1. Spirit Fanfics >
  2. Trust me >
  3. O Cofre

História Trust me - O Cofre


Escrita por: LauraEllyse

Notas do Autor


OEEEEEEE, OLHA EU DE NOVOOOOOOO

Capítulo 41 - O Cofre


Derek ainda estava com a cara fechada quando chegaram na casa de Stiles. O garoto ainda estava rindo pela conversa no carro. Na verdade, ele nunca ia parar de rir daquela conversa.

- Okay, - ele disse enquanto entrava na casa. - Vamos esperar o Scott aqui. Vamos ficar quietinhos. Não vamos ligar, nem conversar com ninguém, okay?

- Eu não ia querer falar com você mesmo. - Derek o seguia, irritado. - E quem vai falar com ele?

O beta apontou. Stiles pulou de susto quando viu quem mais estava ali. O agente McCall estava ali, segurava um saco de papel nas mãos, do tipo que embrulham comida em restaurantes. Olhava para os dois garotos com uma expressão surpresa.

- Você está cada vez mais alto. - Stiles reclamou, seu coração batendo rápido por conta do susto.

- O que vocês estão fazendo aqui? - o agente colocou a mão livre no bolso.

- Esperando pelo Scott. - Derek respondeu, completamente ignorando a regra de Stiles de não falar com ninguém.

- É, eu também. - McCall suspirou. - Devíamos jantar juntos.

Stiles franziu as sobrancelhas. McCall tinha comprado o jantar para Scott? Mas ele não estava ignorando o pai? E todo aquele negócio de pai homofóbico que Scott o contou?

 - Eu comprei comida para três, - o agente continuou. - estão com fome?

- Sim. - Derek respondeu, ao mesmo tempo que Stiles disse:

- Não. - lançou um olhar de reprovação para o beta. - Não, não estamos com fome.

- Eu estou morrendo de fome.

- Nenhum de nós está com fome. Mas, obrigado.

- Okay, - o agente assentiu. - se você não está com fome, Stiles, seu amigo pode comer com a gente. Como você se chama?

Derek estava prestes a falar, mas Stiles foi mais rápido.

- Miguel! - apontou para o outro. Teve um flashback do ano anterior e revirou os olhos mentalmente. Não acreditava que estava fazendo aquilo de novo. - É o meu... meu primo... Miguel. Do México.

Mini-Derek, ao contrário do Grande-Derek, riu. E ainda por cima concordou! Isso comprovava que o jeito rabugento do lobisomem veio com a idade.

¿Usted es natural del México, Miguel? - perguntou McCall.

- Ah meu Deus. - Stiles murmurou, arregalando os olhos.

McCall sabia falar espanhol. Claro, claro que ele sabia. Por que Stiles não pensou nessa possibilidade? Por que falou que Derek era do México? Burro, Stiles. Burro, burro, burro...

Mas então, a coisa mais surpreendente aconteceu. Derek respondeu.

No soy nativo, pero vivi mucho tiempo allí.

Stiles não teve nem reação. Derek falava espanhol!

Oh, ele ia se lembrar disso também. Interessante, muito interessante.

- Fantástico. - McCall sorriu. - Quer um rolinho?

- Com certeza. - o beta sorriu, andando até a mesa junto com o agente.

Stiles riu de nervoso. Mini-Derek era rebelde e atrevido, aquilo ia ser mais difícil do que Stiles havia pensado. Estava lidando com um Derek completamente diferente.

- Arroz frito de camarão ou lombo? - o mais velho abriu o saco de papel na mesa, mostrando as opções.

- De camarão.

Fantástico. - Stiles pensou consigo mesmo.

***

Não é como se Scott estivesse ignorando Isaac. Quer dizer, ele não olhava o loiro diretamente nos olhos, mas isso não era um problema. Eles moravam juntos, mas...

Tudo bem, era um problema.

A viagem até a casa de Peter foi extremamente silenciosa e constrangedora. Toda vez que Scott pensava em dizer alguma coisa, desistia alguns segundos depois. O que ele realmente tinha que dizer era "me desculpe por ser um idiota e fazer uma cena na escola". Ele ia ter que se desculpar em algum momento. Provavelmente só seria depois que toda a situação com Derek acabasse e ele não tivesse mais nenhuma outra desculpa.

Quando chegaram, simplesmente arrastaram o grande portão para o lado e entraram, sem bater dessa vez. Em sua jaqueta, Isaac carregava os cinco montinhos de dinheiro de Peter.

- Quando foi que vocês se tornaram tão rudes? - Peter apareceu, com os braços cruzados.

- É urgente. - Isaac pegou o dinheiro e o jogou no sofá.

- Suponho que comprar Derek não tenha dado certo.

- Não foi preciso. - disse Scott. - Derek não estava com os Calaveras.

- Então ele está desaparecido? - Scott pensou ter ouvido preocupação na voz do mais velho, mas logo descartou a possibilidade.

Os adolescentes se entreolharam, como se decidissem mentalmente como iriam dar a notícia. Foi Isaac quem tomou a iniciativa.

- O que você sabe sobre pessoas que se transformam por um arranhão?

Peter franziu as sobrancelhas.

- Você arranhou alguém, Scott? Não se preocupe, as garras têm que penetrar bem fundo. O que isso tem a ver com Derek?

- Mas é possível. - o Alpha insistiu. - Como se você rasgar a garganta de uma pessoa.

- Bem, - Peter deu de ombros. - sim, é possível. Mas também é mais do que raro. Estamos falando de um em um... - foi quando Peter entendeu. - milhão.

***

- Então, - disse o agente McCall, a mão na frente da boca para esconder o fato de que ainda estava comendo. - Miguel, qual você disse que é seu sobrenome mesmo?

- É... - Stiles foi mais rápido, sua boca também estava cheia de comida. - Juarez... Cinqua... Tiago.

Derek teve que segurar a risada. Aquela situação estava ficando melhor a cada momento.

- Esse é um sobrenome grande. - McCall percebeu. - Como se escreve?

Derek olhou para Stiles com satisfação, querendo saber como o garoto ia responder aquilo. Stiles pediu ajuda com o olhar, mas o beta apenas deu de ombros, mandando o outro se virar sozinho.

- Foneticamente. - foi o que ele acabou respondendo, como se fosse uma coisa óbvia.

O beta revirou os olhos, rindo. De repente, percebeu uma coisa em cima da mesa. Um distintivo. Um distintivo do FBI. Derek viu a oportunidade.

- Sr. McCall, você é um agente do FBI.

- Ele é um nível baixo. - Stiles parecia nervoso. - Bem baixo. Não tem nem voz.

- Então você investiga assassinatos? - Derek ignorou o outro.

- Às vezes. - o agente respondeu. - Quando é um crime federal.

- E incêndios?

- Ah, meu Deus. - Stiles começou a falar, eufórico. - Sabe, onde será que o Scott está, em? Scott já não devia ter chegado? Nós devíamos ligar para o Scott!

Stiles pegou seu celular e começou a mexer nele, parecendo levemente desesperado. Mas Derek e o agente apenas o ignoraram.

- De que tipo de incêndio você está falando?

O beta respirou fundo.

- Sabe alguma coisa sobre a família Hale?

***

- Será que ninguém fica morto nessa cidade? - Peter bufou.

- É tão irônico você reclamar disso. - Isaac sorriu.

- Sabe por que a Kate transformaria o Derek em um adolescente de novo? - perguntou Scott.

Houve um momento de silêncio.

- De que cor estavam os olhos dele?

- Azuis.

- Depois da Paige. - Peter estava pensativo. - O que significa que pode ser na época que ele conheceu Kate.

- O quê? - os dois garotos perguntaram ao mesmo tempo.

- Derek e Kate se conheciam? - o Alpha franziu as sobrancelhas.

Peter riu com amargura.

- Biblicamente. Pois é, Scott. Você não foi o primeiro lobo a se deitar com uma caçadora.

***

Stiles sentia as garras de Derek em seu pescoço enquanto era prensado contra a parede. O beta rosnava, sua respiração era rápida. Naquele momento, Stiles queria não ter irritado tanto Derek.

O garoto se achava um idiota por tê-lo levado à casa de Scott, e não à sua casa. Não teria nenhum agente idiota para dizer que toda a família de Derek tinha morrido naquele incêndio. O garoto tinha levado Derek para o quarto de Scott, para que eles pudessem conversar em paz. Mas Derek tinha outros planos.

- Okay, eu não menti. - Stiles engoliu em seco. - Só omiti algumas verdades. Verdades importantes, agora que estou pensando direito.

Derek rosnou e o soltou, dando alguns passos para trás.

- Eu não quero falar com você! Eu quero falar com o Alpha! Eu vou falar com o Scott!

- Okay, okay. - Stiles se desencostou da parede, erguendo os braços para acalmar o outro. - Meu celular está lá em baixo. Eu vou lá pegar. É rapidinho. Fique aqui, não se mexa, okay? Não se mexa.

***

- Okay, - Peter andava enquanto falava. - Derek foi até a casa achando que ainda estaria lá, certo?

- Isso. - Isaac concordou. - Ele não se lembra do incêndio.

- Mas se ele não se lembra do incêndio, então ele não se lembra que foi Kate que o causou.

- E o que significa?

- Kate não só o fez voltar a ser um adolescente, - ele parou de andar. - ela o levou de volta para a época em que ele ainda a conhecia. Quando ainda confiava nela.

- Então ela vai atrás dele. - Scott pegou o celular em seu bolso. - Temos que avisar o Stiles.

- Se Kate for atrás do Derek, - cruzou os braços. - Stiles não tem nem chance.

Scott não perdeu tempo. Por sorte, tinha o amigo na discagem rápida. O celular tocou algumas vezes antes de ser atendido.

- Scott! - Stiles parecia irritado. - Eu ia te ligar agora mesmo. Eu odeio o seu pai.

- Stiles... espera, o quê?

- Seu pai está aqui na sua casa, trouxe o jantar pra você, ou qualquer coisa assim.

- Ah... - Scott lançou um olhar para Isaac. - é verdade, eu esqueci que...

- Que ótimo, Scott! Porque seu pai contou sobre o incêndio!

- Sério? E como ele está? Ele saiu daí? Nós achamos que Kate vai atrás dele.

- Wow, calma. Não, ele está no seu quarto. Está emocionalmente abalado, mas vai ficar bem. Vocês acham que a Kate vai vir encont...

De repente, Stiles simplesmente parou de falar. Os três lobisomens se entreolharam, sem entender.

- Stiles? - Scott chamou, preocupado. - Stiles?

- Talvez você tenha razão. - o Alpha podia ouvir a respiração rápida do amigo. - Scott, ela levou ele! Ela levou ele!

- O quê? Agora?

- Nesse exato momento! Eles pularam a janelado do seu quarto. Eu vou seguir eles.

- Stiles, esper...

- Eu tenho que ir! - foi a última coisa que ele disse antes de desligar a ligação.

- Stiles! - Scott bufou para o celular.

- Ótimo. - Isaac se pronunciou. - Ele vai morrer.

- Estamos perdendo tempo. - Peter deu um passo para frente. - Temos que ir, agora.

Ele e Isaac correram em direção à saída, mas Scott os impediu.

- Espera! - gritou, o que fez os betas pararem de correr.

- Esperar o quê? - Peter estava eufórico. - Kate está abrindo caminho na cabeça de Derek. De novo. Da última vez que isso aconteceu, eu fiquei em coma por anos! Temos que encontra-los.

- Como? - o Alpha andou até eles.

- Podemos tentar capturar o cheiro deles. - Isaac sugeriu.

- Isso pode levar horas. Para ficarmos um passo à frente, temos que saber onde estão indo.

- Sem querer subestimar minhas capacidades cognitivas, - disse Peter. - mas não somos exatamente gênios, somos?

Scott pegou seu celular novamente e o mostrou para os betas.

- Então talvez devêssemos ligar para um.

Isaac entendeu.

- Lydia.

O Alpha assentiu. Discou o número da ruiva e esperou.

- S-scott? - a voz da garota era tremida. Scott ficou tenso no mesmo momento.

- Lydia? Você está bem?

- Ah... não? Quer dizer, eu estou melhor do que ele.

- Ele quem?

A ruiva não respondeu. Scott ouviu alguns barulhos no fundo, e a voz de Kira apareceu na linha.

- Hey, Scott. - ela também parecia abalada. - Ah... é a Kira. Eu e a Lydia saímos da escola, e paramos para abastecer o carro. E... bom, tem um cara morto no banheiro.

- O quê?

- Bom, na verdade, morto é eufemismo. Tem um cara massacrado no banheiro. Lydia o encontrou, ela acha que foi a Kate. - barulhos no fundo. A voz de Lyda voltou para a linha.

- Eu sei que foi. - a ruiva engoliu em seco. - Ligamos para o xerife. Eles estão à caminho.

- Como está? Pode nos mandar fotos?

- Ah... está bem. - Lydia respirou fundo. - Mas... para ser sincera, eu tirei nota máxima em Biologia Avançada, e há partes da anatomia humana que eu nunca vi antes nessas paredes.

A ligação foi encerrada. Poucos segundos depois, Scott recebeu as fotos em seu celular. Seu estômago revirou um pouco. Aquele cara não foi só assassinado, ele foi desmembrado, rasgado, mordido. Pedaços de seu intestino e cérebro estavam espalhados pelo chão. Sangue nas paredes. O rosto era irreconhecível.

- Oh, Deus. - Isaac virou o rosto quando Scott mostrou as fotos. - Por que ela mataria esse cara?

- Ela não conseguiu evitar. - disse Peter. - Foi num frenesi. Não foi assassinato, é um sintoma.

- De quê? - Scott franziu a testa.

- Ela não consegue se controlar.

- Derek disse que tinha esse mesmo problema na lua cheia. Que ele ainda está aprendendo.

- Então Kate é como o Derek? - perguntou Isaac. - Ela ainda está aprendendo?

- Ela quer aprender. - Peter corrigiu.

- Então ela quer a ajuda de Derek? Esse é um péssimo plano.

- Essa não é o plano. - Peter sorriu, como se finalmente entendesse tudo. - Ela quer o Triskele.

- Ela quer o quê?

Peter riu. Isaac e Scott trocaram olhares, confusos.

- Kate é uma idiota. - ele falava mais consigo mesmo do que com os outros. - Isso é hilário...

- Se importa de nos explicar? - Isaac cruzou os braços. - O que é o Triskele? Aquela tatuagem que o Derek tem nas costas?

- É o símbolo dos Hale. - Peter explicou. - Mas o que ela quer, é um objeto com um Triskele esculpido. Nós usávamos para ensinar controle para os mais novos.

- Isso é bom. - Isaac admitiu.

- É, mas não funciona. É só um objeto de concentração. Ele podia ser substituído por um lápis. Mas Kate acha que... - o mais velho riu de novo, amargo. - Oh, Kate...

- Como ela sabe disso? - perguntou Scott.

- Derek deve ter contado para ela quando tinha essa idade. Não importa, eu sei para onde eles vão. Eles vão para o cofre.

- Cofre?

- O cofre dos Hale.

***

Depois de muito dirigir sem rumo, Stiles finalmente desistiu. Estacionou o jipe no primeiro espaço livre que achou e ficou ali, sua boca quase espumando de raiva.

Tinha perdido eles! Conseguiu segui-los por um tempo com o carro, mas Kate não era idiota. Ela seguiu com Derek por um caminho que Stiles não podia ir de carro. Quando o garoto tentou segui-los a pé, se perdeu. Tentou acha-los de novo com o carro, mas era perda de tempo.

Encostou a testa no volante, respirando fundo para controlar a raiva. Tinha perdido Derek. De novo. Kate o tinha levado. De novo. Stiles era um inútil mesmo. Sentiu seus olhos marejarem.

Dez dedos. Cinco dedos em cada mão. Respirou fundo.

Ouviu seu celular tocar. Era Scott.

- Scott, eu perdi eles. - disse assim que atendeu. - Eu segui eles por um tempo, mas...

- Não tem problema. - o amigo falava mais alto que o normal, mas ainda era difícil de ouvir. Stiles concluiu que ele estava dirigindo a moto. - Nós sabemos para onde eles vão.

- Onde? - Stiles endireitou a coluna. Sua mão livre foi direto para a ignição do carro, girando a chave para liga-lo.

- Para a escola.

- O quê?

- Tem um cofre em baixo da escola. É da família do Derek. Kate quer uma coisa que está dentro do cofre.

- Por que o cofre é em baixo da escola? - Stiles teve que apoiar o celular em seu ombro enquanto dirigia.

- Aparentemente, o cofre estava lá primeiro.

- Por que tudo sempre acontece naquela escola? - bufou. - O que a Kate quer?

- É complicado de explicar. Só vá para a escola!

***

Não demorou muito até Scott, Isaac e Peter chegarem na escola. Aparentemente, a entrada do cofre ficava em baixo da placa da escola. Assim que chegara, os três foram correndo até o local.

Mas Isaac os interrompeu, parando de correr na metade do caminho.

- Isaac? - Scott também parou de correr. - O que foi?

- Esse cheiro. - franziu as sobrancelhas. - Está sentindo esse cheiro? É o mesmo cheiro.

- Mesmo de quê?

- Do México. - Isaac começou a olhar para os lados, procurando alguém. - Da coisa que me atacou no México.

- E que me atacou nas ruínas da igreja. - Scott concordou, também reconhecendo o cheiro.

- Do que vocês estão falando? - Peter franziu as sobrancelhas.

Isaac se virou para o Alpha, os dois ignorando a pergunta de Peter.

- Eles não podem ter nos seguido até aqui, podem?

- Kate pode tê-los trazido.

Um rugido tomou conta do ambiente. Não era como um rugido de lobisomem. Era um rugido lento e grave, e, ao mesmo tempo, muito alto e assustados.

- Oh, - Peter deu alguns passos para trás. - eu já ouvi esse som. Ele tinha um crânio animal? Um humano usando um crânio sobre o rosto?

- Ah... - Isaac deu de ombros, inseguro. - acho que sim.

- O que é? - Scott perguntou.

De repente, eles ouviram barulhos de passos. A alguns metros deles, havia um homem. Era alto, muito alto. Usava pele de animais e folhas para cobrir seu corpo, e um cinto de ossos em sua cintura. Sobre seu rosto, um crânio animal. E, em suas mãos, algo que parecia uma faca feita de ossos, exatamente como a que foi atirada no jipe de Stiles. Sem falar das garras. Garras gigantes.

- Berserker. - Peter deu alguns passos para trás.

- Wow. - Isaac ficou na frente de Scott, como se quisesse protegê-lo. - Estou assumindo que não podemos lutar com essa coisa.

- Nem um pouco. - Peter deu as costas e correu.

O berserker também começou a correr.

Scott e Isaac trocaram um olhar antes de darem meia volta, correndo o mais rápido possível. O som dos passos do berserker vinham logo atrás deles.

***

Peter foi direto para onde era a entrada do cofre, deixando os dois adolescentes para lidar com dois berserkers.

Sim, eles ão sabiam ainda, mas havia outro berserker ali.

O lobisomem não estava muito preocupado, aqueles adolescentes sempre davam um jeito de acabar sobrevivendo. Ele não podia perder a chance de falar com Kate.

Quando chegou ao local, teve certeza que Kate ainda estava ali. A placa grande de pedra com o nome da escola havia sido arrastada para o lado, mostrando a entrada para o cofre. Uma escada subterrânea que dava para um grade porão.

Quando chegou perto aprimorou seus sentidos. Kate estava lá embaixo, junto com Derek. Enquanto descia as escadas, pôde ouvi-los.

- É isso? - disse Kate. - Tem certeza?

- Sim. - Derek respondeu.

Peter sorriu. Eles estavam falando do Triskele.

- Não parece muita coisa. - a mulher bufou.

O lobisomem finalmente chegou ao fim das escadas. Pôde ver Kate e Derek do outro lado do porão. Eles olhavam para o Triskele na mão da mulher. Era uma pedra redonda, com o símbolo em relevo.

Era difícil de ver naquele porão escuro e empoeirado, mas Peter podia ver Derek bem. Sentiu algo em seu peito com aquela visão. Ver Derek era como olhar diretamente para seu passado. Uma época que Peter tinha uma família, que ele e Derek eram melhores amigos, que as coisas eram mais simples. Uma época sem amargura.

Balançou a cabeça. Não era hora de ficar emotivo, ele tinha contas para acertar com a Kate. Tinha matado ela uma vez, podia fazer isso de novo sem problemas.

- É porque não é muita coisa. - Peter finalmente disse, atraindo os olhares dos outros dois. - Você fez um esquema muito elaborado aqui, Kate. - ele ia andando enquanto falava. - Dois países, templos astecas, Derek de volta à adolescência. Quando ele confiava em você. Quando ele te amava. Toda essa complicação só para ter acesso ao nosso cofre. Só para por as mãos nesse pedaço de lixo.

Ele parou, à poucos metros de distância dos dois. Derek não tirava os olhos dele, extremamente confuso. Kate tinha uma expressão raivosa em seu rosto, o que estava deixando o lobisomem cada vez mais satisfeito.

- Vá em frente, vire-o. - sorriu. - Está riscado atrás onde tinha o selo de "Made in China".

- Está mentindo. - Kate negou com a cabeça.

- Confesso que tenho mania de exagerar nas coisas. Mas, nesse caso, a verdade é bem mais divertida. Sinto muito, docinho. Esse pingente é só um objeto físico para se concentrar. - Peter viu o olhar surpreso de Derek. Aquela informação também era nova para ele. - É só para treinamento. Talia usou para treinar Laura. Tentei usar para Treinar Derek.

Eles foram interrompidos por um rugido ao longe. Era Scott. Não era um ruido de dor, era um rugido de ataque. Os berserkers o haviam alcançado.

- Vocês ouviram isso? - Derek estava alerta.

Kate o ignorou. Agarrou a gola de sua camisa, trazendo-o para perto de um jeito ameaçador.

- Isso é verdade? - ergueu o Triskele ao lado de sua cabeça. - Me diz se isso é verdade.

- Ouviu isso? É o Scott. Eu acho que ouvi...

- Diga-me!

- Eu não sei, e eu não me importo! - Derek se desvencilhou do aperto, correndo para as escadas e para fora do porão.

Peter cruzou os braços. Derek sempre foi um rebelde.

***

Stiles escutou o rugido de longe. Sabia que era de Scott, sabia que ele estava com problemas. Ele tinha chegado na escola ao mesmo tempo que Lydia e Kira, então eles se separaram. Kira seguiu o rugido, e Stiles e Lydia foram em direção à entrada do cofre.

Não pergunte como Lydia sabia, ela só sabia. Como sempre.

- Onde está a sua arma? - Lydia perguntou quando viu o que Stiles carregava nas mãos: um taco de baseball.

- Meu pai meio que confiscou. - Stiles deu de ombros, como se se desculpasse. - Ele disse que não era seguro eu andar com uma arma por ai.

- Ele acha que você está mais seguro com um taco de baseball?

- Não, ele acha que os outros estão mais seguros se eu estiver com um taco de baseball.

- Faz sentido. - Lydia teve que concordar, voltando a correr.

***

Scott respirava com dificuldade. Ele e Isaac estavam caídos no chão. Sangue saindo pelas suas bocas. Cortes pelo corpo. Cansados.

Não tinha como lutar com aquelas criaturas. Eram bem maiores, e nada parecia machuca-los. Scott nunca tinha visto nada parecido. Eles não se cansavam, eles não paravam.

Kira havia aparecido. Lutou um tempo com os dois berserkers, mas não demorou muito até que ela também estivesse no chão, ao lado dos dois lobisomens.

Os berserkers se aproximaram. Os adolescentes se arrastaram para trás. Todo o corpo de Scott doía. Ele tinha que se levantar, tinha que continuar lutando, dar tempo para Isaac e Kira fugirem dali.

Foi quando Derek apareceu.

***

- Derek desistiu do Triskele quando aprendeu outra forma de controlar a transformação. - Peter falava enquanto ele e Kate andavam em círculos entre si. - Quando eu o ensinei. Eu o ensinei a usar as emoções, a raiva, e a se focar nelas. Para sentir cada pingo de raiva e ódio que ele conseguisse usar, e foi a raiva que o ensinou a se controlar.

Peter e Kate olhavam diretamente nos olhos um do outro, alertas a qualquer movimento suspeito do outro. A tensão no ar era evidente. O coração dos dois estavam acelerados, a raiva percorrendo cada uma de suas veias.

- Você quer aprender a controlar? - a voz de Peter era baixa. - Quer ficar com raiva, Kate?

Eles pararam de andar. Peter rosnou, colocando as garras e presas para fora.

- Vamos ficar com raiva! - rugiu. Seus olhos brilharam em azul.

Kate imitou o gesto. Arqueou as costas, mostrando as garras e as presas. Seus olhos não eram nada que Peter já tivesse visto antes. Brilhavam em verde.

Peter estava pronto para atacar, quando aquele momento foi interrompido por um som de algo metálico batendo no chão. Os dois se viraram para a fonte do barulho. Três garrafas de metal caíam pelas escadas, quicando pelos degraus até finalmente pararem no chão, rolando pelo piso.

Houve uma explosão. E depois outra. E depois outra. As garrafas liberaram uma fumaça espessa, que se espalhou rápido por todo o porão. Peter imediatamente se sentiu tonto. Seus joelhos fraquejaram, e ele caiu no chão, tossindo e as narinas queimando. Tinha wolfsbane no ar.

Alguém descia as escadas. Peter não conseguia ver nada, seus olhos ardiam. Kate conseguiu se levantar e fugir, deixando-o sozinho e indefeso ali.

***

Scott arregalou os olhos. Derek simplesmente apareceu, chamando a atenção dos berserkers para longe deles, e começou a lutar com aqueles monstros como se não fosse nada. Arranhando e chutando, rugindo e se desviando de cada golpe dos berserkers.

Quando era atingido, se levantava imediatamente. Nunca recuando, nunca desistindo. Empurrava um para longe, se desviava dos golpes do outro e o empurrava também, repetindo o processo com o berserker anterior.

Scott se levantou, ajudando os amigos a se levantar também. Os três trocaram olhares confusos, como se se perguntassem o que deviam fazer. Estavam todos machucados, mas eles deviam ajudar Derek, certo?

Mas Derek não chegou a precisar de ajuda. Um rugido estranho foi ouvido de longe. Scott nunca havia ouvido nada igual, mas parecia que os berserkers sim. Eles pararam de lutar e deram meia volta, correndo na direção do rugido, até desaparecerem do campo de visão dos adolescentes.

Houve um momento de silêncio. Derek permaneceu de costas para os três, olhando na direção em que os berserkers tinham corrido. Scott levou um tempo para perceber o que estava diferente. Derek estava maior e mais forte, não parecia mais um adolescente.

Arregalou os olhos.

- Derek? - chamou, inseguro.

O beta se virou, lentamente. Sua expressão era cansada e confusa. Mas o mais impressionante era seu rosto.

Era ele. Derek estava de volta. Ele olhou para os três adolescentes, como se esperasse algum tipo de resposta, explicação, qualquer coisa. Scott estava prestes a falar alguma coisa, quando se interrompeu bruscamente. Os olhos de Derek brilharam. Mas não era como antes. Eles não estavam azuis.

Seus olhos estavam amarelos.

***

Stiles e Lydia desciam aquelas escadas com receio. A garganta de Stiles coçava, tinha alguma coisa no ar, algum tipo de fumaça, o que também deixava muito difícil de ver.

Eventualmente, o garoto conseguiu identificar as coisas naquele porão. As prateleiras cheias de coisa, os armários, e, do outro lado do porão, ajoelhado no chão, estava Peter.

Ele e Lydia trocaram olhares antes de se aproximar do beta, que murmurava coisas para si mesmo, parecendo não notar a presença dos dois. Stiles usou todas as suas forças para ignorar aquele cheiro forte no ar. Tão forte que faziam seus olhos lacrimejarem.

- Nunca foi o Triskele... - dizia, inconformado, balançando a cabeça em negação. - Levaram enquanto eu estava cego...

- Levaram o quê? - Lydia perguntou, interrompendo o falatório.

Peter suspirou, se levantando devagar, ainda de costas para os adolescentes. Foi quando Stiles percebeu que o beta estava de frente para um tipo de armário de metal, cuja porta estava escancarada, e seu interior, vazio.

- Títulos. - Peter se virou para eles. - Títulos de crédito. E levaram todos.

- Títulos de crédito? Espera ai, - Stiles sorriu com deboche. - está dizendo que foi roubado?

- Foi um assalto! - a voz do lobisomem tremia de raiva. - Alguém planejou tudo isso.

Lydia franziu as sobrancelhas.

- Quanto eles levaram?

Peter engoliu em seco.

- Cento e dezessete.

- Mil? - Stiles arregalou os olhos.

O beta voltou seu olhar para o armário vazio, suspirando.

- Milhões.

***

Derek olhou confuso para seu corpo. De repente, todas as suas lembranças dos últimos anos voltaram de uma vez. Principalmente o ataque de Kate. Se lembrou de ser levado, se lembrou do que Kate queria.

- Derek? - Scott se aproximou dele, com cautela. - Você está bem?

O beta afirmou com a cabeça, o que fez com uma dor intensa se espalhasse por ela. Ele apertou os olhos, se sentindo tonto por um momento. Por sorte, não perdeu o equilíbrio. Quando abriu os olhos de novo, haviam alguns pontos vermelhos em sua visão.

- Tem certeza? - foi Isaac quem perguntou. - Você não parece bem não. E o que aconteceu com seus olhos?

- Meus olhos? - Derek perguntou, confuso, mas logo abandonou a pergunta. - Onde está Kate?

- Ah... - Kira começou a falar. - Lydia e Stiles foram atr...

- Stiles foi atrás dela? - a voz do beta aumentou.

- Eles foram até o cofre.

O cofre. É claro. Kate estava no cofre com Peter. Derek não pensou duas vezes antes de dar meia volta e começar a correr.

Correu o mais rápido que podia, sentindo todos os músculos em seu corpo doerem e protestarem. Mas ele tinha que ser rápido. Se Stiles estava no mesmo lugar que Kate, ele corria imenso perigo. Ouviu os outros três correrem atrás dele, e agradeceu por isso. Não tinha certeza se podia lutar direito naquelas condições.

Sentiu algo errado assim que se aproximou da porta do cofre. Ainda estava aberta, e Derek podia ver uma fumaça fina saindo dali. Sentiu suas narinas coçarem e sua garganta arder enquanto tossia. Podia reconhecer aquilo em qualquer lugar. Wolfsbane.

Mas também sentiu outra coisa. O cheiro de Stiles. Ele estava lá embaixo.

A fumaça não era forte o suficiente para derrubar Derek, tudo bem que ele estava extremamente fraco, mas juntou toda a força que tinha e desceu as escadas. Ao chegar lá embaixo, viu três vultos. Reconheceu Peter. Sabia que um deles era Stiles, e, a princípio, pensou que a outra pessoa era Kate, mas mudou de ideia quando sentiu o cheiro de Lydia.

Ele demorou um pouco para entender o que estava acontecendo. Lydia estava agachada no chão, olhando desesperada para Stiles, que tossia compulsivamente. Seu corpo tremia, e ele parecia fraco. Derek correu até ele, agarrou o corpo do garoto e o levantou.

Seu corpo fraquejou. Apertou o corpo de Stiles contra o seu, tentando não derruba-lo. O garoto ainda tossia, o que tornava ainda mais difícil para Derek segura-lo. O beta sabia que seus olhos brilharam naquele momento, enquanto lutava para manter-se em pé.

- Derek! - Lydia e Peter exclamaram surpresos.

O beta os ignorou. Carregou Stiles para fora do porão com extrema dificuldade, rugindo nos momentos em que seu corpo ameaçava falhar, seus braços tremendo. Stiles nunca parou de tossir, diferente de Derek, que não parecia estar sendo afetado da mesma forma. Isso aumentava a urgência da situação. O rosto de Stiles estava extremamente vermelho, e Derek sabia que ele não estava conseguindo respirar.

A Wolfsbane o deixava fraco e lento, mas ele conseguiu manter o foco o suficiente para subir as escadas. Enquanto andava, viu pontos pretos e vermelhos em sua visão. Teve que fazer muita força para não perder a consciência.

Deitou Stiles gentilmente no chão, à alguns metros da entrada do cofre. Esperava que já estivesse longe o suficiente para que o menor pudesse respirar livremente, pois ele não conseguia carrega-lo muito mais longe. Assim que o soltou, deixou o corpo cair para o lado, sentindo todos os seus músculos queimarem e tremerem.

Scott, Isaac e Kira os alcançaram alguns segundos depois, ao mesmo tempo que Lydia e Peter saíram do cofre.

A tosse de Stiles foi passando aos poucos. O garoto abriu a boca, puxando o máximo que ar que podia. Seu rosto ainda estava vermelho, sua respiração foi se normalizando aos poucos. Esfregou a garganta com as mãos, fazendo uma expressão de dor. Demorou um tempo até ele perceber o que estava acontecendo.

Derek fez força para se sentar no chão, sua respiração ainda era pesada e irregular. Viu o garoto olhar confuso para seus amigos e para si mesmo, até que finalmente notou sua presença ali. Sua expressão mudou imediatamente.

Derek sentiu seu coração acelerar quando seus olhares se encontraram.

- Derek! - Stiles se ajoelhou e se jogou contra o maior, abraçando seu pescoço com a pouca força que tinha. O beta teve que se esforçar para não perder o equilíbrio. - Você voltou! Como você voltou? O efeito-viagem-no-tempo passou?

- Você está bem? - a voz de Derek era áspera, mas ainda se podia perceber as toneladas de preocupação nela.

- É claro que não! Nunca mais faça isso, seu idiota. - Stiles se afastou parecendo irritado e alegre ao mesmo tempo. Teve que parar de sorrir por causa de uma outra sessão de tosse.

Todos ali se inclinaram para frente, levemente desesperados, prontos para ajudar com qualquer coisa. Mas não foi preciso, dessa vez, a tosse foi leve e passageira.

- Por que ele está tossindo? - Scott não perguntou para ninguém em específico. Se agachou ao lado do amigo, franzindo as sobrancelhas.

- É a fumaça. - Peter respondeu, como se fosse óbvio. - Tem Wolfsbane nela.

- Mas ele não é um lobisomem.

- Ele é sobrenatural. - Derek tentou se levantar, mas seus joelhos fraquejaram e ele caiu para frente.

Scott se prontificou para ajuda-lo, enquanto Isaac ajudava Stiles. Derek agarrou a mão de Scott e se levantou, tendo um pouco de dificuldade para permanecer em equilíbrio.

- Eu não sou sobrenatural. - Stiles cruzou os braços.

- Você está grávido, Stiles. - Peter revirou os olhos. - Você não é humano.

Houve um momento de silêncio.

- Tudo bem, - disse o garoto. - talvez eu seja. De um jeito estranho.

- Então você sabe. - Derek se virou para Peter, claramente se referindo ao seu comentário anterior.

- Sim, e mesmo que eu ache o que você está fazendo realmente estúpido, temos mais para nos preocupar agora. - Peter bufou. - Fomos roubados.

***

Derek podia quase ouvir seu corpo agradecer quando ele finalmente se jogou em sua cama, relaxando pela primeira vez no que pareciam dias. Sentiu o colchão balançar quando Stiles se jogou logo depois, soltando um suspiro de alívio ao finalmente poder relaxar.

Estavam de volta no loft. A sala ainda estava uma zona - moveis virados, pólvora, sangue, o pacote completo. -, do jeito que o beta a havia deixado. Fez uma nota mental para contratar alguém para limpar aquilo. -, mas seu quarto continuava tão aconchegante quanto sempre fora, pelo menos para ele. Não que tivesse algo especial ali. Uma cama de casal, com um criado-mudo de cada lado, um guarda-roupa, e uma escrivaninha. Mas era um lugarzinho reconfortante para o beta, principalmente com Stiles ali.

Pareceu que eles haviam ficado discutindo tudo o que aconteceu por uma eternidade. Peter não parava de xingar e esbravejar, irritado por ter sido roubado. Stiles e os outros contaram sobre o resgate de Derek: a ida ao México, o encontro com os Calaveras, os berserkers. Quando finalmente tudo havia sido esclarecido - ou pelo menos, falado. -, todos concordaram que seria melhor simplesmente voltarem para casa e decidirem o que fazer algum outro dia. Todos estavam cansados.

E Derek estava mais do que cansado. Sua cabeça latejava. Ele se sentia extremamente fraco, mas não era apenas fraqueza muscular, era mais. Ele podia sentir que era algo diferente, só não sabia dizer o quê.

E, é claro. Também tinha o pequeno detalhe de que seus olhos estavam amarelos.

Amarelos.

Derek se sentiu grato por ninguém além de Scott ter visto aquilo, e de Scott concordar em não contar para ninguém. Se ele mesmo não sabia como lidar com a informação, imagine os outros.

O que quer que Kate tivesse feito com ele, ela tinha praticamente apagado uma parte dele. Uma parte extremamente importante. Era difícil entender exatamente como aquilo o afetaria. Aqueles olhos azuis eram um lembrete constante de seu erro passado, de sua arrogância. Era sua marca de culpa, e Derek sabia que a merecia.

E, agora que ela tinha sumido, Derek se sentia mais culpado do que nunca.

Quando Paige morreu, quando ele a matou, sua mãe e Peter eram os únicos que sabiam. Sua mãe era a pessoa em que mais confiava. Ela nunca o olhou diferente por seus olhos azuis, ela nunca o julgou, ela o ajudou a passar por aquilo, ela o ensinou a se perdoar.

Quando ele descobriu sobre o incêndio em sua casa, foi o segundo pior momento de sua vida. Sua infraestrutura emocional se despedaçou.

Quando descobriu que havia sido Kate, seu segundo amor adolescente, quem o causara, aquele sim foi o pior momento de sua vida. Ele levou anos para passar por todas as etapas: negação; a raiva mortal de Kate; os planos de vingança; a depressão profunda e os pesadelos; até finalmente conseguir aceitar sua culpa. Tudo isso sem nunca contar à Laura, sua irmã, a história completa.

Ele levou anos para conseguir viver com aquilo. Agora, era como se sentisse tudo mais uma vez.

O Derek transformado em adolescente não se lembrava do incêndio, ele se lembrava dos acontecimentos de alguns dias antes. Muitas lembranças que já haviam sido esquecidas voltaram à sua mente. Ele se lembrava claramente da imagem de sua mãe, de seus primos, de suas irmãs quando pequenas. Se lembrava das conversas, das brigas idiotas que tinha com elas, do drama escolar, de uma fórmula matemática que ele estava aprendendo na aula de cálculo, que - vejam que surpresa. - ele nunca mais tinha usado na vida!

Se lembrava de sua casa. Lembrou-se que, sempre que fechava a porta de seu quarto, por algum motivo arquitetônico que ele nunca entendeu, a janela tremia. Então, às vezes, quando Derek ficava acordado até tarde da noite, e depois saía do quarto de fininho para pegar comida na cozinha, o barulho da janela acordava Laura, que dormia no quarto ao lado. Quando Derek voltava ao seu quarto com um pacote de bolachas nas mãos, sua irmã estaria lá, extremamente irritada e com sono, pronta para xinga-lo e discutir com ele. Lembrava-se até de sua voz quando ela o chamada de idiota insensível.

Derek faria qualquer coisa para que ela o chamasse de idiota insensível de novo. Faria qualquer coisa para receber outra bronca de sua mãe, para ouvi-la dizer que ele tinha que dormir oito horas todas as noites para ter um melhor rendimento na escola.

Sua culpa. Era tudo sua culpa.

Ele confiou em Kate.

Ele contou a verdade para ela.

Sua culpa.

- Derek? - a voz ofegante de Stiles o tirou de seus pensamentos. Derek balançou a cabeça em resposta, limpando o nó gigante que havia se formado em sua garganta e apertando os olhos, agora marejados. Agradeceu o fato de Stiles não estar olhando para ele, então não tinha percebido nada. - Você precisa se mudar para algum lugar com elevador.

- São só dois lances de escada, Stiles. - a voz de Derek era baixa e grossa, mas ele fingiu que era apenas cansaço. Derek era bom em fingir. Muito bom.

- Você é a única pessoa que mora nesse prédio. Por que diabos você não mora no térreo?

O beta revirou os olhos internamente, tentando ignorar a grande dor em seu peito.

- Porque eu teria que mudar todas as minhas coisas para lá. - resmungou em resposta.

- Ah, que atitude preguiçosa.- Stiles parecia realmente irritado. O beta não podia deixar de notar o grande contraste de emoções entre os dois. Ele carregava a culpa de uma vida inteira, e a maior preocupação de Stiles eram as escadas.

Sentiu inveja naquele momento.

- Não, - forçou um pequeno sorriso. - preguiçoso é você não querer subir dois lances de escada.

- Aliás, - Stiles pareceu que ia se virar para o namorado, mas mudou de ideia no último instante, então os dois continuaram deitados um do lado do outro, porém, encarando o teto. - por que você é a única pessoa que mora aqui? Ninguém te aguenta como vizinho?

- Porque o prédio é meu.

Stiles arregalou os olhos. Agora sim ele se virou para o maior.

- Como é? - sua voz subiu algumas oitavas.

- O prédio é meu. - Derek deu de ombros.

- Então se você não conseguir seu dinheiro de volta, é só vender a propriedade. - Stiles sorriu, como se tivesse achado a solução para um problema em que estava trabalhando a muito tempo.

Derek franziu as sobrancelhas, se virando para o menor com uma expressão incrédula.

O quê?

- Bom, todo o seu dinheiro foi roubado. - explicou. - E, para que você não morra de fome, você pode vender o prédio. Quer dizer, isso se não encontrarmos quem que te roubou.

O maior balançou cabeça, sorrindo. Sempre se surpreendia com Stiles, com seus pensamentos fora do convencional. Suas preocupações eram completamente diferentes. Ele sempre parecia estar um passo a frente de todos. Enquanto Derek se preocupava com Kate, Stiles estava se preocupando com o que ia acontecer meses depois se eles não conseguissem o dinheiro de volta.

- Stiles, eu não fui roubado. - viu a expressão do menor se tornar confusa. - Peter foi roubado. Eu já tinha tirado meu dinheiro daquele cofre a muito tempo.

- Oh, então você ainda é rico?

- Sabe, estou começando a desconfiar do seu interesse no meu dinheiro.

- Bom, eu não quero um namorado pobre. - sorriu, parecendo aliviado.

Aquele sorriso era como uma chama no mundo frio de Derek. Sempre fora.

- Começamos a namorar antes de você saber que eu era rico, Stiles.

- Não é difícil de deduzir. Ninguém nunca te viu trabalhar.

- Estou começando a ficar inseguro sobre esse relacionamento.

- Não fique. - sorriu. - Então tudo o que o Peter tem são aqueles cinquenta mil que devolvemos para ele? Bom, eu não me importo muito com o que acontece com ele depois.

- Justo. - Derek assentiu.

- A gente devia conversar sobre tudo, não devíamos?

O beta suspirou dramaticamente.

- Devíamos?

- É claro que devíamos. - agora Stiles parecia empolgado, o que realmente surpreendeu o maior. - E eu quero começar por: você fala espanhol?

- Oh. - Derek revirou os olhos, sorrindo. Assunto completamente aleatório. - Sim, eu falo espanhol. Próximo tópico.

- Por que nunca me contou?

- Nunca pareceu importante. - deu de ombros.

- Mas é claro que é! Fala em espanhol comigo.

- Por quê? Você fala espanhol, por acaso?

- Não, mas eu quero ouvir você falar em espanhol.

- Por quê?

- Porque eu imagino que seja muito sexy. - Stiles sorriu, o que fez Derek revirar os olhos.

Tu eres la persona más molesta que he conocido. - o beta sorriu de lado.

O menor cerrou os olhos, desconfiado.

- O que significa? - perguntou, cauteloso.

- Eu disse que você tem olhos bonitos.

- Ownt. - o garoto pôs a mão em seu peito, fingindo uma expressão apaixonada. - Isso seria tão bonito, se não fosse tão mentira.

- Acha que eu mentiria para você?

- Eu tenho certeza.

- Bom, você não tem como provar.

- Droga. - admitiu sua derrota. - O que mais você não me conta? Fala algum outro idioma?

- Alguns. - deu de ombros de novo. - Eu tenho muito tempo livre.

- Pessoas normais passam o tempo livre assistindo séries repetidas, não aprendendo idiomas novos. Isso é incrível! Converse comigo em outro idioma.

- Qual o ponto disso? Você não vai entender.

- Eres mucho sexy, Derek. - Stiles bufou, tentando falar espanhol.

Es muy caliente. - Derek corrigiu, o que agradou o menor.

- Que outras línguas você fala?

- Espanhol, italiano e alemão.

- Wow! - o menor sorriu. - Estou namorando um cara rico e poliglota. Anda, fala em outras línguas comigo.

Sei noioso, Stiles.

- Eu sei que você está me xingando, mas eu realmente não me importo. - o garoto sorriu. - Isso é muito legal.

- Pelo menos você sabe. - Derek fechou os olhos por um momento, deixando o cansaço consumi-lo aos poucos.

Sentiu uma das mãos de Stiles na lateral de seu rosto, acariciando-a. Ele se aproximou e distribuiu vários beijos em seu nariz e bochecha. Derek apenas continuou com os olhos fechados, aproveitando o momento.

- Você devia descansar. - o menor disse, em voz baixa.

Derek apenas concordou com a cabeça. Se arrumaram na cama, cansados demais para tomar um banho. Ele não tinha percebido o quanto estava com frio antes até estar confortável embaixo das cobertas. Abraçou as costas do menor, encostando seu rosto em seu ombro. Stiles se aconchegou em seu abraço. Mesmo sem poder ver seu rosto, Derek sabia que o namorado estava sorrindo.

Afastou todos os sentimentos de perda e culpa que estavam em seu peito e os substituiu pela sensação que o calor de Stiles lhe trazia, esperando que assim conseguisse cair no sono.

***

Stiles se remexeu na cama. Abriu os olhos quando percebeu que estava sozinho. O quarto estaria completamente escuro se a porta não estivesse meio aberta. O garoto se sentou na cama quase que imediatamente, esfregando os olhos para afastar o sono.

Um sentimento de preocupação e paranoia o invadiu. Derek tinha acabado de ser resgatado de uma sociopata e trazido de volta à sua idade real, não era possível que já tinha sumido de novo. Por que todo mundo sempre sequestrava ele? Sim, ele era super sexy, mas ele era de Stiles. Um pouco de respeito pela propriedade dos outros seria bom.

O menor se levantou, tremendo de frio ao sair de baixo das cobertas quentinhas. Andou até a porta, incerto, ao sair do quarto viu que a luz vinha do andar de baixo. Abraçou seu corpo enquanto descia as escadas, ainda com um pouco de sono.

Sentiu um alívio em seu peito. Derek não havia sido sequestrado de novo. Ele estava ali, sentado à mesa da cozinha, olhando atentamente o que parecia ser um livro. A luz da cozinha estava acesa, então Stiles chegou à conclusão de que Derek estava acordado há muito tempo, já que podia ver que a sala estava limpa. Os móveis não estavam mais revirados, não cheirava mais à pólvora. Bom, ainda haviam buracos de bala nas paredes, mas isso era uma coisa um pouco mais difícil de arrumar.

Derek levantou o rosto do livro ao sentir a presença de Stiles. O menor ainda estava sonolento, então não conseguiu raciocinar e identificar a expressão no rosto do namorado. Ele parecia desconfortável com a sua chegada. Não desconfortável do tipo fui-pego-lendo-uma-revista-pornô, mas desconfortável do tipo fui-pego-em-um-momento-emocional. E, para um cara como Derek, que nunca mostrava suas emoções, aquilo era bem pior.

- Derek? - o garoto bocejou, se aproximando. - O que está fazendo aqui embaixo?

- Não consegui dormir. - sua voz era baixa, Stiles também não conseguiu identificar nenhuma emoção nela.

- Você arrumou tudo? Há quanto tempo está em pé?

- Eu não consegui dormir. - repetiu, lentamente.

Stiles franziu as sobrancelhas. Analisou melhor o rosto o namorado, que fechou o livro com pressa. Não era um livro normal, de aventura ou romance, era mais como um álbum. Capa dura e preta.

Foi quando o menor percebeu que o rosto do outro estava vermelho. E seus olhos estavam... seus olhos estavam molhados?

Sentiu aquele pensamento o atingir como uma pedra. Derek estava chorando?

- Der? Você está bem? - chamou, em uma voz doce. Sentou-se em uma das cadeiras, agora tinha certeza que era um álbum. - O que está fazendo.

- Nada. - mentiu. - Só estou passando o tempo.

- Fala comigo. - arrastou a cadeira para um pouco mais perto. - Você não parece bem.

- Eu estou.

- Derek, eu sei que está mentindo.

- Eu estou bem, Stiles.

- Derek...

- Stiles, - o maior o cortou. - eu disse que estou bem.

O menor abaixou a cabeça, mexendo seus dedos nervosamente.

- Okay. - respondeu, em voz baixa, tentando não parecer magoado. Respirou fundo. - Eu vou voltar para a cama.

Bateu as mãos levemente na mesa antes de se levantar e dar as costas ao maior. Quando estava quase nas escadas, ouviu Derek o chamar.

- Espera. - Stiles parou no lugar, ainda de costas, esperando as próximas palavras do maior. - Me desculpa. Vem aqui.

O garoto hesitou um pouco antes de concordar, voltando a se sentar onde estava antes. Derek arrastou sua cadeira até estar lado a lado com o menor, trazendo também o álbum e o empurrando na direção do namorado.

Stiles franziu as sobrancelhas. Era um álbum de fotos. A ideia de Derek ter fotos guardadas era um pouco estranha, mas ele começou a folhear o álbum, prestando muita atenção nas fotografias. Não era fotos de Derek, eram várias pessoas. Eram fotos tremidas e de qualidade ruim, algumas pareciam ter sido tiradas sem que as pessoas soubessem, não eram o tipo de foto que se mandava revelar para guardar em álbuns.

- O que é isso? - sua voz era levemente receosa.

- Essas são as únicas fotos que eu tenho deles. - a voz de Derek era tão amarga que Stiles se assustou.

Ele demorou uns segundos para raciocinar.

- Sua família? - engoliu em seco. Começou a olhar as fotos mais atentamente. A maioria eram adolescentes. Algumas eram apenas de lugares. Stiles prendeu a respiração. Uma das fotos mostrava a casa de Derek, a mansão dos Hale, antes do incêndio. Não parecia assustadora, parecia um lugar extremamente confortável e agradável de se viver.

Derek apenas assentiu, com um olhar distante. Demorou um pouco para começar a falar.

- Eu não estava em casa no dia do incêndio. Eu e Laura... - sua voz morreu. O garoto esperou pacientemente ele continuar, com um peso em seu peito. Ele podia ver o quando aquilo estava sendo difícil para Derek. Podia ver o quanto ele estava controlando sua voz e suas expressões. Viu Derek respirar fundo. - Eu e Laura...

- Laura e eu. - Stiles corrigiu sem querer.

- O quê? - Derek franziu as sobrancelhas.

- O certo é Laura e eu, e não eu e Laur... n-não importa. Me desculpa. Continue.

O maior revirou os olhos.

Laura e eu não estávamos em casa naquele dia. Eu estava no último ano do ensino médio, e arrumei uma briga com o treinador. Eu estava no time de basquete. Eu estava muito irritado, e Laura era a típica adolescente rebelde, então ela propôs que fizéssemos alguma coisa à respeito. - Derek sorriu, triste. - Então nós vandalizamos a sala do treinador.

O maior virou algumas páginas no álbum, mostrando fotos de uma sala cheia de pichações, uma mesa virada no chão, e papeis e livros espalhados por todo lugar.

- Wow. - Stiles se permitiu sorrir um pouco enquanto olhava a foto. - Você era tão rebelde.

- É, aquela noite foi loucura. - seus olhos estavam distantes, uma velhas tristeza estampada neles. - Quando nós voltamos, os bombeiros já tinham chegado. Peter foi o único que conseguiu sair. Tudo foi queimado. Tudo o que se salvou foram essas fotos, porque estavam no celular de Laura.

- Eu sinto muito, Der. - Stiles não pôde evitar, se levantou e deu um passo até o maior, abraçando-o enquanto ele continuava sentado, encarando a foto de sua antiga casa no álbum.

O garoto não sabia o que mais dizer, então ele não disse nada por um tempo. Seus olhos marejaram, e seu peito doía. Não conseguia nem imaginar o que Derek estava passando. Derek teve que sentir a dor de perder toda a sua família mais uma vez. Stiles dó podia pensar em como seria perder sua mãe de novo, e ainda sim, ainda era só uma pequena fração do que o namorado estava sentindo.

Apoiou a bochecha nos cabelos negros do namorado. Olhou para o álbum na mesa. Do lado da fotografia da casa, havia uma foto de um garotinho com cabelos encaracolados sentado em um sofá, sorrindo para a câmera, com um pote de sorvete nas mãos.

- Quem é esse? - apontou.

- Seu nome era Tommy. - Derek respondeu. - Ele era meu primo. Morreu naquele dia também, e ele era humano.

- Quantos anos ele tinha?

- Dez.

Stiles franziu as sobrancelhas, confuso. Derek não estava com raiva ou triste, quer dizer, ele estava triste, mas ele parecia... culpado. Sua voz era baixa e grave, e sem demonstrar nenhuma emoção, mas Stiles o conhecia. Ele já tinha visto aquele olhar no rosto de Derek várias vezes antes.

- Derek, não foi sua culpa. - Stiles levantou o rosto para ver o do maior, mas seu olhar não foi retribuído. - Derek? Foi a Kate. Foi tudo a Kate. Você não pode se culpar por isso.

- Não posso? - o beta olhou para cima. Havia tanta amargura em seu rosto. Stiles nunca o tinha visto daquele jeito.

- É claro que não. - o garoto estava um pouco chocado. - Por que poderia?

Derek suspirou, como se se preparasse para algo difícil.

- Peter não contou a vocês, contou?

Stiles se sentou novamente, uma sensação ruim em seu peito.

- Nos contou o quê?

- Porque Kate me escolheu para seu plano maluco.

- Ele disse que ela queria entrar no cofre.

- É mais do que isso. Kate e eu nos conhecíamos.

- O quê? - Stiles arregalou os olhos. - Quando você era adolescente? Okay, tudo faz um pouco mais de sentido agora.

- Ela mentiu para mim.

- Ela fingiu ser sua amiga para se aproximar de você?

- Ela fez eu me apaixonar por ela.

Stiles sentiu como se tivesse levado um soco. Derek tinha amado Kate? Aquela vadia sociopata tinha seduzido Derek para conseguir informações sobre sua família. E depois ela tinha matado todos eles. Teria matado Derek se ele não fosse um adolescente rebelde.

- Ela... - Stiles não conseguia nem falar. - Ah, meu Deus, Derek...

- Eu contei tudo pra ela. - o beta engoliu em seco. - Eu confiei nela. E ela incendiou a minha família viva.

- E você tem se culpado todos esses anos. - o garoto concluiu, sentindo seus olhos marejarem.

É culpa minha.

- Uau. - Stiles se inclinou na mesa, apoiando os cotovelos na madeira e cobrindo parte do rosto com as mãos. Seu cérebro ainda processava tudo aquilo. - Isso... isso é muita culpa para suportar, Derek. Nunca contou para ninguém?

O beta apenas negou com a cabeça. Stiles respirou fundo, tentando engolir o grande nó em sua garganta. Olhou para o teto, piscando para secar os olhos. Tinha acabado de descobrir que a pessoa que amava se culpava pela morte da família inteira.

Quer dizer, como você reage a isso? O que Stiles podia dizer para ele? Vai ficar tudo bem? Não foi culpa sua? Ele tinha que apoia-lo, de alguma forma. Tinha que mostrar que Derek podia contar com ele, que Derek não precisava lidar com aquilo sozinho. Não que Stiles soubesse como lidar com aquilo, mas tudo bem.

Oh, Stiles não tinha ideia de como lidar com aquilo. Era grande demais, era culpa demais, era muita coisa para carregar.

Stiles de repente sentiu o peso real de um relacionamento. Derek nunca tinha contado aquilo para ninguém, e estava contando para ele. Eles estavam juntos há um pouco mais de um mês, quase tempo nenhum. E já tinham passado por tanta coisa. Tinham uma ligação tão forte, que Derek confiava o bastante nele para compartilhar o maior segredo de sua vida.

Tudo bem, aquilo era bem sério. Stiles tinha que fazer a coisa certa agora. Derek tinha lhe confiado um segredo, e agora ele não podia decepciona-lo, ele tinha que dizer alguma coisa.

O pé de Stiles começou a bater no chão. Tirou as mãos do rosto e se virou para o maior, olhando-o nos olhos.

- Você acha que... - sua voz falhou, então ele limpou a garganta, e tentou de novo. - Você acha que algum dia vai conseguir se perdoar?

Derek definitivamente pareceu surpreso com a pergunta. O garoto ficou imaginando que tipo de reação o maior esperava dele. Não conseguia definia Derek estava surpreso de um jeito bom, ou de um jeito decepcionado, mas esperava que estivesse fazendo a coisa certa. Nada do que ele dissesse funcionaria.

- Eu não sei. - o beta respondeu, sincero. Abaixou a cabeça, encarando suas mãos em seu colo. Um pequeno sorriso se formou em seu rosto e ele balançou a cabeça. - Você não vai... não vai dizer que não é minha culpa?

Stiles franziu as sobrancelhas.

- Iria adiantar alguma coisa o que eu dissesse?

- Eu não sei. - repetiu. - Ninguém nunca me disse isso, não sabendo a história inteira.

- Eu não acho que sou eu que devo dizer de quem é a culpa. Se você esperava que eu dissesse que não era, então talvez você mesmo já saiba que não é culpado. Talvez, lá no fundo, você sabe que foi vítima de uma psicopata. Isso é chamado culpa de sobrevivente.

Derek não respondeu. Stiles abaixou a cabeça, pensando melhor em suas palavras.

- Mas... - continuou, cauteloso. - se você realmente achar que é sua culpa, precisa aprender a se perdoar. - levou sua mão até a do maior. - Posso te ajudar, se quiser. Não que eu saiba como fazer isso, mas deve existir algum tutorial no YouTube, ou sei lá.

Derek sorriu de lado, triste. Abaixou a cabeça, acariciando a mão do namorado, ainda sem dizer uma palavra. Stiles imaginou se ele não falava por não ter o que dizer, ou por não querer que Stiles ouvisse alguma coisa em sua voz, alguma emoção que tentava esconder.

- E... - o menor engoliu em seco. - se... se realmente quer saber minha opinião... não, Derek. Não foi sua culpa.

A reação de Derek o surpreendeu. O maior apertou os olhos e abaixou ainda mais a cabeça, balançando-a afirmativamente. Stiles não sabia se estava realmente chorando, mas parecia estar se controlando.

O garoto se lembrou do que Derek tinha dito antes: "Eu não sei. Ninguém nunca me disse isso, não sabendo a história inteira."

Derek nunca tinha contado aquilo a ninguém, nunca tinha ouvido outra coisa além dele mesmo se culpando. Stiles imaginou como seria a sensação, como seria libertador não ter mais que guardar aquilo enterrado, como seria libertador ouvir uma opinião diferente.

Stiles se levantou de novo e o abraçou, apertando a cabeça do maior contra seu peito. Depositou um beijo entre os cabelos do outro, apoiando seu queixo ali em seguida. Sentiu uma das mãos de Derek em seu braço, apertando-o, como se o abraçasse de volta.

O menor não sabia quando tempo ficaram ali, abraçados, mas foi o suficiente para Derek se sentir melhor. Stiles sentiu seu peito se aquecer um pouco. Faria qualquer coisa para Derek se sentir melhor.

O maior levantou a cabeça, tinha um pequeno sorriso em seus lábios. Puxou Stiles para ele, fazendo-o se sentar em seu colo. Stiles sorriu, beijando-o de um jeito doce. Quando se separaram, Derek apontou para a foto de seu primo novamente.

- Esse dia, - ele disse. - foi o dia que Cora descobriu a senha do celular de Laura. Ela o pegou sem ninguém perceber e ficou tirando fotos de todo mundo. Ela era bem pequena. Tirou algumas boas, tipo essa do Tommy. E outras como essa aqui.

Virou a página de novo. Stiles sorriu para a foto. Era uma cena casual: uma mesa de jantar com três pessoas conversando. O garoto não reconheceu nenhuma delas, já que a foto estava tremida e não tinha uma qualidade boa, mas a cena lhe trouxe uma sensação de conforto. Percebeu que uma das pessoas estava sorrindo.

- Não é uma foto ruim. Quem são? - perguntou.

- Eu estava falando dessa aqui. - Derek apontou para a foto ao lado da que Stiles estava olhando. Era uma foto totalmente embaçada, mas Stiles conseguiu ver que a câmera estava apontada para o chão, mostrando as pernas de três pessoas que estavam em pé. O beta apontou para a foto da cozinha.- Essas são minha mãe e minhas tias. Elas costumavam se sentar à mesa e conversar por horas. Era bem irritante, na verdade. Elas falavam muito alto.

Stiles riu, levemente.

- E as fotos do seu celular? - perguntou. - Por que não revelou elas também?

- Meu celular não tinha câmera. - o maior recebeu um olhar espantado. - O quê? Celulares com câmeras eram caros.

- Meu Deus, Derek, você é um ancião. Quantos anos você tem?

- Cala a boca, Stiles. - revirou os olhos. - Laura só tinha um porque ela trabalhava.

O menor virou outra página.

- Essa aqui foi no mesmo dia? - Stiles apontou para uma foto em que reconheceu Derek mais novo. Ele estava sentado em uma cama, tentando proteger o rosto da câmera com uma das mãos.

- Sim. - o maior assentiu, revirando os olhos. - Cora sabia que eu odiava tirar fotos. Eu pedi para apagarem essa foto, mas é claro que nenhuma das duas me ouviu.

- Então você sempre foi rabugento.

- Do mesmo jeito que imagino que você sempre tenha sido irritante.

- E essa aqui? - apontou para a foto ao lado, ignorando a provocação do maior.

- Você quer olhar as fotos uma por uma?

Stiles olhou para o namorado. O tom da pergunta foi de deboche, mas em seus olhos, o menor podia ver que Derek ia gostar daquilo.

Sorriu.

- Mas é claro. Espero que tenha fotos zoadas suas.


Notas Finais


GENTE, só uma coisa: quando o Stiles corrige o Derek "nn eh eu e Laura, eh Laura e eu" ESSA REGRA SOH VALE NO INGLES, pensem q eles estao nos EUA e tals huahauhauha
ent, a frase seria "it''s not me and Laura, it's Laura and I" OKOK? hauhauhua

comentem! me digam o qua acharam :3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...