1. Spirit Fanfics >
  2. Trust No Bitch >
  3. The Birnfield Street

História Trust No Bitch - The Birnfield Street


Escrita por: rafaelaribeiro_

Notas do Autor


COMENTEM E FAVORITEM!
ME CONTEM O QUE ACHARAM!

STEFAN WILLIAMS - RUPERT GRINT

Capítulo 2 - The Birnfield Street


Fanfic / Fanfiction Trust No Bitch - The Birnfield Street

Início do ano letivo. São Francisco – Califórnia. 2016

O Sol queimava no céu como uma lasca de fogo em meio à imensidão azul. Os ventos sopravam pelas ruas banners de bandas de rock amadoras da cidade, copos de plástico, restos de cigarros e outros vestígios do fim de semana.

As ruas agora estavam repletas de jovens indo para suas respectivas escolas naquela segunda feira ensolarada com suas mochilas batendo na altura das omoplatas. Uns vinham transparecendo o cansaço e a preguiça matinal, outros a ansiedade do primeiro dia e alguns sortudos, o puro êxtase. O êxtase da reta final. O inesquecível terceiro ano. O ano da formatura, do baile, das últimas aventuras, das revelações, de pegar um trem e ir parar no fim do mundo, de errar o máximo possível antes de vir a maré de responsabilidade e linhas de expressão.

A Eveen High se erguia imponente, exibindo uma faixa de plástico feita em azul, vermelho e branco, as cores da escola. Os dizeres “BEM-VINDOS, ALUNOS, AO ANO LETIVO DE 2016” escritos em letra de forma. Jogadores do time de futebol americano do colégio entraram gritando seu famoso grito de guerra em suas jaquetas azuis de mangas brancas, o próprio nome bordado no peito de cada um abaixo do símbolo da escola: Uma águia com as asas abertas, em pleno voo. Grande parte alunos adentrara a escola em silêncio, observando ao redor. Calouros. Já alguns vinham conversando, enfrentando apenas mais um ano letivo. O segundo ano.

Parada em frente à construção, estava Lenora. Os cabelos curtos e loiros estavam soltos e úmidos. Vestia uma calça jeans escura, uma regata cinza por baixo do blusão do time que ganhara do melhor amigo e coturnos gastos nos pés. Ela entrara no colégio aos poucos, encolhida nos próprios braços e fitando seu redor com melancolia.

Era uma veterana, por que não estava feliz?

Ela pensara dia e noite nas decisões que deveriam ser tomadas quando chegasse até ali, e quando se deu conta, não tinha tomado nenhuma. Não sabia o que queria ser, não sabia o que fazer, mal sabia o que comeria no refeitório naquele dia. Todas as suas indecisões lhe deixavam com um nó preso na garganta, estava angustiada.

Sentiu um aperto no peito e um gosto amargo na boca ao imaginar os dias sem Mackenzie, Amélie e Khalifornia.

Estas que agora vinham em sua direção.

Elas desfilavam felizes pelos corredores de piso lustrado e armários azuis distribuídos por sua extensão, passando pela sala de química e pela sala de projeção, onde ficava o projetor para vídeo – aulas preparadas pelos professores. Mackenzie desfilava pelos corredores com um rabo de cavalo, com tranças pelas laterais da cabeça e a boca pintada de um tom escuro de roxo. Usava calças jeans claras com botas subindo até os joelhos e um blusão preto e largo. Ao seu lado vinha Amelie. Os cabelos brancos estavam soltos, esvoaçando com os passos da menina. Usava tênis inteiramente pretos e calças da mesma cor e um suéter branco. E por último, vinha Khalifornia. Os cabelos azuis estavam presos em um coque, deixando alguns fios soltos caírem pelas laterais do rosto da menina, um singelo delineado marcando os olhos. Usava um cardigã vermelho sobre a regata branca, calças jeans claras e botas marrons que iam até as canelas.

Elas chegaram até Lenora, animadas.

- E aí, formanda? – disse Mackenzie, sorrindo.

- Ainda não estamos formadas, Mack – corrigiu Lenora, sorrindo fraco. – Só chegamos ao fim.

- Dá no mesmo. – rebateu Mackenzie, dando de ombros.

Um grupo de meninas passara por elas, dentre os murmúrios a palavra “incêndio” teve destaque.

Logo elas passaram a ouvir os sons ao redor, captando trechos de conversas entre o burburinho do corredor.

“Soube que houve um tiroteio ontem à noite!”

“Ronald está no hospital com queimaduras de terceiro grau, ele não conseguiu sair à tempo! Os seguranças eram uns cretinos!”

“Vocês souberam? Houve um tiroteio em uma boate ao leste da cidade!

Todas se entreolharam, sérias.

- Se perguntarem, nós não ouvimos falar sobre isso.

Todas assentiram, mergulhando dentro dos próprios pensamentos enquanto encaravam a enxurrada de pessoas adentrando a escola, palpitando sobre o mesmo assunto.

Quantas pessoas teriam se machucado? Alguém teria morrido? O que aconteceu depois que foram embora com Ramona? Ramona...

Ela deixara as meninas no ponto de táxi mais próximo com uma promessa de silêncio nos lábios, e logo após dera instruções para não procurarem por ela. Todas assentiram, querendo liberdade daquela noite e assim, cada uma fora para sua respectiva casa, caindo na cama com o cabelo cheirando a cinzas.

Agora estavam juntas outra vez, com cada momento daquele pesadelo preso sob as pálpebras.

                                                                              [...]

A classe de filosofia estava cheia.

Estavam na primeira aula do dia, também a única aula que Amélie teria com Lenora naquele dia. Estavam nas últimas carteiras, Lenora à frente de Amélie por ser menor.

O professor entrou na classe desejando bom dia e boas-vindas à mais um ano letivo. Ele era um homem que batia seus quarenta anos, os cabelos levemente grisalhos e a barba por fazer e os olhos cor de amêndoa tinham olheiras profundas.

Ele repousou os livros e pastas sobre a mesa e pôs-se à frente da sala, entrelaçando os dedos sobre a barriga.

- Creio que o assunto já esteja circulando pela escola. O tiroteio na boate ao leste da cidade no qual muitos de vocês estavam ontem à noite..

O professor fora interrompido pela pequena caixa de som no teto da sala, que emitiu ruídos e chiados antes de a voz rouca do diretor soar da mesma.

- Bom dia, alunos! Sejam bem–vindos à mais um ano letivo na Eveen High. Nesta manhã teremos mínima de 10 graus e máxima de 24 para o horário da saída... – Ele dera o resto dos avisos da manhã, sereno, como sempre fora desde que Amélie e Lenora entreram na Eveen High.

Ao fim dos avisos, sua voz tornara-se pesada e tomada por tensão.

- Sei que muitos aqui estão debatendo sobre este assunto no momento. Claro, não existe maneira de deixá-lo de lado. Me refiro ao tiroteio ocorrido na boate THE CLUB, ao leste da cidade neste domingo no qual, creio eu, que muitos daqui estavam. Um significativo número de alunos não virá assistir às aulas neste início de ano letivo devido as sequelas deixadas naquela noite. A polícia local virá aqui hoje no horário da saída em busca de testemunhas e depoimentos do ocorrido.

A tensão nos ombros de Lenora e Amélie aumentara.

- A equipe pedagógica da Eveen High desejam melhoras à todos os envolvidos, e muita força para aqueles que saíram ilesos, porém, com memórias intensas daquela noite de horror.

Engolindo em seco, ele finalizou:

- Tenham um excelente retorno, ficamos extremamente felizes em recebê-los na Eveen High.

A voz do diretor cessou. Todos começaram a cochichar perante a explicação de Platão do professor. Lenora virou-se para Amélie e sustentara o seu olhar. Ambas sabiam o que aquilo significaria.

                                              

                                                                                              [...]

O sinal da última aula do dia soou e todos os alunos saíram apressados de suas salas. Lenora e Khalifornia, que tiveram suas últimas aulas juntas, apressaram-se pelos corredores em busca de Mackenzie e Amélie. As portas azuis que davam acesso ao lado de fora do colégio estavam abertas. A maioria passara pelas portas com naturalidade enquanto alguns em disparada, a fim de dar o relato à polícia, fossem eles próprios ou de amigos feridos. A pressa, no fim das contas, de nada valeria. Afinal, todos os alunos teriam que passar pelos policiais.

- Se nos virem, irão nos parar. E se nos pararem, irão puxar nossas fichas na direção. – disse Mackenzie com ansiedade na voz. Ou seria excesso de nervosismo? – E se negarmos, seremos levadas pra delegacia. Alguém pode dizer que nos viu lá. Vocês tem noção disso?

- Não estaríamos negando se simplesmente andássemos sem olhar para os lados, certo? – disse Amélie que, assim como todas elas, fitava a porta enquanto falava.

- Errado. E você sabe disso. – disse Khalifornia, desviando o olhar para a amiga.

Mackenzie respirou fundo e, em um ato súbito, cruzara seu braço com Lenora.

- Pois nós faremos mesmo assim.

E então, a menina começara a arrastar Lenora até a porta, com Khalifornia de braços cruzados com Amelie logo em seguida.

Todas saíram do prédio de peito estufada e os corações acelerados, passando pela porta que dava ao estacionamento. Este estava repleto de viaturas, cada qual com uma dupla de policiais com pranchetas de madeira, papéis e canetas azuis, anotando relatos de alunos.

Minha amiga disse que tentou fugir e fora atingida por um tiro na perna, senhor!”

“Ele teve metade do corpo queimado naquela noite. O peito e as pernas estão completamente desfigurados.”

O Sol queimava acima de todos eles, imponente. O ar quente cheirava à graxa, perfume e poluição.

O estômago de Amélie embrulhou.

Todas estavam paradas em frente à porta, os braços ainda cruzados.

- Ok. Estão prontas? - disse Mackenzie.

- Temos escolha? – perguntou Lenora.

- Nunca tivemos, por que agora seria diferente? – respondeu Manckenzie.

- Certo. No três? – dissera Khalifornia.

- Um... – começara Amélie.

- Dois...- continuou Lenora.

- Psiu!

Um sussurro chamou-as. Todas olhavam para os lados, em busca do autor.

- Aqui!

Era uma voz feminina.

Khalifornia reconhecera imediatamente, se desvencilhando de Amélie e seguindo o sussurro.

Por trás das árvores do estacionamento estava ela.

Ramona.

Ramona vestia calças destruídas de lavagem clara, uma blusa branca mostrando a barriga com mangas caídas sobre os ombros e tênis brancos nos pés. Os lábios novamente pintados de vermelho.

 

Ela sorriu enquanto as garotas se aproximavam aos poucos.

- Oi docinhos. Sentiram saudades?

- O que faz aqui? – disse Khalifornia.

Subitamente, Ramona ficou séria.

- Vim me certificar de que vocês não haviam me entregado para a polícia. – disse enquanto levava um cigarro até a boca, acendendo-o em seguida com um isqueiro rosa.

- Não se preocupe. Se falarmos de você, seremos levadas como cúmplices. – disse Mackenzie.

- Ótimo. – respondeu a menina, soltando lentamente a  fumaça pelos lábios. – Mas não vim somente por isso.

- O que você quer de nós?

Ramona sorriu maliciosa.

- Agora estamos conversando. – ela desencostou do carro, aproximando-se das garotas à sua frente. – Vim lhes propor uma...oferta. Mas não posso dizer nada aqui.

- Onde quer que nós lhe encontremos? – perguntou Amélie.

- Boas meninas! É disso que eu estou falando! – Ramona retirara do bolso um papel amarelo amassado e entregou à Khalifornia. – Vão até este endereço esta noite. Se forem perseguidas, deem um jeito de despistar. Este quesito envolve qualquer coisa, até mesmo matar.

Todas olharam incrédulas para Ramona, o que a fez soltar uma gargalhada alta para elas.

- Vejo vocês por aí, vadias.

Logo a menina saiu andando até sumir de vista.

Todas se entreolharam, confusas.

- Devemos ir? – perguntou Amelie.

- Mas é claro que sim. – respondeu Khalifornia, fitando o horizonte. – Não se nega uma proposta de Ramona Appleburn.

                                                                              [...]

As paredes pretas e foscas do quarto de Khalifornia estava com diversos desenhos em giz de cera, desde planos de viagens à frases de seus livros favoritos. O teto estava rodeado por pisca-picas amarelos e estrelas fluorescentes que ela colara ali quando era pequena. Ela pensava em quem um dia lhe traria tanta paz quanto essas estrelas. A cama de casal era de ferro branco, a cabeceira desenhada em detalhes delicados. A cama estava desarrumada,a fronha branca e a manta lilás amarrotadas na cama. Na parede atrás da cama, fotos estavam coladas em um painel. Fotos com as amigas, dela criança com os cabelos em seu tom natural: castanhos claros. ; fotos de viagens com a família, poemas em papéis amassados e banners de bandas que se apresentariam em bares da cidade. No canto, uma penteadeira azul petróleo repleta de embalagens de maquiagem – uns vazios, outros não. – e produtos para cuidar do tom azulado do cabelo. Ao lado, uma cômoda de madeira repleta de adesivos de caderno e rabiscos de glitter feitos por ela. Um espelho grandioso se erguia na parede ao lado das cortinas brancas, que estava aberta liberando a entrada da fria brisa da noite e abaixo desta, uma poltrona de veludo branca. No chão que imitava madeira, um tapete felpudo esbranquiçado se estendia à frente da cama e por fim, uma prateleira repleta de livros e discos de vinil de sua mãe, ao lado de uma pequena porta que levaria para o banheiro.

Lenora estava  em frente à cômoda, puxando várias blusas de Khalifornia e jogando-as no chão.

- Khalie, não tem nada do meu tamanho aqui!

- Não tenho culpa de você ser tão pequena! – retrucou Khalie.

- As crianças podem parar por um minuto? – irritou-se Mackenzie, que estava à frente da penteadeira, maquiando Amélie.

- Não é minha culpa se ela não sabe escolher uma blusa! – disse Khalie e em seguida levantando-se, indo até a cômoda com Lenora. – Aqui, eu te ajudo.

- Enquanto vocês ficaram aí, eu já deixei a Amy pronta! – disse Mackenzie, olhando para o trabalho bem feito no rosto de Amelie, orgulhosa. – Agora levante-se e se olhe no espelho.

Revirando os olhos, Amélie fora até o espelho grandioso do quarto de Khalie e se espantara com o que viu.

Os lábios estavam pintados intensamente de roxo, os cílios perfeitamente alongados com máscara e um delineado impecável completavam rosto, lhe dando um ar misterioso.

Trajava uma saia apertada que ia dos quadris até as coxas não tão magras, o busto coberto por uma regata branca e uma jaqueta de couro, esta dando destaque ao tom pálido de sua pele e coturnos vermelhos nos pés.

Mackenzie se aproximara dela, os cabelos castanhos agora tinham ondas mais definidas, os lábios estavam destacados de vermelho e os olhos nus, os cílios castanhos piscavam sobre os olhos verdes ansiosos. Usava calças pretas e tênis inteiramente brancos, uma camisa acinzentada e larga batendo em suas coxas.

Ela sorriu para Amelie, enquanto a mesma fitava seu reflexo no espelho lhe dizendo:

- Por que nunca sabemos onde vamos nos meter?

- Essa é a graça, meu doce. – retrucou Mackenzie, que subitamente ficara séria. –Mas dessa vez, as coisas são mais sérias do que imaginamos, não é?

- Não conhecemos Ramona. Nem sequer sabemos para onde estamos indo.

- Ninguém conhece – disse Khalifornia, aproximando-se ao espelho junto das amigas.

Vestia shorts brancos e detonados, coturnos pretos e uma camisa camuflada exibindo um trecho de sua barriga e por fim, uma gargantilha presa ao pescoço. Um crucifixo pendurado na mesma. Os cabelos longos e azuis estavam presos em um rabo de cavalo com fios escapando. Os olhos estavam repletos de máscara de cílios, dando vida aos olhos negros da menina.

- Tudo o que sei, e também que posso dizer sobre Ramona é que ela é perigosa. Não sei onde estamos nos metendo. – ela suspirou, abaixando o olhar. – E sinceramente, não quero saber.

Enquanto todas encaravam Khalifornia com o cenho franzido, Lenora juntou-se à elas no espelho.

Vestia calças na altura dos quadris de lavagem clara e rasgos por toda a sua extensão com tênis pretos nos pés. Uma regata branca lhe cobria o busto, dando destaque ao colar pendurado em seu pescoço, este segurando uma única pedra azul tiffany.

Ela suspirou, ainda de murmurar:

- O que posso dizer? Ensino médio é isso: cometer o maior número de erros antes de nossas almas descasarem em paz.

- Acho que vamos nos despedir da melhor maneira. – disse Khalifornia.

- Achei que iríamos viajar. – interrompeu Amélie.

- Acredite, eu também achava. – disse Khalie por cima de uma buzina vinda do lado de fora da casa dos West. – O táxi chegou. Vamos, antes que eu perceba que estamos fazendo a maior burrice de nossas vidas.

                                                                            [...]

Todas saltaram do carro no endereço indicado pelo papel amassado de Ramona.

Rua Birnfield, número 420

Quando o táxi acelerou, indo embora e sendo consumido pela escuridão das ruas, todas fitaram a construção que se erguia a frente delas totalmente confusas.

As cercas de madeira tinham sua pintura branca desgastada e estavam apodrecidas, assim como o pequeno portão do mesmo material. A poeira grudara nos dedos de Khalifornia quando esta abriu o portão.

A pequena extensão de grama que ia até a casa estava completamente seca, se desmanchando sob os pés de quem pisasse ali.

A grande mansão de paredes brancas estava destruída. Diversos traços de mofo e infiltrações corriam até as janelas, estas que estavam quebradas e com alguns pedaços de madeira tapando-as, mas não por completo. A telha estava imunda, a calha repleta de folhas e os canos ao redor da casa estavam enferrujados e entupidos. A única coisa aparentemente inteira naquela construção tão desgastada, seria a porta de madeira escura. As detalhe intactos e a madeira perfeitamente limpa e polida, o verniz recém aplicado. Um olho mágico de acabamento dourado e acima deste, uma lâmpada quebrada.

- Certeza de que estamos no endereço certo? – perguntou Lenora.

- Ahn, sim. Rua Birnfield, número 4-2-0. É aqui. – respondera Khalifornia, apontado para o número da casa desenhado em um pedaço de aço acima da porta.

- Ramona nos mandaria para uma casa abandonada? – perguntou Lenora novamente, desviando o olhar da casa para pousá-lo em Khalie.

- Sim, - retrucou Khalie, dura. Desviando seu olhar para Lenora. – Mas não sem motivo.

Lenora voltou seu olhar à casa, pensando consigo mesma se aquilo era sensato. Obviamente, não era. Mas o que poderia fazer?

Uma luz azul explodiu para fora das janelas da casa, de súbito. A luz atingira elas, tingindo suas peles de azul.

- Vamos entrar. – declarou Khalifornia.

Ela começara a caminhar até a porta, com todas seguindo-a apreensivas.

Quando chegaram à porta, e mesma abrira inexplicavelmente sozinha. Todas se entreolharam, receosas. Seria seguro continuar?

Khalifornia indicou com um movimento de cabeça, que deveriam continuar a segui-la.

Adentraram a casa em passos leves e lentos. E ela era mais terrivelmente destruída por dentro.

As paredes eram, assim como do lado de fora, marcadas por traços de mofo e infiltrações e, entre eles, pichações em tinta preta de gangues da cidade manchavam as paredes.

O piso estava empoeirado e repleto de cacos de vidro. O teto mofado tinha um lustre que já não funcionava mais. O ar ali era malcheiroso.

E ali, no centro do piso, um holofote explodia com uma luz azul.

De repente, passos começaram a ecoar pelo piso. Seria no andar de cima? Atrás delas? Os olhares varreram todos os cantos em busca de algo, sem sucesso.

E então, atrás do holofote, estava Ramona.

Trajava uma roupa que jamais poderia ser igualada ao lugar onde se encontravam. Os saltos pretos acompanhavam um vestido de tom grafite com alças finas. O vestido lhe caía até os joelhos, desenhando o corpo voluptuoso. Os lábios estavam novamente pintados de vermelho.

- Devo admitir. – começou ela. – pensei que não viriam.

- O que quer de nós? E por que este lugar tão imundo? – questionara Lenora, cruzando os braços.

- Uma coisa de cada vez, Lena. Posso te chamar assim?

Enquanto Ramona falava, cínica, todas lhe observavam confusas.

- Este lugar totalmente decadente foi escolhido para ser nosso ponto de encontro. Era a mansão de uma família, grande proprietária de uma fazenda especializada na produção de tomates para uma marca extremamente famosa. Incrível, não é? E ela se mantém até hoje.

Ramona deixava os olhos viajarem pela sala enquanto falava. Ela teria continuado após um longo suspiro, se não tivesse sido interrompida.

- Ramona, não brinque conosco. – intrometeu-se Khalifornia, cansada. – Diga o que quer de nós.

- E quem disse que eu quero algo de vocês?

- Você jamais fez algo sem esperar nada em troca.

Ambas se encaravam, em silêncio. Certamente, havia uma história ali. Uma história que ninguém sabia, todos sentiam, mas sequer ousariam perguntar.

- Pois bem, já que insiste. – um sorriso brotara nos lábios da menina. – Quero formar um time.

- Um time? -  pronunciara-se Mackenzie pela primeira vez.

- Sim, um time. Meu time. Não tenho muito à explicar, somente à prometer. Podemos nos tornar a maior gangue de São Francisco. Ou até mesmo da Califórnia.

- Gangue? – questionou Amélie.

- Sim! Qual é o problema, princesa? – respondera Ramona, inclinando sobre o holofote e espalmando a mão no mesmo. A luz azul criando pontos de luz e sombra no rosto da menina. – Está com medo?

- E o que acontece se não aceitarmos? – retrucou Khalifornia, rapidamente.

Ramona endireitou-se e pôs-se a dar a volta pelo holofote, parando à frente de Khalie.

- Absolutamente nada. Nada de ruim, nem nada de bom. Simplesmente nada, Mas não há como negar, vocês estão envolvidas com aquela noite, não é?

Todas mantiveram-se em silêncio enquanto Ramona erguia seu dedo indicador até os lábios de Khalifornia, contornando-os. Depois, começou a rir e seguiu seu trajeto, caminhando por entre elas.

- Conseguem imaginar? Nosso poder se alastrando pelo estado, depois pelo país...Vão me dizer que vocês naão ficam nem um pouco excitadas?

Elas mantiveram-se em silêncio.

- Vou dizer o que vocês precisam para viver neste mundo: dinheiro, poder e glória.* Pensemos sobre isso. Somos seres gananciosos e egoístas, não queremos nada além do benefício próprio e é assim que se cresce neste mundo, e que maneira melhor de fazer isto se não por cima dos outros?

- Sabe que não cairemos no seu jogo. – interrompeu Mackenzie, endireitando-se e dando poucos passos até ficar frente a frente com Ramona. – Se somos todos tão egoístas, o que me garante que você não é mais uma vadia egoísta?

Ramona gargalhou alto, balançando a cabeça.

- Estão pensando o que? Que serei uma líder? Não, não. – a menina pôs-se a caminhar novamente entre elas. – Quero dividir o poder por igual, compartilhar o que sei com vocês. Isso não tem a menor graça sozinho, não tem. Querem saber o por que de eu ter escolhido vocês?

Todas se mantiveram em silêncio, então Ramona parou novamente à frente de Mackenzie e completou:

- Por que ninguém teve a audácia de permanecer comigo, e vejam só, vocês estão aqui.

-Todas se entreolharam novamente antes de Amélie dar um passo à frente.

- Se aceitarmos, como isso iria funcionar?

- Se me seguirem, saberão de tudo.

Todas se entreolharam, apreensivas. Iriam mesmo caminhar rumo ao desconhecido?

Khalie respondeu, por todas.

- Para onde iremos?

Ramona sorrira maliciosa e começara a caminhar até o corredor pelo qual havia chegado.

- Vamos descobrir.        

   [...]

O corredor levara até os fundos da casa, o gramado aparado continha trechos secos e malcuidados como o da frente. Latas de lixo posicionavam-se por todos os lados, e alguns sacos reclinados nas mesmas liberando o mau cheiro. Uma grande e alta grade de metal com tapumes pregados à mesma erguia-se, estabelecendo o limite do gramado.

- O que viemos fazer aqui? – perguntou Lenora.

- Shhh, não queremos chamar atenção. – sussurrou Ramona.

A menina começara a caminhar até a grade de metal e, subitamente, puxou uma das pontas para cima, criando uma passagem.

- Primeiro as damas.

Todas encaravam Ramona. Para onde estaria indo? O que aconteceria lá?

A primeira a passar fora Khalie, seguida de Amy, Lena e Mack e por fim, Ramona.

Quando chegaram ao outro lado, encontraram o inesperado.

Estavam nos fundos da casa vizinha, esta estava incrivelmente cheia por gangues da cidade. Uns jogando baralho e, uma meda redonda de madeira. Outros enchendo seus copos de plástico em barris de cerveja. E alguns simplesmente parados, recostados à parede, observando as recém-chegadas.

Prostitutas rondavam o lugar com notas de dinheiro presas às peças curtas demais. Elas distribuíam se entre estar nos colos de alguns homens e caminhar pela casa, a fim de atraí-los.

Amélie engoliu em seco.

- É seguro estarmos aqui?

Ramona virou-se para Amélie, sorrindo.

- Está com medo? Posso levar vocês de volta.

Amélie encarou-a, depositando toda a raiva que lhe subira pelo corpo no olhar. E apenas sibilou:

- Não.

- Como eu pensei.

Amélie, assim como as outras, começaram a seguir Ramona pelo quintal. Uma caixa de som explodia uma música de batida envolvente. Amelie não saberia dizer qual era, apenas captara um trecho:

At times I wonder why I fool with you

But this is new to me, this is new to you

Initially, I didn't wanna fall for you…

(Às vezes me pergunto por que me enganar com você

Mas isso é novo para mim, isso é novidade para você

Inicialmente, eu não queria me apaixonar por você..)

Ramona balançava a cabeça no ritmo da música, os lábios soltavam alguns trechos da mesma em murmúrios.enquanto adentrava a casa por uma porta de vidro.

A casa era grandiosa como a que estavam anteriormente, porém esta estava povoada e mobiliada. A porta dera acesso à cozinha da casa, que tinha armários de madeira escura nas paredes brancas, uma bancada de mármore escuro com banquetas altas fixas ao chão ao redor encontrava-se no centro da cozinha. Lustres pequenos e redondos estavam suspensos ao chão formando uma trilha acima da extensão da bancada, os detalhes em vermelho ficando alaranjados devido à luz branca da lâmpada. Um forno estava fixo à parede e por fim, diversos aparelhos modernos para cozinhar. Um casal estava aos beijos acima da bancada, que estava suja assim como toda a cozinha. Plásticos, papéis amassados, embalagens de preservativos e garrafas de bebida vazias. Diversas pessoas riam e bebiam descontraidamente com armas presas às suas cinturas. Amelie, Mackenzie, Lenora e Khalifornia seguiam Ramona casa adentro, até a mesma parar na frente de um garoto jovem demais para estar ali, assim como elas. Tinha cabelos ruivos e curtos. As bochechas estavam coradas pelo ar abafado do lugar. Os lábios eram medianos e rosados, o nariz fino e delicado. Os olhos grandes e perder piscavam sob os cílios ruivos, piscando ansiosos para as acompanhantes de Ramona. Usava uma camisa xadrez, jeans surrados com rasgos nos joelhos e all stars nos pés. As mãos de unhas curtas seguravam um copo com um líquido amarelado. Cerveja, supôs Ramona.

- Rams ?! – disse o menino, alegre.

- Stefan! – ela abrira um sorriso. – O que faz aqui? Veio com o seu balaio?

Ele riu, balançando a cabeça.

- Só alguns. Os outros foram no hospital ver um amigo, ele levara um tiro naquele acidente de domingo.

Uma sombra passara pelos olhos de Ramona, mas a mesma não deixara transparecer qualquer coisa que sentira.

Enquanto isso, o menino dirigiu seu olhar às meninas, fitando-as curioso. Ele demorou-se em Lenora, os olhos capturando cada canto de sua forma.

Ramona, percebendo, começou a falar.

- Stefan, essas são Mackenzie O’Bryan, Amelie Roberts, Khalifornia West e Lenora Davis.

Ele cumprimentara à todas com apertos de mãos singelos e educados.

- Então. – continuou Stefan. – Por que as trouxe à rua mais perigosa de São Francisco?

- Viemos apenas nos divertir, não é? – Ramona virou-se para Khalifornia, aguardando uma resposta.

- Sim, claro que sim. – respondera Khalifornia.

Ele abrira a boca para dizer algo, sem sucesso.

Tiros ecoaram pela casa e uma correria teve incício, dando às garotas um vislumbre daquela noite de domingo. A noite do tiroteio.

Diversas figuras fardadas invadiram o local aos berros.

- CORRAM! – gritara Ramona às menina, virando-se para começar a correr após se dar conta de que Stefan já havia desaparecido.

Todas puseram-se a correr até a porta da frente, já que os policiais adentraram a casa pela porta dos fundos.

Entre empurrões, chutes e tropeços, com os pulmões agora cheio de fumaça feita pela pólvora dos tiros e cigarros abandonados, elas alcançaram a rua.  Teriam continuado a correr se,m de súbito, uma luz amarelada não tivesse lhes cegado.

- Todas de mãos para cima, agora! – gritara um policial com uma lasca no dente, sua arma apontada para elas. Quando se deram conta, outras viaturas estavam cercando a casa, pegando quem tivesse a mesma ideia que elas.

Elas ergueram os braços lentamente, e logo os policiais puseram-se atrás delas, puxando seus braços violentamente e algemando-as.

Estavam presas.


Notas Finais


➡ A referência de "dinheiro, poder e glória" (money, power, glory) é da Lana Del Rey!

➡ A música citada neste capítulo é "Location" do Khalid!

COMPARTILHEM!
Xxx


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...