3 Dias depois.
Era como acordar de um sono profundo e longo e não poder se mexer, meus olhos estavam pesados mas minha mente estava em alerta, ouvia ruídos e vozes, alguns gritos de vez em quando, mas na maior parte do tempo a voz de Daniel pairava por meus pensamentos como se fosse um sonho real. Eu lutava a muito tempo para acordar, mas era como se minha “bateria” tivesse sido esgotada para sempre.
- Bom dia Meg... – ouvi Dan novamente, me senti feliz e acolhida. – Estou aqui mais uma vez com você e espero que acorde logo... - Senti sua mão segurar a minha, ela estava quentinha.
- Hm... – gemi lentamente e apertei meus olhos.. – Dan..
- Meg? – vi tudo embaçado, mas tenho certeza que ele estava sorrindo.
- Oi.. – falei baixo e fiz uma careta.
- Ok, ok... Eu vou chamar o médico, espera só um pouquinho.. – ele levantou todo atrapalhado. – Espera aqui, ta? Não sai daqui.. Eu.. ta. – disse e saiu correndo pela porta.
Dei um sorriso e então comecei a observar o lugar onde eu estava. Era um quarto de hospital, tudo muito branco e bem iluminado, da janela pude ver a chuva forte escorrendo pelo vidro. O dia estava nublado e frio, eu adorava dias assim, dia perfeito para ler ou ouvir musica enquanto curto a vibe que a chuva trás, algo como paz.
Me sentei na cama e então senti uma dor horrenda em todo meu corpo, ela percorria todos os meus ossos, talvez fosse por eu estar sem dormir a tanto tempo, falando nisso... A quanto tempo eu estava ali?
A porta se abre e então um médico entra com Daniel logo atrás.
- Ola dona Megan Lessa.. – o médico diz olhando sua caderneta. Daniel vem até mim e segura minha mão.
- Ola senhor médico. – digo imitando o tom de voz do senhor.
- Você tem dado muitos problemas... – “O que eu tenho?” pensei, ele parece ter lido meus pensamentos. – Você está com anemia, Megan.
Olho para Daniel depois para o medico, o silêncio dura durante alguns segundos e então eu digo.
- Ok, quando vou sair daqui? – Daniel me olha feio.
- Megan, isso é sério e precisamos que você de certeza de que vai levar o tratamento a sério, você não é mais uma adolescente, você sabe os riscos dessa doença e sabe que precisa se cuidar, não só por você, mas por toda sua família. – o médico diz sério. No momento em que ele diz “Família” sinto um vazio no peito.
Meus olhos começam a se encher de lágrimas e então toda minha vida vem a tona, eu perdi meus pais, as pessoas que eu mais me importava então, que importância eu tenho aqui? Sem família, sem amigos, sem ninguém, não sei nem por onde começar... Talvez eu já tenha “cumprido” todo o meu propósito aqui. Uma lágrima solitária desce meu rosto e então Daniel me olha.
- Meg, eu sinto muito pelo que houve com seus pais, mas agora não é hora de ser fraca. – ele segura meu rosto. – Pode sentir medo, óbvio, quem não sentiria? – sorriu fraco. – Mas tem que pelo menos tentar ser forte, para saber por qual caminho andar de hoje em diante. É muito difícil, mas eu estou aqui com você e não vou te largar em momento algum. – secou minha lágrima com o polegar. – Enquanto quiser que eu fique, eu fico.
Fiz que sim com a cabeça e ele me abraçou forte, apertei forte ele em meus braços e então chorei sem me importar com a presença do médico ali, logo ele saiu e Dan se sentou ao meu lado na cama e então me pois para deitar em seu peito, ele me abraçou novamente e então me permitir cochilar mais um pouquinho.
Horas depois o médico voltou para passar os remédios que eu deveria tomar e fazer alguns procedimentos antes de me dar alta. Daniel me ajudou a me vestir e na ida para casa me contou que eu estava ali a três dias, fiquei boquiaberta mas não duvidei.
- Não sei o que seria de mim sem você... – falei e segurei a mão dele que estava no volante.
- Vai ficar tudo bem, Meg. – sorriu, deitei no banco e respirei fundo enquanto admirava a chuva.
Logo chegamos em casa, Daniel segurou forte na minha mão antes de atravessar a porta de entrada, eu apertava com toda minha força mas não pude conter o aperto no peito que senti ao olhar aquele local, mordi meu lábio e larguei a mão de Daniel, segui até o sofá da sala e me sentei, de imediato a lembrança da vez que eu estava deitada no colo da minha mãe, falando sobre o fato de estar apaixonada por Dylan veio a tona, dei um sorriso bobo e me levantei.
Caminhei até os primeiros degraus da escada e me lembrei de quando eu fui subir correndo a escada e tropecei, minha mãe quase caiu do topo da escada por conta das gargalhadas que dava da minha situação, fiquei dois dias sem falar com ela.
Continuei subindo as escadas e fui até o quarto dela, passei a mão sobre os móveis brancos e bem arrumados, seria uma merda manter tudo aquilo limpo agora, sorri e então abri o guarda roupas, olhei todas as roupas.
- A doida até que tinha estilo. – dei risada comigo mesma. Fechei o guarda roupas, assim que me virei vi Dan escorado na porta do quarto do mesmo jeito que fez quando nos conhecemos.
- O que acha de um banho quente? – sorriu.
- Adoraria. – respondi e caminhei até ele que me abraçou e caminhou comigo até meu quarto.
Tomei um banho demorado, o fato de não saber o que fazer daqui pra frente pertubava minha mente , talvez trabalhar e começar a levar a vida mais a sério. Chega de festas e bebedeira com pessoas desconhecidas, está na hora de assumir os modos de uma garota de 19 anos e meio normal.
Vesti meu pijama e então sai do banheiro, achei Daniel jogado na minha cama lendo um livro, ele usava uma calça moletom preta e uma camiseta do Star Wars.
- Se não tiver problema usei o banheiro do corredor para tomar banho. – disse tirando o livro da cara revelando seus óculos.
- Tudo bem. – fui em direção a cama.
- Não tive muitas chances de dizer, mas você está linda de cabelo curto. – sorriu. Me sentei na cama.
- Ah, para Daniel.. – sorri e escondi meu rosto com as cobertas. Ele deu uma gargalhada gostosa, me senti bem. – Você também está lindo de óculos. – falei e mexi em seu óculos.
- Obrigada, sabe, sou míope então sou obrigado a usar. – dei risada da cara triste que o garoto fez.
- Você veio aqui para me ver, mas não me falou como você esta.
- Bem, só trabalhando igual louco. Sai de Teen Wolf, então quase não vejo mais ninguém... – me olhou e então se deu conta do que disse. – Ai, me desculpe, te fiz lembrar do Dylan.
- Não, tudo bem, já superei. - sorri sem mostrar os dentes.
Ficamos em silêncio por alguns segundos e então quando Dan ia dizer algo ouço a campainha tocar, nos olhamos nos perguntando quem seria.
- Quer que eu vá ver? – Daniel disse.
- Sim, enquanto você despacha a visita eu vou arrumar algo para comermos, o que acha? – digo.
- Boa ideia, to morto de fome e nem foi eu que dormi durante três dias sendo alimentado somente por soro. – disse se referindo a mim. – E você deve começar a se alimentar direitinho.
- Hamburguer e fritas? – pergunto com a sobrancelha arqueada.
- Começamos sua dieta saudável amanhã. – sorriu e então me ajudou a levantar.
Corremos escadas a baixo e então caminhei até a cozinha, comecei a separar os ingredientes, Pão, queijo, bacon, Hamburguer, batata, alface, tomate... Enfim, eu tentava fazer tudo isso no maior silêncio do mundo, não demorou muito e Daniel apareceu na cozinha.
- Quem era? – perguntei lavando algumas folhas de alface. – Que demora pra despachar, deixa eu adivinhar, era a senhora Celina da casa ao lado? – perguntei e Daniel parecia estar tenso.
- Meg, tem alguém importante querendo falar com você. – peguei um pano e sequei minhas mãos, a voz de Daniel estava carregada de nervosismo.
- Quem? – caminhei até a porta da cozinha e não pude acreditar quando vi. Senti meu corpo inteiro ficar rigido e meus pensamentos se embaralharam.
- Oi filha.
- O que faz aqui? – perguntei ríspida.
Sua aparência estava diferente, seus cabelos que antes eram escuros como a noite agora se encontravam num tom grisalho, em seu rosto haviam muitas rugas e seus olhos estavam cansados, mas apesar de tudo seu terno caro lhe dava um ar superior. Cadê aquele homem que se vestia de modo qualquer e sempre tinha um sorriso estampado no rosto? Aquele que fazia graça com os assuntos mais sérios da vida, onde está?
- Meg, vai com calma. – Daniel disse pondo sua mão sobre meu ombro esquerdo.
- Como você cresceu, Megan. – meu pai disse com um sorriso, eu não podia me deixar levar por essa gentileza.
- Me poupe de toda essa melação, Carlos. Vai logo ao assunto, oque você quer? – cruzo meus braços.
- Podemos conversar em particular?
- Não. – meu pai olhou para Daniel e então depois de um silêncio profundo começou:
- Tudo bem... – respirou, revirei meus olhos. – Eu sinto muito pelo que aconteceu com sua mãe, eu juro que tentei vir para o.. –
- Sério? Nem para ver a própria filha você se deu o luxo de vir, sério mesmo que vai se fazer de coitadinho só porque não veio ao enterro da minha mãe? Quer saber, não diz nada, o tempo que eu queria te ouvir já passou a muitos anos. – digo indo até a porta.
- Eu entendo que você tem muita raiva de mim, eu realmente não fui um pai presente na sua vida e sei que muitas vezes você precisou de mim enquanto crescia e eu não estava lá, e eu nunca vou me perdoar por isso. – engoliu seco. - Eu nunca voltei por saber que só com sua mãe você estava nas melhores mãos possíveis, ela te daria toda educação e faria de tudo para nunca te ver triste, coisa que eu nunca conseguiria fazer. – ele respirou fundo, ele estava tremendo de nervoso. Fechei a porta e então só o ouvi. – Tenho certeza que Camille não lhe contou, mas quando nos conhecemos eu tinha um problema sério com bebidas alcoólicas, e mesmo depois de nos casarmos eu nunca parei. – ele fez uma pausa como se escolhesse as palavras. - Teve uma noite, você era bebe ainda e vinhamos de algum lugar, eu e sua mãe brigávamos por alguma coisa, eu não lembro, porque... – sua voz estava tremida. – eu estava bêbado, e sua mãe dizia varias vezes que agora precisava que eu parasse com isso pois tínhamos você, e eu nunca a ouvi, achava que era besteira. Então a pista estava molhada e no meio da briga eu me descuidei e então perdi o controle do carro, batemos numa placa de sinalização. – meus olhos marejaram de lágrimas, mas eu as segurei. – Você foi pro hospital e quase morreu, ficou na UTI por meses, e foram os meses mais difíceis da minha vida mas um dia você finalmente acordou e eu prometi a você que se um dia voltasse a beber eu sairia da sua vida e nunca mais voltaria.
Ele tampou o rosto para esconder as lágrimas, ele soluçava e eu não sabia o que pensar nem o que fazer, porque minha mãe nunca havia me contado isso? Mudaria tanta coisa, eu não sentiria essa raiva gratuita dele e entenderia o fato dele não estar comigo.
- E foi isso que ocorreu quando você tinha nove anos. Eu vinha do trabalho com alguns amigos e eles me convenceram a beber só um copo, resultado, cheguei em casa caindo e discuti com sua mãe, ela me expulsou e eu nunca mais voltei pois havia quebrado a nossa promessa. – ele me olhou triste e então me aproximei dele e sequei suas lágrimas, meu pai segurou minhas mãos e então sentamos no sofá. - Mas Meg, eu ainda sou seu pai, eu amo você de mais e estou aqui agora para cuidar de você. Nunca vou substituir sua mãe e Jhon, mas estou disposto a pelo menos suprir a falta que eles vão lhe fazer, quero dar conselhos, quero secar suas lágrimas e dar broncas as vezes. Mesmo você sendo uma mulher agora, você sempre vai ser a minha garotinha e vou te proteger pra sempre.
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