nojento demais. Eu não me imaginava seduzindo um homem por pura diversão, eu não queria aquilo. Só de imaginar que teria de seduzir o rei, um homem casado, eu queria vomitar.
Matthew Lewis era um dos homens mais bonitos com que eu tivera a felicidade de cruzar, mas mesmo assim, não queria seduzi-lo.
- Professor Lewis - sorri nervosamente para o homem à minha frente - Eu me esqueci completamente de nossas aulas, estava no banho. Eu sinto muito, nem ao menos estou vestido.
- Rosie, me chame de Matt por favor. Se preferir podemos remarcar a aula - o homem à minha frente sorriu, uma fileira de dentes brancos e alinhados apareceu.
- Não, tudo bem, eu só preciso de um minuto.
Caminhei até o meu closet, deixei o robe cair e vesti minha lingerie, algo que eu não fazia sozinha a muito tempo. Escorreguei um simples vestido de renda pela cabeça e calcei sapatilhas.
Pela primeira vez em toda a minha vida me senti normal, com o cabelo molhado, roupas comuns e com o rosto livre de maquiagem. Eu não parecia uma princesa, tampouco uma futura rainha e com toda certeza não me parecia com uma assassina. Eu me parecia com uma plebéia de classe média, e ao contrariando as expectativas me senti bem com aquela pessoa.
Foi quando eu percebi que não queria ser da realeza, não queria ser princesa menos ainda rainha. A garota que me olhava de volta queria ter uma vida normal, nascer em uma família de pequenos comerciantes e talvez se casar com o filho do padeiro. Quem sabe nascer em uma família de educadores e se tornar uma educadora. Ou então ser uma musicista.
Mas no fundo dos olhos daquela garota eu pude enxergar alguém conformado com o seu destino, alguém que se preparava para o momento em que mataria, e logo em seguida teria que colocar uma coroa pingando sangue na cabeça.
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