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História Trouble - Capítulo 07.


Escrita por: natymoreira

Notas do Autor


Olá, meus amores, como estão? Sei que fui malvada por terminar o capítulo anterior daquela forma, mas o suspense é tudo >< Quero agradecer por todos os comentários e favoritos, passamos dos 200, vocês são incríveis. Esse capítulo ficou menor que os outros, pois eu queria desejar Feliz Ano Novo a vocês, fico grata por terem dado uma chance a Trouble. O próximo será grande, já estou escrevendo e não demorarei a postar. Coloquei um gifzinho, pois estava desocupada e pensei ''vou por um gifzinho'' kkk. Enfim, perdão por qualquer erro e me avisem caso encontrem algum. Ótima leitura a todos :)

Capítulo 7 - Capítulo 07.


Fanfic / Fanfiction Trouble - Capítulo 07.

Capítulo 07.

Não havia línguas, ele e eu mal nos mexíamos, eram apenas as bocas pressionadas. Só que fora o suficiente para faiscar minha libido e outra sensação que não pude identificar. Seus lábios macios e quentes, gostosos, queimaram os meus. A pulsação frenética, meu calor, seu calor e o do carro me fazendo suar.

Meus pulmões ardiam, minhas juntas pareciam explodir. Um misto de sentimentos e eu não queria parar. Quando meus olhos se abriram minimamente, vi os de Shawn fechados e contraídos, eu não sei ele achou ruim ou se lutava para não me agarrar de vez. E Deus, como eu gostaria que ele fizesse isso.

Todo o meu corpo esquentando, seus lábios piorando a situação. Senti vontade de gritar, correr, chorar e rir ao mesmo tempo... o que era tudo aquilo? O que Shawn Mendes fazia comigo? Se com um misero selinho eu enlouquecia, como seria tê-lo deslizando sobre mim?

Enquanto estávamos ali conectados, eu novamente esqueci-me do mundo. Nunca saberei dizer o efeito que Shawn me causava, como era tremer quando ele estava por perto, sendo que ninguém conseguiu isso antes. Como eu me sentia estranhamente bem ao seu lado e a proporção que o meu desejo por ele aumentava, tanto amistoso quanto sexualmente. Sei que eu estava encrencada, tinha posto o pé em um terreno desconhecido e consumida pela imprudência. Eu era a Luisa procurando afago nos braços de outro.

Amelie Freye não era assim. Amelie Freye vivia a base de princípios e regras e aquele homem destruía a minha moral, é uma pena que isso não me deixasse triste e sim mais tentada a continuar a loucura.

Era diferente o contato, pois eu verdadeiramente beijava alguém e sentia vontade de ir alem. Não existiam explicações e nem precisava.

Quando sua mão subiu por meu braço, achei que finalmente ele aprofundaria as coisas. Mas não. Shawn, delicadamente, levou meus ombros para trás, apartando-nos.

— Amelie, espera...  — ele não parecia totalmente são e eu despertei para a realidade.

— Meu Deus.  — sai de seu enlace, olhando para todas as direções.  — Meu Deus, Shawn, me perdoa.  — ofeguei, pegando a bolsa de qualquer jeito.  — Eu... eu não queria.

— Amelie, Amelie, calma.  — impossível escutá-lo.

— Não, não, não.  — encontrei a trava da porta.  — Desculpe, Shawn, eu não sei o que deu em mim.

Abri e sai, o peito apertando, tropeçando nos próprios pés.

— Amelie, por favor, espera.

Ouvi-o gritar a ultima vez, ignorei. Ele ainda empacava lá, o motor não ronrorava. Apressei os passos até em casa, me atrapalhei com a chave, minhas vértebras tremiam. Tentativas depois eu estava segura do lado interior.

Subi direto para o quarto, trancando-me lá. Espiei pela para saber se ele já se mandara. Sim.

Toquei meu peito, onde batia o coração e passei a mão pelos cabelos. Fervi de vergonha e raiva. Vergonha por ser fraca e atacá-lo. Raiva por ter sido rejeitada.

Eu não podia culpá-lo, Shawn era o sensato da historia e eu a garota sem noção. Onde estava com a cabeça para agir de tal maneira?

Comecei a hiperventilar, o estomago dando mil voltas, tão nervosa que pensei vomitar.

— Respira, Amelie, respira.

Ordenei a mim mesma. Sentei na cama e busquei qualquer traço de arrependimento. Não encontrei. O ato impensável não me atordoou como a recusa dele. Obvio que ele não me queria, por isso não demonstrava sinais de oscilação, por isso me tratava educadamente. Deus, como eu podia ser tão idiota?

Descansei os ombros, sentindo uma queimação na barriga. Não sabia o que fazer, pensar no depois me assustou. Eu deveria contar a Andrew? Pedir perdão ou algo assim? Ou procurava Shawn e tentava explicar as minhas causas?

E quais eram as minhas causas? O que diria a Shawn? Que eu simplesmente não consegui segurar a vontade avassaladora de beijá-lo? Que não pensei em meu namorado antes cometer a burrada ou que ainda corroia para ser tocada por ele?

Não sei o que era pior. Se pudesse não o veria mais, a vergonha me fez quase cavar um buraco no chão me enterrar. Eu perderia a amizade da melhor pessoa que eu já conheci, ele se afastaria e eu teria que aceitar. O pensamento gerou-me vontade de chorar.

Eu não queria me encher de negatividade, no dia seguinte seria meu primeiro com um emprego e não seria bom chegar lá com os pensamentos boiando. Tratei de me acalmar ou iria explodir.

O toque do celular me arregalou os olhos, arrastei a bolsa para pegá-lo. Tudo o que não precisava no momento era falar ao telefone, eu nem sabia se a fala ainda habitava em mim. Nome e a foto Andrew apareceram na tela.

Quem eu menos queria falar.

— Só pode ser brincadeira.

Joguei o celular em cima da cama e murmurei um palavrão. Precisava espairecer, me concentrar no compromisso no meu emprego e depois eu me penalizaria por conta do erro. Tinha que apagar Shawn Mendes da minha cabeça.

Pelo menos por algumas horas.

[...]

Nunca pensei que em meu primeiro dia de trabalho, eu estivesse tão abalada psicologicamente, o que era incrível porque fisicamente eu estava intacta. Meu cabelo amarrado no alto, no rosto apenas delineador e rímel, a blusa e o jeans me deixaram apresentável.

Não dormi bem na noite anterior, se é que eu consegui dormir, os pensamentos tumultuaram minha mente quase causando uma dor de cabeça. Por mais que tentasse afastar Shawn de todos os cantos dos meus devaneios, o cara teimava em continuar a me torturar. As horas em claro serviram para eu refletisse, embora não tenha saído da estaca zero. Pensei em ligar para Andrew e contar-lhe tudo, eu não suportava guardar algo tão grande por muito tempo.

Mas aí eu me toquei que fora apenas um beijo, um simples selinho. Quer dizer, aquilo não teve significado, não é? Certeza que foi coisa do momento, a proximidade, meus hormônios descontrolados.

Então porque eu não parava de recordá-lo? Porque meu corpo esquentava com a lembrança e ainda almejava por mais?

Argh, as duvidas acabariam comigo.

Sacudi a cabeça, ainda olhando o reflexo no espelho e saí do quarto transpassando a bolsa por meu corpo. Desci as escadas, sentindo um cheirinho de café e manteiga derretida, salivei de fome. Na cozinha, mamãe estava de costas, mexendo no fogão.

— Bom dia.  — desejei me aproximando.

— Bom dia, amor, acordei mais cedo para fazer o café antes de você sair.  — ela se virou e sorriu.

— Valeu mesmo, mãe.  — agradeci e belisquei um pedaço de torrada.

— Está ansiosa para seu primeiro dia?

— Por incrível que pareça, não. Estou feliz e empolgada.

— Como eu disse, você vai adorar.

Comemos conversando sobre o meu novo e primeiro trabalho, mamãe contou sobre seu próximo projeto. Saí de casa minutos depois, dando-lhe um beijo na bochecha e recebendo boa sorte de mamãe.

 

Quase dez horas da manhã, eu estava de frente para o Chatoyant Pet Shop. O estabelecimento pintado de azul bebê com patinhas desenhadas de preto, o cheiro de xampu e perfume doce me atingiu. Naquele momento, meu coração disparou um pouco e por segundos eu desejei que mamãe estivesse comigo.

Parei com a enrolação e entrei. Ainda estava vazio, percebi os funcionários usando aventais da mesma cor que a fachada. Tudo ali dentro era organizado e limpo, as prateleiras em retilínea, fiquei surpresa com o tanto de acessório de que fabricam para animais — roupas, brinquedos, brincos postiços e até sapatinhos. Caminhei até o balcão de madeira branca e antes que eu abrisse a boca para pedir ajudar, um homem entrou na loja segurando um belo pastor-alemão.

Quando ele sorriu para as cinco pessoas uniformizadas e entregar o cão a um dos rapazes, eu soube que não se tratava de um cliente, mas sim o dono.

— É o cachorro do Sr. Rodrigues, apenas um banho e uma aparada nos pelos próximos as patas.  — ele instruiu o rapazinho.  — Divirta-se, garotão.  — esfregou a cabeça do animal.

Os dois desapareceram através de uma portinhola de aço. O homem então notou a minha presença e eu só fiz sorrir amarelo.

— Bom dia, eu sou a...

— Você deve ser a Amelie.  — me cortou simplesmente, estendendo a mão para um aperto.

— Eu mesma.  — correspondi o gesto, tímida e indiferente.

— Noemia me disse que a garota que aparecesse aqui usando uma S.C Cotton seria a filha dela.  — explicou.

— Ah, é claro.  — murmurei sem graça, passando a mão pela alça da bolsa. Não sabia que as bolsas estilo mensageiro eram raridade.

— Eu sou Ross, é um prazer conhecê-la.

— O prazer é meu.

Meu chefe era um homem alto, musculoso, cheio de tatuagens, com cabelo raspado nas laterais, provavelmente na faixa dos quarenta e cinco anos. O sujeito parecia ser legal.

— Bem, Amelie, é bom conversarmos primeiro, lhe mostrarei como as coisas funcionam por aqui, se tiver alguma duvida não hesite em perguntar.

— Por mim tudo bem.  — respondi logo.

Ross me apresentou a cada departamento do pet shop e também me apresentou aos outros funcionários. Meu trabalho na loja seria uma espécie de recepcionista, marcaria as horas dos bichos no banho e tosa, ajudaria nas vendas e cuidaria do caixa. De certa forma foi aliviante, pois eu não tinha experiência em cuidar de cão e gato ou qualquer outro animal.

— Trabalhamos de segunda a sexta das onze as seis e aos sábados até as duas.  — Ross parou e me encarou.  — Algum problema no horário para você?

— De forma alguma.  — falei convicta.  — Como não estou estudando ainda, meus horários estão sempre livres.

— Que beleza. E isso é tudo, Amelie, bem-vinda ao time.  — ele deu uma tapinha em meu ombro.  — Ainda não providenciei o avental com o seu nome, então não se preocupe com ele.

— Certo.  — assenti, gravando todas as informações possíveis.

Conversamos por mais uns instantes, o salário foi bem mais do que eu cogitava, o incentivo me animou. Tomei meu lugar atrás do balcão, liguei o computador e esperei as coisas acontecerem.

 

Não foi entediante nem chato, foi maravilhoso. Em pouco tempo, eu já tinha feito amizade com os cinco, alem de Ross, todos receptivos, afastando qualquer gota de nervosismo que pretendia brotar. Consegui me adaptar rápido ao funcionamento da agenda e atendimento do pet shop. Ok, estava comprovado que eu era melhor em aprender do que ensinar. Não sei se por ser o primeiro dia e tudo costumava ser mais fácil, porem foi adorável.

Eu estava com um Beagle, que acabara de sair do banho e esperava a dona chegar, nos braços, acariciando o pelo no instante em que Ross veio me avisar que eu tinha uma pausa de vinte minutos para o almoço. Quase reclamei quando ele me tomou o pequeno cachorrinho.

Relutante, peguei minha bolsa e saí para almoçar. Como não tinha muito tempo, eu optei por comprar um cachorro-quente e refrigerante, sentei-me em um banco perto da barraquinha. Mandei uma mensagem para Greta enquanto comia.

Não vai acreditar! Eu finalmente estou trabalhando.

Não aguentava mais esperar para contar as boas novas a alguém, ainda mais porque tudo havia dado certo. Greta não demorou para responder, vindo com um interrogatório.

Como assim, sua maluca? Desde quando? Pq não me contou?
Trabalhando com o quê? Virou prostituta?

Nossa, como você é engraçada! É em um pet shop, comecei hoje.
Te conto tudo na sexta.

Acho bom, e como vc está?

Bem, acho que as coisas vão se resolver a partir de agora.

Fico feliz, Amelie. Vc merece.

Obg amiga, preciso ir agora. Te vejo na sexta, bjs.

Mandei mensagem também para Andrew, sua resposta foi um ‘’já estava na hora, hein. Parabéns, amor.’’, de volta um ‘’’obrigada’’. Guardei o celular na bolsa e suspirei, eu queria mesmo é contar à novidade a Shawn, de alguma forma eu sentia que ele me deixaria mais feliz do que eu já estava. Ele saberia as palavras certas a dizer, supostamente me daria um daqueles sorrisos bonitos, seu jeito educado era fascinante.

A latinha de refrigerante ficou suspensa no ar, foi ai que eu percebi que encarava o nada e divagava sobre Shawn. Não tinha jeito, qualquer caminho me levava de volta para ele.

Resolvi voltar logo para o Chatoyant ou meus pensamentos iriam turbilhoar e eu não precisava de uma crise emocional em pleno expediente.

 

Naquela noite, eu contei todos os detalhes do meu dia para os meus pais enquanto nós jantávamos. Os olhares deles ficaram atentos em mim, fizeram perguntas e me elogiaram, finalmente eu era reconhecida.

No fim, eu estava cansada e dessa vez o físico pedia por repouso. Tomei um banho e coloquei o primeiro pijama que achei na gaveta e me deitei, relaxando para iniciar um novo dia.

[...]

O movimento no pet shop na quinta-feira foi intenso, a todo o momento alguém entrava para deixar ou pegar algum bichinho, corri para atender os clientes. Em um piscar de olhos, as horas passavam, estando entretida o tempo parecia voar.

De tarde, Andrew me ligou para avisar que me buscaria no termino para irmos jantar fora. Custei segundos para responder que tudo bem. Não tinha parado para pensar como seria encará-lo sabendo que tinha beijado outro e pior, um de seus amigos. E se eu não conseguisse esconder ou transparecesse apatia? Normalmente, eu não era boa em ocultar sentimentos, mamãe sempre sabia quando eu estava mentindo, papai reconhecia os elogios que eu usava para adquirir algo e Greta era uma mistura dos dois. Com Andrew eu ocultava, as vezes, o que sentia, entretanto o caso atual diferenciava.

Eu não estava omitindo uma alegria ou uma tristeza, o sucedido ia muito alem disso. Na incerteza, eu resolvi não contar, por enquanto.

Assim, o esperando apoiada no balcão e zurzindo as unhas na madeira, eu bolava o meu dialogo com Andrew na cabeça. Tinha soltado o cabelo, enfeitado os lábios com batom rosa, calculando os possíveis segundos que restavam para ele chegar.

E chegou.

Meu corpo tencionou, engoli o seco torcendo para não me acovardar.

— Ross, já to indo.  — gritei para o meu chefe.  — Até amanha.

— Até, Amelie, se cuida.  — gritou de volta, por trás de alguma prateleira.

Marchei sem pressa até o Civic, Andrew acenou de lá e eu senti a aflição surgir. Refiz minhas três dicas mentalmente: não se deixar domar pela nervosidade, agir habitualmente e pensar em cachorros para evitar proferir o nome de Shawn sem querer.

Repassando inúmeras vezes, eu adentrei o automóvel.

— Não está com cheiro de cachorro, está? Mandei lavar o carro ontem.  — a brincadeira previsível me fez rir baixo.

— Você é ridículo.  — o empurrei quando ele veio para me dar um beijo, foi bom já que pensar em beijá-lo me nauseou.

— Qual é, Amelie, eu estou zoando. Vai mesmo me negar um beijo?

— Verei se merece um.  — falei séria e ele riu, dando partida.

Certo, eu iria sobreviver.

 

Fomos ao restaurante japonês de novo, semanas correram desde Andrew anunciar ali que daria uma festa de Halloween, na qual eu jamais suspeitaria que provocaria um giro em minha vida pachorrenta.

Andrew quis saber sobre o meu trabalho, falei animada quase o jantar inteiro, isso espantou as ideias adversas. Ele me ouviu com atenção, balançando a cabeça e me contemplando com o semblante conspícuo e analítico, o mesmo de quando tentamos fazer amor e saiu tudo errado. Aquele olhar me assustava, fiz uma pausa para beber um gole de água.

— Como vai o seu trabalho?  — tirei o foco de mim, Andrew piscou e umedeceu os lábios. Fingi arrumar a manga da blusa.

— Ah você sabe. Meu pai quer que eu me forme antes de entrar de vez nos negócios.

— Você vai agradecê-lo depois.  — confortei-o e, involuntariamente, acariciei sua mão.

— Tomara.  — ele não permitiu retirar a mão, o que me incomodou.  — Mas falemos de nós.

Nós sempre era um problema.

— Estou planejando um programa legal para o próximo fim de semana.

— Que tipo de programa?

— Algo só para nós dois, um lugar calmo e longe daqui.  — ele soava romântico, todavia eu sabia o que significava seu programa legal.

— Andrew, eu disse que não faríamos nada até eu estar pronta.  — puxei minha mão a seu contragosto.

— Não quis dizer que vamos transar, Amelie.  — ah quis sim.  — Só quero passar um momento agradável com a minha namorada. E se rolar algo, quero fazer o certo dessa vez.

— Não pode tomar decisões por mim.  — reclamei.

— Porra.  — ele se jogou contra as costas da cadeira, derrotado.  — Por que você nunca se interessa por nós, Amelie? Quero ficar contigo, tentar refazer as coisas, mas você sequer dá a mínima.

— Porque não me sinto preparada, Andrew. Já tivemos essa conversa.

— Só venha comigo, está bem? Só... vamos nos divertir como um casal.

— Irei se prometer se comportar.  — lancei a condição.

— Não farei nada que você não queira.  — e o seu sorriso vitorioso eclodiu.

De repente, Shawn me veio a mente. E eu só apetecia sair dali a procura dele, queria seu abraço, seu toque, seu beijo. Era errado aceitar o pedido de Andrew se eu sabia que nada iria acontecer, e eu esperava que ele não pensasse que a concordância exprimia sinal verde.

Não entendia o porquê de toda aquela ganância para estar nos braços de Shawn e não me sentir da mesma forma com Andrew. Deparei-me com o X da questão: não havia como fazer amor com ele porque não existia amor. Mas talvez, só talvez, eu devesse dar uma chance para reparar, e se fosse o sexo que faltava para completar nossa relação? Eu tentaria com Andrew, mais uma vez.

Só que como me entregaria a alguém, desejando outro?

 

Suavizei ao me ver em casa, na comodidade de meu quarto. Em nossa despedida, eu permiti que Andrew me beijasse, um beijo lesto e gélido, sem emoção. Meus pais terminavam de jantar e eu recusei dizendo que comera com Andrew, assim rumei para tomar um banho e me livrar da legging que me esquentava.

Joguei-me na cama e puxei o notebook para meu colo, chequei as redes sociais e resolvi alguns exercícios online de Espanhol do curso. Quando eu fechei o aparelho, o toque do meu celular ressoou. Aturdida, eu maneei o braço para alcança-lo na ponta do colchão.

Demorei a crer no que estava lendo. Na tela o nome Shawn Mendes aparecia, instantaneamente eu tremi, por pouco o celular não escapou de meus dedos. Mas o que ele queria? Conversar? Céus, eu não estava preparada para afrontá-lo, não, não mesmo.

O polegar raspou no ícone verde, tentado a aceitar a ligação. Eu me amedrontava em ouvir sua voz, iria amolecer ainda mais. Durante todo o dia construí barreiras para distancia-lo, e agora eu assistia a queda de tijolo por tijolo. Comprimi os lábios e fechei os olhos, o barulho cessou e eu senti o arrependimento bater. Será que o deixei com raiva? Será que Shawn queria me dar uma bronca por agir feito uma criança?

Matutei retornar a ligação, mas eu não queria entregar o jogo assim. Melhor não ter contato com ele, sei que Shawn entenderia o recado. Por mais que fosse difícil, eu iria o afastar.

Ou pelo menos tentaria.

[...]

Quando eu comecei a namorar Andrew, Greta fez uma promessa de nunca mais me arrastar para beber, segundo ela não tinha graça sair com quem está comprometida. Antes disso, eu a acompanhava quase todos os fins de semana a um barzinho. Não era chegada em beber, ficava responsável por chamar o taxi quando íamos embora e segurar a minha amiga desacordada para que não caísse no chão. Greta dizia que se não fosse para beber até perder a dignidade, era melhor não beber. Sempre exagerada!

Tínhamos um lugarzinho especial, o Jet Lag Pub, e lá que fomos na sexta a noite. O ambiente tinha a decoração voltada para a aviação, com peças retiradas de aviões antigos — asas, turbinas e hélices —, ilustrações de aeromoças pin-ups, pilotos e mapas de rotas enfeitavam as paredes, garçons e garçonetes desfilavam pelo ambiente trajando uniformes de comissários de bordo. No segundo andar, que tinha acesso através de uma escada rolante, ficava uma pista de dança, na qual o DJ ficava dentro de uma cabine comandando o som variando de rock ao pop.

Usava jeans cós alto e botas pretas, a blusa branca deixava parte da barriga a mostra, escovei o cabelo e fiz a minha costumeira maquiagem. Greta, por outro lado, caprichou no minivestido e sandália de salto.

Losing my Religion tocava quando adentramos o estabelecimento e procuramos uma mesa, escolhemos uma nos fundos.

— Eu adoro essa musica.  — ela batucou na mesa enquanto cantava.

Não demoramos a ser atendidas, fizemos os pedidos das bebidas e petiscos. Comecei a falar sobre como tinha me tornado uma empregada da noite para o dia, cada gole de bebida que descia — com muita labuta —, eu falava mais, até sobre passar o fim de semana a sós com Andrew.

— Qual é o problema? Ele é seu namorado.  — frisou Greta.

— Eu sei, mas não gosto dessa pressão. Andrew nunca aceitou bem, mas garantiu que não haveria cobranças.  — revirei os olhos. 

— Porque você acha que não se sente pronta? Tem medo de dar errado de novo?

— Digamos que sim. Só não quero fazer isso agora, e a insistência não vai nos levar a nada.  — cruzei as pernas.  — Você acha que eu devo tentar?

— Olha, você não tem nada a perder. Ou será que ainda tem?  — ergui o dedo do meio para sua ênfase, Greta gargalhou.  — Amelie, só não faça o que não quer, tá bom?  — embora o conselho fosse obvio, eu entendia o ela quis dizer. Minha amiga não era boa em advertir, seu tipo se encaixava mais em abraços e ironia.

— Não irei.  — bebi o resto da minha segunda bebida.

— Certo, e o que mais está te incomodando?

— Como assim?  — franzi o cenho, estranhando a pergunta.

— Amelie, você não para de cruzar e descruzar as pernas e mexer nesse cabelo desde que chegamos aqui.  — constatou.  — Não sou especialista em comportamentos, mas sei quando alguém está incomodado.

Eu não percebi que fazia isso e concordei que devem ter sido vezes de mais. Estalei a língua no céu da boca, girando o copo vazio na mesa, avaliando as minhas opções. Eu podia contar, desabafar com ela sobre como me sentia e o que tinha ocorrido. Ou podia mentir e dizer que não era nada. Contudo, eu necessitava compartilhar com alguém ou acabaria sufocada.

— Eu tenho um problema.  — comecei. Ela se endireitou na cadeira, afastando a bebida e me dando atenção.  — E o nome dele é Shawn Mendes.

— Tá de sacanagem.  — murmurou pausadamente, esperei a repreensão, mas Greta pareceu achar graça da situação.  — O que aconteceu? Vocês dois transaram?

— Meu Deus, não. Longe disso.  — as bochechas esquentaram, não sei se foi efeito do álcool ou o constrangimento.

E ai, eu lhe contei tudo. Sobre as vezes que estávamos juntos, sobre a festa, o dia seguinte a festa, sobre nosso dia no centro comunitário, omitindo algumas partes, sobre como eu me sentia e sobre o beijo.

— Você o beijou?  — ela repetiu.  — Porra, não acredito. Eu sabia que tinha algo, você estava mesmo com ciúmes quando te liguei naquele dia.

— Não estava não. Greta, foi um erro e não sei como concertar, eu nem sei porquê o beijei. Foi um momento de loucura.

— Te conheço bem, Amelie. Esse cara mexe com você, senão jamais o teria beijado ou se aproximado dele.  — eu a odiava por ser tão direta e certa.  — Não se culpe por se sentir atraída, ele é muito gostoso.

— Isso não é justificativa.  — lutei para não concordar.  — Eu só quero esquecer, só que ao mesmo tempo fico desesperada para vê-lo, Greta. Isso não é normal.  — choraminguei.

— Deixe-me adivinhar: isso tem tudo a ver com o fato de estar insegura com Andrew, não é?  — apoiou o rosto na mão. Meu silencio foi a confirmação. — Amelie, sinto muito dizer, mas você tá ferrada. Muito ferrada.

Como se eu já não soubesse.

Pedimos outra rodada e continuamos o papo, parecíamos adolescentes na oitava serie falando sobre garotos. Falar com Greta foi bom, não houve julgamentos nem perguntas, desembuchar desatou infimamente o nó na garganta.

— Ok, chega de falar sobre homens.  — ela cortou o assunto.  — Vamos beber e dançar.

— Eu ainda trabalho amanhã.  — lembrei-a.

— Mais um motivo para beber.

[...]

Consegui acordar sem dor de cabeça na manhã seguinte, o que foi ótimo. Por ser sábado eu sairia mais cedo do serviço e já tinha planejado o resto do dia. Meus pais iriam ao teatro com mais dois amigos e eu teria a casa só para mim.

Ajudei Clara a limpar algumas prateleiras e isso levou praticamente o meu tempo naquele dia. Troquei rápidas mensagens com Andrew e suportei as provocativas de Greta.

Fiz uma lista de filmes para assistir ao longo do meu intervalo na Chatoyant, iria passar no mercado, comprar uma porção de besteiras depois iria para casa, me jogaria no sofá e só sairia de lá na segunda para voltar ao trabalho. Não queria sair naquele fim de semana, só me enfurnar e tentar pôr algo em minha cabeça que não fosse Shawn e o seu sorriso.

 

Ainda que eu tivesse dezenove anos, mamãe sempre repetia as mesmas instruções antes de sair de casa. ‘’Qualquer coisa, me ligue.’’ ‘’Não traga Andrew para cá, menos ainda para seu quarto.’’ ‘’O numero da emergência está preso na geladeira com um imã, você sabe o que fazer.’’ Me cansava de dizer que tinha entendido, mas Noemia não aprendia que aquilo era desnecessário.

— Não voltaremos tarde, mas talvez iremos comer em algum lugar após a peça.  — mamãe falava enquanto papai pousava o casaco preto em seus ombros.  — Não vá fazer muita bagunça.  — motejou.

— Se preocupem com vocês, não comigo.  — empurrei-os para fora de casa.  — Divirtam-se, até mais tarde.

Sorri e fechei a porta. Voltei para a sala esticando os braços e bocejando, usando meu camisão azul do Tom e Jerry. Coloquei um filme e corri até a cozinha para pegar chocolate e Fanta.

Deixei tudo no centro próximo ao sofá, e ao me preparar para sentar o celular toca. Pausei o filme e peguei o aparelho. Estarreci com a nova ligação de Shawn, engoli em seco buscando o raciocínio. Não poderia haver ruindade em uma simples conversa, eu é que fazia tempestade em copo d’água. Ganhei coragem e atendi.

Amelie?  — droga, porque precisava começar dizendo meu nome? A valentia caiu por terra, quis xingá-lo e depois desligar em sua cara.  — Amelie, me responda, pelo amor de Deus.

— O que você quer, Shawn?  — minha voz no mínimo, a respiração cortada. Não era possível eu estar eufórica pelo telefone.

Primeiro, quero que abra a porta pra mim. Quero resolver isso pessoalmente. — ele falava calmo, mas eu captei a urgência no pedido. Engasguei com a própria saliva, virando-me para a entrada. Era um blefe, ele não encontrava-se ali, não podia, não devia. E ai, eu ouvi duas batidas fracas.

Atormentei-me.

— Não estou em casa agora.  — que outra desculpa eu teria para fazê-lo ir embora?

Acabei de te ver despedindo dos seus pais, Amelie.  — o ouvi suspirar pesadamente.  — Por favor, abra. Não me faça perder a paciência, eu preciso te ver.

Caminhei compassadamente até a porta, descalça e com o celular ainda no ouvido. Pairei sobre a maçaneta, tremendo até o mindinho. Engoli a vergonha e pus-me no automático, girei a abertura e afastei o que nos separava. Topei com Shawn, com o mesmo gesto que eu.

— Olá, Amelie.  — pronunciou e desligou seu celular.

— Jesus!  — tudo que fui capaz de articular, meu braço escorregou sem forças.

Ele mesmo entrou e bateu a porta, obrigando-me a recuar. Prendi o ar, não ousando a abrir a boca.

— Nós vamos conversar.  — a firmeza em sua fala, me ocasionou arrepios. Ele se aproximou, a postura ereta e uma veia saltada no pescoço.

Balancei a cabeça negativamente, pressionando minha roupa entre os dedos. Sem saída, eu reagi da forma mais infantil possível. Dei meia volta, disposta a correr para subir a escada e fugir dele. Shawn se agilizou, segurou em meu braço possesso e me puxou. Bati em seu peito, o celular estrepitou no chão.

Tombei a cabeça para trás, ele estava próximo, muito próximo. O toque em mim não relaxou, os olhos fundiram-se nos meus, toda sobriedade bateu em retirada. Pisquei sem um padrão correto e encolhi-me. Meu propósito de conversa civilizada desapareceu, tive consciência do quanto estava enrascada quando ele enunciou com autoritarismo:

— Não vai fugir de mim dessa vez, Amelie.


Notas Finais


Espero que tenham gostado e não queiram me matar novamente KKKKK Até a próxima, amores. Se quiserem falar comigo: http://twitter.com/walkerstitches Beijos e ótimo Ano Novo para vocês e suas famílias, muita paz, saúde, alegria e dinheiro!!! Nos vemos em 2017.


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