História Trust - Capítulo Único

Se me perguntassem eu não saberia dizer quando aquele sentimento floresceu em meu coração... Eu apenas sabia agora que ele estava lá há um bom tempo. Tempo o bastante para me fazer crer que, talvez, ele jamais deixasse de estar ali. E honestamente? Torcia para que ele jamais fosse embora, porque eu já não conseguia me ver sem aquele sentimento por ela.

Não precisava de muito esforço para me recordar da sensação gostosa que a presença dela causava em mim e que sempre causou, afinal ela sempre esteve por perto, bem ali ao meu lado. Sempre fora o meu ponto de equilíbrio e de confiança... Desde pequenas nós sempre estivemos ali uma para a outra. Recordava das tardes que passávamos juntas brincando nos balanços ao fundo da casa dela, ou quando eu a carregava na minha bicicleta para encontrarmos nossas amigas há algumas quadras de distância... Ou ainda quando ela se escondia atrás de mim quando os bullies do nosso colégio apareciam no nosso caminho.

Eu gostava do modo como ela alcançava minha mão e eu lembro que sempre apertava a dela de volta, tentando confortar e assegurar que eu não permitiria que nenhum deles mexesse com ela. Porque se havia uma coisa que eu jamais suportei foi ver os olhos chorosos de Umji. O sorriso dela sempre fora lindo, delicado, gentil... Era tudo o que ela me fazia sentir e eu me sentia importante por ser a minha mão que ela buscava.

E aquele se tornou um gesto tão nosso, tão natural no nosso cotidiano que sequer percebi quando nós começamos a andar de mãos dadas por todo canto. Mas não passou despercebido por nossas amigas, já que não foram poucas as provocações que Umji e eu ouvimos delas... Mas tudo o que a maknae fazia era acenar sorrindo a cada nova provocação. E parte de mim ficou contente e aliviada por Umji não se sentir desconfortável quando nossas amigas insistiam em brincar conosco ou com os cochichos que ouvíamos quando passávamos. Mas eu também tinha que admitir que, de certa forma, a outra parte de mim ficava apreensiva por pensar que Umji agia assim por considerar aquilo apenas mais um elemento da nossa amizade.

E era... Até que passou a ser algo a mais para mim. À medida que crescemos e nos tornamos mais próximas, eu senti que alguma coisa entre Umji e eu havia mudado. Mais especificamente o meu jeito de olhar para ela havia mudado. Meu coração acelerava a cada vez que ela entrelaçava nossas mãos, e eu podia sentir que não se tratava mais apenas de orgulho por ser eu a estar com ela, porque só aquilo não era o bastante para explicar porque meu coração batia acelerado quando a tinha ao meu lado.

Ou como eu perdia a noção do tempo-espaço quando ouvia as explicações de Umji a respeito das anotações da aula, assim como meus olhos não perdiam nenhum centímetro de como ela crescia... Eu tinha registrado em meus olhos e em minha memória cada pequeno gesto dela, de como Umji tinha se transformado da minha menina doce para a garota delicada, bela e serena que agora ela era.

E quando em mais algumas das brincadeiras das nossas amigas, uma das poucas que Umji não estava ao meu lado, as meninas murmuraram perguntando por ela com “onde estava a minha garota”, eu apenas senti meu coração bater rápido com o pensamento que ficava cada dia mais forte em minha mente: que eu queria que Umji fosse realmente a minha garota. Porque há muito tempo eu já era dela.

Eu tentei por muitas vezes contar a Umji como eu me sentia com relação a ela, afinal fora sempre ela que estava ao meu lado, que transmitia serenidade e confiança com apenas um olhar... Mas minhas tentativas falhavam a cada vez que via o sorriso dela ou o balançar de nossas mãos juntas ao voltar para a casa depois de um longo dia de aula.

Era bobo, mas eu não poderia evitar me sentir insegura pela primeira vez ao lado dela, tudo porque eu a via para além da amizade, mas Umji ainda me tinha apenas como amiga... E eu não queria que a mão dela deixasse de buscar a minha. Foram inúmeros os momentos que suspirei frustrada por aquilo, mais ainda quando as meninas provocavam já sabendo como eu me sentia e Umji retrucava dizendo apenas para eu não ligar para elas.

Se Umji imaginasse que tudo o que eu queria era justamente provar que nossas amigas tinham razão... Que fazia sentido ela e eu, juntas. Eu a queria como minha garota. Porque eu não podia negar o quanto gostava dela, o quanto gostava da cumplicidade e carinho que existia entre nós. E o quanto eu desejava que fosse além da nossa amizade.

Demorou algum tempo para que eu percebesse que, talvez, fossem sem fundamentos aqueles receios. E fora justamente Umji quem me ajudara a perceber aquilo. Porque de algum modo ela passou a agir de maneira um pouco diferente... Um diferente bom.

Por algum tempo eu achei que poderia ser imaginação ou desejo meu, mas quando as nossas amigas também perceberam – porque Umji não fazia questão de esconder – eu concordei com elas que algo estava diferente. Porque Umji continuava segurando minha mão sempre que estávamos juntas, mas nossos dedos começaram a se entrelaçar de maneira mais íntima.

O toque delicado ainda estava ali, mas o modo como a mão dela deslizava pela minha estava mais intenso, provocante. Assim como os olhares furtivos que eu a sentia lançar sobre mim, ou a maneira que Umji ficava séria e levemente emburrada quando eu falava com Chaeyeon pelos corredores do colégio. Eu tinha que admitir que comecei a achar tudo aquilo divertido.

E aquele era mais um daqueles dias. Umji tinha me esperado na biblioteca para revisarmos a matéria das aulas, e enquanto ela permaneceu na carteira fazendo algumas anotações no caderno, eu tinha ido até as estantes para buscar um livro que precisaríamos. Mas eu não imaginei que aquilo demoraria mais do que o previsto, tudo porque encontrei a Chae vasculhando as estantes também atrás de um livro. Aquele breve encontro nos rendeu uma pequena conversa e um olhar duro por parte de Umji quando enfim eu me afastei de Chaeyeon e voltei a me sentar com ela.

UJ: “Você ainda está interessada em estudar?” Murmurou com um pequeno beicinho nos lábios e me forcei a desviar meu olhar da boca dela para encarar aqueles olhos.

YJ: “Por que não estaria?” Franzi a testa em confusão e vi Umji encolher os ombros.

UJ: “Digo... Estudar comigo, Yuju unnie. Talvez queira se sentar com a Chaeyeon.”

Mordi meu lábio para conter um sorriso quando vi a cara levemente emburrada da mais nova. Umji ficava ainda mais linda e fofa quando se mostrava emburrada. Porque meu coração parecia gritar em meu peito que aquela cena só poderia significar ciúmes.

YJ: “Você está com ciúmes?” Murmurei divertida ao cutucar a bochecha dela. Umji soltou um muxoxo antes de manear a cabeça negando e eu sorri para aquilo. “Está sim, mas não precisa, Umji ah.” Ela arqueou a sobrancelha para mim. “Eu prefiro estar contigo.” Pisquei para ela.

Gostei de ver o rosto de Umji ruborizar e sorri bobamente para aquilo, até ela empurrar suavemente o caderno em minha direção.

UJ: “Eu já conclui minhas anotações, você precisa fazer as suas agora.” Murmurou antes de inclinar o rosto contra a carteira.

Acenei concordando ao pegar o caderno que ela empurrou em minha direção, meus olhos correram brevemente pela caligrafia bonita dela antes de voltar a se concentrarem no rosto de Umji que agora repousava contra a carteira, deixando-a de perfil para mim e com os olhos fechados. Um pequeno suspiro escapou dos meus lábios ao observá-la e eu não detive minha mão de colocar uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. Sorri quando vi os lábios dela se repuxarem em um pequeno sorriso.

YJ: “Você não vai me ajudar?” Sussurrei na orelha dela quando inclinei meu rosto ligeiramente sobre o dela.

Afastei-me apenas o suficiente para poder olhar o rosto de Umji direito com aquela proximidade, e pude notar os pelinhos da nuca dela se arrepiarem assim como senti minha garganta seca. Umji abriu os olhos lentamente para me encarar, mas permaneceu na mesma posição.

UJ: “Eu estou ao seu lado, Yuju.”

Aquelas eram palavras singelas, mas carregavam significados tão fortes para mim, e poderia dizer que também para ela, que não foi preciso que Umji dissesse algo a mais depois daquilo. Porque eu tinha entendido. Aquela era mais uma prova do quão familiar nós éramos uma para a outra, nós nos entendíamos mesmo com curtas palavras, bastava que a outra estivesse ali. Como sempre fora.

Eu apenas sorri para Umji antes de deixar um pequeno beijo na bochecha dela, me ousando levemente a deixá-lo um pouco mais próximo do canto dos lábios dela. Quando afastei meu rosto, vi que Umji piscou os olhos lentamente, antes de fechá-los com um pequeno sorriso nos lábios. Sorriso que se assemelhou ao que se desenhou em minha boca, quando enfim apoiei minhas mãos na carteira, tomando um lápis em uma das mãos e comecei a fazer também as minhas anotações.

Enquanto eu escrevia, podia sentir os olhos de Umji sobre mim e eu me sentia tranquila e feliz diante daquele olhar. E quando a mão dela cobriu a minha que repousava livre sobre a carteira, eu a olhei por alguns segundos. Nós sorrimos uma para a outra e tudo o que fiz foi virar a minha mão em seguida, de forma que o encaixe entre elas tivesse a intimidade de sempre, antes de voltar meus olhos para o caderno, enquanto Umji fechava os dela. A última coisa que pensei quando seguramos firme a mão uma da outra foi que há muito tempo nós já tínhamos começado a nutrir aquele sentimento pela outra. Eu sabia que era natural amá-la.