1. Spirit Fanfics >
  2. Trovoada >
  3. Capítulo Um

História Trovoada - Capítulo Um


Escrita por: Mistheriosa

Notas do Autor


Olá! Bem, essa fanfic na verdade foi escrita em 2014, só que somente este ano eu resolvi criar coragem para postá-la. Na verdade os meus planos eram de iniciar no mundo das fanfics com um projeto novo que eu estava planejando, só que como as coisas meio que desandaram eu resolvi postar essa fanfic tão antiga que eu tinha guardada. A fanfic em si é SebasCiel, só que contará também com a participação do nosso tão ilustre Alois Trancy. A postagem dos capítulos não terá um tempo determinado, pois eu só tenho o capítulo um pronto e preciso de tempo para escrever, mas quando o dois estiver pronto, eu posto. Espero que curtam o capítulo e lhes desejo uma boa leitura.

Capítulo 1 - Capítulo Um


 

 

Observar a passagem do dia pela grande janela de seu escritório era algo a mais na sua 'nova rotina'. No começo, aquele fato lhe transmitia alívio, significava agenda contendo apenas compromissos que poderiam ser resolvidos em seu escritório, coisas relacionadas a empresa, suas costumeiras aulas sobre diversos assuntos e tudo mais, mas agora, apenas lhe transmitia o mais puro tédio. Significava mais um dia em sua mansão, mais um dia nesta atual condição.

Não acreditava que a falta de ação tornaria sua vida mais vazia do que já era, mas tinha que assumir neste momento, ser o Cão de Guarda da Rainha Victória estava fazendo falta.

Quando recebeu uma 'folga', após solucionar um caso de estupros em série ocorrendo no subúrbio de Londres, onde conseguira capturar o culpado com êxito e precisão, se sentira extremamente agradecido, pois assim teria um descanso físico e mental. Mas agora, após mais de um mês trancado em sua principal mansão, onde os jardins e os limites da propriedade eram os únicos lugares em que algumas vezes praticava alguns passeios, ele se via na maldição da mesmice, em que tudo se repetia todo dia, lhe trazendo, em sua opinião, uma irritante sensação de dejavú. Em conclusão, ele estava cansado de tudo aquilo.

Seus olhos saíram do límpido céu, típico daquele verão, e desceram lentamente até pousarem em seu, que Sebastian fazia questão pessoalmente de que fosse bem cuidado, jardim. As rosas, que ganhavam uma tonalidade branca mais brilhante, devido ao sol, chamaram sua atenção, e ele decidiu que ali seria um bom lugar para refletir sobre algo novo que pudesse lhe tirar de toda aquela falta de 'ação'.

Quando saiu de uma das enormes portas, localizadas no grandioso salão de jantar, foi que Ciel se dera conta de que até mesmo em seu jardim ele não ia mais. Os raios solares acariciaram suas bochechas cor de porcelana, adquiridas devido ao longo período sem se expor ao sol, dando-lhes um leve tom avermelhado, seu olhar percorreu toda a extensão suntuosa do local até parar em um banco, solitário entre as roseiras, onde decidiu que seria um ótimo local para divagar. Secretamente, o aroma das rosas sempre lhe acalmou, e parecia que até isso Sebastian conseguira desvendar em seu ser, pois estas eram em maior quantidade dentro e fora da mansão e pareciam receber um carinho especial do mordomo.

"Sebastian..." o nome de seu principal servo lhe invadiu em cheio a mente entediada, e agora os pensamentos sobre 'algo novo para fazer' deram lugar a imagem do belo mordomo desaparecido desde o começo daquele dia, sob a desculpa de estar cuidando dos afazeres da mansão. Sentado entre as rosas, Ciel percebeu que até mesmo a falta da constante companhia de Sebastian conseguia afundar ainda mais o vazio de sua vida. Sentia-se completamente perdido. Antes, parecia que sua vida tinha um propósito maior, conseguir a tão sonhada vingança contra aqueles que desgraçaram o nome de sua família. Mas agora, com seu tão almejado objetivo completo, nada neste mundo lhe importava mais. Todos ao seu redor não lhe representavam aquilo que eram antes, agora eram descartáveis, peças frias de um jogo sem sentido. Uma simples rodada de xadrez, sem nada por trás, sem vingança, sem manipulações inescrupulosas. Tornara-se aquilo que sempre achara desprezível, um simples nobre, um Conde, um humano comum, quase rodeado de pessoas comuns. Mas apenas um ser lhe tornava diferente dos outros. Sua presença em sua vida ia contra as leis de Deus e a moralidade dos homens, e enquanto os outros fugiam dele, Ciel se aproximava mais e mais, secretamente encantado, mas, aparentando indiferença e o usando em todas as suas jogadas. Para ele, o fascínio pelo demônio-mordomo, algo apenas admitido em seu interior, nunca fora novo, sempre estivera ali, presente, desde que presenciara pela primeira vez suas habilidades impecáveis.

Seu olhar, que antes analisava a beleza das rosas, mudou de foco quando ouviu passos apressados e respiração afobada. "Com certeza não é Sebastian." pensou quando a presença de Mey-Rin surgiu no jardim.

— Bocchan, vim o mais rápido que pude. Acabou de chegar — disse a empregada, enquanto lhe entregava um envelope.

— Conseguiu despistá-lo? — perguntou o Conde.

— Tentei o meu melhor, senhor — disse a empregada, curvando-se em reverência.

— Pode se retirar.

— Com sua licença — Mey-Rin curvou-se mais uma vez e se retirou do local.

Seus dedos passearam lentamente no envelope de cor bege, e quando seu polegar direito passeou pela cera fria, que lacrava o envelope, sentindo o relevo que formava o brasão de aranha tão conhecida ele suspirou cansado "Já faz um bom tempo... Alois."

— Bocchan.

— Ah! Sebastian! Não apareça mais desse jeito, sem se anunciar! — disse o jovem, assustado por ter sido surpreendido pela presença do mordomo. Imediatamente escondeu o envelope dentro de seu casaco.

— Perdão meu senhor, mas eu já havia lhe chamado três vezes — o outro retrucou enquanto se curvava em reverência.

— Esquece. O que você quer? — o jovem respondeu já irritado. Parecia que Sebastian resolvia aparecer apenas nos momentos em que seus pensamentos estavam no jovem Trancy.

— Esta carta acabou de chegar.

— Da Rainha? — perguntou o rapaz enquanto pegava o envelope de cor alva e retirava seu conteúdo.

— Não, meu senhor. Pelo selo acredito que seja do Visconde Druitt Aleister Chamber — respondeu de maneira calma.

— Ah, aquele — o nobre disse com indiferença. Ciel sempre deixara evidente sua antipatia pelo Visconde, devido a acontecimentos do passado envolvendo ambos  — É um convite para um chá ao ar livre, coisa da aristocracia, e será na mansão dele, em Londres, amanhã — disse com voz desanimada, enquanto lia a carta. Detestava as reuniões da nobreza, mas não tinha outra escapatória, pois como um dos principais nobres tinha que estar presente querendo ou não.

— Então devemos nos preparar hoje mesmo e partir para a mansão da capital — afirmou o mordomo.

— Exato. Comece agora mesmo Sebastian, quero partir ao anoitecer — ordenou Ciel.

— Yes , my lord — disse o mordomo e, após uma reverência, se retirou.

Ao ver Sebastian se afastar, Ciel levantou-se, decidindo que ali não seria um bom lugar para ler a carta de Alois, e dirigiu-se para uma sala privada que ele possuía na ala leste da mansão.

Atravessou as imensas portas de carvalho do salão de jantar pela ala oeste, e após atravessar o salão principal, seguiu pelo corredor leste. Enquanto caminhava, seus olhos pousavam, quase que como um reflexo, em cada rosto presente nos diversos quadros alinhados em linha horizontal na parede esquerda do longo corredor. Eram quadros dos ancestrais de Ciel. Observar cada um fazia com que sua secreta admiração por Sebastian aumentasse mais. Os quadros que haviam sido totalmente perdidos no fatídico incêndio foram refeitos com uma perfeição imensurável onde até mesmo um mínimo detalhe na pintura fora recriada. Aqueles quadros e seu anel, de um diamante raro, eram os únicos objetos que possuíam um valor sentimental para o Conde, pois ambos eram grandes relíquias da família Phantomhive e eles estiveram presentes em sua vida desde que se entendia por gente. Com estes pensamentos, o jovem nem se dera conta de que parara em frente ao quadro do pai, localizado no fim do corredor. Era sempre assim quando ia ao seu escritório particular. Parar e observar a figura jovial de Vincent, retratada pelo pintor Mark Smith, era  uma rotina sua que antigamente ocorria com menos frequência, pois ele não usava muito a sala, mas devido às correspondências de Alois, o uso dela tornou-se cada vez mais necessário.

Após entrar e fechar as portas de mogno à chave, Ciel se dirigiu à mesa de madeira negra, onde atrás havia uma sacada que dava para avistar o descampado da ala leste e, mais frente, a densa floresta que rodeava a propriedade. Ao sentar-se, a primeira atitude que teve foi pegar uma pequena adaga que estava na mesa e abrir a carta, seu coração se enchendo de curiosidade ante quais assuntos o jovem Trancy poderia ter escrito. Em sua última correspondência, Alois havia contado, ao seu modo sempre entusiasmado, sobre seus planos de viagem a Espanha e suas tentativas inúteis de falar um espanhol 'aceitável', dando à Ciel, em sua opinião, um sorriso 'estranho' nos lábios. Ao abrir a folha seus olhos começaram apressados a seguir as linhas cheias de letras refinadas, que com o passar dos anos em que ambos se correspondiam, havia se multiplicado e muito. Alois tinha muitas coisas para contar desta vez.

 

 

Inglaterra, Londres,  1894

 

Querido Ciel,

 

Como estão as coisas aí na mansão? Sebastian continua sendo o mesmo chato ranzinza de sempre? Pois no meu caso, o Claude ainda continua com aquela mesma cara azeda dos últimos seis anos, mas, diferente de você, eu acho isso muito engraçado e vivo rindo dele.

Eu sei o que você deve estar pensando: Alois, seu idiota! O que você andou fazendo que não me enviou uma carta faz três meses? Pois bem, em minha defesa eu digo: A ESPANHA É MARAVILHOSA! E fiquei tão encantado que acabei não tendo tempo de escrever, tinha muitos lugares para conhecer e muitos restaurantes para visitar, a comida de lá é ótima. Mas infelizmente tive que voltar ontem, então a primeira coisa que fiz quando cheguei foi me trancar no meu escritório e escrever uma carta para você. Escreva-me uma assim que puder, estou curioso sobre suas novidades, aí você poderia me dizer quando nós poderemos nos encontrar novamente. Sinto falta do seu mau-humor diário.

 

Um abraço e um beijo

 

AloisTrancy

 

Enquanto lia a carta, as sobrancelhas de Ciel se franziram no momento em que seus olhos passaram pelas palavras 'querido' e 'beijo' e seu rosto, antes suave, adquiriu uma expressão de intensa irritabilidade "Alois... aquele maldito! Como ousa me escrever usando estas palavras?", pensou ao terminar de ler. Um suspiro cansado saiu de seus lábios, quando levantou da grande cadeira, com estofado em  verde-musgo e caminhou até a sacada "Bem, se ele não escrevesse desta forma não seria o Alois.", esta foi a sua conclusão enquanto observava o descampado clareado pelo sol de meio-dia. Com isso ele resolveu escrever uma carta-resposta naquele mesmo dia, antes de partir para a capital. Voltou para a mesa, pegou papel, molhou a ponta da pena negra no tinteiro, mas quando a encostou no papel foi que se deu conta de que não tinha nada de novo para contar. Ele novamente suspirou de cansaço enquanto encostava as costas na cadeira, não fazia a mínima idéia do que relatar à Alois. Certamente a mesmice de sempre, afirmar sua pergunta com relação a Sebastian e falar sobre o país que ele visitou  eram alguns conteúdos que sua carta iria conter, mas quanto à menção de onde iriam se encontrar novamente... Inclinou-se, pegou a pena, e se pôs a escrever.

 

 

Inglaterra, Londres, 1894

 

Caro Alois,

 

Os acontecimentos daqui continuam os mesmos. Finnian ainda destrói meu jardim, Mey-Rin  sempre  desastrada, entretanto, a única coisa em que me é realmente útil  é com relação às  suas cartas. Ela consegue despistar Sebastian e este  parece não saber de nada, ou, pelo menos, finge que não sabe. Ele ainda continua daquela maneira e não consigo ver o humor paranóico seu nisso. Tanaka continua o mesmo Tanaka e Bardroy ainda tem um péssimo gosto culinário. Fico contente com a sua volta da Espanha, realmente aquele  país é uns dos poucos ao qual eu aprecio, e um dos motivos está na paisagem diferente que meus olhos degustaram com vontade quando estive lá, pouco antes de meus pais falecerem.

 

Com relação ao nosso próximo encontro, acredito que Claude já tenha lhe  entregado  o convite do Visconde Chamber para o chá na mansão dele em Londres. Esta noite já estarei na capital e certamente nos encontraremos no evento, neste momento afastarei Sebastian e irei até você, faça o mesmo com Claude.

 

Tenho certeza que saciarei a sua falta do meu 'humor'.

 

Meus cumprimentos.

 

 

Ciel Phantomhive

 

Ao lacrar a carta, pressionando seu anel de ouro maciço, com o emblema dos Phantomhive, sobre a cera quente despejada no papel, seus lábios ainda continham um leve puxar, um sorriso discreto digno de Ciel, adquiridos no momento em que escrevera sobre 'saciar' a saudade de Alois com relação ao seu humor. Realmente, com o passar dos anos, entre encontros às escondidas e cartas secretas, o rapaz Trancy havia pouco a pouco amaciado o humor do nobre Phantomhive. Nada exagerado, mas o suficiente para o jovem de cabelos acizentados entrar nas brincadeiras e insinuações do loiro.

O Blacknight 1200, localizado na terceira sala estar da mansão, a principal da ala norte, onde impunha sua magnificência negra, soltaram badaladas fortes anunciando 01:00 Hr da tarde e também o horário de almoço. Seu som chegou à Ciel em proporções bem menores, mas não passaram despercebidas pelo jovem, que soltou um 'Droga! Sebastian!' lembrando-se que o mordomo provavelmente estaria a sua procura. Guardou a carta em seu casaco, pensando que arranjaria um momento antes de sair para entregá-la à Mey-Rin, para que esta a dirigisse à Cantebury. Saiu do escritório e se pôs a correr ao encontro de Sebastian.

Suas expectativas sobre o demônio foram certeiras. Quando chegou ao salão principal, este o chamava enquanto caminhava vindo da ala leste.

 Bocchan, o almoço está pronto para ser servido — disse sem menção alguma de lhe perguntar onde estava.

 Está bem — Ciel disse enquanto se dirigia ao salão de jantar. "Ele não fez nenhuma pergunta sobre onde eu estava. Sei que ele nota os sumiços, só um idiota não notaria. Sebastian... preciso ser cuidadoso com este." pensou, quando se sentou à mesa.

 

_*_

 

O ocaso reinava quando Ciel saiu às portas de carvalho da mansão, rumo à carruagem que o esperava logo a frente com um Sebastian ao lado da única pequena porta, pronto para ajudá-lo a subir. Ambos já na carruagem, o cocheiro chicoteou os cavalos e agora eles estavam a caminho da capital.

 

_*_

 

O amontoado de luzes ao longe anunciava que Londres estava perto. Ciel constatou tal fato com um olhar aliviado, estava exausto. Surpreendentemente tivera um dia agitado, mesmo não sendo nada em relação à empresa ou aos estudos. A carta de Alois enchera-o de entusiasmo, era como se a simples menção ao jovem preenchesse as lacunas de sua vida, antes mais vazias e profundas "Mas quando foi que comecei a me sentir assim? Nem parece que nesta mesma manhã me sentia tão solitário e desanimado.", pensou o rapaz assustado. Nunca fora de mudar de humor facilmente, mas Alois tinha esse poder. Ele era diferente. Assim como Sebastian, ele possuía a capacidade de mudar toda atmosfera ao redor de Ciel e este não gostava nem um pouco disto.

— Bocchan, está tudo bem? — perguntou Sebastian repentinamente assustando Ciel e quebrando o silêncio que, desde que ambos entraram na carruagem, reinava.

— Estou. Por quê? — disse o conde, em seu costumeiro tom de voz.

— O senhor está apático e parece distante.

— Estou cansado — explicou o rapaz para acabar com a preocupação desnecessária do outro.

— Assim que chegarmos prepararei seu banho e leito — afirmou o mordomo, eficiente.

— Sim — concordou Ciel olhando para o semblante vidrado de Sebastian "Algo o preocupa além de minha aparência. Talvez ele saiba das cartas... não, ele com certeza sabe! E também que Alois estará no chá de amanhã." pensou o rapaz.

Seus olhos saíram da face séria do demônio e pousaram na lua que naquela noite estava cheia, e tal como clareava Londres, esta iluminou os pensamentos do rapaz "Amanhã será um dia e tanto. Acho que finalmente a 'ação' voltou para minha vida." concluiu com um leve puxar de lábios.

 

 

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...