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História Trouble - Capítulo 03.


Escrita por: natymoreira

Notas do Autor


Olá, como vocês estão? Espero que tenham tido uma boa semana. Trago mais um capítulo fresquinho para vocês, e é a partir daqui que a história começa realmente a acontecer. Sei que os capítulos anteriores foram cansativos e entediantes, mas agora é o que interessa. Enfim, espero tê-los aqui comigo até o fim, obrigada pelos comentários e favoritos. Perdoem-me pelos erros e uma ótima leitura a todos.

Capítulo 3 - Capítulo 03.


Fanfic / Fanfiction Trouble - Capítulo 03.

                                                            Capítulo 03.

Não sei dizer onde Milla havia conseguido tanta coisa em tão pouco tempo. Quando as mais de quinze caixas foram descarregadas de um pequeno caminhão-bau por uma equipe, eu percebi o quanto ela era exagerada. Até pensei em comentar, mas seria inútil discutir agora. Resolvi somente ajudá-la como havia dito.

A casa de veraneio dos pais de Andrew e Milla dava quase três da minha. Toda pintada de branco com a grama da entrada totalmente aparada, a garagem deveria caber uns seis carros. Por dentro, uma enorme sala de estar se apresentava, o televisor pendia do teto, subindo e descendo com ajuda de um pequeno controle remoto. Milla apertou um botão em um aparelho preso a parede e então o ambiente se iluminou. O televisor subiu, dando lugar a visão atrás de si. A porta elétrica se abriu para o lado e eu pude ver a piscina do lado de fora. Eu só estive ali uma vez para passar o Natal com a família de Andrew e a casa parecia ainda maior.

Após deixarmos todas as caixas no salão de festas, Milla começou a dar instruções para os três rapazes e as duas moças que ajudariam a montar toda a decoração.

— Tudo bem, vamos começar pelo papel de parede.  — ela foi até uma caixa e tirou o papel preto.  — Depois enfeitamos como eu já falei antes com vocês.  — eles assentiram e ela se virou para mim.  — Amelie, você vai me ajudar com as aboboras lá fora. Vamos.

— Certo.  — acompanhei-a até a cozinha, onde as aboboras artificiais descansavam sob o balcão.

— Vamos espalhar elas pelo jardim, quero colocar duas na mesa da comida também.  — Milla pegou três sacos de velas na gaveta do armário, junto com duas pistolas de cola quente.  — Pra você.  — entregou-me uma.

— Valeu.  — esperamos até as pistolas se aquecerem o suficiente e começamos nosso trabalho.

— Como foi o sábado com Andrew?  — perguntou casualmente. Demorei algum tempo para responder.

— Foi legal, nos divertimos, quer dizer ele se divertiu bem mais. Você sabe que não sei nadar, então acabei ficando de fora da brincadeira.  — ironizei enquanto passava cola embaixo de uma vela e grudando no interior da abobora.  — Poderíamos ter feito outra coisa, sabe? Algo que não envolvesse água.

— Porque não disse isso a ele?  — depositou a quarta abobora pronta no chão.

— Andrew estava empolgado, não quis estragar isso.  — o meu suspiro saiu mais cansado do que eu queria.  — Queria ter um espírito mais esportivo.

— Talvez seja a diferença de você que os une tanto.  — Milla falou séria e gargalhou em seguida.

— Que merda, hein.  — balancei a cabeça e terminei mais uma abobora.  — Mas foi legal, a gente conversou, ficamos juntos.

— Isso é o que importa.

— Claro.  — tentei sorrir.

Com todas as aboboras recheadas com suas velas, Milla e eu espalhamos-as pelo jardim da frente, reservando algumas para o salão de festas. Aproveitei a pausa para checar as redes sociais no celular, assim que desbloqueei o aparelho, as cinco ligações perdidas de Andrew apareceram na tela. Nem pensei em retornar, da próxima vez eu atenderia.

— Você falou com o Shawn ontem?  — guardei o celular no instante em que ouvi a voz de Milla. Ela me entregou a ponta de uma toalha para cobrimos a longa mesa que ficariam as comidas.

— Falei sim.  — respondi.  — Entreguei sua lista de musicas. Ele disse que o pagamento pode ser metade antes e metade depois.

— Ótimo, passo na loja dele amanhã.  — novamente fui atingida por um inusitado incomodo. Durante uma fracão de segundos, eu quis que ela me pedisse para fazer aquilo, entretanto Milla se calou, ajeitando a toalha sob a mesa.

— Ele virá trazer os equipamentos na sexta.  — contorci os lábios como se tentasse lembrar de algo mais.  — Também lhe disse que não precisava usar fantasia.

— Porque disse isso a ele?  — Milla pousou as mãos na cintura.  — É uma festa fantasia, Amelie.

— Eu sei, mas se ele não quer usar, não podemos obrigá-lo.

— Quer que eu fale com ele? Eu posso...

— Não quero.  — a negação saiu involuntariamente, fazendo eu me assustar com meu próprio tom e Milla fitar-me com estranheza.  — Não precisa.  — concertei.

— Tudo bem, sem problemas.  — sua expressão suavizou.  — Espero que sábado não demore a chegar, estou tão ansiosa.  — ela segurou as minhas mãos com as suas.  — Será incrível.

— Tenho certeza disso.  — foi impossível não me empolgar com ela.

A decoração havia ficado, simplesmente, impecável. O salão ficou todo escuro devido os papeis de parede preto, a iluminação se dava por conta de luminárias no chão e também nas paredes em formato de crânios humanos, os seis lustres foram cobertos com panos também preto e teias de aranhas. Dois esqueletos foram pendurados no teto, simulando enforcamento, ao mesmo tempo em que um espantalho macabro estava no chão cercado de cabeças decepadas. Duas mesas longas ficaram do lado direito da sala, nessas ficariam estariam expostas as comidas e bebidas, do lado esquerdo distribuíam-se as mesas dos convidados. No centro a pista de dança e ao fundo o lugar do DJ.

No final, aquela bugiganga toda fez valer a pena o trabalho.

[...]

Na tarde de quarta-feira, eu tive aula de espanhol. Fiquei duas horas em frente ao computador tentando aprender sobre conjugação de verbos. Tomei nota do máximo de informações possíveis e aproveitei que estava no clima para estudar um pouco mais.

Á noite, Andrew me ligou e não tive como fugir da conversa. Atendi.

— Oi, Andrew.

Amelie, qual o seu problema? Porque não atendeu as minhas ligações esses dois dias?

— Desculpe.  — comecei.  — Passei o dia com Milla ontem, resolvendo o cenário da festa e hoje tive aula.

Será que não poderia parar um minuto e falar comigo? Pensei que estivesse com raiva de mim.  — ele parecia bravo e aliviado ao mesmo tempo.  — Não devia ter agido como um idiota no sábado e te pressionado com nada. Sinto muito.

— Não estou com raiva de você, Andrew. Sei que não tenho cooperado também.  — eu tinha ciência do quão cansado e irritado ele se sentia por não transarmos, todavia, eu não iria fingir querer algo só para agradá-lo.

Isso não vai mais acontecer, prometo.  — ele pausou.  — Queria ter te visto hoje, mas fiquei ocupado trabalhando com o meu pai.

— Vamos nos ver amanha. Terá tempo de sobra para matar a saudade.  — enrolei um fio de cabelo no dedo e fiquei rodando-o.

Vou te cobrar isso.

Rimos e ficamos em um silencio constrangedor, até ele se manifestar:

— Me desculpe mais uma vez, Amelie. Não quis te chatear.

— Já disse que está tudo bem, Andrew, não se preocupe, por favor.  — pedi baixinho.  — É melhor desligar porque se voltar a pedir desculpas, vou realmente ficar brava.

Certo, certo. Vou te deixar em paz. Até amanhã, Amelie.

— Até, Andrew. Boa noite.

Relaxei os ombros e me escorei na pia do banheiro. Eu gostaria mesmo de saber desde quando falar com Andrew se tornou um fardo.

 

Dormir naquela noite quase não foi possível, me virei de um lado para o outro sem poder mergulhar de vez no subconsciente. Estava calor e o suor vertia em minha nuca, joguei o cobertor para o lado a fim de amenizar a temperatura; não adiantou muito. Meus pensamentos estavam fervendo: Andrew, estudos, emprego e até a maldita festa. Uma crise existencial em plena madrugada.

No entanto, o que me tirava o sono não se tratava disso, era pura ansiedade. Aquelas que me dão um frio interior e causavam um puxão no ventre. O relógio digital em cima do criado-mudo marcava 4h08 quando eu finalmente achei a causa da minha insônia. Eu estava ansiosa para rever Shawn, e embora eu não focasse nisso, lá no fundo os meus devaneios mentalizam-no.

Sim, eu queria vê-lo. Queria sentir seu aperto de mão, ouvi-lo dizer meu nome e sorrir, queria até o incomodo que de tão estranho, chegava a ser bom.

Engoli o seco ao cogitar tal possibilidade, tapeei meu rosto duas vezes para espantar a sordidez e olhei para o teto. O sono chegou logo depois.

[...]

Perdi as contas de quantas vezes Milla me ligou na quinta-feira, a cada cinco minutos chegava uma mensagem. Na ultima vez, eu precisei repreendê-la e dizer que já tinha ficado chato. Ela prometeu que eu me arrependeria de ter cortado o barato dela.

Recebi um e-mail do clube do livro na sexta-feira por volta do meio-dia.  Nosso próximo encontro seria dali a dez dias e o livro escolhido foi O primo Basílio. Confirmei a minha presença e fechei o notebook. Resolvi passar na livraria e só depois me encontrar com Milla.

Tomei um banho e coloquei uma roupa — saia jeans curtinha, uma blusa florida caída no ombro e tênis. Joguei tudo o que eu precisaria dentro da bolsa e saí de casa.

Demorei cerca de meia hora para chegar à única livraria da cidade. Encontrei o livro que eu procurava somente em edição econômica e era o ultimo exemplar que eles tinham, era isso ou a versão digital. Comprei logo e fui para o lugar da festa.

Coloquei os fones enquanto fazia o percurso e dei play na primeira musica. Pumped up Kicks explodia em meus ouvidos, me impedindo de escutar qualquer barulho exterior.

 

Nem precisei apertar a campanhinha quando cheguei. A porta estava apenas encostada e eu entrei sem bater. Tirei um lado do fone e chamei por Milla, mas não obtive resposta. Caminhei até a cozinha e antes de adentrá-la, uma figura vestida de Ghostface pulou na minha frente. Gritei assustada e a criatura deu risada.

— Jesus, Andrew.  — recuei com a mão no coração.  — Não tem mais o que fazer?

— Eu disse a ele que não tinha graça.  — Milla apareceu atrás de mim.

— Cadê o espírito de Halloween de vocês?  — ele tirou a mascara e passou a mão pelo cabelo bagunçado.

— Admito que foi engraçado.  — falei e Andrew sorriu, vindo até mim e me beijando.

— Porque demorou?  — ele perguntou quando nos separamos, tirando meu cabelo do rosto.

— Precisei comprar um livro, minha nova leitura para o clube.  — voltamos para a sala.

— Ótimo, agora só falta chegar a cabine fotográfica e, é claro, o DJ.  — Milla rabiscava em um bloquinho.

— Ele ainda não veio?  — deixei a bolsa no sofá.

Como se adivinhasse o que estávamos falando, a campanhinha soou, chamando a nossa atenção. Andrew se livrou da fantasia e foi atender. Eu e Milla nos calamos para ver quem era.

— Shawn!  — ao ouvir Andrew saudá-lo, sem querer eu arfei.  — Entra, cara.

Eles se cumprimentaram com um aperto de mão e uma batidinha nas costas. Só ali eu me perguntei de onde os dois se conheciam. Desviei a perspectiva de Andrew para Shawn; ele usava jeans escuro, camisa cinza com as mangas erguidas até os cotovelos e tênis. Ele aparentava ser mais alto agora que eu podia vê-lo de corpo inteiro. Quando eu atentei para o fato de que estava o observando demais, procurei rapidamente outro ponto de foco, parando em um jarro de flores ao lado da porta.

Nem notei sobre o que dois conversaram, voltei para a cena quando eles caminharam em nossa direção.

— Milla.  — ele sorriu para ela e beijou-a no rosto, depois foi a minha vez.  — Olá, Amelie.

Shawn curvou-se um pouco, uma mão parou no meio das minhas costas, enquanto ele depositava um beijo estalado em minha bochecha. Não durou mais que dois segundos, mas foi o suficiente para que eu aspirasse seu perfume e me encolhesse envergonhada.

— Oi, Shawn.  — respondi mesmo ainda estando paralisada.

— Que bom que chegou, estávamos falando sobre você agorinha.  — Milla me tirou do mundo da lua.

— Teria vindo antes, mas não pude deixar a loja.  — informou.  — Podemos começar.

Ele trouxe os equipamentos em uma Toyota Tundra, Andrew o ajudou com a descarga. Não demorou para toda a parafernália estivesse no salão de festas. Milla me deu alguns adesivos fluorescentes de fantasmas e morcegos e eu fui colá-los nas paredes ao passo que ela cuidava da cabine — que também havia chegado — com o irmão. Deixei uma parte dos adesivos embaixo do braço e tentei não me embaralhar.

Do o lugar que eu estava, eu tinha a visão plena de Shawn de costas. Sem que eu esperasse, ele virou e estufou o peito para suspirar e nisso seu olhar encontrou o meu. Atrapalhei-me ao retirar a proteção do adesivo, por sorte ele não deve ter notado. Ele procurou algo no chão e eu voltei ao trabalho. Mesmo lutando para não examina-lo mais, eu não tinha controle das minhas ações. Era um movimento e uma encarada, eu já me sentia invasiva demais.

O negocio era automático, pra onde eu olhasse tudo me levava a ele.

Com os pensamentos aflorando, uma ideia endiabrada veio-me a mente. Refleti sobre ela durante um tempo, não seria legal de minha parte fazer tal coisa e eu nem sabia se funcionaria. Avistei Andrew ainda auxiliando Milla e em seguida, Shawn. Segurei o risinho, era idiota, mas eu tentaria.

Joguei o cabelo todo para trás e contei até dez mentalmente, ao final da contagem eu deixei os adesivos embaixo do meu braço caírem, fazendo um barulho seco no chão, senti todos os olhares em mim.

— Tudo bem ai, Amelie?   — Andrew perguntou.

— Tudo, amor, só deixei cair os adesivos sem querer.  — falei inocente, me enojando com o amor para respondê-lo.

Ele voltou para sua tarefa e eu dei inicio a minha. Primeiro me agachei, ficando de joelhos e depois me coloquei de quatro. Comecei juntando os fantasmas e morcegos, um, dois... então procurei por Shawn. Ele estava lá; olhando-me. Inicialmente pensei que ele poderia achar graça da situação, me considerar imbecil ou menos ainda, não dar à mínima. Só que por sua expressão rígida, eu descobri que não.

Talvez o fato de que estar de saia — belo dia em que eu decidi usá-la — o deixou sem graça quando eu me empinei para pegar as figuras, talvez Shawn admirasse apenas os ornamentos na parede, mas não. Comprovei isso ao sorrir como de costume e ele virou de costas para mim, também se agachando e puxando um fio.

Não me senti totalmente bem, mas o lance foi que o cara notou. E o pior não foi eu ter me exibido nem Shawn me olhando... mas sim eu ter gostado.

Terminei de recolher os adesivos e me levantei, limpando os joelhos e ajeitando a saia. Agi normalmente, enfeitando a parede até restar apenas um. Por alguma razão, Andrew e Milla tinham saído da sala e eu sequer constatei a falta deles. O único ruído vinha de Shawn, desenrolando uma extensão. Fui falar com ele.

— Posso?  — falei, trazendo o foco dele para mim e balançando o fantasminha no ar.

— Pode.  — ele afirmou e prostrou-se ao meu lado.

Dei alguns passos para fixar o adesivo em uma das caixas de som e voltei para seu lado logo.

— E então... você gostou?  — só senti o peso da pergunta, quando Shawn me encarou levemente atordoado e de ombros rijos.  — Da decoração.  — completei antes que se tornasse mais vergonhoso o momento

— Ah, sim, claro. Vocês capricharam.  — ele apontou para os esqueletos.  — Ficou muito bom.

— Milla teve toda a ideia, admito.  — escondi as mãos nos bolsos traseiros da saia.  — Está tendo muito trabalho?

— Nada que não esteja acostumado. Também não quer dizer que não seja cansativo.

— Sei.  — tentei formular a frase certa e falhei.

Estando tão próxima dele — de modo que eu inalava seu perfume — eu pude obter mais detalhes físicos seus.

Shawn era mais alto do que eu, talvez uns vinte centímetros. Seus olhos eram castanhos assim como seu cabelo, dava até um contraste com a pele branca e com o cinza de sua roupa. Desci o exame por seu rosto, nariz, bochechas e cheguei à boca. Seus lábios não eram finos nem carnudos, era na medida perfeita e com uma bela fileira de dentes brancos e retos. Demorei uns segundos a mais ali. Continuei a inspeção por seu queixo, pela mandíbula, pelo pescoço e até o ombro foi minha vitima. Quando ele agachou novamente para checar uma entrada de som, foi a vez de suas costas ganharem a minha atenção. Não pude estudá-la muito, porém transparecia ser larga e firme. A blusa marcava o volume do bíceps bem definidos e também o peitoral.

No momento em que eu ia descer o olhar para uma parte importante, Shawn me assustou ao questionar:

— Posso saber qual será a sua fantasia ou é uma surpresa?  — ele era tão bonito e educado que eu quis bater a cabeça na parede por minunciá-lo daquela forma.

— Morticia Addams.  — coloquei, nervosamente, o cabelo detrás da orelha.

— Legal. Andrew será o Gomez, eu suponho.  — Shawn apoiou o braço no joelho e levantou a cabeça para me ouvir falar.

— Ah, não. Ele preferiu ser um vampiro.  — repliquei, fingindo um desdém. O nervosismo começou a dar lugar ao incomodo inusitado, as mãos suando e uma contração no pé da barriga.  — Acho que não ficaria bem como vampira. Posso perguntar por que dispensou outras festas para tocar na nossa?  — usei a mesma cordialidade.

— Sinceramente?  — ele ergueu a sobrancelha, com uma expressão travessa.  — Vocês me pareceram mais desesperadas.

— Como é?  — cruzei os braços, indignada.  — Desesperadas?

— Precisavam mais de mim do que os outros.  — não tive argumentos contra sua justificativa.  — Bom, terminamos.  — se colocou de pé, batendo as mãos uma na outra.

— Como aprendeu a mexer nessas coisas?  — referi-me a todos os equipamentos. Ele tinha organizado tudo, nada fora do lugar.

— Isso foi o mais fácil, mas estudei dois anos para poder tocar.  — ele arrumou a blusa no cotovelo e me vislumbrou com um sorriso.  — Tocar é mais divertido, mas montar também é agradável. Você iria gostar de montar.

E foi rápido demais.

Meu cérebro processou o enunciado, pegando não o suposto duplo sentido, mas o terceiro, quarto... Shawn não demonstrou estar afetado, pelo contrario, ele permaneceu com a mesma expressão, como se não se desse conta do que acabara de falar. Ou talvez ele não quisesse dar outro sentido, e sim eu que imaginei coisas.

De qualquer forma, meu corpo só encontrou uma forma de demonstrar toda a confusão que ocorria em meu espírito. Engasguei-me com a própria saliva, dando inicio a uma crise de tosse, terrivelmente, embaraçosa. Fechei a mão em minha garganta em busca de acalmar-me, Shawn tentou se aproximar, mas balancei a cabeça o proibindo de chegar perto. Ele até deu mais um passo, mas Andrew apareceu instantaneamente.

Consegui voltar a respirar normalmente depois de segundos, quando o meu namorado me segurou pelos ombros e perguntou se estava tudo bem.

— Foi só um engasgo, Andrew.  — expliquei após um ofego baixo. Fiquei com medo de olhar para Shawn, pois se ele continuasse inerte eu lhe daria uma bela tapa na cara.  — Será que pode me levar em casa agora? Prometi ajudar a minha mãe com a festa dela também.

— Claro, vou pegar as chaves.  — ele entrelaçou nossos dedos.  — E você, Shawn?

— Também já vou.  — Shawn passou a mão pela nuca e tombou a cabeça.  — Terminei tudo por aqui.

Andrew me puxou pela mão para sairmos da sala e Shawn nos seguiu em silencio atrás, senti-me fuzilada e tentando não tropeçar nos pés.

 

Foi um alivio quando cheguei em casa e me vi sozinha no quarto. Primeiro porque tinha acabado toda aquela preparação louca para a festa, segundo porque Shawn estava longe. Em pleno começo de noite, eu já sentia os primeiros sinais de cansaço, meus olhos doíam devido ao sono e eu tive que renuir o pedido de mamãe para que a ajudasse.

Tudo que eu conseguia pensar era em dormir e em como Shawn ficava bem de cinza.

[...]

Só acordei cedo no sábado porque mamãe fazia barulho pela casa toda, arrastando coisas, batendo portas e gritando. Cobri o rosto com o travesseiro para abafar o escarcéu, só que de nada adiantou. Resolvi levantar, escovar os dentes e depois comer alguma coisa.

A casa parecia ter virado de cabeça para baixo. A mesa da cozinha foi colocada na sala, os sofás empurrados para o canto, não tinha um centímetro que não estivesse enfeitado. Papai prendia uma aranha enorme na porta de entrada, enquanto mamãe carregava um caldeirão cheio de gosma verde para a mesa.

— Vocês estão bem?  — inquiri antes de bocejar.

— Resolvendo os últimos detalhes.  — ela limpou as mãos em um pano de prato e depois o jogou sob o ombro.  — Nós te acordamos?

— Já ia acordar mesmo.  — peguei suco na geladeira e ovos.  — Quantas pessoas virão?

— Esperamos cerca de quarenta, mas sempre vem um a mais ou a menos.  — ia de um lado para o outro.  — Acha mesmo que não pode participar?

— Já falei que vou na de Andrew, nem adianta tentar me fazer mudar de ideia apelando para o lado emocional.  — ela nada disse, apenas me lançou um daqueles olhares de você é quem sabe.

Preparei uma omelete rápida e subi para o meu quarto. Respondi a mensagem de Greta sobre uma carona para a festa, disse que passaria com Andrew em sua casa. Não tendo nada para fazer, eu iniciei a minha leitura de O primo Basílio. Tive forças para ir até a pagina 49 e ainda fazer meia folha de anotações sobre o que considerei importante.

 

Demorei quase três horas para fazer uma maquiagem descente, mamãe teve que me ajudar ou eu não ia ficar pronta a tempo. Os olhos foram os mais trabalhados, cílios postiços, delineador, rímel, três tons de sombras e mais uma parte que eu sequer sabia o nome. O batom foi um vermelho, torci para que não borrasse e continuasse perfeito a noite toda. Calcei a sandália de salto alto grosso antes de trajar o vestido. Tomando mil cuidados com a maquiagem, eu passei a peça por meu pescoço e deslizei-a em meu corpo, com o salto ele ganhou mais vida. Por ultimo, foi a peruca preta, lisa e longa.

Não me reconheci quando me olhei no espelho, parecia outra Amelie. Virei para a esquerda, para a direita, para trás e para frente... me senti satisfeita comigo mesma. Esforcei-me para deixar o espelho e lembrar que a festa ainda existia.

Peguei apenas o celular e sai do quarto. Ao descer as escadas, encontrei papai fantasiado de Frankenstein e mamãe de bruxa.

— Você está maravilhosa.  — ela aplaudiu, fazendo o nariz falso balançar.

— Obrigada, vocês também.  — bati no braço de papai. Por ele ser alto, o monstro de Mary Shelley caiu perfeitamente nele.  — Divirtam-se na festa, por mim.

— Iremos se sua mãe não começar a dançar.  — papai brincou e ela o beliscou, ele fez careta e rugiu.  — Feliz Halloween, querida.

— Feliz Halloween.  — abracei os dois e Andrew surgiu no mesmo segundo.  — Preciso ir, até logo.

Papai abriu a porta para mim e segurou minha mão para que eu desse os primeiros passos para fora. Andrew me recebeu no meio do caminho.

— Posso te chamar de gostosa hoje?  — ele beijou meu pescoço.

— Só hoje.  — eu estava linda demais para não aceitar elogios.

Andrew também estava bonito, ele combinou com o estilo vampiro, a maquiagem repleta de sangue pelo rosto e pela roupa tinha lhe dado o ar selvagem que faltava.

 

Passamos na residência de Greta como combinado, ela saiu de casa fingindo estar em uma passarela e fazendo graça para nós no carro. Sua fantasia de princesa-zumbi não me espantou, a garota gostava de transformar o fofo em lúgubre.

— Puta merda, você arrasou, Amelie.  — Greta disse, se jogando no banco de trás.  — Você também, Andrew.

— Adorei a fantasia.  — virei a cabeça para lhe lançar uma piscadela.

Chegamos a casa de veraneio vinte minutos depois, o relógio marcava 8:35. Andrew estacionou o carro e nós descemos, Milla nos recebeu fantasiada de fada e uma câmera fotográfica nas mãos, o flash repentino deixou meus olhos sensíveis.

— Entrem logo.  — ela nos deu espaço.

Uma faixa laranja com caveiras pretas foi posta na casa para indicar o caminho do salão de festas, nem precisei dar dez passos para ouvir We Found Love aquecendo os primeiros convidados a chegarem. Caminhei segurando na mão de Andrew e Greta saltitando a nossa frente, já cantando a música.

Umas dez pessoas já estavam lá, olhei para a zona de Shawn e não o vi, seus equipamentos emitiam luzes coloridas e as musicas, provavelmente, no aleatório. Comprimi os lábios e passei a mão pela peruca, era a primeira vez que eu ia a uma festa a fantasia e era engraçado ver as pessoas transvestidas. A decoração tinha ficado estupenda e assombrosa, Milla estava de parabéns.

Cumprimentamos os presentes e eu fui procurar uma bebida com Greta; nunca fui chegada em álcool, por isso peguei apenas um refrigerante para começar. Parei com Greta para conversar com duas amigas e elas ficaram lá, conversando sobre o que faziam da vida, acabei não participando muito do bate-papo.

Os convidados foram chegando aos poucos e logo eu só conseguia ver uma mescla de monstros, criaturas, um Michael Jackson e outras que eu mal sabia a denominação. Encontrei Mike vestido de egípcio e arriscando alguns passos em Glad You Came, maneei a cabeça para saudá-lo, em resposta ele ergueu o copo de bebida.

O dialogo das três ao meu redor passou a ser frívolo quando os meus olhos pousaram sob a figura que entrava pela porta. Shawn de preto da cabeça aos pés, calça, blusa de botões com os três primeiros abertos, jaqueta de couro e botas. O cabelo bem penteado e o maldito sorriso simpatizando com todos. Parecia aquelas cenas de filme quando tudo se torna em câmera lenta. Shawn estava lindo.

Fodidamente lindo.

As pessoas o conheciam, já que cada passo dele era um aperto de mão em gente que eu sequer vi um dia. Ele tinha paciência para falar com elas e ainda gesticular para responder perguntas. Senti o sangue zumbir no ouvido com ele se aproximando devagar. Engoli o resto do refrigerante e me afastei do grupo de Greta com a desculpa de que ia buscar outra bebida, eu ainda não estava preparada para falar com ele.

Marchei entre as pessoas até sentir uma mão prender meu pulso e me fazer parar, perdi o ritmo das piscadas, porém aliviei-me ao ver Andrew.

— Oi.  — amaldiçoei-me por, no fundo, ser ele a me segurar.

— Amelie, quer dançar?  — seu polegar acariciava a minha pele coberta pela manga do vestido.

— É claro, só vou pegar uma bebida. Me espere na pista de dança.  — projetei a voz mais sexy que consegui e beijei-o para fortalecer a fala. Andrew assentiu abobado.

Afastei-me dele rebolando o máximo que pude e alcancei a mesa das bebidas, peguei qualquer uma das bacias de gelo e dei o primeiro gole, o teor de álcool era alto visto que ardeu para descer. Passei o indicador sob o lábio torcendo para o batom estar intacto, um garoto vestido de Mario Bros apareceu gargalhando ao meu lado, pegando uma bebida e voltando para a pista.

— ‘’O que é normal para uma aranha é o caos para uma mosca’’.  — estremeci ao ouvir a citação da Morticia vinda dele. Limitei-me a olhá-lo de canto.

— É bom saber que alguém conhece a minha personagem.  — comentei, sacudindo os detalhes do vestido.  — Olá, Shawn.

— Se divertindo, Amelie?  — a forma como ele pronunciava meu nome me dava tremor, Shawn agia tão casual e profissional, que chegava a irritar meus nervos.

— Pode-se dizer que sim, preciso começar a dançar, gosto de dançar.  — trouxe o corpo na direção do dele, Shawn pegou a mesma bebida que a minha e sequer fez careta ao beber.  — Devia beber enquanto trabalha?

— Poxa, você me pegou.  — se fez de descontente e riu.  — Vou com calma, prometo não estragar a sua festa.

— Ficarei de olho.  — assegurei. Outra musica iniciou e eu lembrei de Andrew. Coloquei outro gole para dentro e larguei a bebida na mesa.  — Vou dançar um pouco, toque alguma coisa para mim depois.

— O que você quer?  — seu tom de voz subiu devido à música alta. Pensei em uma boa resposta, pensei nas minhas musicas favoritas ou qualquer uma, não conseguindo achar nada adequado, pronunciei a primeira coisa que me veio à cabeça.

— Algo que te faça lembrar de mim.  — afastei-me antes mesmo de ele ter chances de responder, o vi acompanhar-me com o olhar até a pista de dança e perdi-o ao me misturar.

Andrew puxou-me pela cintura, colando seu corpo ao meu, passei as mãos por seu pescoço e nos embalamos ao som de We can’t Stop. Não consegui me concentrar nas pessoas nem no que acontecia aos arredores, o pouco álcool ingerido corria por meu corpo e eu só queria que a musica não parasse e que, pelo amor de Deus, as mãos de Andrew largassem a minha cintura e descessem.

Quando o final da musica chegou, Greta me chamou para dançar com ela, Andrew se sentou, mas o olhar continuava em nós duas.

— A barra desse vestido impede que eu me mova direito.  — desabafei com ela. Greta assentiu como se entendesse e apenas se agachou para puxar a barra de meu vestido. De algum jeito, ela dobrou o vestido até a minha panturrilha, dando um nó bem elaborado do lado direito. Agora minhas sandálias estavam à mostra e eu podia me mexer sem empecilhos.  — Valeu.

Milla passou me oferecendo outra bebida e eu peguei, sem pensar. Segurei-a em uma mão enquanto movimentava meu corpo com o de Greta, ela cantava a música em gritos e ditava nossos passos.

— Ele é bem bonito, né?  — ela sussurrou em meu ouvido.

— Quem?  — sussurrei de volta. O volume da música abafava nossas vozes, mas não paramos de dançar por um segundo.

— Shawn.  — Greta apontou discretamente para ele, obrigando-me a contemplá-lo.  — Será que eu devia ir até lá?

Ingeri a bebida de uma vez antes de respondê-la, senti um empurrão no braço de outra moça que dançava descontroladamente.

— E porque não?  — gesticulei para que ela fosse.  — Você não tem nada a perder.

— Certo.  — ela me entregou sua bebida e ajeitou o vestido curto.  — Lá vou eu.

Tentei continuar dançando e não prestar atenção em Greta, deu certo até um tempo, mas depois de mais duas bebidas eu já nem disfarçava as olhadas. Andrew se juntou a mim e eu permiti que ele dançasse comigo do jeito que quisesse.

O som de Your Body preencheu a festa, fechei os olhos e segurei as mãos de Andrew, levando-as até o final das minhas costas. Ele me beijou e eu mordi seu lábio inferior. Virei de costas para ele, deitando a cabeça em seu peito e mexendo o quadril. Nos ritmamos de forma que eu tinha a vista de Shawn e Greta, Andrew desceu as mãos por minha lateral e depositou alguns beijos em meu pescoço.

O gesto teria mexido comigo se eu não me incomodasse com o fato da minha melhor amiga estar conversando com o DJ. Ela estava sentada em cima de uma caixa de som, Shawn mais de lado, sorrindo para Greta e mexendo no cabelo. Desconcertei-me com o subir das mãos dela pelo peito dele para fingir arrumar o colarinho da jaqueta, Shawn deu mais um passo na direção dela e eu trouxe os lábios de Andrew novamente para os meus antes de ver a cena do casal.

Andrew agora estava de costas para os dois e, felizmente, eles tinham se afastado. No meio das pessoas dançando, da iluminação mediana, o olhar de Shawn grudou no meu no exato momento em que eu descia e subia roçando em Andrew, ele se debruçou, apoiando os cotovelos em sua aparelhagem.

Rebolei o quadril, como se quicasse e eu jurei vê-lo tentando não assistir a cena. Sua cabeça girou de um lado para o outro, os dedos trabalhando em sua maquina, em dado minuto ele perpassou o indicador no lábio inferior. Delirei com seu jeito e com a musica.

Era completamente estranho o jeito que eu me sentia, não era do meu feitio me incomodar com as pessoas, mas Shawn realmente me causava arrepios. Em quase duas semanas que nos conhecíamos, eu experimentei emoções — não sei dizer se boas ou ruins — que em um ano com Andrew eu nunca havia sequer sentido o gosto.

A presença dele era agradável e ao mesmo tempo perigosa.

No ápice da musica, eu beijei Andrew, mantendo os olhos bem abertos e olhando diretamente para Shawn. Ele se endireitou e mudou o peso de uma perna para a outra, o cara sustentou a encarada até a canção finalizar. Senti vontade de jogar Andrew para o lado, ir até Shawn e perguntar qual era o seu problema.

Meu coro cabeludo começou a esquentar, a peruca me incomodava e eu resolvi tirá-la. Falei com Andrew que iria ao banheiro e o deixei na pista, senti-me tonta quando subi as escadas e o barulho estridente ficava para trás. Livrei-me do cabelo falso antes mesmo de chegar ao banheiro e contorci os dedos dos pés para alongá-los e diminuir a dormência. Fechei a porta ao entrar do toalete.

Até que a maquiagem não estava tão ruim, os olhos ainda permaneciam belos, só o batom que tinha desbotado minimamente. Ajeitei meu cabelo e passei água nas mãos, dei uma suspirada e uma voltinha para checar o vestido. Peguei a peruca de cima da pia e abri a porta, girei a maçaneta e escancarei a saída.

Nem me retirei direito e um corpo cobriu o meu, pressionando-me contra a parede e ele. A peruca escorregou entre meus dedos e respirar se fez uma tarefa dificultosa.

— O que você pensa que está fazendo?

A pergunta foi certeira e ríspida. Minhas mãos ficaram caídas retas e suando enquanto Shawn tinha o braço ao lado da minha cabeça. Engoli o seco, sentindo meu peito ir e vir fatigante. Um calor desconhecido subiu do mindinho do pé e se espalhou por todas as minhas articulações. Céus, ele estava tão perto, o peito a centímetros do meu, o braço me imobilizando. Apesar de estar visivelmente perturbada, ainda reuni forças para responder com a maior calma possível:

— Como assim? Fazendo o quê? 

— Não se faça de boba, Amelie.  — notei seus dedos fazendo pressão na parede e uma veia saltar em seu pescoço. Ao ouvir a chamada do meu nome, eu tremi em cada vértebra.  — O que foi aquilo lá na pista? Por acaso perdeu o juízo?

— Eu realmente não sei do que você esta falando.  — o encarei inocente, ignorando o fato de que estava pulsando e tremendo. O cheiro dele fluía, me inebriando e levando para longe qualquer resquício de sobriedade.

— Você não pode me provocar assim, você é louca?  — quando ele quebrou o resto da distancia entre nossos corpos, eu soube que estava encrencada. Arfei, buscando a razão que ainda deveria existir.

— Provocar você? Shawn, eu tenho namorado, porque iria te provocar?  — fiz questão de descer o olhar para sua boca, sua expressão ficou túrbida. Algo queimava em meu peito, descendo por toda a barriga e se fortificando em meu centro.  — Porque achou isso?

Seus olhos se arregalaram e ele não deve ter encontrado as palavras para me responder, sempre que abria a boca não emitia som. Por fim, desistiu. Nossa diferença de altura deixava-me rente a seu peito, me obrigando a tombar a cabeça para trás para poder vê-lo, ele estava inclinado sobre mim.

— Eu te avisei para não beber enquanto trabalha, Shawn. Não é apropriado.  — automaticamente, alceei a mão e mandei o cabelo para trás, seu olhar caiu diretamente sob o meu decote.  — Pode tirar a sua concentração.

— Não.  — ele me fitou sem se afastar.  — Acha que isso é um jogo, Amelie? Não pode brincar assim com as pessoas e acreditar que elas vão ficar de braços cruzados.

Foi a minha vez de arregalar os olhos e buscar uma brecha de escape. A última coisa que eu queria com Shawn era brincar. Remexi-me inconfortável e em um momento de insânia, eu espalmei as mãos em seu peito, fora um erro. Aquilo trouxe o calor dele para mim, tive que me controlar para não embrenhar os dedos na sua blusa e puxá-lo ainda mais para perto.

A confusão em mim evidenciava, porque foi Shawn quem se afastou. Senti a falta repentina da sua proximidade e pisquei algumas vezes em entender, com as mãos paralisadas no ar. Ele apertou a ponta do nariz, buscando a paciência. Recobrei a consciência e me recompus.

— Preciso voltar, Andrew está me esperando.  — agachei para pegar a peruca.  — Não se esqueça da minha música.

Sorri imaculadamente e dei meia volta para chegar à escada, deixando Shawn sozinho e sem ousar olhar para trás. Eu nem sei como consegui andar, já que minhas pernas balançavam mais que gelatina.

Embora mantivesse a imagem firme, eu estava entrando em colapso.

 

Lá pelas três da manhã, a maioria dos convidados já tinha ido embora. Contavam-se por volta de trinta pessoas, levando em conta as que dormiam em cima da mesa. Nessa hora, minhas sandálias estavam jogadas em um canto junto com a peruca, permaneci na pista para entreter os pensamentos e obtive êxito.

Milla dançava ao meu lado, as asas da fada também foram retiradas e ela também estava descalça. Andrew já falava de um jeito embolado com uns amigos.

For your Entertainment conseguiu me fazer dançar mais do que nunca. Passei as mãos pelo cabelo e rebolei de modo sensual até o chão, subi contornando o meu decote. Os passos eram descoordenados, mas eu estava adorando dançar; meus pés iriam reclamar de dor, eu sabia disso. Olhei para Milla, sacolejando os ombros e fingindo que ia subir o vestido.

Do you like what you see? Let me entertain ya ‘till you scream.  — cantarolei bem alto e ela me acompanhou.

Lembro-me de uma nova musica soar e de ver Greta arrastando Shawn pelo pulso até o centro, ela fez questão de se prostrar bem ao meu lado e dar uma risadinha, começando a se movimentar. Eu não estava plenamente sóbria nem bêbada, estava no estado meio-termo, mas nem por isso eu logrei não permitir que ele me afetasse.

I see you over there, so hypnotic
Thinking 'bout what I do to that body
Getting drunk of the thought of you naked

Não que eu fosse me iludir com uma musica, mas eu me recordava de ter pedido algo a Shawn no inicio da noite, certo que varias tocaram, só que aquela era diferente. Parei de dançar por um segundo e o observei em silêncio. Foi uma espécie de transe, o som nos possuindo e nos extasiando.

Umedeci os lábios, vendo-o mover o corpo desengonçadamente. Não tive tempo para pensar, o motim me jogava de um lado para o outro e eu comecei a me sentir tonta. Fechei os olhos, jogando os braços para cima e meditei na letra da musica.

Imagine me whispering in your ear then I wanna
Take off all your clothes and put somethin' on ya

 Não sei qual o momento, nem porque ou como, mas eu pude sentir alguém posicionar-se atrás de mim, perto demais para o meu gosto. Talvez fosse o efeito da bebida, mas minhas pernas bambearam e tudo a minha volta começou a girar. A batida ao som de Usher levou-me ao grau mais alto de noite. Eu estava no limite e não só fisicamente.

Quando a mão gélida se fechou em torno da minha e grudou o corpo no meu, tudo piorou. Não parei de dançar e a anatomia atrás de mim parecia não se importar, cheguei à conclusão de que iria desfalecer.

If you wanna scream, let me know and I'll take you there.

Minha pulsação foi a mil com a voz em meu ouvido. Perdi o resto das forças e arfei. A rotação aumentou e eu me afastei sem conseguir andar corretamente.

Antes de dar quatro passos, eu mal consegui abrir os olhos e os fechei novamente. A minha ultima lembrança daquela noite foi uma pancada na cabeça quando meu corpo acertou o chão e alguém chamando o meu nome.

E aquele estúpido incomodo ao ouvi-la.


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Beijos e até o próximo. Se quiserem, falem comigo pelo twitter: http://twitter.com/WALKERSTITCHES


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