História Trust me - La Iglesia

Stiles nunca pensou que sua primeira viagem internacional seria uma missão de resgate extremamente arriscada. Mas daí, do jeito que a vida dele havia mudado no último ano, talvez ele já devesse esperar algo assim.

Tijuana era uma cidade turística. Mas, é claro, que eles não iriam para a parte movimentada e mais visitada da cidade. Eles iriam para a parte mais esquecida da cidade. A parte da cidade que era exatamente o que Stiles pensava que o México seria, já que era o estereótipo do México. Casas pobres, tinha terra para todo o lado, os carros pareciam velhos, haviam bandeirinhas enfeitando o lugar, haviam roupas penduradas em muros e janelas. E as ruas não era definidas, então os carros e motos passavam no meio das pessoas, o que estava deixando Stiles nervoso. E ele não sabia se o negócio das roupas era comum no país todo, mas com certeza era bem estereotipado.

Mas não era ruim. Bem mais quente do que Stiles estava acostumado, mas nada que ele não conseguisse lidar. Pessoas andavam pelas ruas, rindo, sorrindo e conversando em espanhol. Tinha música e vendedores ambulantes. E Stiles meio que ficou surpreso em não ver ninguém com um sombreiro.

Estereótipo, Stiles. - ele se repreendeu. - Não seja preconceituoso.

- Não parece ruim. - ele disse observando as pessoas conversando.

- Não é a cidade, é o plano. - Lydia bufou.

A viagem de dez horas não tinha sido realmente um problema. Lydia e Kira foram no outro carro. E no jipe, Stiles revezou com Scott para dirigir, enquanto Isaac reclamava de ter que ficar no banco de trás. Tiveram que dirigir a noite toda. Acabou que levou mais de onze horas para chegar, já que Scott não sabia usar a droga do GPS do celular e fez Stiles pegar uma saída errada em uma rotatória, mas, eventualmente, tudo ficou bem.

Chegar lá era a parte mais fácil. Agora eles tinham que encontrar um jeito de entrar na festa. De acordo com as pesquisar de Stiles, era um pouco complicado conseguir os ingressos. Aparentemente, a festa era um pouco escondida. Então primeiro eles tinham que trocar seus dólares por pesos, depois achar um cara que conhecia um cara que vendia os ingressos.

Então ele e Lydia foram. Ele para cuidar do dinheiro e Lydia para se comunicar em espanhol.

- O que há com o plano? - perguntou Stiles, ainda procurando a droga do banco.

- Stiles, - Lydia parou no lugar, com a cara fechada. - esse pode ser o plano mais idiota que já tivemos. Está ciente disso, certo?

- Estou ciente de que não foi o nosso melhor. - assentiu.

- Nós vamos morrer.

- Está dizendo isso como banshee, ou só está sendo pessimista? - Stiles voltou a andar trazendo a garota junto.

- Estou dizendo isso como uma pessoa que não quer morrer.

- Okay. E será que dá para restringir toda a conversa de morte à reais premonições de banshee?

- Esse plano é idiota, e nós vamos morrer.

- Oh, obrigado.

***

Aquele lugar era assustador, mesmo de dia. Conseguir os ingressos tinha sido um pouco assustador, mas Lydia tinha feito um ótimo trabalho conversando com o vendedor, então eles saíram de lá inteiros.

Agora, era só entrar na festa. O fato de que a festa acontecia de dia incomodava um pouco Stiles por alguma razão, mas ele apenas ignorou a sensação.

O prédio onde iria acontecer a festa - ou "o covil dos Calaveras", como Stiles chamava. - era um pouco difícil de achar, mas eventualmente eles conseguiram. Scott, Kira e Isaac ficaram com a função de encontrar entradas alternativas, enquanto Stiles e Lydia iam pela porta da frente, com o ingresso e o dinheiro.

A porta da frente era guardada por dois caras. Stiles assumiu que também eram caçadores. Estavam encostados na parede, relaxados. Mas quando Stiles e Lydia se aproximaram, eles ficaram rígidos e cruzaram os braços, parecendo ameaçadores.

- Estamos aquí para la fiesta. - disse Lydia, em espanhol.

Um dos seguranças riu, negando com a cabeça.

Stiles levou a mão até o bolso e pegou o ingresso. Era um pedaço de papel prateado, com uma caveira branca desenhada. Lançou um olhar para Lydia antes de mostrar o ingresso para os guardas.

O segurança apontou com a cabeça para cima. Stiles viu, no canto da parede, uma câmera. Levantou o ingresso, mostrando-o para a câmera.

Ouviu um clique e a porta foi aberta. Os seguranças andaram para o lado, abrindo passagem para eles.

Atravessando a porta, havia um corredor. As paredes eram vermelhas e haviam poucas luzes iluminando o lugar, mesmo que ainda fosse dia. Na cabeça de Stiles, aquele lugar era praticamente feito para ser um covil de vilões.

Depois de darem alguns passos, a porta de fechou atrás deles, fazendo outro clique. Stiles e Lydia pularam com o susto.

Trocaram olhares preocupados. Agora eles oficialmente não podiam desistir.

Andaram até a porta no final do corredor. Antes mesmo de abri-la, Stiles já podia ouvir a música. A festa estava acontecendo.

E Stiles tinha que admitir, os Calaveras sabiam como dar uma festa.

Quer dizer, aquele lugar estava lotado. Não era nem três horas da tarde, e ainda sim, Stiles nunca tinha visto tantas pessoas bêbadas em um lugar só. A música eletrônica era alta. Aquelas luzes coloridas e brilhantes de balada piscavam por todo o lugar. Tinha tanta gente ali que era difícil de se mover sem esbarrar em alguém.

Os dois foram andando junto às paredes, tentando evitar esbarrar nas pessoas suadas e bêbadas dançando. Chegam até o bar do lugar e lutaram um pouco para conseguir um espaço para encostar no balcão. Stiles olhou em volta. Como eles iriam achar os caçadores ali?

Tentou encontrar os amigos na multidão. Será que eles haviam encontrado um jeito de entrar? Será que sabiam que ele e Lydia já haviam entrado?

Estava prestes a falar alguma coisa quando o bartender se aproximou, deixando dois copinhos de vodka cheios na frente deles.

Stiles olhou para os copos e depois para o bartender, sem entender. Lançou um olhar para Lydia, que deu de ombros e fez um sinal com a cabeça, como se dissesse "vamos aceitar as bebidas".

Ele estava levando a mão ao bolso, pegando sua carteira para pagar, quando alguém se aproximou deles por trás, passando um dos braços pelos ombros de Stiles e um pelos de Lydia.

- Não. - disse ele, com um forte sotaque mexicano. Era um pouco difícil de ouvir por conta da música alta. - É por conta da casa.

Stiles o reconheceu no mesmo instante. Sentiu uma raiva percorrer seu corpo. Era um dos líderes dos Calavera. Como era o nome dele mesmo? Severo?

- A maioria dos jovens americanos não cruza a fronteira para recusar um drinque. - ele continuou. Tinha um tom de diversão em sua voz.

- Nós não viemos para beber. - disse Lydia.

A garota levou a mão até o bolso e pegou uma das balas que Stiles havia achado no apartamento de Derek. Mostrou-a rapidamente para o caçador antes de colocá-la dentro do copo à sua frente. Olhou para os lados, nervosa.

O caçador ficou rígido, como se finalmente tivesse entendido o propósito daquela visita.

***

- Severo odeia essa música. - a líder dos Calaveras falava enquanto descosturava uma blusa em suas mãos, usando uma faca. Estranho? Talvez, mas Stiles achou melhor não comentar nada. - Eu? Eu sempre amei as músicas da juventude. Esse estilo principalmente. Tem uma energia selvagem.

Stiles bufou, irritado. Ele e Lydia haviam sido levados para um tipo de escritório. Estavam sentados de frente para uma escrivaninha, e de frente para aquela mulher, que Stiles estava aprendendo a odiar cada vez mais.

Quanto mais ele via daquele lugar, mais tinha certeza que ele tinha sido construído para ser um covil do mal. As paredes eram vermelhas, a decoração parecia antiga, e havia até pouca iluminação, e estava de dia!

Enquanto a mulher falava, o garoto tamborilava os dedos em sua coxa, nervoso. Haviam dois guardas bloqueando a saída, então eles definitivamente estavam presos ali. O que mais o deixava nervoso era o fato de não ter visto nenhum de seus amigos na festa, que eram seu plano B. E ele não podia confiar muito no plano A, já que, bem, o plano A nunca funcionava.

Lydia inclinou seu corpo para frente.

- Estamos aqui por Derek Hale. - disse, sendo direta.

- É mesmo? - a caçadora levantou o olhar da roupa em suas mãos, um sorriso em seu rosto.

- Sabemos que está com ele.

Lydia esperou que ela dissesse algo, o que não aconteceu. Stiles contou os dedos de suas mãos de novo, obrigando-se a se acalmar. Naquela pouca iluminação, aquela mulher parecia ainda mais ameaçadora.

São só as luzes. - disse para si mesmo. - E o fato de que ela e os outros podem te matar em segundos, mas ignore isso.

- E nos soubemos, - a ruiva continuou. - que você tem um preço.

Stiles percebeu que aquela era sua deixa. Um a um, foi pegando os montinhos de notas de cem escondidos em sua jaqueta e colocando-os na mesa. Cinco montinhos, um do lado do outro.

- São cinquenta mil dólares por Derek. - ele disse, mantendo a voz o mais firma possível.

- Bom, - isso claramente chamou sua atenção. - onde um adolescente arruma tanto dinheiro?

Stiles pulou de susto quando ouviu uma arma ser carregada atrás dele. Olhou para a origem do som e viu uma caçadora sorrindo para ele, com uma espingarda em suas mãos.

Outro clique de uma arma. Havia pelo menos sete caçadores naquela sala. Eles estavam cercados.

A líder se inclinou na mesa, apoiando os cotovelos e sorrindo.

- Não foi esperto terem vindo sozinhos. - balançou a cabeça em reprovação.

Stiles sorriu de lado, finalmente sentindo que tinham alguma vantagem.

- O que faz você pensar que viemos sozinhos?

O sorriso do rosto da caçadora caiu. Levou alguns segundos para processar aquela informação. Ela se levantou, o rosto completamente fechado.

- Vocês trouxeram um lobo para minha casa? - havia raiva em sua voz.

- Nós trouxemos um Alpha. - Stiles enfrentou. Mesmo que não tivesse certeza que os amigos haviam conseguido invadir a festa, manteve sua posição, decidido.

Viu a caçadora respirar fundo, como se controlasse suas emoções. Ela ficou um tempo em silêncio. Andou até a janela da sala, ficando de costas para os adolescentes.

- Meus amigos, - começou. - eu não acho que estejam cientes da época em que vieram. Vocês sabem o que é a lua escura?

- A parte da fase lunar quando a lua é menos visível no céu. - Lydia respondeu, sem nem ter que pensar.

Stiles teve que reprimir sua vontade de revirar os olhos. É claro que Lydia sabia aquilo, por que não saberia?

- Mas você sabe o que significa?

- Algumas pessoas dizem que é uma época de reflexão, ou pesar.

- Pesar e perda, mi hija. - se virou de frente para os adolescentes novamente, agora com um pequeno sorriso em seu rosto. - Eu me pergunto por que, quando você e seus amigos já sofreram tantas perdas, vocês se arriscariam de novo por alguém como Derek Hale?

- Não gostamos de perder. - foi Stiles quem respondeu, falhando em esconder a raiva em sua voz.

- É mais do que isso, não é, Stiles? - o garoto não gostou nada de como ela pronunciou seu nome. Era quase como se a divertisse. Era um tom de deboche. - Você deve se lembrar do nosso último encontro.

- É um pouco difícil de esquecer. - sua voz transbordava sarcasmo. - Vocês me sequestraram, me espancaram e torturaram Derek na minha frente.

- Espancar é uma palavra muito forte. - a líder deu alguns passos para frente. - Sabe, do meu ponto de vista, te afastar de Derek é um favor. Você não devia se envolver com ele, ou com nenhum de seus amigos sobrenaturais.

- Tarde demais. - Stiles se inclinou para frente. - Estamos aqui para negociar. Cinquenta mil dólares por Der...

- Eu te ouvi da primeira vez. - ela o cortou.

- Nada en la cantina. - eles puderam ouvir uma voz vir de um walk talk na mesa. - Tudo certo na porta da frente. Tudo certo na porta dos fundos.

- Norte? - ouviram a pergunta de Severo no walk talk, mas não houve resposta. - ¿Norte?¿Dónde está norte?

Houve um momento de tensão. Stiles começou a contar seus dedos de novo. Dez dedos. Cinco dedos em cada mão.

Até que uma voz veio do walk talk.

- Stiles, - o garoto prendeu a respiração ao ouvir a voz de Scott. Eles conseguiram. Eles haviam entrado. Sentiu um alívio percorre-lo. -  tire dez mil da mesa.

Stiles sorriu de lado, pegando um dos montinhos na escrivaninha e guardando de volta em sua jaqueta.

- Talvez você devesse apenas aceitar o acordo. - disse Lydia.

A caçadora se aproximou dos dois, uma expressão divertida em seu rosto.

- Mesmo querendo aceitar os avisos de uma banshee, - sorriu. - eu vou ter que recusar.

- Ah, qual é, só nos dê o Derek. - Stiles deixou toda a frustração aparecer em sua voz. - Vocês não querem ele mesmo, acredite em mim. Ele é tão depressivo. Não tem nenhum senso de humor. Não gosta de conversar. É rude o tempo todo. - sourwolf, pensou, com um aperto no peito. - Vamos, só pegue o dinheiro.

A líder balançou a cabeça. Pegou um walk talk que estava na mesa e o aproximou de seus lábios, encarando os adolescentes enquanto falava.

- Severo? Mostre a eles como os Calaveras negociam.

***

Scott andava atendo por aquele corredor. Não sabia bem para onde estava indo, e era difícil tentar ouvir alguma coisa além daquela música alta da festa.

Isaac e Kira vinham atras dele. Kira tinha sua espada em sua mão, pronta para atacar qualquer um. Scott disse para Isaac tentar captar algum cheiro, mas tudo que os dois conseguiam sentir era a bebida e o suor naquele lugar.

De repente, ele parou. Uma fumaça começou a invadir o lugar, saindo de pequenos canos na parede, próximos ao chão. E então, a fumaça começou a sair de canos do teto. Em poucos segundos, era quase impossível ver alguma coisa além dela.

- Wolfsbane! - Scott gritou, alarmado. - É wolfsbane! Kira, saia daqui!

O Alpha viu o namorado cair no chão, tossindo por conta da fumaça. Não demorou muito para o mesmo acontecer com ele.

Viu uma figura se aproximar deles. Era difícil de enxergar, mas conseguiu identificar a mulher. A líder dos Calaveras.

- Alguém que tem sido Alpha por alguns meses devia ter mais cuidado ao encarar alguém que caça a quarenta anos.

Scott colocou a mão em sua garganta, sentindo-a queimar. Sua respiração era forçada, seu corpo todo parecia pesar uma tonelada, sua cabeça girava.

- Tudo o que queremos, - sua voz era áspera. - é o Derek.

- Ai, lobito. - ela sorriu. - Você está muito longe de casa.

Ao seu lado, Isaac caiu no chão, desacordado. Scott rugiu, parte por causa da dor que sentia, parte por causa da raiva. A caçadora não disse mais nada. Não teve reação. Algo estava estranho.

Foi quando Scott percebeu.

- Você também não sabe onde ele está.

***

Quando Scott acordou, sua cabeça ainda estava girando. Demorou um tempo para finalmente abrir seus olhos. Quando o fez, viu que estava deitado no chão duro e frio de um lugar que não conhecia, encarando o teto cinza do mesmo.

A segunda coisa que viu, foi Isaac sentado ao seu lado. O loiro percebeu imediatamente que o menor havia acordado e se inclinou para ele, olhando-o preocupado.

- Você acordou. - o alívio era claro em sua voz. - Pessoal, ele acordou!

Então Kira e Stiles entraram em seu campo de visão, ficando em pé em volta dele. Os três rostos o encaravam, preocupados e ansiosos.

- Scott, você está bem? - Stiles perguntou. Parecia agitado. Se abaixou ao lado dele, ajudando-o a se levantar, assim como Isaac.

- Eles não estão com ele. - Scott ignorou a pergunta, se sentando. - Eles não estão com o Derek.

- Nós sabemos. - disse Kira. - Mas agora, eles estão com a Lydia.

- Lydia? O que querem com a Lydia?

***

- Eu tenho que admitir: - a líder dos Calaveras falava enquanto servia mais café na xícara de Lydia. - eu não tenho muita experiência com banshees.

A ruiva suspirou.

- Então somos duas, - respondeu. - já que eu não tenho muita experiência sendo uma.

A caçadora assentiu com um pequeno sorriso, voltando sua atenção para seu prato à sua frente.

Lydia queria entender porque estava ali. Depois que os caçadores os capturaram, Lydia foi separada dos outros e levada ali, obrigada a comer alguma coisa com aquela mulher horrível. Não que ela estivesse comendo o que pediram para ela, mas ainda sim.

Estava em um pequeno restaurante ao ar livre. As pessoas andavam e viviam suas vidas normalmente, sem saber o que acontecia bem ao lado delas. Se perguntava o que aconteceria se ela simplesmente gritasse que estava sendo mantida em cativeiro. Provavelmente não era uma boa ideia.

- Tenho a sensação de que subestima suas habilidades, Lydia.

- Confie em mim, você teria mais sorte com cartas de tarô.

A caçadora sorriu.

- Vamos descobrir. Diga-me, - apontou para os dois caçadores que estavam ao lado da mesa delas, virados de costas, servindo de guardas. - qual desses dois homens está prestes a morrer?

***

- Scott, eu já disse que já tentei. - Isaac disse, observando o namorado tentar abrir a porta o máximo que podia, de novo. - Você mesmo já tentou. Três vezes. Tentamos por uma hora inteira. É inútil.

- Já procuramos por uma saída. - Kira complementou. Acho que muita gente já procurou. - apontou para as marcas de garras na parede.

- Temos que continuar tentando. - disse Stiles. - Temos que continuar procurando.

Scott suspirou, olhando para o amigo. Stiles não parava no lugar. Não havia parado de andar um segundo, procurando em todos os lugares possíveis por qualquer coisa que pudesse ajudar. O Alpha não se lembrava de ter visto o amigo tão hiperativo e ansioso quanto naquele momento, o que estava deixando todos ali nervosos e ansiosos também.

- Nós já procuramos. - Isaac repetiu. - Estamos aqui a uma hora.

- Exatamente! Nosso tempo está acabando! Daqui a pouco vão entrar aqui e nos matar, então temos que ir embora antes disso acontecer!

- Não acho que vão nos matar. - Scott se aproximou dele. - Quer dizer, não nos mataram até agora. Isso significa que Araya quer alguma coisa.

- Esse é o nome dela? - Isaac fez uma careta. - É horrível.

- Mas se os Calaveras não sabem onde Derek está, - disse Kira. - significa que não o sequestraram do loft, certo?

- Talvez ele tenha saído sozinho. - Isaac sugeriu, recebendo um olhar mortal de Stiles.

Scott negou com a cabeça.

- Talvez outra pessoa o tenha sequestrado.

***

- Como funciona? - Araya pegou uma faca e uma laranja, começando a descasca-la. - Você precisa toca-los? Talvez eu deva te dar um objeto pessoal deles? Ou é só uma sensação?

- Eu já te disse: eu não sei. - Lydia negou com a cabeça, sentindo um péssimo pressentimento.

- O quão perto da morte eles têm que estar? - deixou a laranja na mesa, mas continuou com a faca na mão, tamborilando os dedos nela.

Lydia sentiu uma sensação de urgência se espalhar por seu corpo. Sentiu um gosto amargo na boca enquanto olhava para os caçadores. Um deles estava se virando de frente para elas. Quando Lydia viu seu rosto, sabia que era ele.

E ela acertou. Araya arremessou a faca para o lado, atingindo o caçado no peito.

Lydia gritou, se levantando da cadeira e dando uns passos para trás. O caçador atingido tombou para frente, caindo de joelhos, e depois com o corpo todo no chão.

Ninguém interferiu. Ninguém na rua gritou ou fez nada. Lydia sentiu lágrimas em seus olhos.

- Por que você fez isso? - sua voz estava esganiçada.

- Ele roubou de mim. - Araya deu de ombros.

- O que você quer?

- Agora? - levantou uma sobrancelha. - Eu quero saber sobre Scott McCall. Eu quero saber que tipo de Alpha ele é.

***

Lydia foi levada de volta para dentro do prédio. Subiu com os caçadores até o terceiro andar, onde andou um longo corredor, até chegar na última sala.

Teve que segurar um grito quando entrou. Scott estava ali, preso a uma cadeira. Em suas mãos, haviam correntes grandes prendendo-o. Kira também estava lá, sendo segurada por um dos caçadores.

Scott parecia cansado, mas assim que viu Lydia, ficou rígido, alerta.

- Deixem ela ir. - falou. - Vocês tem a mim, deixem os outros irem.

Lydia foi presa a uma cadeira ao lado de Scott, mas as correntes prendiam suas pernas, não suas mãos.

- Ponha a mão aqui. - o caçador que segurava Kira pelo braço a empurrou até ficar de frente com uma máquina grande de metal, com vários botões. Scott não sabia o que era, mas tinha um péssimo pressentimento. - Então, me deixe explicar o que vai acontecer: essa aqui, - apontou para Kira. - a raposa, é imune à eletricidade. Então ela vai ligar a eletricidade no Alpha. Se ela não ligar, eu ligo na banshee.

- Não. - Kira tentou se soltar, sem sucesso. - Eu não vou fazer isso.

- Tem certeza? - o caçador sorriu. - Um dos seus amigos tem o poder de cura. O outro? Nem tanto.

- O que estão fazendo? - Scott perguntou, irritado. - Isso é um jogo para vocês?

- Isso é um teste, lobito. - Araya se pronunciou, andando em volta deles. - Vamos ver se você passa. Vamos fazer algumas perguntas. Se respondê-las, ninguém se machuca. Se não responder, vamos girar o botão.

Scott olhou para Kira, vendo o pavor em seus olhos.

- Faça o que mandarem. - disse a ela, tentando acalma-la. - Está bem? Qualquer coisa que quiserem. Eu posso aguentar.

Kira assentiu, ainda insegura.

- Então, -  a caçadora começou. - não sabemos onde Derek está. Nós também queremos achá-lo. Você sabe quem o pegou.

- O quê? - Scott franziu a sobrancelha. - Como eu saberia disso?

- Isso não me parece uma resposta.

- Nós não sabemos. - Lydia a interrompeu, havia raiva em sua voz. - Por que acha que viemos aqui?

Araya suspirou, frustrada.

- Kira, - aumentou a voz. - gire o botão.

A asiática negou fortemente com a cabeça, tentando se afastar.

- Devíamos ligar a eletricidade na Lydia então?

- Não, não! - Scott respondeu, alarmado, vendo Severo levar a própria mão até a máquina. - Kira, faça o que eles dizem.

Kira respirou fundo, arrumando coragem para fazer aquilo. Levou sua mão trêmula até o botão, segurando-o com força.

- Vamos começar com um. - Araya sorriu, seu olhar fixo em Scott.

Então Kira girou o botão.

***

Stiles levou um susto quando Isaac rugiu.

- O que foi? - perguntou, alarmado. - O que está acontecendo?

- Estão torturando ele! - Isaac andava pelos lados, nervoso. Estava assim desde que os caçadores haviam levado Scott e Kira e deixado os dois ali sozinhos. Stiles desconfiava que era ele quem estava deixando o loiro nervoso, já que ele mesmo estava andando pelos lados a horas. - Estão eletrocutando Scott!

Stiles suspirou. Isaac estava ouvindo tudo o que estava acontecendo. Aquela sensação de não poder fazer nada era horrível. Se sentir inútil já estava virando rotina para Stiles.

E a culpa o estava matando. Ele que tinha arrastado seus amigos para aquele lugar. Ele que tinha colocado todos em perigo. E agora eles ainda não sabiam onde Derek estava e Scott estava sendo torturado. Maravilha!

- Ela está dizendo que Scott sabe quem foi. - disse Isaac, morrendo de raiva e preocupação. - Ele ainda está sendo eletrocutado. Oh, Deus, ela vai matar ele.

- Não vai não. - Stiles se aproximou do loiro. - Scott aguenta, você sabe que sim. O que estão dizendo?

- Aumentaram a eletricidade. - a respiração de Isaac começou a aumentar. - Aumentaram para três.

- O que estão dizendo? - o menor insistiu.

- "Quem tem o poder?" - repetiu a fala que era provavelmente de Araya. - "Quem tem o poder de um metamorfo?"

- Por que ela acha que nós sabemos? - Stiles franziu as sobrancelhas. - Se soubéssemos, não teríamos vindo aqui!

- "Alguém que poderia ter se transformado sem você saber" - o loiro continuou repetindo. - "Transformado, mas não por uma mordida". O que isso quer dizer?

Stiles negou com a cabeça, sem entender. De repente, as luzes começaram a oscilar, e um zumbido de eletricidade começou a ser constante.

- O que é isso?

- Aumentaram a eletricidade. - Isaac correu até a porta, socando-a com raiva, rugindo, chutando-a, tentando abri-la. - Está em dez! Vão matar ele! Então matando ele!

De longe, Stiles pôde ouvir Scott rugir.

Isaac parou de repente, olhando para o chão com uma expressão confusa

- Eles pararam. - disse. - Acho que...

- O quê? - Stiles andou até o outro. - Por que pararam? O que aconteceu? O que Scott disse?

O beta franziu as sobrancelhas, demorando para responder.

- Ele disse... - engoliu em seco. - Kate.

***

Depois de um tempo, dois caçadores foram buscar Isaac e Stiles. Arrastara-os pelos corredores com brutalidade. Isaac pensou que seria a vez deles de serem torturados, mas eles simplesmente foram jogados para fora do prédio.

Isaac se impressionou com o fato de ainda ser dia. Tinha perdido a noção do tempo quando estava preso. Do lado de fora, na rua, viu Lydia e Kira paradas ao lado do jipe de Stiles. Ele e o menor correram até elas, se afastando dos caçadores assim que puderam.

- O que aconteceu? - Stiles perguntou quando se aproximaram.

- Vocês estão bem? - Kira deu um passo para frente examinando os amigos de perto.

- Onde está Scott? - Isaac olhou para os lados, eufórico.

- Que tal falarmos um de cada vez? - Lydia interrompeu a todos.

- Onde está Scott? - Isaac repetiu, impaciente.

- Não deixaram ele sair ainda. - explicou Kira.

- Como assim "não deixaram"?

- Nos deixaram aqui e nos disseram para esperar.

- E o que aconteceu? - Stiles voltou a perguntar.

Kira e Lydia se entreolharam, como se decidissem mentalmente o que deveriam falar.

- Kate está viva. - foi a ruiva quem respondeu.

- Como isso é possível? - o loiro franziu as sobrancelhas. - Peter não arrancou a garganta dela?

- Com as garras. - dava para ver as engrenagens se movendo na cabeça de Stiles . - É possível se transformar por um arranhão. E Peter era um Alpha naquela época.

- Gente! - Kira os interrompeu, apontando para o prédio dos Calaveras. - Estão deixando Scott ir.

Isaac se virou quase que imediatamente, seu coração batendo rápido. Scott havia acabado de passar pela porta, com Araya ao seu lado e outros dois caçadores atrás dele. Seu primeiro impulso foi correr até o Alpha, mas foi segurado por Stiles, que o disse para esperar.

Respirou fundo, obrigando-se a se acalmar. Aguçou sua audição de lobisomem para escutar o que o namorado estava dizendo.

- Então você vai simplesmente nos deixar ir?

- Eu mandei quatro homens para onde disseram que Kate está. - a líder respondeu. - Nenhum deles retornou. Vamos ver se você consegue se sair melhor.

Isaac sentiu raiva. Aquilo era tudo um jogo para aquela mulher?

- Você podia só ter me dito que ela estava viva. - Scott rebateu, e Isaac concordou com a cabeça.

- Você não teria acreditado em mim. - ela sorriu. Maldita. - E agora eu sei que tipo de Alpha você é. E qual será seu próximo passo.

Isaac franziu as sobrancelhas, confuso.

- Que próximo passo? - Scott também parecia confuso.

- Quando morder um inocente, quando transformar seu próprio lobo, quando fizer isso, eu vou atravessar sua fronteira e bater à sua porta. - e com isso, a caçadora se virou e entrou novamente no prédio, assim como os outros caçadores.

Quando Scott estava finalmente sozinho, Isaac correu até ele, abraçando-o com força.

- Hey, Isaac. - Scott abraçou o maior de volta, sentindo-se melhor quase que instantaneamente.

- Você está bem? - se afastou do abraço e examinou o corpo do outro, como se fosse achar uma ferida aberta a qualquer momento. - Eles te machucaram?

- Eu me curei. - Scott sorriu, apreciando a preocupação do maior. - Eu estou bem. Você está?

- Fisicamente? Sim. Mas estou mentalmente perturbado por ter passado uma hora inteira preso sozinho com o Stiles.

- Você me magoa. - Stiles apareceu atrás do loiro, com os braços cruzados. - E agora, Scott?

- Ela acha que sabe onde podemos encontrar o Derek.

- Sério? - Stiles franziu as sobrancelhas. Aquela mulher era cheia de surpresas. - Ela te disse onde?

- Na verdade, ela vai nos dar uma guia. - Scott deu de ombros, como se dissesse que não sabia o que aquilo significava.

Stiles estava prestes a perguntar quando um barulho alto assustou a todos ali. Uma moto se aproximou e parou ao lado deles. Isaac viu Stiles dar um pulo para trás com o susto e revirou os olhos. A moto não estava perto o suficiente para realmente atropela-lo, mas Stiles tinha aquele jeito exagerado de ser.

A pessoa que dirigia usava jaqueta e calças de couro, o que fez Isaac se sentir ainda mais sujo com as roupas surradas que usava. Percebeu que era uma mulher, e a reconheceu antes mesmo que ela tirasse o capacete.

- Você conhece ela? - Stiles perguntou para Scott.

- Breaden. - foi o loiro quem respondeu.

- Quem é Breaden? - Kira perguntou.

- É uma mercenária. - Lydia cruzou os braços.

- Ela salvou minha vida uma vez. - Isaac explicou.

- Bom, - Breaden se pronunciou. - nesse momento, eu sou a única que vai levar vocês à la iglesia.

- A igreja? - Lydia traduziu.

- O que é a igreja? - Stiles perguntou, ansioso.

Breaden suspirou.

- Não é um lugar onde vocês vão encontrar Deus.

***

Kira se remexia no banco, desconfortável. O grupo havia se separado de novo: ela e Lydia no carro da ruiva, e atrás delas, os meninos estavam no jipe. Todos eles estavam seguindo Breaden, que ia com sua moto bem a frente deles.

A garota não sabia bem se devia falar alguma coisa. Não sabia quem diabos era Kate, mas o sobrenome dela era Argent, então devia ser parente da Allison. E ela não estava ansiosa para perguntar sobre a amiga deles que havia morrido na semana passada.

- Você está bem? - Lydia se virou para a amiga. - Parece que tem alguma coisa te incomodando.

- Não! Não, não, não. - a garota sorriu, sem graça. - Está tudo bem.

- Tem certeza?

Suspirou.

- Tudo bem, eu tenho que perguntar: - respirou fundo, tomando coragem. - quem é Kate Argent?

- Oh. - Lydia voltou o olhar para a estrada. Kira não sabia dizer se a ruiva tinha se incomodado com aquela pergunta, seu rosto era neutro.

- Não tem que falar disso se não quiser...

- Não, não, está tudo bem. - fez uma pausa. - É a tia da Allison. E uma total sociopata. Kate foi a pessoa que incendiou a casa de Derek e matou a maior parte de sua família. Peter sobreviveu. E duas irmãs do Derek: Cora e Laura.

- Laura?

- Bom, a versão resumida é que Peter ficou em coma por vários anos por causa do incêndio. Quando voltou a si, matou Laura, que era uma Alpha, para que ele mesmo virasse um. Depois ele matou a Kate. Mas, aparentemente, ela sobreviveu.

- Isso é horrível. - Kira abaixou a cabeça. - E por que ela está aqui? O que ela quer com o Derek?

- Quem sabe. - Lydia deu de ombros. - O que uma vadia sociopata faria?

***

- O que é que aquela vadia sociopata quer com o Derek? - Stiles falava irritado enquanto dirigia. - Quer dizer, não basta ela voltar dos mortos. Ela ainda tem que sequestrar meu namorado e arrastar ele para o meio do nada de um deserto mexicano!

- Eu não acho que aqui é área de deserto. - disse Scott. - Quer dizer, pelas montanhas e por essas árvores, parece que...

- Scott, - Stiles o interrompeu. - você gosta de biologia, eu sei. Mas essa não é uma boa hora pra demonstrar seus conhecimentos!

- Okay. - Scott assentiu, ouvindo Isaac soltar uma pequena risada no banco de trás.

- Um conhecimento que seria útil agora - continuou o humano. - É: como diabos Kate sequestrou o Derek se nós vimos ela ser enterrada?

- Não vimos não.

- Nós fomos no enterro dela, Scott.

- Nós vimos o caixão. Lembra? Ela não estava dentro. Os Calaveras ouviram que Kate tinha morrido pelas garras de um Alpha. Eles queriam ter certeza que ela estava realmente morta. - fez uma pausa. - Mas seu corpo estava se curando. Cada vez mais, enquanto se aproximava da lua cheia. Ela estava voltando, então eles trocaram os corpos. Eles a levaram.

- E ela escapou deles? - Isaac perguntou.

- Se um caçador é mordido, ele precisa tirar a própria vida antes de se transformarem.

- Eles levam isso bem a sério. - Stiles assentiu, se lembrando de quando Allison os contou o que havia acontecido com sua mãe.

- Ela matou seis pessoas para escapar. - o Alpha continuou. - E agora...

- Agora ela é um lobisomem? - Isaac apoiou os braços nos bancos da frente, ficando no meio de Scott e Stiles.

- Eu não sei. - Scott admitiu. - Lembram do Jackson? Tem aquele ditado: "Às vezes a forma que você toma reflete a pessoa que você é."

- E qual seria a forma de uma vadia sociopata? - Stiles bufou, ainda com raiva. - O que ela sequer quer com o Derek? Matar sua família inteira não foi o suficiente?

- Talvez ela queria terminar o serviço. - Isaac sugeriu. - O que significa que Derek provavelmente já está mo... - ele se interrompeu ao ver o olhar mortal que Scott lhe lançava. - ah... quer dizer...

Mas Isaac não precisou pensar em outra coisa para falar. Stiles pisou violentamente no freio. Os garotos tiveram que se segurar para não serem jogados para frente.

- O que aconteceu? - Isaac praticamente gritou.

- Elas pararam. - Stiles apontou para o carro de Lydia à sua frente. Seu carro estava parado, a poucos metros do jipe. Se eles não tivessem freado imediatamente, teriam batido.

Os garotos desceram do carro ao verem que as garotas haviam descido, correndo até elas.

- O que aconteceu? - o loiro repetiu a pergunta.

- Adivinhem! - Lydia bufou, parecendo extremamente irritada.

- Estamos sem gasolina. - Kira explicou.

Stiles piscou, olhando para elas com uma expressão indignada.

- Vocês estão sem gasolina? - abriu os braços. - Estamos no meio do deserto, e vocês estão sem gasolina?

- Na verdade, - disse Scott. - a vegetação desértica...

- Scott! - o amigo o interrompeu, eufórico. - Ninguém liga para o bioma!

- Rude. - o Alpha murmurou para si mesmo, recebendo tapinhas de Isaac de consolação em seu ombro.

Breaden se aproximou com sua moto, parando ao lado deles e fazendo Stiles pular de susto, de novo.

  - Scott, - Breaden tirou o capacete. - temos que chegar antes de anoitecer. Caso contrário é muito perigoso. 

- Vamos no meu jipe. - o garoto se virou para as amigas.

- E o meu carro? - indagou a ruiva. - Não vou deixar meu carro no meio do deserto!

Stiles lançou um olhar mortal para Scott, impedindo que ele comentasse alguma coisa sobre o deserto antes mesmo de ele começar. O Alpha revirou os olhos e bufou, mas não disse nada.

Foi Breaden quem se pronunciou.

- É mais perigoso vocês ficarem aqui com o carro. E nós temos que ir, agora. Não temos tempo a perder.

- Eu concordo. - Stiles balançou a cabeça. - Todo mundo no jipe. Vamos, vamos, vamos.

- Mas e o meu carro!? - Lydia choramingou, mas acabou aceitando. - Nós vamos voltar para o meu carro o mais rápido possível!

- A gente ainda tem que conseguir gasolina para ele. - Stiles negou com a cabeça, em reprovação. - Como é que vocês ficam sem gasolina no meio do deserto? Que falta de responsabilidade.

Todos entraram no jipe. Stiles e Scott nos bancos da frente, e os outros reclamando de estarem apertados no banco de trás. Stiles deu partida no carro. Viu Breaden começar a dirigir com a moto e se afastar deles e a seguiu. Deu a volta no carro de Lydia, vendo o carro ficar distante pelo vidro retrovisor.

 Não demorou muito até outra coisa acontecer.

Um barulho alto foi ouvido, como um tiro. O jipe começou a tremer mais que o normal e o cheiro da fumaça invadiu o ar. Stiles pisou no freio, parando o carro imediatamente.
 

Os cinco desceram do carro, tossindo por conta da fumaça. Stiles viu Breaden dar meia volta com a moto, voltando a se aproximar do jipe.

- O que foi agora? - a mercenária parecia irritada.

- Eu não sei. - Stiles levantou e começou a checar a frente do jipe. - Parece que batemos em alguma coisa.

- Não temos tempo pra isso! - bufou. - Scott, o sol vai se por daqui a pouco, nós temos que chegar na igreja antes disso!

- Eu vou então. - o Alha deu um passo para frente.

- Você vai sozinho? - Isaac cruzou os braços, claramente não gostando da ideia.

- Não, ele não vai. - Stiles foi mais rápido. - Eu tenho que ir.

- Só um pode ir comigo. - Breaden apontou para traseira de sua moto.

- Então eu vou. - o menor cruzou os braços.

- Stiles... - a voz de Scott morreu, como se ele não soubesse o que dizer.

- Garoto, - a mercenária foi mais rápida. - se quer salvar Derek, devia deixar o Alpha ir.

Stiles sentiu como se tivesse acabado de levar um soco. Era isso. Tudo se resumia a isso. Ele era fraco demais para ajudar Derek, ainda mais salva-lo.

O garoto abaixou a cabeça, sentindo-se meio humilhado de repente. Sentia os olhares de todos ali em si. Podia quase ouvir os pensamentos deles. Os pensamentos de pena. "Pobre Stiles, ele só queria ajudar."

- Tem razão. - concordou, tentando não parecer tão afetado por aquilo quanto ele realmente estava.

- E também, - Scott deu um passo na direção do amigo. - nós vamos precisar do jipe para voltar. Ninguém aqui além de você sabe como consertar.

Stiles viu seus amigos assentirem, concordando com o Alpha. Talvez ele devesse apreciar o esforço de seus amigos em consola-lo, mas, naquele momento, se sentia no ápice de sua inutilidade.

Bom, ser inútil já é meio que uma coisa padrão na minha vida mesmo. - pensou consigo mesmo.

Eu sou muito dramático. - se rebateu.

- Eu conserto o jipe, você salva ele. - Stiles estendeu a mão para Scott, que retribuiu o toque.

- Pode deixar.

Com o canto do olho, Stiles viu Isaac e Scott se abraçarem e se despedirem. O loiro disse algo como "vou te bater se você morrer", ou algo assim, que Stiles não prestou muita atenção.

Ver a moto de Breaden se afastar, deixando um rastro de fumaça atrás, foi extremamente doloroso. Mas o garoto simplesmente engoliu o nó em sua garganta e respirou fundo,mantendo-se calmo.

Dez dedos. Cinco dedos em cada mão.

Ele tinha que consertar o jipe.

- Você sabe mesmo como consertar isso? - Kira perguntou, um pouco insegura.

- Vamos esperar que sim. - Stiles abriu o capô do carro, sentindo a fumaça em suas narinas.

Quinze minutos se passaram e Stiles ainda não tinha nem ideia de qual poderia ser o problema. Havia pegado suas ferramentas no porta malas, e sua fita adesiva. Naquele ponto, ele estava somente curvado sobre o capô, batendo a chave de fenda em alguns lugares esperando que alguma coisa acontecesse, enquanto segurava a fita adesiva com a boca.

Ele pegou a fita com uma mão, liberando sua boca.

- Tente agora, Lydia! - gritou para a amiga, que estava dentro do carro, sentada no banco do motorista.

A ruiva assentiu, dando a partida no carro. O jipe tremeu um pouco, mas nada mais aconteceu. O garoto suspirou, frustrado. Colocou a fita de volta em sua boca e voltou a bater a chave de fenda no motor.

- Stiles? - Kira chegou perto do amigo. - Tem certeza que você pode consertar isso?

- Aham... - a voz do humano saiu abafada por causa da fita.

- E se você não puder?

- Ahm famhs hofher mo mehiom doh deferfoh.

A Kitsune revirou os olhos, tirando a fita da boca do amigo.

- O quê?

- Eu disse que vamos morrer no meio do deserto.

- Ótimo. - deu uma risada nervosa. - Muito bom.

- Stiles! - a voz de Isaac interrompeu a conversa. O loiro estava agachado no chão, observando o pneu do carro. - Eu não acho que batemos em alguma coisa.

O loiro enfiou a mão de baixo do jipe. Fez uma careta, como se estivesse fazendo muita força, e então puxou algo para fora.

Stiles arregalou os olhos. Aquilo era... uma faca?

Bom, claramente parecia uma faca. Mas era como se fosse uma faca feita pelos antigos astecas. Era branca, como se fosse feita de algum tipo de pedra, ou... ossos. Tinha alguns detalhes esculpidos nela, e uma corda fina a envolvendo.

Isaac se levantou, mostrando a faca para todos ali.

- Eu acho que alguma coisa bateu em nós.

***

- Uau. -  foi tudo o que Scott conseguiu dizer quando viu onde Breaden o havia levado.

Era uma cidade. Bom, uma cidade bem pequena. Era como se fosse um vilarejo antigo, com várias casas e uma igreja no centro. Quando Scott observou mais atentamente, viu que as casas estavam destruídas. Não passavam de ruínas.

- La iglesia. - Breaden desceu da moto, ficando ao lado do Alpha.

- O que aconteceu aqui?

- Um terremoto. Destruiu a cidade.

- Por que a igreja ainda está de pé?

- O pessoal daqui acha que é pelo que tem embaixo.

- Eu quero saber?

- A igreja foi construída em cima das ruínas de um templo asteca. Pertencia a um povo chamado Nagual.

Scott franziu as sobrancelhas.

- Transmorfos?

- Homens jaguar.

Houve um momento de silêncio.

- Então o Derek e a Kate estão lá?

- Não sei. Nunca cheguei tão longe antes.

***

- Talvez a gente devesse ir a pé. - Lydia bufou.

Stiles cuspiu a chave de fenda que segurava com a boca.

- Eu nunca vou abandonar este jipe! Entendeu? Nunca!

- Então você devia ir mais rápido. - disse Isaac. Seu olhar era concentrado, fixo nas montanhas.

- É fácil falar. - o garoto revirou os olhos.

- Tem alguma coisa aqui com a gente. - o loiro explicou. - Posso sentir o cheiro. Estão nos observando.

***

Não demorou muito para anoitecer depois daquilo. Kira agora estava com a sua espada em mãos. Ela e Isaac meio que estavam fazendo a função de guarda costas para Stiles e Lydia. E o jipe, é claro. O mais importante era o jipe.

- Lydia, - disse Stiles, aborrecido. Agora ele estava praticamente em cima do capô, tentando encontrar alguma posição que o ajudasse. - você pode segurar firme a lanterna por um segundo? É bem difícil de ver quando você fica tremendo assim.

- Eu estou tremendo assim porque estamos no meio do nada com seu jipe quebrado, - sua voz subia descia alguns tons com o nervosismo. - e estamos sendo atacados por um outro monstro com garras afiadas. Eu estou morrendo de medo.

- Bom, então morra um pouco menos de medo.

Lydia apensa lhe lançou um olhar irritado, que Stiles ignorou.

- E segure isso. - o garoto entregou uma das peças do carro à amiga.

- O que é isso?

- Eu não sei. - admitiu. - Espero que não seja importante.

- Oh, Deus. -  garota murmurou para ela mesma. - Nós vamos morrer.

- Você está tendo aulas de otimismo com o Isaac?

- Eu ouvi. - Isaac disse, ainda de costa para os amigos. - E ela está certa, Stiles. Estamos todos morrendo de medo.

- Eu não estou. - deu de ombros.

- Stiles, - Lydia bufou. - você tem déficit de atenção e hiperatividade. Você tem pouca noção de perigo.

- Touché.

- Não fala isso para ele. - disse Isaac. - Agora ele vai ficar usando isso como argumento.

- É tipo o seu argumento do freezer. - Stiles revirou os olhos.

- Desculpe se minha infância traumática é um argumento que você não consegue rebater.

- Ninguém conseguiria! Esse argumento é trapaça.

- Parem vocês dois! - Lydia gritou em um sussurro. - Stiles, conserte o jipe. Isaac, ajude a Kira a não deixar o monstro nos matar. E eu vou segurar a lanterna. Todos têm uma função aqui!

- Desculpa, Lydia. - Stiles se voltou para o motor do jipe. - É que eu tenho déficit de atenção.

- Eu avisei. - disse Isaac, voltando a ficar de costas para o carro.

- Você viu aquilo? - Kira se aproximou de Isaac, apontando para um ponto bem a frente deles.

- Não dá para ver nada. - o loiro reclamou. E ele tinha razão, o único motivo pela qual eles não estavam no escuro total era os faróis do jipe. - Devíamos ter trazido mais lanternas.

Kira ficou em silêncio, pensativa. Stiles viu com o anto do olho a garota se aproximar dele com a espada. Não entendeu o que ela estava fazendo a princípio. Ela colocou a espada na frente do farol do carro e ficou ali, como se esperasse algo aconteceu.

Então Stiles entendeu. Ela estava usando seus poderes para passar a luz do farol para a espada. Ela havia transformado a espada em uma lanterna!

- Uau. - exclamou, impressionado.

- Stiles! - Lydia o repreendeu. - Foco!

O garoto revirou os olhos e voltou ao trabalho.

Kira voltou a ficar do lado de Isaac, agora com sua espada-lanterna.

- Você viu isso? - sussurrou para o loiro.

- Devíamos ataca-lo?

A próxima coisa que Stiles percebeu foi Isaac e Kira correndo para longe.

- Isaac! - Stiles gritou. - Essa é uma péssima ideia! Kira!

- Stiles! - Lydia estava extremamente nervosa. - Deixe as criaturas sobrenaturais se entenderem. Conserte o jipe!

- Mas eles...

- Concentre-se, Stiles!

Concentre-se. - uma voz ecoou na mente do garoto.

Stiles respirou fundo. Ele tinha que consertar o jipe, para que eles pudessem sair dali vivos e encontrar Derek, que também estava vivo. Todos estavam vivos. Todos iam ficar bem.

Ele olhou para o motor à sua frente, se lembrando de quando havia ganhado. Ele era de sua mãe. Quando o ganhou, seu pai lhe deu uma aula completa de como ele funcionava, e o que fazer se alguma coisa desse errado.

Mas ele não entendia o que estava errado. Tinha consertado o estrago que a faca havia feito no jipe. Então por que aquilo ainda não funcio...

Stiles se inclinou para trás. Tinha alguma coisa faltando ali. O que estava faltan...

- AH! - ele exclamou de repente, fazendo a ruiva pular de susto.

- Stiles! - ela também gritou. - O que foi?

- Eu sei o que está faltando! - o garoto olhou pelos lados, procurando a peça que havia entregado para Lydia mais cedo. Quando a achou, no teto do jipe, a agarrou e a colocou em seu devido lugar, usando a chave de fenda para prende-la.

- Lydia, - disse. - entra no carro e dá a partida.

- Você está de brincadeira comigo. - a garota praticamente rugiu. - Você mesmo que tirou essa peça, Stiles!

- E eu esqueci de colocar de volta. - admitiu. - Anda, dá a partida.

A ruiva soltou um grunhido de frustração e raiva. Abriu a porta do jipe e sentou no banco do motorista, dando a partida.

Funcionou! O jipe começou a tremer, e fez aquele barulho de quando um carro está funcionando. Stiles ficou feliz, depois assustado com a quantidade de palavrões que saíram da boca de Lydia.

Agora precisamos de Isaac e Ki... oh. - interrompeu seus próprios pensamentos ao ver os dois amigos correrem de volta. Isaac estava apoiado na garota, correndo com dificuldade. Ele havia sido atingido.

- Você está bem? - Stiles perguntou, correndo até ele.

- Você está preocupado comigo? - Isaac tentou disfarçar a dor em sua voz, sem sucesso.

- Não. - Stiles cruzou os braços. - Eu só não quero que você sangre no meu jipe ou algo assim.

- Eu não acho que tenho muita escolha. - Isaac saiu do apoio de Kira, demorando um pouquinho para se equilibrar sozinho. Então mostrou sua barriga, que estava com um corte profundo.

- Uau, o que aconteceu? O que era?

- Eu não sei. - admitiu. - Mas tem uma boa mira.

Lydia desceu do jipe.

- Então por que ainda estamos aqui?! - Lydia balançou os braços no ar, exasperada. - Parece até que vocês querem morrer no meio do deserto!

- Ela tem razão. - disse Kira. - Vamos.

- Bom, fica a lição, gente. - Stiles falava enquanto andava até o jipe. - Façam como eu: sempre levem gasolina extra no porta-malas do carro.

Stiles percebeu que todos os seus amigos pararam de repente, num tranco. Olhou para os lados, procurando algum monstro que pudesse estar se aproximando ou coisa do tipo, procurando o motivo do comportamento dos outros. Olhou para eles, sem entender. Até que percebeu que todos o estavam encarando.

- O que foi? - perguntou, receoso.

- Stiles, - o esforço que Lydia estava fazendo para não gritar era evidente. - tem gasolina no seu porta-malas?

- Claro que tem, eu nunca ando por ai sem gasolina extra. - deu de ombros. - Por quê?

- Quer dizer que a gente podia ter ido embora horas atrás? - foi Isaac quem perguntou, já que Lydia estava muito ocupada batendo a mão na própria testa.

- Oh. - Stiles piscou, perplexo.

Oh, Deus. Eu sou um imbecil.

- Ah... - coçou a nuca. - Eu acho que... quer dizer... é... sim.

- Stiles! - a voz dos três amigos soou em uníssono.

- Me desculpem! - ele gritou de volta, andando até o porta-malas. - Eu tenho déficit de atenção!

Enquanto abria a traseira do carro, parte dele esperava que a gasolina não estivesse lá. Assim ele não seria o idiota que quase fez todo mundo ser morto.

Mas, olha que surpresa, ela estava lá. Três garrafas cheias. O garoto se sentiu ainda pior quando os três amigos se reuniram ao seu redor. Todos olhando a gasolina ali.

- Eu vou te matar, Stiles. - Lydia murmurou, pegando uma das garrafas e andando até seu carro.

***

Stiles não culpou Isaac e Kira por terem escolhido ir no carro de Lydia. Não mesmo. Ele faria o mesmo nessa situação.

O que estava acontecendo com ele? Esqueceu da gasolina, esqueceu do jipe. Estava ansioso demais, sempre tamborilando os dedos, ou andando para os lados. Estava mexendo os dedos freneticamente do volante enquanto pensava no assunto!

Ele tinha pensado que a ansiedade e o nervosismo eram por causa de toda a situação Derek-foi-sequestrado-pelos-Calaveras-mas-na-verdade-foi-a-Kate-que-deveria-estar-morta. Mas agora começava a pensar que talvez Lydia tivesse razão.

Quer dizer, Lydia sempre tinha razão, mas e se for realmente culpa do TDAH? Ele havia passado anos usando o Adderall para controlar os sintomas. A falta de atenção, as ações impulsivas, não parar de se mexer por um segundo.

Mas no último mês, ele havia sido possuído por uma raposa psicótica que realmente não se importava se ele tinha medicamentos para tomar todos os dias. E não é como se uma pessoa que parou de tomar possa simplesmente começar de novo sem falar com um médico. Então, sim, ele estava mais hiperativo que o normal.

Tinha se esquecido de como era sem o remédio. Sem conseguir se concentrar, sem conseguir manter uma linha de raciocínio.

Estava tão perdido em seus pensamentos que quase não percebeu quando o carro de Lydia, que estava à sua frente, pegou uma saída ao invés de continuar reto na estrada.

Pegou a saída também, seguindo o outro carro. Retirou seu celular do bolso, discando o número de Lydia.

- Stiles? - a ruiva respondeu.

- Onde você está indo? Não devíamos continuar reto?

- Não. Confie em mim, eu sei para onde estou indo.

- Sabe?

- Eu não sei como eu sei, Stiles. Vocês todos já deviam estar acostumados com isso.

- Vai começar a usar o argumento de ser uma banshee sempre que quiser ter razão para ninguém te questionar?

- Eu não preciso ser uma banshee para sempre ter razão, Stiles.

No fundo da ligação, Stiles conseguiu ouvir a voz de Kira.

- Eu queria ter um argumento. - e então a ligação foi encerrada.

Stiles riu levemente. Continuou seguindo o carro de Lydia pelo que pareceu mais vinte minutos até que percebeu que estavam chegando em algum lugar.

Parecia uma cidade, só que muito antiga e completamente destruída. Os carros foram passando no meio dos destroços, indo na direção da igreja, que era a única construção que ainda estava em pé.

La iglesia.

Assim que eles estacionaram em frente a construção, duas pessoas saíram pela porta principal Stiles as reconheceu na mesma hora. Scott e Breaden. E eles carregavam outra pessoa.

- Derek! - o garoto exclamou, correndo até eles.

Derek estava bem. Ele provavelmente só estava machucado. Stiles sentiu um alívio percorrer seu corpo. Mal podia esperar para abraçar o namorado, beijá-lo, e...

Opa.

Stiles parou de correr de repente. Alguma coisa estava muito errada ali.

A pessoa que Scott e Breaden carregava era pequena demais para ser Derek, e muito magra. Era um garoto, parecia ter a idade de Stiles, talvez mais novo.

- Quem é esse? - Isaac se aproximou também, junto com as garotas.

Stiles não pôde evitar dar alguns passos para trás, em choque. Aquele garoto estava meio acordado. Levantou a cabeça, zonzo, sem saber o que estava acontecendo.

Aquele rosto.

- Derek? - murmurou, mais pra si mesmo do que para os outros.

Oh, aquele era Derek.

Mais ou menos.