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História Trouble - Capítulo 06.


Escrita por: natymoreira

Notas do Autor


Olá, meus amores, como estão? Demorei um pouco mais dessa vez por conta das provas finais da faculdade, decidi não escrever porque quando começo Trouble não consigo mais parar. Agora que estou de férias, tentarei postar todas as semanas. Fico feliz que os leitores fantasmas estejam aparecendo, continuem assim kkkk Quero agradecer por todos os comentários e dizer bem-vindo aos novos leitores. Peço perdão por qualquer erro ao decorrer do capítulo, se encontrarem, por favor, avisem-me. Espero que gostem e uma ótima leitura a todos!

Capítulo 6 - Capítulo 06.


Fanfic / Fanfiction Trouble - Capítulo 06.

Capítulo 06.

— Qual a mais bonita? Preta ou cinza?

Quando eu concordei em sair com Milla naquela tarde de segunda, eu contava que seria para comprar roupas, não que eu não gostasse — eu gostava —, mas fazer isso com ela era um problema. Milla queria entrar em todas as lojas que via e experimentar o máximo de peças possível.

Ela balançou as duas saias em minha frente e eu fiz uma cara de quem está pensando. Ah, eu odiava dar minha opinião quando se tratava do gosto alheio. Com certeza eu escolheria a preta, mas conhecendo-a eu sabia que ficaria com a cinza. No final do que valia o que eu dizia?

— Gosto da cinza em você.   — respondi.

— Ótimo, foi a que eu gostei também.  — ela descartou a outra peça e saiu carregando a cinza.  — E você, o que vai querer?

— Não estou precisando de roupas novas no momento.  — repliquei, enquanto caminhávamos até o provador.

— Uma blusinha nova nunca é de mais, Amelie.

Eu sabia disso, mas mesmo que eu precisasse não iria comprar. Papai deixava um cartão de credito comigo e eu só usava para emergências — isso quer dizer comida ou quando meu fone ouvido quebrava.

— Estou aqui para fazer companhia, Milla.  — empurrei-a, após ela pegar mais uma peça para experimentar.

— Obrigada.

Milla entrou no provador e eu esperei em pé ao lado de fora.

— Eu te contei que conheci um cara pela internet?  — ela perguntou lá de dentro.

— Não, quem é ele?

— O nome dele é Gabriel, faz pouco tempo que se formou em advocacia. Combinamos de sair amanha a noite.

— Isso explica as compras de ultima hora.  — falei e ouvi sua risadinha.  — Você acha seguro ir a um encontro com um cara que só viu a foto por uma rede social?

— É meio loucura, mas confio nele, entende? Estamos nos conhecendo e ele parece ser legal.

— Boa sorte.  — brinquei e me afastei da porta para que ela saísse.  — Parece que o negocio é sério.

— Eu espero que sim, ele vale a pena.  — Milla fitou o enorme espelho atrás de mim, medindo-se de cima a baixo.  — Gostou?  — deu uma voltinha, exibindo o vestido azul.

— Nem precisa perguntar. — sorri.  — Ficou lindo.

— Valeu, vou levar esse e a saia.  — voltou para dentro do provador.

Tornei a esperar. Eu não estava com animo para compras, na verdade eu não estava com animo para qualquer outra coisa. Eu estava irritada e com cólica, talvez aquela época chata do mês estivesse chegando e dando os seus sinais. De qualquer modo, eu não queria estar em uma loja de roupas caras vendo a minha cunhada se divertir.

Desde o dia anterior, quando sai do Centro Comunitário, meu humor havia mudado. Eu não queria pensar que Shawn Mendes se ligasse ao fato. Como eram fáceis e difíceis as coisas com ele, Shawn conseguia não ser entediante. Tanto que eu mal percebia o tempo passar quando encontravamo-nos juntos.

É claro que eu não deveria me sentir dessa forma e apertava-me o peito admitir que pensava mais em outro cara do que em meu namorado.

— Pronto.  — Milla me despertou.  — Que cara é essa? Você está pálida.

— Para de besteira. Anda, vamos logo.

Fomos diretamente para o caixa, enquanto ela pagava eu mandava uma mensagem para Andrew. Para a minha felicidade, Milla não quis passar em mais lojas, assim saímos carregando suas sacolas.

Paramos em uma lanchonete fast-food, fizemos nossos pedidos e procuramos uma mesa vazia. Sentamos de frente uma para a outra e começamos a conversar.

— Já percebeu como as mulheres se transformam quando têm um encontro?  — ela comentou, colocando o canudo no copo.  — Nós compramos roupas, fazemos depilação, até mudamos o cabelo.

— É uma pena que a maioria dos homens não façam o mesmo.  — levei uma batata-frita até a boca.  — Andrew sequer repara quando uso algo novo.

— É uma droga mesmo, tanto esforço para nada. Espero não me decepcionar com Gabriel.

— Também espero que você não se decepcione.  — reafirmei de boca cheia.  — Como é, vocês vão jantar?

— Ele disse que era surpresa, só irei descobrir na hora.

— Odeio isso de surpresa.  — revirei os olhos.  — Já pensou se ele te leva para um motel? Ou pior não é quem diz ser.

— Não estraga a minha romantização, Amelie.  — brigou.   Com certeza ele não fará isso.

— Eu não teria tanta certeza.  — murmurei e Milla encarou-me séria.  — Eu to brincando, vai dar tudo certo.

— Você ainda fica nervosa quando vai sair com Andrew?

A pergunta fez-me mastigar devagar e parar uma batata no ar. Recordei as vezes que Andrew e eu saímos desde o inicio do namoro. Não me lembro de mãos suando, nem de tremedeira nas pernas ou crise nervosa de ansiedade. Eu sei que fiquei animada por ter um namorado popular e bonito, mas foi só. Como eu diria aquilo para a sua irmã? Calculei as palavras certas.

— Nunca fui dessas que se preocupam cem por cento com um encontro.  — disse a verdade, de um jeito que não parecesse desdenhoso.  — Acho que não tenho esse problema.

— O quê? Como assim? Qualquer garota passa por isso.

— Não eu.  — falei convicta.  — Enfim, não se esqueça de me contar como foi.

— É claro.  — assentiu.  — E por falar em esquecer...  — ela bateu as mãos para limpá-las e procurou algo dentro da bolsa.  — Preciso de um favor. 

— O que foi agora?

— Ainda resta metade do pagamento de Shawn para ser entregue.  — ela me passou um envelope pequeno com as notas de dinheiro. Meu estomago remexeu com a suspeita do pedido.  — Pode passar na Flashlight e dar isso a ele?

— Não pode fazer isso? Você tem carro, pode ir lá a hora que quiser.

Não sei por que reclamei, se no fundo eu sabia que ansiava por uma nova oportunidade para revê-lo.

— Você tem mais tempo livre do que eu, praticamente não faz nada.

— Porque você não morre?  — fiz careta e guardei o dinheiro. Milla riu.  — Pensei que já tinha o pago.

— Era para ter, só que Andrew não quis ir lá quando eu pedi.

— Hm. Eu vou sim.  — foi a minha resposta.

— Obrigada, mais uma vez.

Sorri para Milla, umedeci os lábios e continuei a comer em silencio.

Eu é que precisava agradecer.

[...]

Á noite, eu tomei um banho demorado. O banheiro foi tomado pelo vapor, eu mal conseguia enxergar meu reflexo no espelho do armarinho. Enrolei uma toalha em meu corpo e sai, procurei o pente e sentei-me na ponta da cama.

De uma hora para a outra, um súbito peso na consciência me tomou. Não sei precisamente o que acarretava a inquietação, mas pensar em Andrew e Shawn, piorava as coisas. No caso não pensar em Andrew era o problema.

Eu nunca estive tão próxima de outro cara antes, nunca sequer abracei um que não fosse o meu namorado, e agora eu praticamente torcia para encontrar Shawn e passar um tempo com ele.

A que ponto eu tinha chegado com Mendes?

‘’Não terá volta se resolver ir adiante’’. O aviso foi claro. Mas o quê eu estava levando adiante?

— Amelie, você está ai?  — a voz de mamãe e uma batidinha seca da porta soaram.

— Sim, pode entrar.  — respondi, trazendo o cabelo para o lado para pentea-lo.

— Olá, querida.  — ela passou pela porta e veio dar um beijo em minha testa.  — Tenho algo para te comunicar.  — recuou alguns passos.

— Por favor, diga que não vamos viajar novamente.

— Não, não é nada disso.  — ela balançou a cabeça.  — Eu tenho um amigo dono de um petshop que precisa de uma ajudante com os negócios. E adivinha só...

— Você me indicou.  — completei sua frase.

— Sim.

— Você me indicou? É sério? Não acredito, obrigada, obrigada.  — corri animada para abraça-la.  — Mil vezes obrigada.

— Não me agradeça.  — ela riu comigo.  — Eu disse a ele que você estava procurando um emprego e Ross concordou em te dar uma chance.

— Nem sei o que dizer, mãe.

— Esteja nesse endereço na quarta-feira de manhã ás dez. — ela tirou um papel dobrado do bolso da calça e me entregou.  — Olha, você não precisa fazer isso se não quiser, sabe que os planos de trabalhar são só para depois da faculdade.

— É claro que preciso, tenho que fazer algo na vida. Não aguento mais ficar parada.  — rebati.  — Com certeza estarei lá.

— Só me resta desejar boa sorte, você vai gostar de lá. Ross é uma ótima pessoa e trata muito bem os funcionários.  — observou ela.  — Mas qualquer coisa, não deixe de falar comigo.

— Combinado. Obrigada mesmo, mãe.  — abracei-a novamente e ela saiu do quarto depois de avisar que o jantar estava pronto.

Sentei incrédula na cama, olhando para o endereço na folha branca. Finalmente eu iria trabalhar e parar de depender, financeiramente, dos outros. Não contive a alegria, aquilo trouxe de volta a minha disposição. Já estava na hora das coisas começarem a mudar e um emprego era a porta de entrada.

Guardei na bolsa o papel e terminei de pentear o cabelo, preferi não contar a novidade a ninguém, eu esperaria a certeza de dar certo primeiro e depois compartilharia as boas novas. Coloquei um pijama e desci para jantar, meus pais já estavam postos a mesa e conversavam sobre como foi o dia de cada um.

Foi uma das poucas vezes que eu achei legal um jantar em família, eu esperava ter algo para contar também dali uns dias.

[...]

Passei toda a terça-feira com as portas do guarda-roupa escancaradas, em busca de uma roupa descente para usar no dia seguinte. Revirei gavetas, separei os cabides, joguei peças em cima da cama e não encontrei nada que considerasse bom. Pesquisei na internet dicas do que vestir para uma entrevista de emprego, mas tudo era formal demais. No fim, optei por vestir uma calça e uma blusa de mangas longas.

Estava terminando de dobras algumas peças quando meu celular tocou, a chamada de Greta. Atendi.

Oi, Amelie. Tá mais calma hoje?  — que imbecilidade a brincadeira.

— Muita engraçadinha. To ocupada, o que você quer?  — fechei a porta do móvel e empurrei a cadeira do computador.

Quero sair na sexta, topa? Faz tempo que não passamos um tempo juntas.  — era verdade, infelizmente.  — Vamos a um barzinho, beber e jogar conversa fora.

— Pode ser depois das sete?  — resolvi aceitar o convite.

No lugar de sempre? 

— Combinado.  — pactuamos e eu finalizei a ligação.

O encontro do clube do livro aconteceria naquela noite e eu resolvi aproveitar para passar na loja de Shawn antes de ir. Por volta das seis horas eu saia de casa, devidamente arrumada — tomara que caia preta com bojos, short jeans e tênis —, checando se o dinheiro e o meu livro estavam na bolsa.

 

A segunda coisa que eu faria, após arrumar um emprego, seria aprender a dirigir, chega de ônibus. Desci a duas ruas da Flashlight, já sentindo o coração bater um pouco mais rápido. Lutei para conter a situação, mas a cada passo ficava mais impossível. Ao me ver de frente para o estabelecimento, contei regressivamente e contorci os dedos das mãos, suspirei e torci para que Shawn estivesse lá.

O sininho na porta tilintou e o som de um rock dos anos 80 atingiu meus ouvidos. Apertei a alça da bolsa e percorri o lugar, desviando de algumas pessoas. Parei imediatamente ao vê-lo de costas, mexendo em uma pilha de CDs. Demorei uns segundos para interrompê-lo, pensando no que falar e com receio de sua reação. Olhei em volta rapidamente e engoli saliva. Ele pegou alguns nas mãos e abaixou a cabeça, foi ai que resolvi falar:

— Oi, Shawn.

Ele me encarou de canto, enquanto erguia a cabeça e colocava cegamente um CD de volta a prateleira. Respirei tranquila quando o seu sorriso apareceu, e nem percebi em que momento começara a segurar o ar.

— Olá, Amelie.  — Shawn se virou por completo e veio até mim.

— Desculpe atrapalhar você.

— Não atrapalhou, eu só estava dando uma arrumada, mas isso pode esperar.  — pousou as capas no balcão.  — Como posso ajudar você?

— Na verdade, vim para te entregar uma coisa.  — trouxe a bolsa para o lado e procurei o envelope com seu dinheiro.  — Aqui.

Shawn o pegou, abrindo-o minimamente. Ajeitei a alça em meu ombro dando uma olhada para fora através da vidraçaria. Começava a escurecer, até as luzes dos postes já se encontravam acesas.

— Obrigado, juro que nem senti falta disso.  — aquilo justificava ele nunca ter sequer feito uma cobrança.

— Sem problemas.  — o silêncio se estabeleceu, um olhando para o outro sem emitir som algum. Era constrangedor e, estranhamente, bom.

— Fico contente que tenha sido você a vir, é bom te ver, Amelie.  — ele disse de forma casual, como se um amigo encontrasse o outro após tempos sem se verem. Mas sua primeira fase me levou a crer que era mais que isso.

— Bom ver você também, Shawn.  — tive de sorrir e lembrar de que eu tinha um compromisso à espera.  — Tenho que ir agora ou vou chegar atrasada para o clube do livro.  — mesmo que eu quisesse ir embora, meus pés pareciam colados no solo.  — Até logo.

Antes de conseguir dar meia volta, sua mão impactou em meu punho, causando um estalinho. Imediato foi a observação do toque para seu olhar castanho.

— Você quer uma carona?  — a voz firme questionou. Minha mão pendia rente a uma região perigosa de seu corpo.

— Como?  — quis me apunhalar por ser tão estúpida, porém digerir a pergunta foi complicado. Aceitá-la significava estar a sós com Shawn por uns minutos, a negação não me permitiria isso.

— Perguntei se quer uma carona.  — repetiu calmo. Eu podia notar dois curiosos que nos assistiam à esquerda e que Shawn nem se importava.

— Não precisa, eu posso pegar um ônibus. E além do mais, você deve estar ocupado.

— Já disse que isso pode esperar, Amelie. Quer saber, vou tomar sua resposta como um sim.  — tentei discutir, mas seria inútil. Eu acabaria cedendo a vontade de estar com ele. Meu suspiro de derrota o engraçou.  — Por favor, espere aqui só um minuto.

Pediu e cessou o aperto, meu braço caiu sem forças em minha lateral. Ele passou por mim e eu umedeci os lábios, atentando para o casal que nos espectava. Eles voltaram a fuçar os discos naturalmente no mesmo instante.

Nem um minuto deve ter se passado e Shawn voltou, sua forma tomou o meu campo de visão, encolhi-me entre ele e o balcão.

— Vamos.  — ele deu-me espaço para ir na frente.

Transitei até a saída, incomodada com sua presença atrás. Foi um alivio respirar o ar do lado de fora, ouvir as buzinas e até o latido de um Chihuahua no colo da dona.

Quando a palma de Shawn parou no meio das minhas costas, tudo sumiu. O único som era o da sua voz.

— O que foi?  — me guiou para andarmos.

— Como vai ficar a loja?

— Stella vai tomar conta dela por mim, não se preocupe com isso.  — garantiu. O contato em mim, embora por cima da blusa, formigava.

— Não tem que me dar uma carona, Shawn.

— Eu sei, mas eu quero.  — calei-me e ele nos parou.

O alarma do Toyota Tundra foi desativado e ele abriu a porta do passageiro para mim, agradeci baixinho. Me ajeitei no banco de couro, passando o cinto de segurança e o vendo contornar para o lado do motorista.

O carro tinha o cheiro dele, a essência masculina preencheu cada poro meu. Ele se acomodou, colocando a chave na ignição.

— E então... para onde devo dirigir?  — seu tom amistoso acalmou-me. Disse o endereço e Shawn deu partida.  — Não esperava te ver de novo tão cedo.

— Acredite, nem eu.  — confessei.

Ele sorriu e olhou para a estrada, mantendo uma mão no volante e a outra descansando sob a perna. O que me levou a examinar as coxas bem definidas marcadas no jeans escuro, subindo pelo braço e chegando ao pescoço; ele coçou a área que eu observava.

Pigarreei sem entender aquela situação desconfortável. Tanto eu como Shawn arremedava querer dizer algo, entretanto tudo entalava na garganta.

— Por favor, fale. Não gosto deste silencio.  — supliquei automaticamente.

— Sobre o que quer falar?  — interrogou sem tirar o foco do trajeto.

— Não sei, qualquer coisa.  — precisava ouvi-lo, escutar sua risada e os comentários engraçados.

— Certo, deixe-me pensar.  — o polegar batia no volante, ele estava impaciente. Era isso ou também se enervava por estar a sós comigo.  — O que faria se só tivesse dez horas de vida?

— Nossa!  — refleti a pergunta.  — Provavelmente faria tudo o que é bom. Acordaria tarde, comeria o máximo possível, compraria um carro e sairia dirigindo por ai com o volume no máximo. Talvez eu andaria pelada pelas ruas só para as pessoas comentarem sobre mim na internet.

— Isso é bem rebelde.  — ironizou.

— E é mentira. Na real eu deitaria em minha cama e aguardaria a uma última respirada.  — apoiei o cotovelo em cima da bolsa e sustentei o rosto na mão, ficando poucamente curvada para olhá-lo.  — E o que Shawn Mendes faria em suas ultimas dez horas de vida?

— Gostaria de morrer com uma guitarra nas mãos, passaria o restante das minhas horas tocando.  — paramos no sinal vermelho.  — Mas também gastaria parte delas com alguém, seria bom sentir prazer pela última vez. Morrer com a imagem de alguém se contorcendo e gemendo embaixo de mim, me faria aceitar o trágico de bom grado.

Minha boca se abriu em um O. Como ele dizia aquilo para mim? Os olhos não deixaram os meus, torci para que ele notasse minha respiração irregular. Seu semblante passivo me enfurecia e me enlouquecia ao mesmo tempo.

A mente não demorou a formular uma cena intima, os pensamentos afoitaram-se trazendo a tona a noite que eu me tocara imaginando, justamente, contorcendo-me e gemendo para ele. O sangue fervilhou em meu rosto, fantasiar aquilo era uma coisa, ouvi-lo pronunciar tais palavras foi quase insano.

A buzina de um carro atrás me assustou e atentou Shawn para o sinal aberto. Tornamos a andar, ele segurou o volante firmemente. Cruzei as pernas depois de jogar o cabelo para trás. Não queria finalizar o assunto ali, eu tinha que responder-lhe a altura. Só não sabia como.

— Talvez eu passe as dez horas na cama... com alguém.  — o tom zombeteiro o fez franzir o cenho.  — Morrer com prazer deve ser melhor do que com dor. Eu poderia pedir para que Andrew me ajudasse, não acha?

Golpe baixo usar Andrew para provocá-lo, mas não pude evitar. As mãos percorreram o formato do direcionador, o maxilar trancado. A camisa azul escuro evidenciava o peito e o bíceps firmes, ele aumentou a velocidade repentinamente.

— Ele é seu namorado, Amelie.  — o desdém não desapercebido.

— É. — abati-me. — Posso fazer algumas perguntas agora?  — quebrei o clima tenso, ele assentiu.  — Quantos anos você tem?

— Vinte.  — ele relaxou.

— Quanto tem de altura?  — eu iria fazer questões idiotas para sanar a minha maldita curiosidade.

— Não sei exatamente, uns 1,85.

— Cor favorita?

— Fico entre azul e preto.  — sorri com sua expressão.

— Melhor dia da sua vida?

— Quando eu tinha doze anos meu pai me deu um ingresso para o show do Metallica, foi o melhor dia porque eu estava com ele vendo uma das minhas bandas favoritas.

— Posso imaginar.  — falei. Uma duvida me corroia e eu não tive como afugentá-la.  — Você tem namorada?

Ele olhou para baixo e apertou os lábios um no outro. Não era da minha conta, nem sei se tínhamos intimidade o suficiente para entrar no seu particular.

— Não digo namorada, mas é quase perto disso.

Senti como se pares de mãos se fechassem em torno da minha garganta, impedindo a circulação do ar. O fogo de repulsa subiu nas veias, eu acalorei de dentro para fora.

Que sensação devastadora era aquela?

— Entendo.

Pronunciei. O carro em frente ao local combinado. Igor, o responsável por organizar o clube, convenceu o tio a ceder a pequena pizzaria para o encontro daquela noite. As luzes dentro do lugar estavam acesas, mas a placa anunciava FECHADO.

— Obrigada, Shawn.  — agradeci e apertei a trava para liberar o cinto.  — Fico te devendo uma.

— Não foi nada, Amelie.

Concordei com a cabeça, descruzei as pernas e coloquei a alça da bolsa no ombro. Toquei a alavanca para abrir a porta e antes de o fazer, meu corpo efervesceu para perguntar:

— Não quer entrar e conhecê-los? Somos estranhos, mas não mordemos.  — brinquei e ele riu.  — Teremos pizzas grátis no final.  — segredei.

— Como resistir a isso?  — suspirou.

— Olha, não sinta-se obrigado a aceitar, é somente se não tiver algo mais importante para fazer.  — deixei claro.

— Não posso dizer não para pizza grátis.  — falou com obviedade. Dei um soco leve em seu braço.

Saímos do carro, ele acionou o alarme, enquanto eu tirava o livro da bolsa.

— Qual o livro em pauta?  — estava ao meu lado, uma mão no bolso.

— O primo Basílio.  — mostrei-lhe a capa.  — Conta a historia de Jorge, Luisa e Basílio, um triangulo amoroso.

— Acha que seus amigos vão me achar um intruso?

— Claro que não, eles adoram quando alguém novo aparece.  — apertei o livro contra meu peito.

Ele abriu a porta de madeira, foi inevitável o olhar sobre nós. Um circulo formado por cadeiras tomava o centro do ambiente e o cheiro de queijo impermeava. Fomos até a roda e Igor se levantou para nos cumprimentar.

— Como vai, Amelie?  — trocamos um beijinho no rosto e ele voltou-se para o meu vizinho.  — Este é Andrew?

— Finalmente trouxe o seu namorado.  — Ruanda murmurou mais alto do que deveria.

— Ah não, não.  — concertei.  — Pessoal, esse é o Shawn, um amigo que vai ficar conosco hoje.  — toquei seu ombro, fazendo-o dar um passo para frente e acenar sem graça.

— Seja bem vindo, Shawn, é um prazer recebê-lo.  — trocaram um aperto, Shawn agradeceu.  — Bom, sentem-se, já vamos começar.

Escolhemos nossos assentos, pendurei a bolsa na cadeira e coloquei o livro em meu colo.

— Isso foi constrangedor.  — ele sussurrou.

— Eu sei, me desculpe.  — lamentei.

— Não, tudo bem.  — sorriu assegurando.

— Boa noite a todos, é uma honra tê-los aqui mais uma vez.  — Igor se manifestou.  — A obra escolhida foi O primo Basílio de Eça de Queirós, escrito em 1878. E para abrirmos as discussões... Amelie, é com você.

— Eu?

— Você.  — frisou.

— Ok, hm...  — pausei para buscar os termos certos. O braço de Shawn descansava no encosto da minha cadeira, me apoquentei.  — Apesar de o triangulo amoroso ser o foco na obra, quem se destacou durante a minha leitura foi a criada Juliana.

Passei o olhar pelos presentes, eles me assistiam atentos, inclusive Shawn. Fulminava-me, causando uma confusão física e mental em mim.

— Ao meu ver ela constituiu o caráter mais forte da trama, e apesar da imagem negativa e, a principio, representar a classe oprimida, vemos nos capítulos que o seu caso é pessoal.

Outro hiato para engolir saliva e folhear, num gesto nervoso, o livro.

— É fascinante como ela lia os comportamentos dos patrões e relacionava informações que poderiam ser uteis a suas intenções, tanto é que dessa forma ela acaba descobrindo o envolvimento da patroa com o primo.

Quando o perfume de Shawn me tomou, eu quase perco o fio da meada. Para piorar, ele estava tão próximo que as laterais de nossas pernas grudavam-se. O calor dele infestava minha pele.

Me esforcei para continuar os apontamentos.

— Ela sabia que Luisa não tinha opinião, possuía o temperamento frágil e era facilmente manipulável e se aproveitou. Através de ameaças, ela tentou obter um melhor patamar de vida.

— O que contradiz com o inicio quando ela afirma desprezar o medo de vida burguês.  — ponderou Igor.

— Exato. Ela se deixava influenciar por tais valores a ponto de fazer qualquer coisa para usufruir deles.  — gesticulei.

— Muito bom. Obrigada, Amelie.  — ele piscou para mim.  — Sua vez, Tomas.

O foco foi retirado de mim, relaxei os ombros satisfeita.

— Eu realmente gosto de te ouvir falar.  — a revelação em meu ouvido repercutiu em um arrepio.

— Não pode estar falando sério, nem eu suporto me ouvir às vezes, Shawn.  — não ousei procurar seus olhos.

— Acredite em mim.  — as pontas dos dedos raspavam na nudez do meu ombro.  — Por que disse que não era boa em nada? Você é inteligente e irrevogavelmente linda.

Fui obrigada a encará-lo desnorteada. Eu nunca soube como reagir a elogios, todavia conseguia lançar um sorriso ou agradecer, mas de vindo de Shawn, qualquer ação era bloqueada.

— O-obrigada.  — praguejei.

Mantive-me agarrada ao livro, não queria correr o risco de fazer um movimento indesejado. Tombei a cabeça para o lado, revelando o pescoço descoberto, imaginando os lábios dele lá.

Quis saber se Shawn também sentiu vontade de estar ali, se ele divagava sobre o que eu usava por baixo da roupa ou se ao dizer que gostaria de dar prazer a alguém, ele pensou em mim.

Entretanto, tudo foi água a baixo ao lembrar de que, supostamente, Mendes já tinha esse alguém. Angustiante pressupor que saindo dali, ele poderia se encontrar com ela e transar até o amanhecer. Não deveria me incomodar, Andrew estava a minha disposição. Uau.

— ... e com a morte das duas no final, temos a certeza de que ambas foram sucumbidas pela amargura, por serem impotentes diante dos códigos sociais impostos. — finalizou Jane.

Todos batemos palmas e nos levantamos.

— Muito obrigada por essa noite de aprendizagem maravilhosa.  — a fala de Igor rompeu a algazarra.  — Na segunda-feira enviarei o e-mail para vocês com a nossa penúltima leitura do ano.  — a lamuria foi uníssona.  — Agora, vamos as pizzas.

Ele deu um pulinho e saiu andando. Organizamos as cadeiras nas mesas e esperamos conversando as pizzas chegarem.

Shawn e eu sentamos com uma dupla, o que foi bom, pois eu não estava em condições de trocar uma palavra a sós com ele. Comi apenas dois pedaços, o apetite estava longe.

Quando terminamos fui me despedir do grupo, Shawn veio atrás, falando educadamente com todos. Saímos da pizzaria juntos, parei na calçada para ver as horas. 9:31 aparecia no visor do celular.

— Por favor, deixe-me te levar até em casa.  — o rogo me fez suspirar pesadamente.  — Quero ter certeza de que vai chegar em segurança.

— Você já fez muito por mim hoje, Shawn, é cansativo estar comigo tanto tempo.

— Você dizer essas bobagens é que é cansativo.

Riu e eu o acompanhei. Por mais que estivesse sendo contaminada por algo esmagador, eu queria sua presença. Então contrapondo tudo o que pensava — negar a carona, me afastar e abolir aquilo que sentia por ele, seja lá o que fosse —, eu anui.

O olhar penetrante bastou para que qualquer indecisão evaporasse.

 

Não havia sido tão ruim quanto eu imaginava. O radio estava ligado, a musica desconhecida por mim. Shawn compenetrado na estrada e eu fingia interesse em minhas unhas. Tanta coisa eu gostaria de dizer, porém, só abri a boca para informar o caminho.

— Não sei se devo perguntar, mas porque Andrew nunca veio com você?

— Ele diz que é perda de tempo ouvir pessoas tagarelando sobre livros, já o convidei duas vezes. Não gosto de insistir.  — passei as mãos pelo braço.  — O que você achou?

— Eu gostei, não fazia ideia de que ainda existiam clubes do livro.  — ele trocou de marcha.  — Vocês são uma raridade.

— Uhum. É bom poder estar em um lugar que as pessoas te fazem esquecer que você tem um celular.  — olhei para o lado exterior rapidamente.  — O próximo encontro será daqui uns dias, se quiser participar, é só avisar.

— Combinado.

Pedi para que virasse a direita, minha casa estava a uns cinco minutos.

— Fiquei curioso a respeito de uma coisa.  — o aguardei prosseguir.  — Na sua opinião, porque Luisa traiu Jorge?

— É uma questão complicada.  — prostrei-me de lado.  — Luisa desempenhava o papel que figura feminina do século dezenove possuía. Ela ficava em casa lendo e cuidando das tarefas do lar enquanto o marido trabalhava e viajava para fora. Passava a maior parte do tempo sozinha, rodeada por uma sociedade fútil que viajava todos os seus movimentos.

Nesse momento sua atenção pairava em mim, a velocidade reduzida na rua vazia, praticamente.

— E ai aparece Basílio. Um cara boa pinta, um belo linguajar, roupas impecáveis, romântico e disposto a dar-lhe o que o marido não dava.  — minhas bochechas esquentaram.  — Não quero dizer que isso motive uma traição, mas estamos falando de um ser vivo, com seus desejos e necessidades.

— Luisa era carente de um homem de verdade. Que marido se sente bem ao ver sua esposa insatisfeita?

— Alguns não notam a insatisfação ou pelo menos fim não notar.  — joguei a cabeça no encosto do banco.  — Mesmo Basílio sendo um desprezível, talvez ele a tenha feito se sentir uma verdadeira mulher.

— Como se sente em seu relacionamento, Amelie?

Senhor! As perguntas dele eram capciosas, programadas para me induzirem ao erro. O carro estagnou, ele puxou o feio de mão, eu não iria sair do veiculo sem uma boa replica.

Seu braço estirado na peça jeans e o outro com os dedos ainda firmando o freio. De repente, em um lapso psicótico, eu quis montar em seu colo.

— Andrew é um cara legal.  — a voz saiu quase nula. As luzes da varanda de casa iluminavam, eu gostaria de correr e livrar-me daquela tortura.

— Não foi isso que eu perguntei.  — a mão no freio voejou ao lado da minha cabeça, seu anel reluziu.

Afastei-me do assento, tateando a porta, caçando a merda da trava. Merda. Horas atrás tudo o que eu queria era conversar qualquer bobagem com ele. Porém, ali, meu único anseio era aqueles dedos longos trabalhando na excitação do meio das minhas pernas. Remexi-me, a bolsa tombou para o lado, expondo cada centímetro não tapado pelo short.

Eu tremia de medo, mas não medo de Shawn. Medo por apreciar seu olhar me avaliando e daquela proximidade desnecessariamente necessária.

Qual era o meu problema?

— Às vezes é difícil, sabe?

— O quê?  — droga, ele realmente se interessava.

— É que...  — mordisquei o lábio inferior. Eu não iria contar a ele me sentia em relação a Andrew, muito menos a nossa falta de sexo. Ou então como imploraria para que me tocasse.  — Olha, isso não te importa.

Embora a intenção de rispidez, eu soei tremula. Shawn soltou um riso.

— Tem razão, foi mal. — cogitei o afastamento, todavia permaneceu imóvel.

— Acho melhor entrar, tenho que acordar cedo amanha.  — pela primeira vez aquilo vericidava.  — Obrigada por hoje, Shawn, foi divertido.

— Foi sim.  — retesei com seu corpo curvando.  — Até a próxima, Amelie.

Sem avisos, ele beijou minha bochecha corada. Os lábios serenos impuseram-me fechar os olhos, coração estupidamente acelerado, meu peito fatigava.

Em questão de segundo, eu me vi embrenhando os dedos na camisa dele, puxando-o para frente. A palma quente parou em minha coxa, seu cheiro e forma entorpeceram. Hipnotizada, o olhei. Cada partícula de razão invadida pela gana proibida. Aquilo era bem mais do que eu poderia suportar.

Naquela noite, naquele carro eu cometi a maior e mais deliciosa tolice da minha vida.

Eu beijei Shawn Mendes.


Notas Finais


E acabou :( prometo postar o mais rápido possível. Espero que tenham gostado, se quiserem conversar, falar sobre a fanfic ou sobre o Shawn, sigam-me no twitter: http://twitter.com/walkerstitches Um beijo e até logo <3


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