Lenora permanecera em silêncio, assim como o restante. O que diriam para um desconhecido que, subitamente, pagou sua fiança e agora quer lhes oferecer algo em troca? Como lidariam com isso?
Amelie, cansada de todo aquele jogo, pôs-se à frente de Lenora e interrompera aquela situação ridícula, onde estariam provavelmente apenas sendo feitas de idiotas e sendo seduzidas por caras misteriosos.
- Por que confiaríamos em você? Em todos vocês? – disse Amelie, rindo sem humor.
No fundo, Amelie sabia que não se referia somente aos rapazes que apareceram nas portas da delegacia após uma noite em uma casa onde o ar cheirava à ervas estranhas, sexo e bebidas fortíssimas. Ela somente queria saber onde estava, ou o que estava acontecendo ali. Ela deveria estar na escola, aproveitando seu último ano! Estavam prestes a se formar e agora encontrava-se de frente para um caminho sem destino, ou sequer um fim.
Ela virou-se para as amigas que encaravam tudo extremamente confusas, até mesmo Ramona.
- E vocês? Não acham isso tão estranho quanto eu?
O silêncio reinara mais uma vez. Todos se entreolharam, a não ser os rapazes que permaneceram ali encostados na caminhonete de Tobias, aguardando uma resposta.
Logo, Mackenzie caminhou lentamente até Amelie e parou em sua frente, com os braços cruzados.
- Já vivi como uma boa menina por muito tempo, Amy. Não está na hora de vivermos algo que valha a pena contar?
Amelie engoliu em seco e encarou Mackenzie por um tempo.
- Não é como se a solução de todos os problemas fosse pular em uma caminhonete cheia de pessoas que não confiamos!
Silêncio.
Ambas mergulharam em seus próprios pensamentos sobre o que estaria acontecendo ali.
Mackenzie nunca vivera uma aventura, algo que fizesse o ar escapar de seus pulmões por deleite, não por desespero.
Ninguém ali poderia saber como aquilo iria acabar, e era isso o que fazia Mackenzie querer ir cada vez mais profundamente nesta história.
Ela voltara seus olhos verdes para Amelie, estes estavam mudando de cor pelo Sol repentino do outono, eles pareciam tão transparentes quanto água pura. Ela respirou fundo e então, virou-se para os rapazes atrás de si, encostados na caminhonete.
- Primeiro as damas, não é? – disse ela para ninguém em específico, em tom de divertimento e um sorriso fraco nos lábios.
Ela caminhou até a parte traseira da caminhonete e pôs se a escalar, os tênis brancos ficaram sujos quando atingira o alto e sentara com as costas apoiadas no aço que cercava a traseira do carro, impedindo que qualquer carga que estivesse ali caísse.
O silêncio pairou entre eles mais uma vez por baixo do som dos carros passando na avenida.
Todos aguardaram alguém tomar uma atitude, sendo ela sensata ou não.
Quando se dera conta, Khalifornia se juntou à Mackenzie e sentara ao seu lado.
E então todos começaram a se mexer no intuito de tomarem suas posições para ir em busca do desconhecido. Lenora e Ramona foram para a tarde traseira do carro também e sentaram-se ao lado das duas outras meninas. Todas com as pernas encolhidas e os braços apoiados nos joelhos. Então os rapazes subiram e tomaram seus lugares. Sebastian sentou-se em frente à Mackenzie e logo os olhares se cruzaram e misturaram-se um nos outros. Sebastian nos olhos transparentes de Mackenzie e Mackenzie no corredor escuro que eram os olhos de Sebastian. Ao seu lado, sentara Andrew de frente para Khalifornia. Ela observava além dele, vendo o céu azul, os estabelecimentos abrindo e os outros carros passando enquanto a língua umedecia os seus lábios secos e Andrew a encarava, fascinado. Quem era a menina misteriosa de cabelos azuis, que pareciam um anjo mas deveria ter o gosto do Inferno?
Ao seu lado, se sentara Stefan, de frente para Lenora. Ela ficara feliz por ser familiarizada à alguém que não fosse somente suas amigas. O menino lhe sorriu fraco e ela retribuiu, colocando duas mechas do cabelo loiro atrás das orelhas.
E então, por último, sentara Edgar de frente para Ramona, dialogando não por palavras mas sim pelo olhar. Ela sabia que ele reparou no choque que tivera ao vê-lo. Vê-lo ali, forte, inabalável, mortalmente lindo e....vivo.
Subitamente, após se encararem em um jogo assustador, seus lábios rosados formaram um sorriso que arrepiara Ramona até a nuca. Logo Ramona, que não temia nada, tinha medo daquele semblante de Edgar que parecia extrema e terrivelmente...
Cruel.
Tobias começara a caminhar até a caminhonete, em direção ao banco do motorista.
Todos haviam tomados seus lugares em direção ao desconhecido, menos Amelie. Que permanecera ali, parada na calçada, com os braços em volta de si.
- Vamos, Amy. – disse Mackenzie em alto tom. – Nós vamos ficar bem.
- Na última vez que me disseram isso, eu fui presa.
- Bom, eu também. E agora não estamos mais graças à eles. Pode confiar em mim uma única vez?
Amelie continuara indecisa na calçada. Eles poderiam machucar todos ali. Poderiam abandoná-la com alguém pior do que eles.
Até que a menina ergueu a cabeça e, surpreendentemente, começou a caminhar em direção ao único lugar vago: o banco do carona.
Ela não seria a pequena Amelie. A Amelie frágil, totalmente adepta ao senso comum e entediante. Ela iria se deixar extravazar por um momento, testar como seria se ela fosse ela mesma por um dia.
Então ela abrira a porta e se sentou ao lado de Tobias, que permanecera encarando fixamente a estrada com o maxilar trincado. A caminhonete estava com o couro do banco com rasgos em alguns pontos. Copos de café, embalagens de salgadinhos e garrafas de bebidas vazias estavam espalhados por todo o canto. O cinzeiro continha diversas pontas de cigarro apagadas que faziam o cheiro de cinzas se espalharem por toda a parte interna da caminhonete.
Amelie automaticamente se encolheu no banco do carona, o movimento fizera algumas mechas de seus cabelos brancos caírem em seu rosto.
Estranhamente, Tobias desviou seu olhar da estrada e o voltou para Amelie. Ela encarou sua face rígida como a de um Arcanjo e os olhos de um azul tão frio assustada.
- Escute. – começou Tobias, duro com gelo. – Não ajudei este grupo a chegar até aqui para um bando de garotinhas colocarem tudo a perder. O bonitão ali atrás sabe que, desde o início, eu odiei essa ideia. Odiei todas elas antes de conhecê-las, odiei você antes de te conhecer. E não pretendo mudar isso tão cedo. Então fique fora do meu caminho, e eu ficarei do seu. Eu fui claro?
Amelie permaneceu encarando Tobias, incrédula. Então o menino que parecia um anjo, se demonstraria o próprio diabo. Mal sabia ele mas...a recíproca era verdadeira.
- Responda. – disse ele, agora com a voz mais dura e em alto tom.
- Como cristal. – respondera Amelie, com nojo.
Tobias desviou o olhar de Amelie e se concentrou em ligar o motor e dar partida na caminhonete, dirigindo em direção ao Sol estranhamente brilhante do outono.
[...]
Após bons minutos, Tobias estacionou em um lugar onde todos eles reconheceram logo de cara. Belíssimas lembranças eram feitas naquele lugar em qualquer época da vida de uma pessoa.
O Pier 39 estava, como sempre, lotado. Pessoas caminhando com doces ou salgados, crianças correndo pelos pisos de madeira que sustentavam o lugar. Várias atrações abertas para quem quisesse se divertir. Diversas famílias paravam para ver os leões marinhos e a canção de artistas de rua com seus doces toques no violão embalavam o local. O Sol estava começando a dar sinais de que iria embora, os céus estavam tingidos de lilás e laranja com algumas nuvens flutuando em alguns pontos. O vento começara a ficar gelado, fazendo com que a pele de todos eles ficasse arrepiada.
Todos desceram da caminhonete, extremamente confusos. O que estavam fazendo ali? Qual seria a grande oferta do time de Edgar Cyrus que deveria ser dita em um píer de atrações familiares?
Os rapazes foram na frente enquanto as meninas encaravam toda aquela alegria e luzes coloridas confusas.
Quando perceberam, eles se viraram para saber o porquê não estavam sendo seguidos por elas.
Edgar fez um sinal com o braço, indicando que deveriam vir junto. Elas se entreolharam, não por medo do que encontrariam lá, mas por não quererem entrar em um maldito píer cheio de festa apões passarem noites em uma pequena cela na delegacia.
Mas o que poderiam fazer? Já estavam ali de qualquer maneira, que continuassem agora.
Então começaram a adentrar o píer junto dos rapazes, observando o redor e tentando não pensar em qual seria o futuro daquela decisão.
Quanta alegria tinha naquele lugar, e ali entre eles, quanta desgraça.
Após algum tempo de caminhada, elas viram os rapazes adentrar na única atração que estava fechada: O labirinto de espelhos.
Todos os rapazes adentraram o labirinto. Ramona continuara caminhando junto deles até a porta, até que parou e olhou para trás, vendo o restante das garotas paradas.
- O que foi? Por que estão aí paradas?
- O que estamos fazendo aqui no píer? – perguntou Lenora.
- Acho que pulamos naquela caminhonete pra descobrir tudo, não é?
- Conhece algum deles, além do Stefan?
- Já ouvi falar dos trabalhos de Edgar Cyrus e seus ratos de laboratório. Apesar de que ninguém trabalha pra ninguém ali.
Todas permaneceram em silêncio e se olharam. O que aconteceria dali pra frente?
- Então, vocês vem? – perguntou Ramona sem esperar uma resposta, já adentrando o labirinto.
A primeira a pisar firme até o labirinto e entrar foi Mackenzie, sem olhar para trás. Depois veio Khalifornia, Lenora e enfim, ainda incerta, Amelie.
O lado de dentro era o que o nome diz. Havia espelhos por todas as partes, indo do teto ao chão com bordas brilhantes de luzes de neon multicoloridas. A luz ali era fraca apesar de ali ser uma atração turística, provavelmente seria arte para criar algum clima de mistério pelos rapazes da gangue.
Elas estavam no começo do labirinto, caminhando devagar enquanto viam diversos reflexos delas mesmas no espelho.
Até que surgira mais um reflexo entre elas. O reflexo se misturara com a pessoa em si.
- Sejam bem-vindas. – disse Andrew, acompanhado de seu reflexo. Ele caminhava em círculos enquanto seus reflexos se alternavam entre os espelhos. – Gostaríamos de saber o que as senhoritas tinham em mente quando aceitaram este convite.
- Honestamente? Nada. – respondeu Amelie.
O sorriso de Andrew se tornou mais largo e malicioso, e então ele adentrou um corredor e seus reflexos foram junto dele.
Elas se apressaram para não perdê-lo de vista, falhando.
E, mais assustadoramente ainda, Khalifornia e Ramona também haviam sumido. Sobrando apenas Lenora, Amelie e Mackenzie naquele corredor. Logo, outra voz assumiu o lugar da de Andrew.
- De fato, pois não sabem no que se meteram vindo até aqui. – disse Stefan, surgindo junto de milhares de reflexos dos espelhos do labirinto. – Quando se juntarem à nós, se o fizerem, devem saber que não existe caminho de volta para casa.
Apenas as três viam a figura de Stefan em carne e osso, Khalifornia e Ramona viam o reflexo distorcido dele nos espelhos, prestando atenção em sua voz.
- Então o que vocês querem que precisem tanto de nós? O que ganharemos depois disso tudo? – perguntou Ramona.
E então, surgira Edgar no corredor de Khalifornia e Ramona.
Ramona teria conseguido manter a postura se Khalifornia estivesse ali ainda. A garota de cabelos azuis que estava ao seu lado, subitamente, sumira. Provavelmente fora para outro corredor e se perdera dela, assim como se perdera de Amelie, Lenora e Mackenzie. Que agora só conseguiam ouvir a voz de Egdar.
- Ah, a grande Ramona Appleburn. – disse a voz de Edgar, arrasta e rouca, como se saboreasse o medo de Ramona. – Vai me dizer que está pensando antes de aceitar alguma coisa? Isso vai tão contra a sua política...Quantas perguntas para algo tão simples, minhas garotas. Mas, sejamos racionais. – Edgar se aproximou de Ramona, chegou perto a ponto de sentir a respiração da menina batendo em seu pescoço enquanto os olhos estavam vidrados um no outro. – O que queremos não tem necessidade dessas informações.
Ramona tentou concentrar toda a sua incredulidade no olhar quando ouviu Edgar dizer as mesmas palavras que ela tinha dito pra ele naquela temida noite.
E então, subitamente, todas as luzes se apagaram por um breve momento e a voz de Edgar se calou. Quando se acenderam, ele havia sumido junto de seu reflexo nos espelhos.
Amelie olhou para os lados em seu corredor dando de cara somente com os seus reflexos.
Lenora e Mackenzie haviam sumido.
Agora, todas tinham um corredor para elas mesmas.
Amelie começara a caminhar lentamente, se perdendo junto de seus reflexos e ficando com uma leve dor de cabeça. O que estava acontecendo ali?
Então, uma figura surgiu em seu corredor junto de milhares de reflexos. A última pessoa no qual ela desejava ver.
Tobias começou a caminhar lentamente até ela, parando um pouco distante, mas com seus olhos vidrados nos dela.
- O que queremos de vocês, é bem simples. – disse Tobias, com a voz dura.
No corredor ao lado, o corredor de Mackenzie, surgira outra figura com diversos reflexos. Mas, ao invés da tensão que tinha os olhares de Amelie e Tobias, agora existia um ponto de sedução e atração pelo desconhecido.
- Queremos que vocês se aliem ao nosso time. – completou Sebastian.
- Lamento informar, mas vocês chegaram um pouco tarde. – disse Ramona no mesmo tom de voz que eles, para que todos pudessem ouvir. Mas com os olhos ainda vidrados nos de Edgar. – Eu já ofereci uma boa proposta para elas.
- Pois então que façamos uma aliança entre as gangues. – disse Stefan enquanto surgia no corredor de Lenora, fazendo-a levar um susto.
GANGUES?! , fora a única coisa que surgira na cabeça das quatro que não faziam parte deste mundo.
Stefan sorriu quando percebera o semblante confuso de Lenora no meio daquilo tudo.
- Não se preocupe, meu doce. Você vai se encontrar. – sussurrou para ela.
Ela apenas olhou feio para Stefan e desviou seu olhar para todos aqueles reflexos deles. Ela percebeu, constrangida, que alguns deles se misturavam e, como em um quebra cabeças, se completavam.
- E então, podemos nos tornar cada vez mais poderosos. Derrubando todas as gangues da rua Birnfield. Até mesmo de São Francisco. – completou Andrew adentrando o corredor de Khalifornia. Ele sorria fraco enquanto caminhava, ainda impressionado com a misteriosa garota de cabelos azuis.
- E então? O que acham? – terminou Edgar.
Todas ficaram em silêncio por um longo momento, se perguntando se acietariam ou não, até que...
- Esperem. – interrompeu Lenora. – como vamos aceitar essa aliança, de uma gangue para outra, se a nossa ainda nem existe?
E realmente, era verdade. Elas ainda não haviam dado resposta para a proposta de Ramona. Ainda não tinham a própria gangue.
- E mais uma coisa. – disse Amelie. – com querem que nós façamos parte de sua gangue se nunca nenhuma de nós assaltou nem uma bala em um mercado de esquina?
Os rapazes gargalharam com a pergunta de Amelie.
- Pois escutem bem, todas vocês. – disse Edgar. – Vocês tem até a meia-noite deste sábado para nos dar uma resposta. E que fique claro: o que for dito, se vocês aceitarem, permanece aqui. Ou irão se arrepender.
- É claro que iremos... – sussurrou Amelie para si mesma.
Tobias, que era o único no corredor de espelhos, olhou para ela com ódio.
- Sabe, se eu fosse você, não nos subestimaria tanto.
E então, os lábios de gelo abriram um sorriso cruel, que deveria causar medo em Amelie, mas só causara ódio.
Antes que pudesse dar uma resposta, a voz de Edgar se ergueu novamente para todos ouvirem, batendo nas paredes de espelho.
- Agora, podem ir. Temos muito trabalho a fazer antes que vocês se juntem a nós.
E então as luzes se apagaram outra vez e, quando retornaram, os rapazes e seus reflexos nos milhares de espelhos haviam sumido.
A primeira a dar meia volta em busca de uma saída fora Khalifornia, que começara a gritar por Ramona por ter sido a última que esteve com ela.
- Ramona!
- Estou aqui! No corredor ao lado do seu.
- Eu estou indo até aí.
- Não! Se vier, vai se perder mais ainda.
Então elas começaram a ouvir passos vindo e, quando Ramona se virou em seu corredor, dera de cara com uma figura magra e miúda.
- Khalie? – era a voz de Lenora. – Onde você está?
- No corredor do lado do seu, mas se tentar vir pra cá, provavelmente vai se perder mais ainda.
- Vamos todas tentar encontrar a saída, independente de estarmos juntas ou não. A que achar primeiro espera a outra. – disse Ramona.
- Amy? Mack? Estão ouvindo? – perguntou Lenora.
- Sim! – responderam as duas em uníssono. – Vamos tentar achar a saída também.
- Ok. Vejo vocês lá fora.
Lenora e Ramona começaram a caminhar até a saída do corredor enquanto Khalifornia ia por onde os rapazes haviam entrado antes, dando de cara com um corredor sem saída. Estava começando a ficar atordoada ali por ver tantas vezes sua imagem nas paredes. Estava cansada, faminta, suja. Queria chegar em casa e abraçar os pais, fechar os olhos e esquecer que aqueles últimos dias existiram. A determinação fez com que ela não desistisse, logo ela deu meia volta e continuou a correr em direção à outra saída.
Já a saída do corredor de Amelie parecia ser infinita. Ela corria e não saía em lugar nenhum, apenas via mais caminho para trilhar. Os espelhos lhe deixavam tonta, já não sabia o que era ela e o que era o espelho. Quando resolveu se apoiar por conta da tontura em um deles, ele começou a amolecer e caiu, dando de cara com outra passagem que dava para um novo corredor. Ela entrou sem pensar duas vezes.
Mackenzie seguia em zigue-zague pelo emaranhado de seus reflexos. Seus olhos pareciam azuis por conta da luz que fazia os neons parecem ainda mais coloridos. Ela corria e olhava para trás, querendo saber se estava sendo perseguida até que em um momento de distração, tombou com alguém um pouco menor e mais leve que ela. Seus cabelos loiros voaram em seu rosto, mas era inegavelmente...
- Lena! – Mackenzie abraçou Lenora com tanta força que fez com que ela perdesse mais um pouco do fôlego da corrida. – Você está bem?
Ela apenas balançou a cabeça, fazendo um “a-hã” quase inaudível com a boca. Mackenzie sabia que ela não estava bem, que nenhuma delas estava. A não ser quem já estava acostumada com uma vida de gangues. Ela olhou para o lado, notando a presença de Ramona ao lado de Lenora.
- Ótimo, achamos uma. Agora podemos ir?
Sem pensar em uma resposta, elas voltaram a correr sem rumo pela confusão de espelhos.
[...]
Enquanto isso, Khalifornia ainda corria pelo labirinto dando de cara com diversos corredores sem saída. Ela gritava até sua garganta doer por suas amigas, gritava até por Ramona. Até que finalmente ao virar em um corredor, tonta por conta do cansaço da corrida e por ver sua figgura refletida nos espelhos milhares de vezes, ela encontrou Amelie. Seus cabelos brancos estava grudados na testa e na nuca, os lábios esbranquiçados e secos e os cotovelos machucados.
- Amy! – gritou Khalifornia. – Você está bem?
- Não. – respondeu a mesma enquanto encarava-se no espelho. – Khalie, onde é que nos metemos? O que vai acontecer daqui pra frente?
Naquele momento de calma física e explosão mental, Khalifornia se deu o direito de apoiar a cabeça no ombro de Amelie e encarar sua figura, que havia se juntado a de Amelie.
- Eu sinceramente não sei. Mas nós sempre fomos juntas até o fim, não é? Com qualquer coisa.
Amelie balançou a cabeça em afirmativo, devagar.
- Certo, vamos tentar sair daqui, está bem?
- Isso é engraçado. – disse Amelie. – viemos tantas vezes até aqui quando nos conhecemos e agora estamos desesperadas em busca de uma saída.
- Bom, eu não sei como, mas esses corredores não são os mesmos de quando éramos crianças.
- É verdade... E digo isso em todos os sentidos.
Elas observavam agora os corredores do labirinto, vendo os pontos diferentes do que havia ali. De alguma forma, os rapazes desfiguraram aquele lugar para adaptá-lo ao plano deles e atraí-las até ali. O labirinto de quando elas eram crianças era simples, poderiam sair virando dois corredores. Naquele, que tinha corredores mais extensos e parecia ficar cada vez maior e dando em lugar nenhum, elas estavam perdidas.
O devaneio fora interrompido quando a voz de Lenora bateu pelas paredes de espelho e chegou nos ouvidos delas. Quando viraram, Lenora estava correndo até elas, com Mackenzie e Ramona logo atrás. Elas estavam exausta e completamente suadas. Uma alegria preencheu o peito de todas por finalmente estarem juntas depois de tanta procura. Mas a alegria logo se esvaiu. Como iriam sair dali?
- E agora? Acharam alguma porta? – perguntou Mackenzie.
Todas negaram no mesmo instante.
- Então só existe um jeito. – começou Ramona. – Vamos procurar uma saída, mas nenhuma pode se separar da outra. Entendido?
Todas afirmaram com a cabeça pois, por mais que Ramona tivesse indiretamente arrastado elas para toda aquela situação, ela estava certa.
E então o mesmo foi feito, elas voltaram a correr pelos corredores, encontrando caminhos sem fim e corredores sem saída. Chegaram em um momento no qual Lenora bateu o cotovelo com força em um dos espelhos e cortara o braço, mas por sorte não tão profundamente.
Mesmo com o ardor do corte, Lenora ainda corria pelo labirinto com a mesma vontade que todas elas. Elas só queriam ir para casa. Até que, ao virarem o vigésimo corredor, ao fim dele. Finalmente viram a porta. Elas correram felizes até a mesma e quando enfim saíram, sentiram-se livres. J´[a havia anoitecido, o ar estava gelado e o vento forte. O píer estava fechado. Todas as atrações estavam apagadas, inclusive sua icônica roda gigante. Elas olharam ao redor, acharam que encontrariam algum dos rapazes daquele bando misterioso ali, mas só encontraram o vazio, a água do mar correndo junto do vento, vento este que levava folhas de papel e de árvores por aí. Elas se olharam, perguntaram-se o que fariam. Como responderiam aos rapazes sua proposta? Seria sim? Seria não? E como responderiam sua proposta, se nem haviam respondido a de Ramona? Eram vistas agora como uma gangue?
Mas não pensariam mais naquilo. Pelo menos não naquela noite.
Quando se deram conta, já estavam caminhando para fora do píer que não lhe traria mais lembranças tão boas e chamaram um táxi. Quando o mesmo chegou, Amelie fora a primeira a se enfiar no banco de trás, seguida por Mackenzie, Lenora e no banco do carona, Khalifornia. Ramona novamente não se sentiu confortável em ir com elas. Quando fora questionada do motivo por Khalifornia, apenas recebeu uma resposta curta e objetiva.
- Me procurem em vinte e quatro horas. E acho bom terem uma resposta.
E então a mesma fechou a porta do táxi, que arrancou logo após. Elas sabiam que estava física e mentalmente exaustas mas que deveriam tomar uma decisão, que levaria para outra maior ainda. Aliaram-se ao time de Ramona? E em seguida? Ao de Edgar?
Agora não queriam responder nada, só queriam chegar em suas casas e sucumbir ao sono, e esquecer da noite no labirinto de espelhos.
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