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História Tropical - Antoinette


Escrita por: Lyzander

Capítulo 2 - Antoinette


Fanfic / Fanfiction Tropical - Antoinette

Primeiro Ato - PARAÍSO - Capítulo II.

Acabamos dormindo um por cima do outro depois de uma longa noite de confraternização,  o que foi garantia de algumas dores musculares distribuídas pelo corpo. O sol, entrando pelas janelas verticais que nem foram fechadas, nos dá bom dia. Na verdade, só para mim e Mabel. Porque o resto continua apagado.

- Bom dia - eu sussurro, gesticulando os lábios numa mímica cômica.

Mabel nem se dá o trabalho de responder, apontando para a cozinha com a cabeça. Vou logo em seguida, quando consigo me desprender do abraço de Cameron, que está adormecido como uma pedra.

Me debruço na mesa central da cozinha, observando a luz solar banhar toda a extensão de mar que se pode ver através dos vidros do local. O vento salgado entra sem pedir permissão, nos cumprimentando com cócegas em nossos cabelos, nos elogiando e fazendo-nos sentirmos eternos naquele paraíso.

- O sol também brilha para os maldosos - Mabel diz com um sorriso enorme desenhado por entre os lábios. - Eu amo esse lugar.

A garota dá um pulinho, se sentando em um dos balcões e ficando de frente para mim. Seus olhos vão para a direção da sala, onde um amontoado de corpos está sobreposto.

- Você tá a fim do meu irmão? - ela é direta, o que me deixa pasmo.

Meus braços abandonam a superfície de mármore e minhas pernas tomam o controle, indo para próximo do perímetro da morena.

- Por favor, não conta nada pra ele.

- Eu não vou contar, mas você sabe que é complicado - ela não pergunta. Ela afirma.

Sinto meu estômago ser invadido por dezenas de borboletas.

- Eu sei - eu digo, observando a cara de pena da garota.

- Olha, Lyzander. Sem querer ser pessimista e tudo, mas vocês são amigos. E primos. E se não der certo? Vocês vão voltar pra cá todo ano e olhar um na cara do outro.

- Eu sei. Eu sei! - sinto uma ponta de ansiedade querer crescer dentro de mim. - Mas é que ele é meu melhor amigo e puxa... Nós nos damos tão bem, é uma sintonia que cresce cada vez mais. E se der certo?

- E se não der? Como você disse, vocês são melhores amigos. A amizade uma vez rompida, não tem volta. Lyzander, eu acho que você deveria ser mais cauteloso.

Mabel era sinceridade.

- Eu acho que você deveria ser mais complacente, Mabel.

Uma faixa solar iluminou parte do seu rosto, também como tonalizou seus fios que chegavam nos ombros.

- Eu acho linda a relação de vocês, cortaria meu coração se nosso grupo se separasse. Não quero o fim dos Tropicais. - seus olhos castanhos brilharam.

- Isso seria uma tragédia, eu realmente jamais vou querer que aconteça. Mas seja sincera, como você sempre é. Você acha que eu tenho alguma chance?

- Lyzander, eu não quero ser má, mas não. O Cameron parece ser bem resolvido e tudo mais, só que esse comportamento ele só tem aqui. No geral, ele nem gosta que os outros garotos de aproximem - sua boca se contorceu em um movimento tímido, como se estivesse limitando as palavras.

Eram dizeres duros e demorei um pouco para absorve-los, mas eu era insistente.

- Talvez ele precise de mim.

- Pra quê?

- Libertar ele.

- Talvez. Ele gosta muito de você, Ly. Não confunda as coisas também. Não estrague tudo. Mas, quer? Então faça acontecer, porque a única coisa que cai do céu é a chuva.

Após a conversa, fiz o café enquanto Mabel montava a mesa para a primeira refeição do dia. Tivemos outros diálogos para a atualização na vida de ambos e fomos juntos para acordar o pessoal.

Me aproximei de um Cameron adormecido. E um bocado de acontecimentos mapearam minha mente naquele momento: o quanto éramos únicos, o quanto ele me fazia feliz, me fazia bem. O quanto eu amava aquele garoto e todos os seus defeitos. O quanto eu o queria. Não podia perder a chance. Nós éramos eternos na ilha. Nós podíamos ser quem quiséssemos e eu queria ser dele e queria que ele fosse meu. Por mais que Mabel tivesse me alertado. Eu pulei. Pulei de cabeça no mar de Cameron. Me entreguei por inteiro e naquele minúsculo momento em que ele estava dormindo e eu ali. Eu tive a certeza. Eu o amava. E faria de tudo para consegui-lo.

- Cam? - fiz carinho em seu cabelo rebelde.

Ele se mexeu, mas não abriu os olhos. Continuei o carinho no cabelo marrom e logo sua face foi preenchida por um sorriso cheio de dentes. Sorriso esse que combinava perfeitamente com uma boa dose de adrenalina. Após o sorriso, os olhos se abriram.

- Bom dia, Ly - a voz rouca me possuiu de forma que a vontade de beijá-lo gritou dentro de mim.

- Vamos tomar café, eu que fiz - eu disse, contente. Ansioso para que ele tomasse e fizesse um comentário sobre a qualidade.

- Éca, então nem vale a pena levantar - Victoria soltou do lado de Cameron, me golpeando com uma almofada.

Foi só um segundo. Ansel gritou um "guerra de travesseiros" e batalhamos até estourar umas sete almofadas, que Alanys nunca poderia saber que tinham excedido o prazo de vida.

Levantamos juntos de um mar de plumas e tecidos rasgados, um se apoiando no outro, tomando rumo para a cozinha. Aproveitamos o café e fui contemplado com alguns elogios que já me fizeram almejar abrir uma loja do ramo no próximo ano.

- O que temos para hoje? - Ansel disse, animado. Se enchendo de bolinhos recheados que havia encontrado em uma caixa. Provavelmente um estoque pessoal dos gêmeos.

- Bom, eu e Victoria temos um encontro com a vovó - eu disse, meio sem graça. - Aquele assunto.

O assunto era a herança. Eu era o mais velho. Por alguns meses, e Victoria vinha em seguida. E por mais que não déssemos a mínima, vovó fazia questão de nos integrar nos negócios da família. Era sempre no segundo dia do verão, o que já dava margem para os outros criarem outra ocupação até a nossa volta.

- O vô vai nos levar até Salvatore com papai - Cameron disse.

- Pra quê? - Victoria questionou, inserido uma torrada na boca.

- Comprar garrafas - Ansel foi quem respondeu.

Eu e Victoria trocamos um olhar cúmplice enquanto em uníssono soltamos um "nossa...".

Victoria e eu ficamos sozinhos em West Wind quando o restante do pessoal foi para Wellcrouth após uma ligação do vovô.

Para o encontro com vovó Antoinette, iniciamos a arrumação. De nós. Porque a bagunça na sala juramos que resolveríamos mais tarde.

No quarto que abrigou Alison nos verões anteriores, Victoria deu partido em uma inspeção nos cosméticos depositados em uma bancada com espelho agarrado à parede.

- Primeiro de tudo, precisamos de base - a loira ironizou, indicando a embalagem possuindo seu idêntico tom de cor de pele. - Hm, Ly. Estou namorando.

Sentei na cama, disfarçando a surpresa da confissão. - Quem?

Victoria se aproximou, delineando nos lábios um sorriso traiçoeiro. Cheio de peçonha.

- Ethan? - perguntei como se aquele nome fosse o primeiro a aflorar em minha mente.

A dona dos fios dourados alterou a expressão como se tivesse sentido algo péssimo golpear seu paladar.

- Oliver - ela disse.

Oliver Hawk era tio de Ansel, trabalhava no cais da ilha e na manutenção dos barcos. Eu estava em choque, mas não quis transparecer. E assumi indiferença.

Sinuei discretamente as sobrancelhas. - O parente do Ansel? - balancei a cabeça para que a outra continuasse.

- Sim, aquele que você achava interessante - pontuou.

- Achar interessante é diferente de engatar um relacionamento - me defendi. - Quantos anos ele tem?

- Vinte e três, mas não é problema - ela girou nos calcanhares, indo para a janela. - Foi no final do verão passado. Lembra aquele dia que me atrasei para a despedida? Eu estava com ele. Não me pergunte como começou, porque nem eu sei como, mas estamos indo bem, em segredo, é claro. - Ela salientou e eu comprimi os lábios, garantindo que não falaria sobre o assunto.

- Vocês transaram?

- Dentro da Athena, foi incrível - ela sorriu e suas bochechas foram invadidas por uma coloração rosada.

Victoria era ousadia.

- Ninguém pode sonhar com isso, nem o Ansel - eu disfarcei um sorriso, sabendo do perigo que a garota poderia se meter.

- Ninguém pode sonhar com isso.

Trocamos mais uma vez naquele dia o olhar que era nosso voto de confiança. Sempre nos sentíamos seguros para nos expormos de forma totalmente límpida.

- Tudo bem, então é minha vez - deixei a garota sentada, saindo da cama em um pulo veloz.  - Eu tô apaixonado pelo Cameron.

Victoria não disse nada, continuando a me observar, atenta como se eu não tivesse dado a palavra ainda.

- Tá e aí, não ia contar um segredo? - seus olhos se arregalaram de leve e ela sacudiu a cabeça para que eu desse continuidade.

- Será que todo mundo já sabe? Caramba - a frase foi mais para mim do que para a garota.

- É… E nossa, Lyzander, o que você vê nele? Ok, que ele é bonito, mas o Cameron é meio…

Ela não disse mais. Nós nos apoiávamos porque sabíamos: se não fôssemos nós, seria quem?

- Segredos de verão - eu disse.

Nosso papo não durou muito após aquilo. Mas foi tão confortável soltar gargalhadas com minha prima que acabamos nos atrasando de leve.

Victoria foi em um vestido azul piscina que era longo e suave, dançando acompanhado do vento.

Fui como uma roupa simples.

Chegando em Wellcrouth, fomos para os fundos da casa. O jardim circundava algumas mesas com guarda-sóis artesanais e vovó estava ocupando uma dessas mesas. Acompanhada de Cecília.

Enviei olhares para Victoria enquanto nos encaminhávamos na direção das duas e pude sentir a redoma de tensão a cada passo que completávamos.

- Bom dia, meus amores - vovó Antoinette sorriu.

Respondemos juntos, mas fui o único a cumprimentar Cecília antes de sentar.

- Victoria, querida. Você está impecável - a velha elogiou a loira. - Beleza jovem é sempre esplêndida. Mas tome cuidado, exploradores estão a solta. Açúcar ou adoçante, meu bem?

Observei Victoria corar e me senti atingido com um soco. Mal pude imaginar a situação de Cecília que se moveu desconfortável em seu lugar.

A prévia daquele pequeno chá estava dada.

- Açúcar - a morena respondeu errôneamente e de forma desconcertada quando viu que Antoinette se dirigia a ela.

Os olhos da senhora faiscaram de malícia quando a mesma depositou as colheres do conteúdo branco no café da mulher.

Cecília levou a xícara à boca, levantando os litorais dos lábios em um sorriso tímido. Enquanto isso, Victoria recebeu a mesma pergunta que vovó havia feito anteriormente. Escolhendo a resposta divergente da de Cecília, fazendo as sobrancelhas de Antoinette se arquearem.

- Oh, sim. Só Deus sabe o que toda essa açúcar faz ao nosso organismo, sem falar da pele. Não, é mesmo? - o sorriso de Cecília se evaporou. - Querida, o que faz da vida? Perdoe a curiosidade de uma velha

- Ah, jamais. Bom, sou advogada. Trabalho atualmente na Enggost Advocacia.

- Hm, hm - Antoinette fitou a mulher solenemente. - Não foi a agência que foi insuficiente no tribunal com o caso de Heidi O’Faith? Quantos anos ela pegou mesmo? Lyzander, recorde-me.

- Quarenta e nove anos, vovó - eu respondi, com pena.

Cecília parecia afetada.

- Bom, na verdade este caso foi uma calamidade, uma complicação desgovernada. Eu acredito que... - a mulher iniciou sua defesa, sendo tão ineficaz quanto no tribunal.

- Seus pais são advogados? - vovó perguntou, polidamente.

- Não, eles são comerciantes. Donos de uma loja de departamentos - disse Cecília, manuseando a xícara com um leve tremor.

- É mesmo? Me parece muitíssimo interessante, afinal são os camelôs que são a base das vendas - Antoinette depositou a sua xícara na mesa. - Lyzander, meu amor, como está a carreira do seu pai?

Antes de responder vovó, meus olhos caminharam de forma rápida até a noiva de Alan, que parecia pronta para rebater o argumento da senhora, mas ela não ousaria a tanto.

Sorri aliviado, o foco de atenção havia mudado. Algo no meu interior sentia pena da desarmada Cecília. - Muito bem, obrigado por perguntar. Ele nunca reclama, ama o que faz.

- Ele continua exercendo a profissão de anestesiologista?

- Ah, sim - balancei a cabeça positivamente.

- Aposto que viu o artigo da Time - vovó sorriu. - Onde a profissão está plantada no topo da seleção de profissões mais bem pagas.

- Nós vimos sim - eu disse, orgulhoso. - É merecido, afinal a responsabilidade e os riscos que envolvem o trabalho, acabam refletindo nos nossos salários.

A velha enviou um olhar para Cecília que a fez encolher na cadeira.

- Veja bem - Victoria se pronunciou.

Eu estava realmente estranhando todo aquele silêncio e temi, porque quando a serpente está quieta é para armar o bote. E se a avó era amarga, a neta muito pior.

- Vamos ao que interessa. Você dormiu em Wellcrouth? - a loira perguntou.

- É claro que ela dormiu, o quarto de Alan é ao lado do meu. - Antoinette disse, fazendo Cecília ficar roxa de vergonha. - Não dormi a noite inteira.

- …Então - Victoria continuou, com uma leve expressão carregada na face. - Em certo ponto da noite, ele deve ter feito um pedido, digamos… Incomum.

Tanto eu como Victoria não conseguimos repreender risadas que foram abafadas automaticamente.

- Vitória… - Cecília começou.

Soltei uma exclamação.

- É VIQUETÓRIA - a loira disse, carregando um traço de infantilidade.

Pela primeira vez, Cecília pareceu não se abalar.

- Victoria - a morena disse, fazendo sua voz soar sugestivamente petulante. - Nos conhecemos há sete anos, e desejos comuns todos temos.

Minha prima sibilou.

- Quem dirá os de Alan, não é mesmo? - a loira rebateu. - Que adora ser agradado pelos fundos.

Cecília parecia ter levado um tapa.

- Querida, ouça - vovó interviu, estendendo a mão sobre a mesa. - Você deve ter um sonho, não? Uma viagem.

- Bem, sempre tive o interesse no Grand Bazaar em Istambul - comentou a mulher.

- Claro, claro. Faça suas malas. Inclusive leve seus pais, irão adorar os colegas de profissão - vovó disse. - Admito que lá há um delicioso Kebab, aproveite.

A morena parecia não entender os dizeres da velha, permanecendo calada, transparecendo uma expressão de choque.

- Agora nos dê licença - vovó se levantou da mesa. - Crianças me acompanhem, vamos começar a falar de coisa séria.

Estávamos no interior de Wellcrouth quando vovó percebeu que minha feição se mostrava um pouco abalada, afinal eu não tinha nada contra Cecília.

- Espero que a garota não leve para o pessoal, mas eu preciso filtrar quem entra nesta família. Seu avô acha que todo mundo tem um coração bom. Nos poupe - ela balançou a mão no ar. - Ela não vai embora. Uma tola. Mas a pressão cria diamantes.

Perguntei-me internamente se havia como não levar para o pessoal.

- Ela não é uma ameaça, eu consigo sentir a trambicagem no primeiro olhar. Oh, o seu pai, Victoria. Quando entrou pela primeira vez por esta porta, eu já senti o cheiro do patife - vovó disse e Victoria pareceu incomodada por ouvir aquilo. - Cecília é só uma boba apaixonada.

O pai de Victoria havia abandonado tia Anastasia quando minha prima ainda era criança. Levou consigo uma boa parte das jóias da família como também toda sua responsabilidade e presença de pai.

Aquele não era um assunto comentado, pois incomodava a todos por determinado motivo. Mas vovó com toda certeza nutria um desgosto muito maior porque confiou cegamente no homem, o que talvez tenha sido motivo para tanta precaução agora.

- Vamos para Salvatore - a mulher se direcionou para uma das empregadas da casa. - Lydia, peça para prepararem uma lancha, por favor.

- Desde quando Lydia sabe pilotar uma lancha? - a loira do meu lado questionou.

- Ela não sabe, Victoria - vovó respondeu.

- Mas o Hawk não está na ilha ainda, nem papai. Vovô já está em Salvatore com Alan - eu disse.

Vovó Antoinette me fitou, incrédula. - Não seja tão machista, Lyzander. Eu vou pilotar.

Nossa avó confirmou naquele dia que charme é ótimo, mas no mundo real, conhecimento é poder.


Notas Finais


Assista ao trailer de TROPICAL. https://vimeo.com/184423139

Disponibilizei a fanfiction também em outros sites do gênero.


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