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História Tsukiko-chan Taiyou-kun - Capítulo 4


Escrita por: phmmoura

Capítulo 4 - Capítulo 4


Tsukiko balançou de um lado para o outro na cadeira, cantarolando.

De tempo em tempo, Taiyou-kun se virava e olhava para ela, mas logo voltava a atenção para o que fazia, sem nunca dizer uma palavra.

Você quer me mandar parar, a menina sabia, seu sorriso crescendo. Ela também tinha total certeza de que o menino super educado nunca diria algo tão rude, então ele apenas continuou cozinhando o café da manhã deles.

— Qual o problema, Taiyou-kun? — Ela o provocou, parando de balançar. A garota também sabia que havia outro motivo para o rapaz não mandá-la parar. Ele está tão feliz quanto eu. Tsukiko já o pegou sorrindo duas vezes naquele dia. Antes que percebesse, estava balançando na cadeira mais uma vez.

— Vocês dois parecem felizes demais tão cedo — disse uma voz, seguida de um bocejo.

Tsukiko virou a cabeça.

— Rin-nee! — Ainda que a visão da mulher saindo do quarto, usando nada além de uma camisa e shorts curtos surpreendeu a menina na primeira vez, agora Tsukiko já estava acostumada e seu sorriso cresceu. — Bom dia!

— Bom dia. — A tia do rapaz bocejou de novo, esfregando as têmporas. — Poderia não falar tão alto?

— Ok — disse Tsukiko enquanto a mulher sentava ao lado dela. A garota parou de balançar na cadeira.

— Obrigada. — Rin-nee descansou a testa no balcão. Ela gemeu de repente, sua voz saiu abafada. — Nunca mais, eu juro. Obrigada, Taiyou — completou, quando o garoto trouxe um copo de café para ela.

— Você diz isso toda vez — sussurrou Taiyou-kun. Não foi alto o bastante para a tia dele ouvir, mas bastou para Tsukiko e a garota riu.

— Não foi minha culpa. — Depois do primeiro gole, Rin-nee parecia mais animada. — Foi tudo culpa da Sawako. Só porque filha dela passou os últimos dias com os pais e volta hoje, ela queria aproveitar antes de voltar para a maternidade. — Ela tomou outro gole, dessa vez apreciando com cuidado. — Eu deveria saber que ela sente falta da Aika-chan. Espera… então foi minha culpa. — Apesar do que dizia, Tsukiko viu o sorriso no rosto da mulher. — Então, por que os dois estão felizes tão cedo?

— Vamos passar o dia em Akihabara! — anunciou Tsukiko com seu maior sorriso.

Rin-nee arregalou os olhos tanto que a garota riu da reação exagerada.

— Será a primeira vez dele com uma garota bonita… meu sobrinho não está pronto para isso — disse, balançando a cabeça. — Ai. — De repente, ela pressionou a têmpora com a mão esquerda.

Tsukiko riu. Rin-nee nunca perdia uma oportunidade de provocar o sobrinho. Tenho muito a aprender com a ela, pensou a menina e então se virou para o garoto. As reações dele são adoráveis demais. Taiyou-kun ficou vermelho e tentou esconder o rosto, dando as costas às duas.

— Ele pode não estar pronto, mas vai se esforçar por mim — disse ela, inclinando na direção do menino. — Não é mesmo, Taiyou-kun?

Ele não respondeu. O menino continuou cozinhando como se nada ouvisse, mas a garota podia ver a ponta de suas orelhas avermelhando. Rin-nee riu.

— Não posso acreditar que meu garotinho está crescendo — disse, terminando o café e enchendo a xícara outra vez. — Qual a ocasião especial?

— Meu aniversário — disse Tsukiko, baixinho, pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Rin-nee arregalou os olhos de novo. Dessa vez, Tsukiko sabia que a reação de surpresa era verdadeira. Um segundo depois, a mulher estava com um sorriso no rosto.

— Feliz aniversário, Tsukiko-chan.

— Obrigada — disse a garota. — Na verdade é a-amanhã. — Ela ficou um pouco vermelha e evitou os olhos da mulher.

Rin-nee olhou para ela enquanto tomava o café.

— Vai fazer quantos anos?

— Catorze.

— O tempo passa rápido. Parece que foi ontem que vi você com uma randoseru — disse Rin-nee, quase cantarolando. A garota ficou um pouco mais vermelha e mais quieta. A mulher colocou um dedo em seu queixo. — O que eu devo dar para uma garota de catorze anos?

As bochechas de Tsukiko ficaram ainda mais vermelhas.

— Não precisa se dar ao trabalho — adicionou, rápido.

— Não é trabalho nenhum. Você só faz catorze anos uma vez. — Rin-nee terminou seu café e descansou a xícara no balcão. — Faz um tempo desde que fiz catorze… duvido que as meninas de hoje queiram as mesmas que na minha época. E tenho certeza de que você não vai querer o mesmo que eu quis — disse, olhando para a porta do seu quarto. — Ah, e não pergunte a Sawako. Ela vai dizer que faz pouco tempo desde que tinha sua idade. — Ela riu tão alto que precisou cobrir a boca logo em seguida.

Até Taiyou-kun sorriu enquanto colocava panquecas em dois pratos e entregava para sua tia.

— Obrigada. Vou me certificar de que a Sawako saiba quem cozinhou. A última coisa que quero é dizer que não fui eu de novo e de novo. — Rin-nee pegou uma travessa dos armários, colocou a comida e uma xícara de café, então levou para o quarto dela.

Quando ficaram sozinhos de novo, Taiyou-kun passou o prato de Tsukiko para a própria. Ela deu uma boa cheirada e seu estômago roncou em resposta.

— Obrigada pela comida! — disse a garota, unindo as mãos.

Ela esperou até que Taiyou-kun se sentasse na cadeira e fizesse o mesmo que ela. Embora ele tivesse murmurado seu agradecimento, a garota sentiu o êxtase na voz dele. Com um grande sorriso, Tsukiko deu a primeira mordida de seu primeiro presente de aniversário. Ele já deixou meu dia melhor com isso, pensou ela, dando outra mordida.

Assim que terminaram, eles foram para a estação de trem.

— Vamos no evento primeiro. Então vamos pra um fliperama e depois podemos comer alguma coisa num maid café — anunciou Tsukiko, contando os planos dos dois nos dedos. Não obtendo reação dele, ela deu uma espiada no menino; seu rosto estava um pouquinho vermelho e ela sentiu um impulso repentino de brincar com ele. — Taiyou-kun, sei que você nunca foi a um maid café e por isso preciso avisá-lo. Não é como nos animes. Ainda que você seja fofinho demais, as moças vão ficar bravas se olhar debaixo das saias delas, então é melhor não estar planejando algo parecido.

Taiyou-kun se virou para ela no mesmo instante, seu rosto com um tom alarmante de vermelho.

— Eu nunca faria algo assim!

Foi ainda melhor do que eu esperava, pensou ela, rindo. A mão de Tsukiko voou até a cabeça do garoto, bagunçando seu cabelo.

O silêncio reinou enquanto eles embarcavam no trem; ele estava envergonhado demais pra dizer qualquer coisa e Tsukiko foi cantarolando todo o caminho para Akihabara. Ela não esforçou para conter o grande sorriso, feliz demais para se importar se olhavam para ela.

Até depois de chegar em Akihabara, o silêncio continuou entre os dois. Taiyou-kun esqueceu a vergonha e agora olhava os arredores, os olhos arregalados. Ele está tentando ver tudo de uma vez? A garota quis saber enquanto observava as reações dele. O menino encarou todas as direções, os olhos parando em tudo que chamava sua atenção.

Taiyou-kun viu o mascote de uma companhia tentando levar pessoas até a loja. Ele observou a grande tela presa a um prédio quando um grupo de idols apareceu dançando em um comercial. Ele olhou um grupo que passou caminhando de cosplay.

Não são nada ruins, pensou Tsukiko, tirando seus olhos de Taiyou-kun por um momento e olhando o grupo também. Mas a bandana do cara está com o símbolo errado. E a meia três quartos dela é preta em vez de azul escuro, sua crítica interna gritava com os pequenos erros. Quando ela notou o que fazia, a garota suspirou. Por que estou reclamando? Meu único cosplay está cheio de erros também… e eu nem tive a coragem de trazê-lo hoje… Tsukiko balançou a cabeça, deixando isso para lá. Por que estou fazendo isso? Eu deveria estar aproveitando meu aniversário com o Taiyou-kun.

Ela voltou a atenção para as costas do garoto. Ele tirou os olhos dos cosplayers e agora encarava algo com as bochechas vermelhas. Tsukiko seguiu sua linha de visão e depois riu. Uma maid com orelhas e cauda de gato entregava panfletos de seu café.

Tsukiko abaixou a cabeça e aproximou-se da orelha dele.

— Porque está babando tanto ela? — sussurrou. Taiyou-kun arfou e virou-se para ela, com os olhos bem abertos. Sua boca abriu e fechou várias vezes, mas nenhuma palavra saiu. Ela riu. — Você realmente tem um fetiche por maids, eropirralho.

Com as bochechas levemente rosadas, ele olhou para baixo, evitando os olhos dela. O sorriso dela ficou menor e menor até que a culpa cutucou sua consciência e ela parou de brincar com o menino. Tsukiko olhou em volta e o puxou pela mão. — Vamos, nenhum de nós quer se atrasar — disse.

Taiyou-kun ergueu o olhar e ela indicou a tela no prédio. As idols sumiram e agora mostrava um comercial do evento de My Guardian Persona. Começaria em trinta minutos e eles pretendiam ir. O garoto sorriu e então correu um pouco, alcançando-a e ficando ao seu lado, sem soltar sua mão.

Com oito andares e apenas um cartaz de anúncio com o nome ao lado, eles nunca prestariam muita atenção ao prédio. Mas hoje era diferente. A livraria, que já continha muitos livros, mangás e light novels que Tsukiko compraria sem nem pensar, era o local do evento de autógrafos.

— É maior do que nas fotos, não é? — perguntou Tsukiko, sem tirar os olhos do prédio. Não importa quantas vezes eu venha, esse lugar ainda é impressionante. Como o rapaz não respondeu, ela virou a cabeça. Taiyou-kun não ouvia, seu olhar fixo no cartaz. — Vamos.

Havia uma fila na entrada. Embora houvesse várias crianças com mães e pais, tinha um grande número de rapazes mais velhos desacompanhados. Eles estão aqui pro evento também…? De repente, Tsukiko sentiu a mão do rapaz se apertando em volta da sua e ela sorriu enquanto eles entravam na fila.

— Com licença — disse um atendente quando a fila começou a andar. Ele esperou até os clientes se voltarem para ele. — Se estiverem aqui pelo evento de autógrafos, por favor, estejam com os ingressos em mãos e prossigam para o elevador.

Muitos pais obedeceram. Tsukiko pegou os ingressos dos dois com sua mão livre enquanto entravam.

Apesar das estantes e pilhas de livros aqui e acolá, havia um espaço para caminhar sem esbarrar em ninguém. Tsukiko notou o porquê disso na mesma hora. Eles abriram espaço entre muitos livros para o evento de hoje.

Enquanto caminhavam pelos corredores, Tsukiko se esforçou para não olhar as prateleiras. Se eu olhar pros mangás, vou perder a noção do tempo… de novo… Com os olhos fixos na parede no fundo, ela arrastou Taiyou-kun, notando que ele estava especialmente mais difícil de puxar. Acho que somos farinha do mesmo saco, pensou ela, rindo.

Havia uma fila para usar o elevador.

— Nunca pensei que estaria tão cheio — disse ela, suspirando. — Estou feliz que o mangá está ganhando a popularidade que merece, mas queria que não tivesse tanta gente…

— Não acho que seja o único motivo — disse ele, em voz baixa.

Ela olhou para ele e o rapaz indicou um pôster com a cabeça. Um anúncio para o volume mais recente de Trouble, um mangá popular que ganharia anime na próxima temporada. Ela ergueu a cabeça e olhou em volta. Aquele não era o único pôster. Na realidade, aquele mesmo pôster estava espalhado pela loja toda, quase tanto quanto o do evento de autógrafos.

— É por isso… — Tsukiko finalmente soube o motivo de tantos jovens mais velhos virem sozinhos. — Não posso acreditar que as duas coisas acabaram sendo no mesmo dia.

— Ei… Eu vi esse mangá no seu quarto — disse Taiyou-kun, seus olhos fixos no pôster enquanto a fila do elevador andava. — É sobre o quê?

— Ah, é um harém ecchi sobre um cara que conhece uma princesa alienígena… — disse Tsukiko, sem interesse. Então ela notou o que acabara de falar e arregalou os olhos enquanto olhava o pôster. A mulher com um busto largo segurava o personagem principal como uma boneca. — Não, Taiyou-kun. Não olhe. Você é puro e inocente demais para essas coisas!

— E você não? — perguntou o garoto com a mesma voz baixa, olhando para ela com seus olhos límpidos.

As palavras dele resultaram em risadas abafadas de clientes próximos. Tsukiko ficou vermelha e bagunçou o cabelo do garoto para esconder a vergonha.

— Você está passando tempo demais comigo. Nunca teria dito algo assim antes.

Embora ainda estivesse vermelha, quando ela viu o rapaz rindo, todo seu embaraço sumiu e ela não conseguiu conter outro sorriso. Ele está se abrindo pra mim, pensou ela, apertando a mão dele. Quem sabe eu possa ser sua irmã divertida… já que não tem como eu ser a irmãzona confiável agora. Uma risada vazia ecoou em sua cabeça.

Eles não disseram nada mais até serem os primeiros na fila. O momento em que as portas se abriram novamente, um atendente pediu os ingressos deles. Após coletá-los, ela pressionou o botão do último andar.

A sala onde o evento aconteceria conseguia comportar quase mil pessoas. Ao menos segundo o que Tsukiko lera no site da livraria. Ainda assim, a sala estava quase cheia.

Na parede oposta ao elevador tinha um palco onde as autoras responderiam algumas perguntas e onde os dubladores mostrariam uma pequena apresentação original escrita pelas próprias autoras. Atrás dela, havia um grande tela onde eles mostrariam parte do OVA original que seria vendido com a edição especial do último volume.

Nós definitivamente precisamos pegar duas cópias agora mesmo. Senão vão esgotar, pensou Tsukiko enquanto ia para as bancadas com os pacotes mangá/DVD. No meio do caminho, a garota parou de se mover. Taiyou-kun a puxou um pouco antes de notar que ela não se movia, então parou também.

— O que foi?

— Taiyou-kun! — sussurrou Tsukiko, sua voz transbordando de alegria. Ela pegou a mão do garoto para chamar a atenção dele ainda mais.

— O quê? — perguntou ele, inclinando a cabeça.

— Olhe! — O garoto fez como ordenado e se virou para a direção dela com um olhar confuso. Ela olhou para ele, atordoada. — É a Yuuno-sensei!

Uma moça vestida com shorts curtos, meias azul e brancas que iam até o joelho, uma camisa fofinha branca e um grande chapéu com um broche em forma de espadas pegava o pacote manga/DVD naquele instante. — Ela é uma das melhores cosplayers que conheço!

A cosplayer tentava equilibrar o mangá e o grande pincel azul que segurava quando a garota caminhou até ela, puxando Taiyou-kun sem notar.

— Tsukiko-chan! — a cosplayer exclamou, sua expressão de surpresa se transformou em um sorriso. — Não sabia que você viria — disse Yuuno-sensei quando estavam próximas o bastante. — Taiyou-kun?!

Tsukiko piscou e olhou entre a cosplayer e o menino.

— Vocês se conhecem?

Ambos evitaram os olhos dela. Taiyou-kun olhou em volta, com um maior interesse na sala do evento do nada. Yuuno-sensei cobriu o rosto e tinha um sorriso desconfortável no rosto.

Antes que algum deles dissesse qualquer coisa, as luzes diminuíram e um holofote apareceu no palco.

— Por favor, sentem-se — disse uma voz no sistema de som…

— Isso foi incrível! — Tsukiko disse quando entraram na fila para o elevador. Ela estendeu seus braços, a sacola com o mangá/DVD, livreto e drama CD que havia se dado como presente batendo levemente contra o cotovelo.

— É, foi — concordou Taiyou-kun, seu sorriso aumentando. — Você acha que eles vão adicionar a peça ao mangá ou anime?

— Você devia ter perguntado isso. Não só conseguiu autógrafos das autoras, até arrumou o dos dubladores. — Ela cutucou sua bochecha, descontando sua pequena frustração. Ela perdeu sua chance de conseguir um autógrafo porque um cara estava muito em cima da dubladora da protagonista, apertando a mão dela como se fosse uma deusa. O pessoal do evento precisou pedir para ele sair, mas àquela hora a fila já tinha parado por tempo demais e Tsukiko acabou ficando sem um autógrafo. — Mas estava ocupado demais babando em cima deles.

O menino ficou vermelho e desviou o olhar. Yuuno-sensei riu.

— Vocês dois são realmente bons amigos.

— Ah, é. Ainda precisam me contar de como se conheceram. — O evento tirou aquilo da cabeça dela. Até depois, enquanto assistia a cosplayer posar para fotos com muitas crianças e até alguns caras mais velhos, a garota ainda não se lembrara.

— Que tal falarmos disso em um lugar mais quieto? — disse a cosplayer, pressionando o botão do terceiro andar. Ainda que fossem quase os últimos a sair da sala do evento, eles não estavam sozinhos no elevador.

Eles saíram na cafeteria da livraria. Yuuno-sensei foi até o balcão perguntar o que eles queriam enquanto Taiyou-kun e Tsukiko foram encontrar uma mesa.

Após a cosplayer comprar a bebida deles, houve um longo silêncio, quebrado apenas quando eles beberam.

— Então, como vocês se conheceram? — Tsukiko finalmente perguntou quando não conseguia mais aguentar.

Yuuno-sensei olhou para Taiyou-kun. Após um instante, a cosplayer suspirou e contou tudo.

— Nossa… não fazia ideia de que sua tia era amiga da Yuuno-sensei, Taiyou-kun. — Tsukiko não sabia como reagir. Mas aquilo não era o mais chocante. — E você é um homem? Sério?

— Por favor, não tão alto — disse Yuuto, o verdadeiro nome da Yuuno-sensei, olhando em volta para ver se ninguém tinha ouvido. Confirmando que estava tudo certo, ele suspirou de novo. — E, por favor, não conte a ninguém.

— Não posso acreditar que a cosplayer que admirei era um homem esse tempo todo — disse Tsukiko, pensando nas vezes em que vira a cosplayer nos eventos e outras ocasiões. E pensar que aquela linda garota com cosplays incríveis era um homem. Nunca suspeitei de nada… ele é melhor do que pensei!

— Sinto muito por enganá-la — disse o cosplayer, deixando os ombros caírem.

— Não! — interveio Tsukiko rapidamente, mexendo as mãos. — Estou mais surpresa. — Tsukiko tinha um sorriso desconfortável. — E pensar que eu admirava um homem…

— Desculpe — disse Yuuto, de novo.

— Não é isso! Estou surpresa porque você consegue ficar mais bonita que a maioria das garotas. — Tsukiko ficou animada de repente. — Se um cara consegue ficar tão bonito, me deixa com ainda mais vontade de me esforçar nos meus cosplays!

O cosplayer ficou vermelho e mostrou um sorriso gentil.

— Obrigado.

— Por favor, me deixe chamá-lo de mestre! — As palavras saíram antes que Tsukiko notasse o que dizia.

— Não precisa de tanto… — Yuuto arregalou os olhos.

— Por favor! — Os olhos de Tsukiko brilhavam como fogo. — Quero ficar tão bonita quanto você!

— Você já é bonita — sussurrou Taiyou-kun. Pouco a pouco, os olhos dele arregalaram e o rosto ficou vermelho.

Enquanto se virava para ele, ela compreendeu o que ele disse e seu rosto ficou com um tom forte de vermelho. Ela abriu e fechou a boca várias vezes antes de apertar as bochechas dele.

— Você vai dar trabalho para muitas garotas com essa língua solta, Taiyou-kun — disse para esconder sua vergonha. Por que o que esse pirralho disse me deixou tão vermelha?

Um riso baixo a trouxe de volta.

— Vocês realmente são bons amigos — disse ele com um grande sorriso dessa vez. Tsukiko se voltou para o cosplayer, soltando as bochechas do garoto. O celular do cosplayer tocou. Ele o puxou do bolso do shorts e olhou para a tela. — Preciso ir agora. — Ele se levantou e fez uma mesura para os dois. — Foi um prazer vê-los aqui. E, por favor, não conte a ninguém… sobre minha identidade.

— Pode deixar, Mestre — disse Tsukiko, alegre. O cosplayer tinha um sorriso desconfortável, suspirou e foi para o elevador, rindo no caminho.

— Você deixou ele desconfortável… — mencionou Taiyou-kun.

— Você acha? — Ela se virou para ele. Ele olhou para ela com aqueles olhos inocentes demais para serem verdade. — Qual é, me dá um desconto. É meu aniversário… digo, quase. — Tsukiko riu e bagunçou o cabelo do garoto, forçando-o a parar de olhar para ela. — Além do mais, Mestra Yuuno é meu ideal de cosplayer. Eu admiro ela, digo, ele, faz um bom tempo. Só de imaginar que ela, digo, ele, era um homem… me dá vontade de ir com tudo até alcançar o nível dela… dele.

Embora fosse quase invisível, a garota podia ver o sorriso nos lábios dele.

— Por que você está sorrindo?

— Yuuto-sensei é uma ótima pessoa, mas ele tem medo que as pessoas rejeitem esse lado dele. Mas você ainda o trata da mesma forma. Você também é uma ótima pessoa.

Tsukiko ficou vermelha.

— Devia ter me contado que conhecia a Mestra Yuuno. — Ela beliscou as bochechas dele.

— Como eu iria adivinhar? — Ele esfregou sua bochecha quando parou. — Você nunca disse nada.

A garota abriu a boca… mas como nenhum som saiu, ela fechou, pressionando os lábios. Ele está certo… de novo… Tsukiko balançou a cabeça.

— Vamos, ainda temos o dia todo pela frente — disse ela, puxando-o pela mão.

Depois de deixarem as malas em um guarda-volumes de aluguel na estação, eles decidiram matar um pouco de tempo antes do almoço no fliperama.

— Vamos jogar o que primeiro? — perguntou Taiyou-kun.

Não era a primeira vez de Tsukiko lá e, embora ela tivesse jogado quase todos os jogos que havia, a garota deu uma olhada em volta, tentando encontrar algo que chamasse seu interesse. Quando seus olhos acabaram em um jogo em especial, um sorriso apareceu nos lábios dela.

— Aquele — disse ela.

O garoto seguiu a linha de visão dela. Quando percebeu de qual jogo ela falava, ele também sorriu.

— Tem certeza? Você reclamou bastante da última vez.

— Você ainda não me deu uma revanche, seu pirralho — disse. Então ele se lembra, pensou ela. O sorriso dela chegou de uma ponta até a outra enquanto eles iam direto para o jogo de luta, o mesmo que jogaram no primeiro dia que conversaram.

Eles sentaram um do lado do outro e começaram o jogo ao mesmo tempo. Ambas telas mostraram o menu de seleção de personagem para eles—Tsukiko era o jogador número um— e a luta começou em seguida.

— Você esteve praticando, hum? — grunhiu Tsukiko, forçando os controles. É diferente demais dos meus, reclamou em sua cabeça. Essa luta contra Taiyou-kun a lembrou bastante da última batalha deles. Quando eu perdi, pensou, ainda um pouco ressentida. Mas hoje eu me vingo. Ela pressionou seus lábios e forçou os controles ainda mais, quase saltando do assento.

— Talvez seja você que não ande treinando — disse ele. Embora fosse com o mesmo tom baixo e educado, ela podia sentir a chacota naquelas palavras. — Digo, você está ficando velha.

A garota não conteve seu riso.

— E você está ficando convencido demais! — gritou, preparando o movimento especial da sua personagem com um sorriso nos lábios.

Taiyou-kun conseguiu desviar do ataque dela no último segundo. Logo em seguida, tirou vantagem do tempo de recarga do personagem e usou um combo, derrotando-a. A tela dele mostrou um “você venceu” enquanto a dela um “você perdeu” em grandes letras. Por que está maior e mais chamativo? Pensou ela, sem ousar virar a cabeça para ele. Mas acabou o fazendo após sentir o olhar do menino.

Ele tinha um pequeno sorriso nos lábios e foi o bastante para fazer o olho dela se contrair.

— Mais uma!

Eles jogaram por quase uma hora até finalmente decidirem parar.

Tsukiko mostrou um sorriso e se virou para o menino, que evitou o olhar dela.

— Ah, vai. Não seja um mau perdedor — disse, cutucando sua bochecha. Os dois tinham vencido e perdido várias vezes, mas na última, Tsukiko saiu vitoriosa. Agora eu tenho duas, pensou, mas não disse. — Não fique com raiva só porque perdeu. Digo, eu sou mais velha e sábia que você.

Taiyou-kun virou-se para ela.

— Você está certa sobre ser mais velha — disse com sua voz calma e baixa, sua expressão a mesma.

— Ora, seu pirralho… — Ela bagunçou o cabelo dele. Ele é uma graça até me provocando.

Uma risada veio atrás deles e tirou Tsukiko de seus pensamentos. Ela não notara, mas, por algum motivo, os dois atraíram muita atenção e agora havia uma multidão em volta deles.

— Ei, aquela não é a Garota Keiou? — Uma voz ecoou do meio da multidão.

— Sim, acho que é ela.

— Ah, Keiou — disse um homem vestido no uniforme do fliperama, caminhando até eles enquanto boa parte da multidão se dispersava. — Então você decidiu aparecer. — Além dele, mais três pessoas ficaram.

Tsukiko arregalou os olhos quando os reconheceu. Depois sorriu.

— E aí, Poruko, não sabia que vocês estavam aqui. Aparecer pra quê? — perguntou Tsukiko, inclinando a cabeça. — Ah! O encontro off-line! Esqueci totalmente!

— Como pôde? — A mulher perto do atendente cobriu o rosto com as duas mãos e balançou a cabeça.

— E nós aqui achando que éramos melhores amigos. — Um dos homens abraçou a mulher e deu tapinhas gentis em suas costas, fingindo confortá-la.

Tsukiko e os outros dois riram.

— Que tal serem um pouco mais dramáticos? — disse ela. — Assim, quem sabe, eu me sinta mal.

— Se não está aqui para o encontro, por que veio?

— Vim para um evento com o Taiyou-kun — disse ela, se virando para o garoto. — Estávamos apenas matando tempo até o almoço.

— Ah, esse deve ser o famoso Taiyou-kun. — A mulher observou o garoto, o rosto perto demais dele, deixando-o desconfortável.

— Ele é que nem você falou — o homem de uniforme disse. — Só um pouco mais baixo.

— Mas tão fofo quanto ela descreveu — disse a mulher.

Com três pessoas falando quase de uma vez, o menino ficou vermelho e baixou a cabeça.

— Olá — falou ele, no mesmo tom de sempre, apesar da vergonha, e até fez uma mesura para eles. — Meu nome é Fuyuzora Taiyou. É um prazer conhecê-los.

— Uau, ele é como você contou, Keiou – disse a mulher, sorrindo para ele. — É um prazer conhecer você também, Taiyou-chan. Sou Akiho, mas pode me chamar de Header.

Tsukiko não conteve sua risada ao ver a reação de Taiyou-kun.

— Eles são meus amigos gamers — disse ela. — Deixe-me introduzi-lo. Essa é Header, aquele é o Poruko, ele é o Keikaku e ela é a Egomin.

— E você é a Garota Keiou — disse Header. — Sei que nunca contou pra ele. Não tem nada pra ficar com vergonha e você estava tentando esconder. — A mulher balançou a cabeça.

Taiyou-kun se voltou para ela, seus olhos brilhando de curiosidade. As maçãs do rosto de Tsukiko ficaram um pouco vermelhas e ela desviou o olhar, evitando os olhos dele.

— Eles me chamam assim… por algum motivo…

Por algum motivo? — riu Header. — Haha, primeira vez que vejo a Keiou sendo humilde. Escuta só porque chamamos ela assim, Taiyou-chan. A menina sempre se gaba de nos derrotar por K.O. em jogos de luta, daí acabamos chamando ela disso. — A mulher acariciou a cabeça de Tsukiko e mostrou um sorriso malicioso que a garota conhecia. — E essa criança te deu trabalho.

Os outros riram.

— Taiyou-kun, precisamos de você no nosso grupo — disse Keikaku.

— É, K.O. precisa manter o ego dela assim durante os jogos. — Egomin bateu nas costas de Taiyou-kun de forma amigável.

Apesar do rosto ficar vermelho, Tsukiko viu o garoto sorrir. Droga! Eu queria poder retrucar, pensou a garota.

— Me deem licença por um instante — disse Taiyou-kun e saiu.

— Haha. Será que deixamos ele desconfortável? — disse Poruko, coçando a cabeça.

— Quem sabe. Mas não liguem. Ele é bastante tímido — disse Tsukiko, mas, apesar do que dizia, ela ficou observando o garoto enquanto o mesmo caminhava para o banheiro.

— Então esse é o garoto que você vive falando, né? — disse Header.

— Eu tinha certeza que ele era mais velho — disse Keikaku.

— Pensei que era o namorado dela — adicionou Egomin, dando uma cotovelada de leve em Tsukiko.

A garota ficou vermelha.

— Eu realmente falo tanto assim dele?

— Sim — disse Header. — Mas isso só quer dizer que ele é tão importante pra você, certo?

Tsukiko arregalou os olhos e virou-se na direção do banheiro masculino. O que o Taiyou-kun é para mim? Para ela, o garoto era importante. Sempre que algo acontecia, bom ou ruim, Tsukiko queria contar para ele, tanto quanto queria contar para suas amigas. Mas havia partes dela que nunca ousaria mostrar para seus amigos, chegando até a medidas cansativas para escondê-la. Mas, se fosse para o Taiyou-kun, a garota dividiria sem medo ou pensar duas vezes.

As manhãs que tinham café da manhã juntos, tanto as em que ele a convidava e cozinhava ou quando ela o convidava para o restaurante, se tornaram a melhor forma de começar o dia dela. De fato, eles passavam tanto tempo juntos que era estranho se o garoto não fosse a primeira pessoa com quem ela falasse de manhã.

As refeições ocasionais que ela tinha com a família dele também eram preciosas para Tsukiko. Ela amava ouvir sobre as histórias da mãe dele na floricultura e as aventuras da tia quando era mais nova. As reclamações da tia sobre a Sawa-chan-sensei eram interessantes de ouvir também.

Até quando eles não faziam nada de especial e apenas saíam ou jogavam vídeo game, ou até liam mangá no mesmo quarto, era divertido para ela. Somos realmente próximos, ela percebeu, surpreendendo-se. Nunca parei pra pensar nisso.

— É, ele é muito importante pra mim — disse Tsukiko com um sorriso gentil e caloroso nos lábios.

— É mesmo? — Egomin sorriu também.

— Então tenha certeza de que ele saiba — disse Header, bagunçando o cabelo de Tsukiko. A garota ficou vermelha, mas não tirou a mão da mulher de sua cabeça.

— Eu vou — disse Tsukiko, ainda vermelha.

— Uhum — murmurou Header, satisfeita. — Acho que, já que você esqueceu do nosso encontro, você não vai conosco comprar o jogo, né?

— Ah, é mesmo… — A garota esquecera sobre isso também. Embora o jogo só fosse ser vendido à meia-noite, ela pensou em se juntar a seus amigos para comprar e passar a noite toda jogando com eles. Até conseguiu permissão de seu pai. Mas depois de Taiyou-kun prometer passar o dia todo com ela, Tsukiko se esqueceu do resto e só pensou no que os dois fariam. Não tinha nenhuma parte dela que queria escolher o jogo. — Não. Prefiro parar o resto do dia com ele.

— Ai! — disse Poruko, colocando as duas mãos acima da cabeça como se algo tivesse atingido ele lá. — Não posso acreditar que perdi pra uma criança.

— Mas é bom acreditar! — Tsukiko disse e todos riram.

— Compraríamos o jogo pra você de presente de aniversário, mas… — começou Keikaku, olhando para o chão.

— Eu sei, eu sei. Só um por cliente. — Tsukiko acenou a mão para impedir que pedissem desculpas. — Tudo bem. Na verdade, é melhor assim. Vocês podem comprar antes de mim e começar na vantagem. Seria chato demais se eu deixasse todos comendo poeira cedo demais.

— Aí está a Garota Keiou que todos conhecemos — disse Egomin e todos riram novamente.

Poruko olhou para seu relógio.

— Temos que ir agora — disse. Todos eles checaram a hora.

— Ah, droga! Temos que encontrar Yareyare no restaurante em, tipo, dois minutos — disse Header. — Temos que ir, mas feliz aniversário, Keiou. Vamos ver se podemos comprar alguns brindes pra você.

Todos eles se despediram dela. Tsukiko ainda sorria quando Taiyou-kun voltou do banheiro. O garoto olhou para ela por um instante, depois olhou em volta.

— Se quiser saber onde meus amigos foram, eles já se mandaram. Não precisa mais ser tímido — brincou ela.

As maçãs do rosto dele ficaram com um tom rosa e seus olhos se direcionaram para o chão.

— Onde você os conheceu?

— A Header é minha veterana. Ela se formou ano passado e agora está no primeiro ano lá na Hyouzan. Ela que me introduziu aos seus amigos gamers.

— Parecem ser boas pessoas. Estou feliz que tenha amigos como eles — disse ele, sorrindo.

Tsukiko ficou vermelha. Droga, fico sem jeito quando ele sorri assim, pensou ela, tentando mudar de assunto rapidamente.

— Então, vamos aonde agora… — Antes que pudesse terminar sua frase, o estômago dela roncou bem alto. Ela arregalou os olhos e suas bochechas ficaram mais vermelhas. Taiyou-kun sorriu e riu, a garota bagunçou o cabelo dele. — Antes de tudo, vamos comer.

Não posso esperar pra ver a reação dele, pensou Tsukiko, esforçando-se para suprimir um sorriso enquanto levava o garoto pela mão. Ela sabia exatamente aonde eles iriam. Um maid café famoso localizado no porão de uma loja perto do fliperama. Será minha vingança por me deixar com vergonha, Taiyou-kun.

Não havia nada indicando o café exceto por uma placa discreta perto das escadas, sem qualquer decoração. Tsukiko conversou alegremente enquanto eles desciam os degraus, certificando-se de que Taiyou-kun estava distraído o bastante para ler o nome da loja errado.

O corredor plano e cinza mudou para branco, rosa e detalhes delicados com babados no momento que Tsukiko abriu a porta.

— Bem vindo, mestre e senhorita — disseram três maids em coro.

Sem demorar quase nada, uma maid com orelhas e cauda de gato balançando atrás de com um uniforme preto e branco com babados foi recebê-los. Eles a seguiram e a mulher os levou até uma mesa para dois. Tsukiko notou que Taiyou-kun de repente ficou rígido e mal conteve seus risos.

— Mestre, senhorita, por favor, chamem Otsuu-chan quando decidirem seus pedidos, nyaa — disse ela, entregando dois cardápios a eles, depois saiu caminhando e rindo.

Enquanto isso, Taiyou-kun ficou mudo, seu rosto um tom forte de vermelho e seus olhos bem abertos. O garoto moveu sua cabeça, virando o pescoço o mínimo que podia, seus olhos observavam o café.

Ele está tentando conferir as maids sem parecer óbvio demais? Tsukiko mal conseguia conter o riso agora. Antes que notasse, ela pegou o celular e tirou uma foto dele. O som o fez se virar na direção dela imediatamente, seu rosto ficando ainda mais parecido com um tomate. Ela não conseguiu controlar mais e riu.

— Pare com isso… — sussurrou ele e usou o cardápio para esconder o rosto.

Demorou um pouco para ela parar, com o rosto vermelho, embora não chegasse perto do de Taiyou-kun.

— Não é culpa minha se você é tímido demais — disse ela com um sorriso. — Mas isso tem seu lado bom.

Taiyou-kun finalmente abaixou o cardápio.

— Você nunca disse que almoçaríamos… aqui. — Ele murmurou a última palavra olhando em volta. Embora seu rosto estivesse rígido, Tsukiko podia ver que ele não estava bravo.

— Eu falei essa manhã, não foi? — disse ela, rindo. — Além do mais, eu queria que sua primeira vez fosse comigo. — O sorriso dela aumentou.

Taiyou-kun ficou vermelho de novo e abaixou os olhos. Tsukiko quase pôde ver a fumaça saindo de suas orelhas. É divertido demais provocá-lo, pensou, estendendo a mão e bagunçando seu cabelo de novo. Ele não tentou pará-la.

A maid trouxe dois copos d’água.

— O mestre e a senhorita já decidiram o que vão pedir, nyaa?

— Eu vou querer o moe moe curry — disseram ambos ao mesmo tempo. Enquanto Tsukiko olhava pra Otsuu-chan quando ele disse, Taiyou-kun não pôde fazer o mesmo, encarando para o cardápio o tempo todo. Isso apenas arrancou mais risos da garota.

— Entendido, nyaa — disse a maid, rindo e inclinando a cabeça. Ela notou que ele está envergonhado demais para sequer olhar para ela?

Em pouco tempo, a moça trouxe a refeição deles. Taiyou-kun ainda não olhava diretamente para a maid, mas, após deixar os pratos na mesa, ela juntou as duas mãos, fazendo um coração com os dedos, e disse:

— Fique delicioso, moe, moe kyun!

Foi demais para o garoto e ele se voltou para o prato como se a comida fosse a coisa mais interessante no mundo. Ele juntou as mãos e murmurou um agradecimento pela comida. Tsukiko fez o mesmo quando conseguiu parar de rir.

— Delicioso — disse Tsukiko, colocando sua colher na mesa após terminar.

— Sim — murmurou Taiyou-kun, seu rosto de volta a cor normal. Após a refeição, ele ficou mais acostumado às maids. Ainda não conseguia olhá-las diretamente, mas ele já podia direcionar olhares a elas sem que o rosto ficasse um tom alarmante de vermelho.

A garota olhou para o rapaz e um sorriso malicioso apareceu em seus lábios.

— Seu omurice é tão delicioso quanto, mas não acho que foi uma luta justa. — O garoto ainda olhava para as mulheres caminhando pelo recinto e só murmurou algo para Tsukiko, sem escutá-la direito. Ela se inclinou para mais perto do rosto dele e sussurrou: — Que tal usar o feitiço moe moe kyun na próxima?

Taiyou-kun virou-se para ela no segundo seguinte, colocando a mão na orelha, o rosto vermelho. Seus olhos estavam entreabertos, mas se arregalaram quando entendeu o que ela dissera. Ele balançou a cabeça.

— Não tem como eu fazer aquilo, é embaraçoso demais — sussurrou, olhando em volta para conferir se alguma maid os escutara.

O sorriso dela aumentou.

— Vamos lá. Só uma vez — disse, inclinando-se pra mais perto. — Por mim.

Taiyou-kun olhou para baixo, na direção do seu prato, e começou a brincar com a mão.

— Só pra você — murmurou, sem olhá-la nos olhos.

Tsukiko se inclinou para trás no seu assento, imediatamente, seus rosto vermelho e o coração batendo rápido. Ela cobriu a boca com uma mão e desviou o olhar. Droga… Sempre esqueço que ele é uma fofura, reclamou consigo mesma, olhando para ele de esguelha. O garoto ainda estava vermelho, mas agora com um sorriso nos lábios. Foi a vingança por eu ter provocado ele o dia todo?

Para esconder seu embaraço, ela pegou a conta, mas Taiyou-kun foi mais veloz. Tsukiko inclinou a cabeça para o lado e olhou para ele.

— Eu pago — disse com uma voz forte e decidida que ela mal o via usando. Seus olhos brilhavam com tanta intensidade que a garota tirou a mão e apenas observou enquanto ele levantava. Ele não é só uma criança, também é um homem, lembrou-se, vendo as costas dele enquanto o rapaz ia até o caixa, um sorriso gentil surgiu em seu rosto.

Tsukiko levantou-se, alongou os braços e foi para o banheiro lavar as mãos. Quando ela voltou para a mesa, Taiyou-kun já pagara pela refeição e a esperava na entrada. Ela ficou parada e o encarou. O garoto brincou com as mãos e olhou em volta.

Talvez eu tenha exagerado com a provocação, pensou ela enquanto a culpa a dominava. Afinal, ele está passando o dia comigo como presente de aniversário. Ele pode estar cansado da minha provocação e quer ir pra casa… Toda aquela felicidade que sentiu foi ficando menor e menor. Ela balançou a cabeça, suspirando e forçou um sorriso enquanto caminhava até ele.

— Quer encerrar o dia?

— Hoje é o seu dia. Vou acompanhá-la para onde quiser — disse, seu rosto com a expressão calma de sempre.

O sorriso forçado dela se tornou genuíno.

— Então vamos. O dia está longe de terminar — disse, puxando-o pela mão.

Era quase hora do jantar quanto voltaram. Eles chegariam um pouco mais cedo se o Taiyou-kun fosse mais rápido. Mas não posso culpá-lo, pensou Tsukiko, olhando para o rapaz com um sorriso. Ele estava carregando todas as compras deles, boa parte era dela, e todo aquele peso fazia a diferença na velocidade dele, cada passo um sofrimento. Ele parece confiável assim… As bochechas dela ficaram com uma tonalidade leve de rosa enquanto ela enrolava o cabelo com um dedo e desviava o olhar, lembrando-se da cena.

Quando finalmente decidiram terminar o dia, os dois foram para os armários de aluguel pegar o resto das coisas. É… é bem mais do que eu lembrava. Ela olhou para as compras dentro do armário e as outras que tinha em mãos. Só a ideia de levar tudo isso para casa a cansava. Quem sabe eu deva mandar pelo correio…

Enquanto a ideia parecia cada vez mais convidativa, Taiyou-kun falou com ela:

— Eu carrego pra você — disse. Apesar de mostrar a mesma expressão calma, seus olhos brilhavam, cheios de determinação. Não havia jeito de recusar. Ele tem seu orgulho também, pensou ela, enquanto o rapaz pegava tudo. A pilha era tão alta que Taiyou-kun mal conseguia ver para onde ia. Tsukiko caminhou perto dele enquanto acompanhava sua velocidade. Embora fosse levar mais tempo do que deveria, ela não se importou.

A garota abriu a porta e entrou assim que pôde. Taiyou-kun entrou no apartamento, tirou os sapatos com os pés e caminhou para a mesa de jantar, seus braços tremendo tanto que as compras ameaçavam cair a qualquer segundo. Quando ele alcançou a mesa, pôs tudo pra baixo, sua respiração irregular e ríspida.

Tsukiko tirou seus sapatos também, caminhou até a cozinha e voltou com um copo d’água. O garoto bebeu tudo em um gole só, tossindo um pouco. Ela acariciou suas costas até que parasse.

— Obrigada, Taiyou-kun — disse Tsukiko, parada ao lado dele com os dois braços atrás de si. — Você é o melhor. — Antes que notasse, ela se inclinou e o beijou na bochecha. Apesar de já estar vermelho, seu rosto corou. Ele colocou uma mão onde ela o beijara e olhou para ela, de olhos arregalados. Quando ele olhou para baixo, esfregando a bochecha, Tsukiko se inclinou para trás, piscando várias vezes para depois rir. — Vai querer o que no jantar? Quer sair ou pedir alguma coisa? Estou afim de uma pizza.

Taiyou-kun tirou a mão da bochecha e olhou para ela. Ele abriu a boca por um segundo, pressionou os lábios logo em seguida e por fim tirou o celular do bolso, olhando da tela para Tsukiko.

Ah, talvez ele já tenha combinado de jantar com a família, percebeu ela. É… Ainda que estejamos de férias, ele passou o dia todo comigo… A mãe dele quer passar tempo com ele…

— Er… Eu gostaria de tomar banho primeiro — disse ele, guardando o telefone e limpando o suor da testa.

Mesmo falando isso com seu tom normal, o garoto não a olhou nos olhos. O sorriso da garota ficou menor.

— Tá… — Ele está se forçando… Ela acreditou nisso e o observou saindo de seu apartamento, a culpa crescendo em seu coração. Mas eu não quero ficar sozinha… não hoje, pensou ela, e ficou de boca calada enquanto o garoto abria e fechava a porta.

Com um suspiro pesado demais para ignorar seus sentimentos, Tsukiko segurou o mangá, DVD de anime, light novels e todas as outras coisas otaku que comprou e as levou para seu outro quarto. Depois de guardar tudo no devido lugar, ela voltou para a sala de estar e pegou o resto das compras.

Ele fez um rosto muito engraçado quando mostrei isso pra ele, pensou ela, olhando as roupas. Durante a tarde, eles foram para uma loja de cosplay. Taiyou-kun não esperava por isso, muito menos que ela comprasse e vestisse a saia plissada preta e vermelha com a jaqueta preta do uniforme de My Guardian Persona.

Ela guardou o cosplay e pegou as outras roupas que comprou, virando o vestido branco cheio de babados para ver de todos os ângulos. Embora tenha comprado isso na loja de cosplay, é só um vestido fofo… Posso usar sem problema. O cosplay pertencia a uma personagem qual o senso de moda era tão bom que Tsukiko podia usar o cosplay e dizer que era uma roupa normal, ninguém diria qualquer coisa. De repente, um sorriso maligno apareceu em seu rosto. Por algum motivo, o Taiyou-kun ficou vermelho quando usei isso na frente dele, lembrou-se ela. O que ele vai fazer se eu colocar o vestido agora?

Ela caminhou até o quarto principal com a imagem de Taiyou-kun em mente, mas, quando abriu a porta, um pacote no topo de sua cama a fez se esquecer do garoto por um instante. O que é isso? O pacote era pequeno, do tamanho de um DVD. Ela segurou e o virou. Tinha um bilhete preso atrás.

Feliz aniversário, Tsukiko. Desculpe não poder entregar isso pessoalmente, ela leu as palavras de seu pai. Minha secretária me disse que eu não deveria dar isso, dizendo que não era coisa de garota, mas sei que você vai gostar.

Pai… obrigada, pensou Tsukiko, lendo a nota de novo e de novo com um pequeno sorriso no rosto. Meu aniversário ainda é tão doloroso pra ele quanto é pra mim… A garota sentiu as lágrimas virem e não fez nada para impedi-las. Quando elas finalmente pararam, ela limpou o rosto e então desfez o embrulho. Uma vontade de rir a dominou. Você é demais, pai.

Era um jogo. O mesmo que os amigos dela ficariam em uma fila para conseguir comprar à meia-noite. Eles vão ficar morrendo de inveja. Ela tirou uma foto com o celular e enviou para eles. As mensagens deles vieram quase instantaneamente, todos perguntando como ela conseguiu. Acho que não dar uma vantagem inicial pra vocês, escreveu ela, seu sorriso só aumentava.

Quando a conversa acabou, ela descansou o celular, mas ele vibrou antes que ela se afastasse demais dele. Tsukiko respondeu na mesma hora quando viu quem estava ligando para ela.

— E aí, Taiyou-kun — disse antes que ele pudesse falar qualquer coisa. — Se for difícil pra você, não precisa comer comigo. Sei que sua família gosta de comer junta… — Ainda que seja meu aniversário, não posso ser tão egoísta a esse ponto… especialmente com ele.

O outro lado ficou em silêncio por um tempo.

— Na verdade, eu queria convidar você para comer conosco — disse ele em voz baixa.

Essas palavras fizeram o rosto dela iluminar com um sorriso na hora. Mas a garota precisou se controlar.

— Não quero me impor nem nada. Você já fez tanto por mim hoje…

— Minha mãe insistiu — disse ele, sua voz mais forte que antes. — E… eu também quero…

— Tá bom! — disse ela antes que pudesse se impedir, levantando da cama. — Estarei aí num segundo.

Tsukiko colocou as roupas novas e ficou na frente do espelho em seu closet, penteando o cabelo. Ela quis saber por um momento se devia prender o cabelo de alguma maneira diferente, mas acabou decidindo usar o mesmo rabo de cavalo lateral. Além do mais, Taiyou-kun olhou mais pras maids com cabelo preso.

Em menos de cinco minutos, ela estava parada perante a porta de Taiyou-kun, hesitando repentinamente em apertar a campainha. Por que estou nervosa? Pensou, mas ainda assim se conferiu com a câmera do celular. Respirando fundo e mal contendo seu sorriso, Tsukiko apertou a campainha.

O garoto abriu a porta quase imediatamente. Ele olhou para ela e então deu um passo para o lado, abrindo caminho. Ele estava me esperando do outro lado? Ela se perguntou por um momento. Espera, ele me viu? Ela corou um pouco.

— Com licença — disse, tirando os sapatos.

Quando Taiyou-kun fechou a porta, Tsukiko percebeu que as luzes estavam apagadas. Por que está tão escuro?

— Feliz aniversário! — As luzes ligaram no mesmo instante que ela ouviu isso.

— Que… — Ela conseguiu murmurar, sua boca entreaberta. Ela estava impressionada demais para dizer algo.

A mãe do Taiyou-kun estava lá. Rin-nee também. Até Sawa-chan-sensei e sua filha, Aika-chan, estavam lá. A criança até tinha um daqueles confetes que explodem, que choveu todo em cima de Tsukiko.

A garota ficou parada lá, observando, muda. A mesa estava cheia de comida e havia até um bolo de morango, seu favorito, com o número catorze no topo. Taiyou-kun precisou empurrar a garota um pouco para fazê-la andar.

— Eu sei que não é muito, mas precisávamos celebrar seu aniversário, nem que fosse um dia mais cedo — disse Rin-nee com um sorriso, bagunçando o cabelo da garota. — Venha, não precisa ter vergonha.

— Quero dar pra ela, dar pra ela — dizia Aika-chan. Sawa-chan-sensei pegou um presente da mesa e entregou para a filha. Aika-chan caminhou até Tsukiko e ofereceu o presente com um grande sorriso. — Aqui, onee-chan. Ajudei a escolher!

— Obrigada — conseguiu responder a garota, abraçando a criança com a mão livre.

Era a melhor festa de aniversário que tivera em anos. Quase duas horas depois, Taiyou-kun a acompanhava de volta a seu apartamento. Acho que a Rin-nee o mandou fazer isso, pensou ela, quase saltitando.

— Foi ótimo — disse. — Eu realmente quero agradecer sua mãe e tia. Não posso acreditar que fizeram isso por mim.

— Sei que deve ter sido desconfortável… ter uma festa de aniversário com outra família e tal — começou ele, evitando os olhos dela.

Ela deu um grande passo para frente e virou-se para encará-lo. Ela abaixou a cabeça e seus rostos ficaram próximos.

— Foi uma das melhores festas que já tive — disse, sorrindo.

O garoto abriu a boca, para logo depois a fechar, seus lábios se curvando em um sorriso.

— Nem sei como agradecer você por hoje — disse ela, virando-se. Se for o Taiyou-kun, eu posso dizer. Ele não vai sentir pena de mim ou me tratar diferente, ela disse para si mesma. — Sendo honesta, meu aniversário é hoje, mas eu odeio a data. — Tsukiko respirou fundo. — Minha mãe e eu dividimos o aniversário. Costumávamos ter uma festa compartilhada todo ano desde que consigo lembrar. Mas, cinco anos atrás, ela teve uma crise de meia idade ou algo do tipo no nosso aniversário. Acho que ver os amigos da faculdade falando de emprego e pá pegou em cheio nela. Depois da festa, ela saiu, dizendo que precisa encontrar algo, nunca mais a vi ou falei com ela depois daquele aniversário… — Ela sentiu as lágrimas virem outra vez. Faz um tempo desde que contei isso para alguém…

Embora o silêncio dele fosse pesado para ela, Tsukiko tinha medo demais de ver qual a expressão no rosto do rapaz, ela não se virou. De repente, a garota sentiu os braços dele ao redor dela. Quê…

— Eu sabia… Minha tia me contou — disse ele em voz baixa. — E meu pai me ensinou que, às vezes, um abraço é melhor do que palavras.

— Taiyou-kun — disse Tsukiko —, você já sabia… — Por algum motivo, saber disso a machucou, e as lágrimas começaram a cair. Então é por isso que ele me aguentou hoje, Tsukiko notou que o motivo a incomodava.

— Mas não entenda errado. Eu não passei o dia com você por causa disso. — Ele apertou seus braços em volta da cintura dela. — Eu fiz isso porque gosto de passar tempo com você… — a voz dele foi sumindo.

Ela colocou as mãos no topo das dele, sentindo seu calor.

— Obrigada, Taiyou-kun…

Eles ficaram assim por um tempo. Quando ela parou de chorar, ela limpou os olhos e virou-se para encará-lo.

— Me sinto muito melhor depois de contar para você. Obrigada por me ouvir. — Ela mostrou um sorriso para ele. Ele ficou vermelho e deu um passo para trás. Tsukiko riu de sua reação.

Taiyou-kun colocou sua mão dentro do bolso da jaqueta, olhando a garota bem nos olhos. Ela inclinou a cabeça e se aproximou.

— O que foi?

De repente, ele tirou a mão do bolso, oferecendo algo a ela. Olhando de perto, Tsukiko viu que era uma pequena figure, a personagem principal de My Guardian Persona, usando o mesmo cosplay que Tsukiko tinha.

— Feliz aniversário — disse ele, desviando o olhar, seu rosto o mais vermelho que ela tinha visto aquele dia. — Sei que não é muito…

— Quando você… — Tsukiko aceitou o presente, virando-o.

— Lá no fliperama…

Ah, é por isso que ele demorou pra voltar, entendeu Tsukiko. Ela deu outro beijo em sua bochecha e então o abraçou.

— Muito obrigada por isso. E obrigada por ter me aguentado. Espero que possamos celebrar meu próximo aniversário juntos também.

Ela podia senti-lo tremer. É de vergonha? pensou, mas, para variar, Tsukiko não sentiu vontade de rir. Em vez de afastá-la, ele a abraçou de volta.


Notas Finais


Quarta que vem tem mais.


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