História Troublesome Love Stories - Sobre Medo, Covardia e Estupidez parte I

Temari escutou várias vezes em sua vida que ela era o tipo de pessoa que não tinha medo de nada.

Todas as vezes que escutou isso, ela nunca respondeu. Também nunca afirmou tal coisa, pois, desde que se entendia por gente, o medo era um companheiro constante.

A primeira vez que teve lembrança desse sentimento é de quando sua mãe partiu desse mundo e, nos anos que se seguiam, Temari teve medo do escuro, medo dos rugidos do vento e dos raros – porém estrondosos – trovões que às vezes quebravam o silêncio das noites do deserto, medo de seu pai, sempre tão distante e ríspido para se dirigir a ela, medo dos bonecos esquisitos que Kankuro às vezes deixava em seu quarto para assustá-la e ninguém o repreendia por isso.

E o medo continuou a acompanhando conforme ela crescia em muitos momentos. Teve medo de seu irmão mais novo por anos da sua vida. Teve medo de não ser boa o suficiente, de não ser uma boa kunoichi, de ser considerada fraca.

O medo acabou, na verdade, formando seu caráter. Ela sabia que, por mais que tivesse medo, ninguém iria ao seu encontro para consolá-la. Mas tarde, ela descobriu que também podia causar medo e isso era algo que a fazia forte.

Quando foi enviada para Konoha com Kankuro e Gaara naquele plano maluco para subjugar as folhas, Temari era considerada a kunoichi mais cruel e talentosa de sua idade. Ela sabia que causava medo até mesmo em ninjas de cargo mais elevado, mas nunca deixou que isso inflasse demais seu ego. Novamente, o medo a acompanhou durante todas as provas. Para ela, naquela época, Gaara era sinônimo do mais profundo medo.

Temari descobriu ali o medo de perder. E perdeu. Mesmo Shikamaru desistindo nos últimos minutos, ela sabia que aquilo fora uma derrota. Ela aprendeu uma grande lição ali, que não era fraca, mas também não era invencível, e foi um medo que superou.

Superou outro medo em consequência àqueles dias em Konoha: De seu irmão mais novo. Mas ao perder esse medo, descobriu um medo que ela considerou tão ruim quanto: O medo que os laços trazem, o medo por sua família. Teve medo por seus irmãos quando ambos quase morreram pelas mãos da Akatsuki. Teve medo da guerra, medo da morte. Medo de perder alguém importante para ela.

Com Shikamaru, também, alguns anos depois, teve medo de se entregar a um sentimento novo.

Shikamaru foi pra ela o maior sinônimo de felicidade, mas o maior sinônimo de medo. Ela sabia que era ridículo de sua parte se sentir dessa forma, mas cada vez que o ninja das sombras, seu marido, saia para uma missão arriscada, ela sentia medo. Medo de perdê-lo, de não estar lá quando ele precisava dela. Ela se sentia egoísta quando ele chegava e às vezes relatava que algum amigo havia se ferido gravemente, ou mesmo não estava mais entre eles, e ela se sentia aliviada, pois ele estava bem e, para ela, era aquilo que importava. No fim, ela chegou à conclusão que ser esposa de um ninja era isso. Ela própria era uma kunoichi e, muitas vezes, pegou-se imaginando se ele sentia-se dessa forma quando era ela a partir pelos portões de Konoha a fora. Um dia, quando se machucou e voltou carregada de uma missão, ela soube que sim. Ele chorou e disse que também tinha medo. Ela se sentiu um pouco menos egoísta, um pouco menos idiota.

O medo novamente lhe fez companhia quando descobriu que estava grávida.  E foi seu companheiro por todos os anos que se seguiu. Agora, mais do que ela e Shikamaru, ela temia pela vida que haviam gerado, pelo pequeno e frágil bebê que ela carregou no ventre e depois nos braços, que ela amamentou e trocou fraldas e que dia a dia, mês a mês, ano a ano crescia e dependia menos dela.

Mas ela só descobriu o que era medo em absoluto o dia em que Shikadai chegou carregado pelos braços de Inojin, pálido e perdendo sangue rapidamente.