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História Tudo Por Acaso - Dia de visitas


Escrita por: bravenlarke

Notas do Autor


E aí pessoal, como vão? Tudo bem com vocês? Então, sei que acabamos o último capítulo em um momento tenso, masss, como prometido, aqui vai um capítulo bem Bellarke pra vocês (como uma recompensa por aturarem essa demora HSUAHSA). A música de hoje é Come Back When You Can, do Barcelona! Como eu planejei essa fanfic durante o hiatus da 2º temporada, as músicas tem muito a ver com o último episódio principalmente, em que a Clarke abandona o acampamento. Bem, ouçam se puderem! Eu amo essa música, e se relaciona muito bem com o ship!
Enfim, boa leitura!

Capítulo 18 - Dia de visitas


Será que eu morri? Foram as primeiras palavras que passaram pela mente de Clarke quando recobrou sua consciência. Envolta por uma enorme escuridão, a garota ouviu vozes familiares bem próximas dela. Ainda que fossem fracas, não foi difícil reconhecer que se tratavam de seus amigos, que conversavam de forma animada entre si, soltando risadas em alguns momentos. Apesar de ouvi-los, ela não conseguia avistar ninguém ao seu redor. Será que estava sonhando? Não podia ser. Parecia tão real. Além disso, escutar a prosa alegre deles era reconfortante, principalmente depois do que tinha acontecido, e ela quis acreditar na oportunidade de ser algo concreto.

Ao passar dos segundos, as vozes foram aumentando, tornando-se cada vez mais compreensíveis. Clarke quis prestar atenção para entender o assunto sobre o qual comentavam, mas seu corpo começou a incomodá-la. Seus membros pareciam pesados, como se tivessem permanecidos no mesmo lugar por uma eternidade. Ela tentou movimentar suas mãos e pés por alguns centímetros, sentindo-se aliviada por responderem ao seu comando. Um material aconchegante e macio se esticava abaixo de seus dedos, parecido com um lençol. Era possível que estivesse deitada em uma cama? Intrigada, ela forçou a abertura de suas pálpebras, procurando pelo menor sinal de luminosidade.

Clarke se deparou com uma luz intensa que a cegou momentaneamente, deixando-a arrependida de ter aberto seus olhos com pressa. Após ter se ajustado à claridade, ela reparou que se encontrava sob um teto branco bem conhecido, localizado em um cômodo repleto de cortinas, remédios e mais camas. Ela estava na enfermaria da universidade, mas por quê? A loira não se lembrava de como foi parar ali. Confusa, ela analisou o local com seu olhar, encontrando seu grupo de amigos à frente da cama.

Seguramente aquilo não era um sonho, pois seus sonhos nunca eram tão lúcidos. Ela tentou se levantar, apoiando os cotovelos na cama, mas não conseguiu erguer muito seu corpo. Uma pontada dolorosa surgiu em sua têmpora, forte o suficiente para provocar um pequeno gemido seu. A garota passou a mão sobre a região que doía, descobrindo que estava com a cabeça enfaixada. Quando aquilo aconteceu? Antes que pudesse achar uma resposta, o suspiro surpreso de uma pessoa acabou com sua concentração.

— Clarke, você acordou! — Raven exclamou com um sorriso radiante. A morena, junto com os outros, cercaram a cama em que ela estava, todos revelando uma felicidade imensurável em seus rostos.

— Obrigada, Deus! Aleluia, ela abriu os olhos! — Jasper quase gritou de tanto entusiasmo, mas Monty lhe acertou no braço no instante em que levantou sua voz, repreendendo-o.

— A gente já sabia que a Clarke era dura na queda, não é? — Wells brincou, causando uma risadinha entre os presentes. Ele parecia bem mais enturmado com o pessoal do que anteriormente. — Como você se sentindo? — O rapaz se virou para ela.

— Bem, eu acho. Só um pouco cansada.

Cansada? Mesmo dormindo por mais de doze horas, você ainda cansada? — Octavia comentou, zombeteira. Clarke, que lhe mostrava um tímido sorriso, cerrou as sobrancelhas e voltou-se para a janela, tentando adivinhar se o que ela falava era mentira ou verdade. O céu estava cinzento e escuro, indicando uma chuva não demoraria a cair pela noite. Como tinha conseguido desperdiçar um dia inteiro apenas dormindo?

— Calma, ela deve perdida. — Finn explicou para a garota, notando o olhar perplexo da loira. — Você se lembra do que aconteceu ontem? De como o Murphy te bateu com um taco de beisebol? — Ela assentiu. — O Kane chegou na cabana logo após, armado e com todo mundo atrás dele. Sua mãe tava no meio, inclusive. Foi sorte a nossa de ter combinado se encontrar em meia hora; o Wells e a Octavia desconfiaram que algo tava errado quando não encontraram a gente pelo campus. — Clarke permaneceu alguns segundos em silêncio, pensativa.

— Então... Quando percebeu que desaparecemos, você ligou pra alguém que ficou aqui e pediu pra chamarem o Kane? — Ela questionou Octavia, mas acabou sendo respondida por Raven.

— Não exatamente. — A outra começou, hesitante. — Depois que vocês foram embora, eu continuei conversando com a sua mãe pra saber mais do Murphy, já que não fazia sentido pra mim ele ser o culpado. O problema foi que, durante o nosso papo, ela percebeu que você não ficaria aqui, sem fazer nada. A Abby te conhece, sabe que você é teimosa. E eu, infelizmente, não sei mentir muito bem.

— Isso é verdade. Imagine a minha surpresa ao ver a minha filha com barba e tudo debaixo de um edredom. — Abigail adentrou a sala, se juntando à roda do grupo. Ela lançou um olhar ameaçador para Miller pelo fim de sua fala, deixando o rapaz visivelmente encabulado. Ao lado dele, Monty se segurava para não gargalhar. — Pedi pra Raven me contar onde vocês tavam e fui te achar com o Kane. Enfim, podemos deixar a história pra mais tarde. Alguma tontura? Dor? Visão embaçada? Enjoo? — A mulher perguntou, colocando uma das mãos na testa e no pescoço de Clarke.

— Nada disso. com o corpo dormente.

— Isso é normal. Os remédios que te dei são bem fortes, conseguem apagar qualquer um. Vai demorar um pouco pra passar esse efeito grogue, mas é bom que, nesse meio tempo, você fica de repouso. — Ela suspirou, um tanto tristonha, e encostou as pontas dos dedos delicadamente sobre a faixa na cabeça de Clarke. — Parece que não foi muito sério. O impacto te fez desmaiar, mas não fraturou o crânio. Essas pancadas são bem perigosas, às vezes chegam danificar o cérebro, mas não podemos fazer nada porque os sintomas podem aparecer só semanas depois. — Abigail afastou sua mão, descontente com as informações que precisava compartilhar. A loira entendia que, como médica, aquilo era necessário; mas como mãe, era um pesadelo dizer tais palavras. — Não vou te deixar presa aqui, mas peço que fique atenta. Se sentir qualquer coisa fora do comum, você volta imediatamente pra cá. Combinado?

— Combinado. — Clarke respondeu, mostrando um breve sorriso à mulher. Ela não queria ser a causa do olhar preocupado de sua mãe, porém não tinha o que fazer para mudar a situação. Além disso, tudo o que foi falado começou a se repetir em sua mente. E se ela, de fato, desenvolvesse algum sintoma? Uma sensação ruim surgiu ao pensar na possibilidade.

— Mas e o cotovelo dela? Vai melhorar, não vai? — Wells se manifestou, tentando dissipar o clima tenso que invadiu a conversa.

— Ah, com certeza. Aliás, já deve ter sarado. — Abigail segurou o braço da garota, forçando-o a se dobrar e esticar. — Não mais doendo, não é? — Ela assentiu. — Tive a chance de colocar o osso de volta no lugar enquanto você dormia. Se tivesse deixado pra fazer isso agora, hm... Você ia até ver estrelas. — Abigail soltou seu braço. — Bom, vou trazer algo pra você comer. É melhor tomar a próxima dosagem do remédio com a barriga cheia. Meninos, continuem de olho nela por mim, pode ser? Sem fazer uma corrente de lençóis dessa vez.

— Sim, senhora Griffin. — Todos responderam em uníssono, abrindo sorrisos bobos ao mesmo tempo que a mulher andava para longe da enfermaria.

Clarke afundou suas costas ainda mais no travesseiro e fechou seus olhos, se permitindo descansar por um instante. Ela deduziu que não adiantava se assustar com a ideia de ter um dano cerebral, pois o que tivesse que ser, seria. Muitas pessoas viviam com problemas piores que o seu, por que fazer um escândalo disso? Ao menos estava ali, sã e salva, com seus amigos por perto. Nada no mundo poderia estragar aquele momento, nem um simples machucado.

Machucado... A palavra começou a perturbá-la, sem um motivo aparente. Por que estava com a impressão de que tinha se esquecido de algo, ou de alguém? De súbito, as memórias de um Bellamy ensanguentado apareceram em sua cabeça e seu coração deu um salto. Ela abriu os olhos e se jogou para frente, desesperada, procurando por ajuda. Suas mãos puxaram os braços de Octavia levemente, tirando a atenção dela de seu celular.

— E o Bellamy? Cadê ele?! — A morena revelou um sorriso atrevido.

— Ficou preocupadinha? Relaxa. O dorminhoco ali. — Ela apontou para a cama à esquerda, onde o rapaz cochilava de forma serena. — Sua mãe disse que ele tá se recuperando rápido. É por causa do nosso gene bom de família, sabe? Um ponto forte pra um candidato amoroso. Acho bom você aproveitar, Clarke.

— Cala a boca, O. — A loira bateu em sua mão de leve, enquanto a outra dava uma risadinha e se voltava para a tela do aparelho. Bellamy estava com vários curativos no rosto e nos braços, além de um roxo vibrante ao redor de um olho e de uma cicatriz avermelhada no lábio estourado. Apesar do estado deplorável, era tão bom vê-lo respirando tranquilamente, como se nada houvesse ocorrido, que Clarke não pôde evitar um sorriso ao encará-lo. A felicidade ao saber que ele estava seguro era tanta que seus olhos se encheram de água.

Ela retornou à posição anterior, encostada no travesseiro, e deu um suspiro aliviado, já engolindo o choro. Uma onda de calmaria tomou conta dela, diminuindo o ritmo acelerado de seu coração. Clarke estava prestes a se intrometer no assunto dos amigos, que parecia ser hilário, mas uma dúvida cruzou seus pensamentos.

— ...E o Murphy? — Ela falou alto, sem querer. Seus colegas pararam de rir quase no mesmo segundo e passaram a exibir semblantes sérios, trocando olhares desconfortáveis entre si. Ninguém se pronunciou. — O que aconteceu com o Murphy?

— Foi levado pela polícia. — Finn disse. — O resto da gangue também. Sei que o Jaha já planejou a expulsão dele, mas quanto aos outros, ainda se decidindo.

— Vocês chegaram a ver o Murphy indo embora? Ele disse alguma coisa, se explicou, ou sei lá? — Novamente, o pessoal permaneceu calado. Miller, que lambia os lábios e os fitava com apreensão, limpou a garganta e começou a falar.

— Não ouvimos nada dele. Os policiais o levaram depressa, nem tivemos a chance de conversar com o cara. Hmpf, o covarde teve sorte, se não ia ouvir umas poucas e boas da gente. — Ele usou um tom confiante, tentando livrá-la desse questionamento, mas se arrependeu ao notar a expressão decepcionada dela. — A senhora Griffin te contou algumas coisas sobre o Murphy, não foi, Raven? — A garota lhe mostrou um olhar severo antes de se virar para Clarke.

— Ela não me contou nada de mais, só umas coisinhas da família do Murphy. Não tem nada a ver com o que aconteceu, você não precisa se preocupar com isso.

— Eu ainda quero saber. — Clarke retrucou, rigorosa. Raven abriu a boca para continuar sua fala, mas a voz de Abigail, que voltava ao quarto, a interrompeu.

quase no horário de recolher, pessoal. Comecem a se despedir, vou levar vocês pros dormitórios daqui a pouco. — A mulher falou, colocando uma bandeja prateada sobre o colo da filha, onde um lanche e um comprimido estavam dispostos, e se voltando para o armário de remédio, deixando os jovens as sós. A conversa das duas foi esquecida por alguns minutos, enquanto todos diziam adeus à Clarke. Quando chegou a vez da amiga, a loira segurou sua mão e a puxou para perto, a fim de tentar convencê-la.

— Raven, por favor. Você não tem que me proteger. — A outra suspirou, derrotada.

— Sua mãe me disse que a situação na casa do Murphy não é boa. Ele mora com a mãe, que é alcoólatra, e não tem nenhum parente pra poder ajudar. Parece que o pai morreu cedo, ou algo assim, e desde então ele teve que se virar sozinho. É o que eu sei. — Clarke abaixou seu olhar. — Tenta não pensar muito nisso. Não é sua culpa.

A garota assentiu, forçando um sorriso. A raiva de Murphy armazenada em seu coração foi se dissipando com cada palavra de Raven, transformando-se em uma dúvida imensa. Claro, ele cometeu um ato cruel com ela e Bellamy, o que jamais seria perdoado, mas será que o rapaz tinha noção da gravidade daquilo? A acusação de uma mãe alcoólatra deixou evidente que ele lidava com algum nível de abuso. Seria possível que ele estivesse sob a influência desses maus tratos, que poderiam ser comuns no seu cotidiano? Um nó se formou em sua garganta.

— Clarke. — Octavia a chamou, suspendendo seu raciocínio. A morena, que antes se despedia do irmão sonolento, estava com os olhos úmidos e um sorriso carinhoso. — Quero muito te agradecer. Por ter encontrado o Bellamy.

— Eu não mereço um "obrigada". Nós fizemos isso juntos, todos nós.

— Eu sei, mas se você não tivesse bolado um plano, acho que eu teria corrido pelo campus inteiro, sem pensar por um segundo sequer. Talvez até socasse o Kane, de tão furiosa. — Ela sussurrou, provocando uma risada dos outros. — Eu não conseguiria sem a sua ajuda.

Clarke permaneceu silenciosa. Como estava sendo agradecida quando Bellamy havia entrado nessa enrascada por sua causa? Pelo contrário, ela deveria receber uns bons xingamentos por agora, no mínimo.

— E a de vocês também. — Octavia se virou para o resto do grupo. — Cada um deu o seu melhor pra achar o meu irmão. O Finn e o Wells vieram comigo, a Raven pegou as informações da Abby, o Monty rastreou o celular e o Jasper teve a ideia genial de esconder o Miller debaixo dos panos. — Ela riu, baixinho.

— Não foi nada demais, na verdade. — Jasper coçou a nuca, envergonhado.

— Foi sim. Aliás, você me parou quando eu quis arremessar o vaso no chão, não é? Do jeito que eu tava, alguém ia terminar machucado com aquela brincadeira. — Octavia pausou. — Obrigada de coração! — Ela jogou os braços pelo pescoço do amigo, logo juntando seus lábios com os dele. Todos se entreolharam, perplexos. Isso estava acontecendo mesmo? — Tchau Clarke, tchau gente! — A jovem falou ao fim do beijo, com um sorriso de orelha a orelha, e foi embora. Raven e Monty começaram a gargalhar, Wells permaneceu confuso e Finn e Miller bateram nas costas de Jasper, dando tapinhas animados enquanto o rapaz levantava o punho para cima, como se tivesse realizado a missão de sua vida.

Clarke os observou caminhando para a saída atrás de Abigail com um alívio no peito. Por mais que quisesse continuar na presença deles, ela sabia que se veriam novamente em pouco tempo. O problema era que, sem ninguém para engatar um diálogo, ela estava desprotegida de seus pensamentos. A questão sobre Murphy ainda a perturbava, lhe causando uma dor inexplicável. O que ela não daria para ter uma conversa boba nesse instante, só para acalmá-la...

— Me fala que a Octavia não beijou aquele cara. Que foi só um sonho meu, por favor. — Os olhos azuis da loira quase saltaram das órbitas. Ela se virou com rapidez para a cama ao lado, onde Bellamy esforçava-se para acordar.

— Bom dia, flor do dia. — Clarke disse, alegre. — Sinto muito, mas aquilo não foi só um sonho. Como você se sentindo?

— Péssimo. Meu corpo pesado, não consigo me mexer direito. — Ele grunhiu com uma voz rouca.

— É por causa dos remédios. Nós ficamos apagados por mais de doze horas, acredita? — Bellamy arqueou as sobrancelhas, meio surpreso. — Você se lembra do que aconteceu?

— Não muito. A última coisa que lembro foi de ouvir a voz do Kane, que tinha aberto a porta da dispensa. Depois disso, nada. Se importa de me deixar por dentro das novidades? Quero saber desde o começo.

Clarke lhe contou sobre o desespero de Octavia na cafeteria, o número rastreado por Monty, a escapada pela janela da enfermaria, até a chegada no campus, ao redor do lago, onde foram sequestrados pela gangue de Murphy. A discussão que teve com Finn foi o único elemento dessa história que não quis compartilhar. Não que ela não confiasse em Bellamy para desabafar esse tipo de assunto, mas a ocasião pedia por um pouco de discrição. Se tivesse a chance, talvez ela lhe contasse mais tarde.

— Nossa. Você não mentindo pra mim, tá? É sério que vocês desceram por aqui usando lençóis, e o seu cotovelo ainda se deslocou na queda? — A garota assentiu. — Te disse que você era mais pesada do que parecia. — Ela ficou indignada.

— Gostava mais de você dormindo. — Ele soltou uma risada fraca, encarando o teto sob sua cabeça.

— Não me deixa esquecer de agradecer a galera depois. Por enquanto, vou me contentar com o fato do Murphy ter vazado desse lugar. — A loira o fitou, sem saber se comentava ou não sobre a situação problemática do rapaz que os agrediu, mas algo tomou sua atenção. Era uma atadura de Bellamy, posicionada em seu antebraço, que parecia estar se soltando. Clarke se levantou e se sentou na beirada da cama do outro.

— Vou arrumar isso pra você. Fica quieto, por favor.

— Claro, madame. — Ele falou, naquele jeito travesso que a amiga já conhecia. Com cuidado, ela ajeitou a bandagem na posição correta, dando uma olhada no que estava por debaixo.

O que viu ali a deixou aflita. A carne do membro estava exposta, exibindo uma cor vermelha forte. A pele ao redor estava roxa, revelando algumas veias rosadas, dando a entender que ainda estava sensível. Aquilo demoraria um bom tempo para melhorar, além de deixar uma mancha no lugar quando sarasse. Era um milagre que os comprimidos tivessem apagado sua dor, se não aquilo traria um bom incômodo, no mínimo.

Um pesar gigantesco surgiu em sua consciência ao perceber a proporção do tal ferimento, que estava longe de ser o único. Como o rapaz não estava bravo com ela? Afinal, por causa de sua insensatez, ele acabou apanhando um tanto. Como ele podia agir tão tranquilamente, até brincando, como se não houvesse nada de errado? Será que ele a perdoava por isso? Ela, no entanto, nunca conseguiria superar sua culpa, pois as manchas e cicatrizes no corpo de Bellamy sempre a lembrariam do dano que causou ao outro. Parecia que estava fadada a ver as pessoas próximas a ela sofrendo, graças as suas escolhas estúpidas.

— Clarke, tudo bem?

As lágrimas escaparam de seus olhos de forma involuntária e intensa, surpreendendo ambos os jovens. A garota não queria expor seus sentimentos assim, receosa de assustar Bellamy, mas seu corpo agiu por conta própria. Ela deixou a atadura como estava e limpou as gotas que molhavam seu rosto, sem coragem para encará-lo.

— Se eu, ao menos... — Clarke começou a falar, mas foi freada por um soluço irritante. Ela respirou fundo e continuou: — Se eu, ao menos, tivesse falado com alguém, pedido uma ajuda antes... Isso não teria acontecido com você. Me desculpa.

— Te desculpar pelo quê? — Bellamy retrucou, quase imediatamente. — Também não pensei direito. Devia ter te avisado que eu ia atrás do Murphy anteontem. Você não teria que passar por aquele sufoco e a gente podia ter pegado o cara bem mais cedo. Fui burrice minha, na verdade.

— Mas o problema era meu! — A loira revidou, em tom alto. — Você decidiu se intrometer e olha só o resultado! Você todo ferido por minha causa! Sério, por que fez isso?! Gosta de bancar o herói, por acaso?! — Ela lambeu os lábios, tentando se acalmar. — Será que consegue imaginar o estado da sua irmã quando ela me disse que você tinha desaparecido? O que eu falaria pra Octavia se a gente não te encontrasse? — Clarke o fitou em silêncio, revoltada com o semblante inexpressivo que ele mostrava. — E se eu tivesse chegado mais tarde, o que teria acontecido com você...

— Vamos parar de pensar no "e se", pode ser? — Bellamy finalmente se manifestou. — Eu aqui agora, do seu lado. É isso que importa, não é? Esses machucados não são de nada, vou me curar logo logo, você vai ver! Já apanhei antes e vivo até hoje, vaso ruim não quebra fácil.

— Esse não é o ponto.

— Ah, já entendi. O ponto é que você se sente responsável por mim, certo? — Ele falou, furioso. — Você preferia ter lidado com tudo sozinha, porque acha que assim eu não teria me tornado o "coitado" da história. Olha, você não é culpada pelo o que aconteceu comigo. O Murphy é. — Clarke ficou calada. — Tá bom, da próxima vez não te ajudo.

— Bellamy, não é isso o que eu quis dizer! Eu sou agradecida por tudo que você fez por mim, é só que... — As palavras seguintes eram quase impossíveis de proferir. Como passar por cima de seu orgulho gigantesco e explicar o quanto suas ações significavam para ela? Clarke era horrível em fazer tais confissões. Ela queria contar que apreciava cada gesto que ele teve em função do seu bem, mas era difícil. Mais difícil ainda era aceitar que, por pouco, não tinha perdido um amigo tão bom quanto ele. Mesmo quieta, Bellamy pareceu entender sua dificuldade.

— Eu te preocupei, não foi? — Ela abaixou o olhar, envergonhada. Eles nem se conheciam há tanto tempo, mas a cascata que caía dos seus olhos dava a impressão de que já eram íntimos. — Me desculpa. — A loira sorriu.

— Você não precisa falar isso, idiota. Eu que sim.

— Não combinamos de chamar o outro pelo nome? O meu não é "idiota". — Ele respondeu, provocando uma risada dela e, consequentemente, um batimento mais rápido do seu próprio coração. Nesse momento, Clarke estava tão aberta, tão honesta, que Bellamy podia jurar que via algo fora do normal na garota. Talvez fosse a curva de seus lábios, o jeito que seu cabelo pendia atrás da orelha ou o brilho caloroso das suas esferas azuis... Não dava para dizer muito bem o que era, mas o que quer que fosse estava mexendo com ele, e como. Será que ela sempre foi tão bonita assim? Com a teimosia e o jeito caprichoso que demonstrava no cotidiano, seria impossível perceber a beleza que possuía agora.

Não, espera aí, ele pensou. Quem sabe não eram apenas os remédios atuando, fazendo com que sentisse coisas estranhas? Afinal, Bellamy apenas a via como a princesa do campus, que também é amiga da sua irmã. Nada mais, certo? É, com certeza era culpa dos remédios. Seguindo essa lógica, ele poderia fazer o que quisesse enquanto os dois estivessem ali. Se Clarke estranhasse, ele poderia reclamar dos comprimidos depois.

— Se eu pudesse, te dava um abraço, viu? Como não posso, se contente com isso. — Bellamy disse, entrelaçando seus dedos com os da garota. Ela não indicou ter odiado o toque, o que deixou o rapaz aliviado. — Só porque você triste, ok? Não porque eu goste de você.

— Quanta generosidade. — Ela riu novamente. — Obrigada.

— Ei, Clarke? — Bellamy a chamou, fechando seus olhos. O sono voltava a perturbá-lo. — Nós vamos ficar bem. Com a questão do Murphy, quero dizer. Não precisa mais ter medo.

— Eu sei. — A loira o observou enquanto ele respirava serenamente, já dormindo. O toque de sua mão, que agora a segurava com pouca força, lhe oferecia um calor agradável. Ela acariciou com leveza a pele do rapaz. — Obrigada. — Clarke sussurrou, olhando para seus dedos emaranhados nos dele. Como ela tinha sorte de ter achado alguém que a perdoasse assim, que a deixasse se sentir tão segura quanto ele. A partir desse momento, ela se prometeu que não seria mais um motivo de problemas para Bellamy, e sim de felicidade. Clarke realmente precisava aprender a apreciar mais os seus amigos.

Uma brisa gelada invadiu o cômodo, fazendo a cortina voar e os fios de cabelo em seu braço arrepiarem. Ela se afastou de Bellamy e caminhou até a janela, a fim de fechá-la. Do lado de fora, uma chuva fina caía, formando o clima perfeito para uma boa noite de sono. Clarke, apesar de cansada, se apoiou no parapeito de madeira e analisou a Lua cheia no céu, que brilhava intensamente sobre a escuridão.

Por mais belo que o cenário a sua frente fosse, um certo paralelo apareceu em seus pensamentos e a incomodou, tão lógico e coerente que não tinha como ignorá-lo: ela agiu da mesma forma que Abigail no caso de seu pai. A mulher achou que poderia fazer tudo sozinha, que tinha o controle de seu plano, mas nada acabou como gostaria. Clarke, nesse raciocínio, pensou que poderia desmascarar o culpado por si só, não contando com a presença de outros que se importavam com ela. Assim como a mãe, a garota era teimosa e cabeça-dura, tão convicta nas suas habilidades que nem imaginava os efeitos colaterais de seus atos. Era um traço de família, com certeza.

Depois dessa experiência toda, ela não poderia continuar sendo a filha mimada, que prefere fazer pirraça ao considerar os fatos. Repreender sua mãe agora seria apenas hipocrisia. Ela tinha que pedir desculpas e tentar entender o lado da outra, afinal, era o que Jake gostaria que fizesse, sem dúvidas. A elaboração desse pedido, no entanto, podia ser deixado para amanhã. Clarke terminou o lanche que Abigail lhe ofereceu, tomou seu remédio e voltou para a cama, já um tanto sonolenta.

No dia seguinte, ela acordou com uma barulheira um pouco irritante. Ao abrir os olhos e se ajustar à claridade do Sol, a primeira coisa que viu foi Bellamy, sentado na cama e conversando com sua mãe. A garota ficou assustada, pensando que Abigail lhe diria sobre os sintomas que ele poderia ter no futuro, assim como ela, e se calou para ouvir o diálogo dos dois.

— Você vai continuar tomando os analgésicos durante uma semana inteira, sem pular dia nenhum, ok? Como não foi muito profundo, duvido que demore a melhorar, porém, é bom que... — Abigail comentou de forma mecânica, até que Bellamy a interrompeu.

— ...Eu fique de repouso e evite atividades físicas que possam piorar o meu estado. — Ele continuou sua fala, mostrando um pequeno sorriso arteiro ao fim. — Já passei por isso antes, sei como é o esquema.

— Que bom. — A mulher suspirou, dando-se por vencida. — Caso sinta mais alguma coisa, volte pra cá assim que possível. — Ela pausou. — Bom, eu normalmente não faço esse tipo de convite, mas... Se você quiser evitar o olhar dos outros, pode ficar um tempo aqui, na enfermaria.

— Que nada, eu não ligo pra isso. — O rapaz retrucou, alongando seu ombro. Era surpreende para Clarke que ele não se importasse com a visão de seus ferimentos, já que eram bem gritantes. O roxo em ao redor do seu olho já tinha se apagado um pouco, mas a bandagem em sua bochecha fazia questão de chamar atenção. — Aliás, as garotas gostam de um cara meio machucado. Passa uma impressão de ser "perigoso", entende?

— Isso é exatamente o que um clássico badboy diria, Bellamy. — A loira se intrometeu na conversa, usando um tom zombeteiro. Os outros se assustaram de leve ao perceberem que tinha acordado. — Só toma cuidado pra elas não verem o que debaixo dessas ataduras, tá? Não é muito bonito, não.

— Pode deixar. — Ele respondeu, tão brincalhão quanto ela.

— Vou trazer um café-da-manhã pra você, já volto. — Abigail falou seca e andou para fora da sala. Clarke não teve tempo para refletir sobre seu comportamento estranho, pois Bellamy logo voltou a conversar.

— Como você hoje?

— Melhor do que ontem, não sentindo dor e nem cansaço. E você?

— Também. praticamente dopado com os remédios que sua mãe me deu, mas pelo menos não tem nada dolorido. Ela ainda disse que eu me curei mais rápido do que esperava. — Bellamy deu uma piscadela, como se falasse "eu te disse".

— Isso é ótimo!

— Não é? — Ele se levantou da cama e se aproximou da amiga. — Então, agora que já bem, você acha ruim se eu for até o seu dormitório? É porque eu queria fazer uma surpresa pra O., sabe. Mostrar pra ela que eu de pé.

— Claro que não. Por que eu acharia ruim? — Ela questionou, confusa.

— Ah, eu pensei que não ia gostar de ficar sozinha aqui. — Clarke sorriu carinhosamente e colocou sua mão sobre o braço do outro com delicadeza, para que não piorasse seus machucados.

— Não foi você que me disse que não preciso mais sentir medo? Pode ir, não vou ficar chateada.

— Obrigada, Clarke. — Bellamy respondeu, com um sorriso caloroso estampado. — A gente se fala mais tarde, tudo bem? — Ele passou a mão sobre o cabelo dela, bagunçando-o de leve.

— Tudo bem. — Dito isso, ele se foi. Poucos segundos depois, Abigail surgiu na porta da enfermaria com uma bandeja na mão e uma expressão perplexa.

— Ué, onde o Bellamy? — Ela perguntou, colocando a bandeja sobre o colo da filha. Lá estavam as famosas panquecas de sua mãe, que costumava fazê-las todo dia de manhã para o resto da família. Ao ver aquilo, um forte sentimento de nostalgia apareceu em Clarke. 

— Foi visitar a Octavia. Queria fazer uma surpresa pra ela. — A mulher encostou no seu pescoço e na sua testa. — Nada de febre, tontura, dor ou enjoo. — Ela disse, animada. Abigail suspirou com alívio e se voltou para o armário de remédios, a fim de pegar o próximo comprimido que a loira tomaria. — Mãe, aconteceu alguma coisa? — A outra retornou para seu lado e estendeu a dose para ela.

— Não, por que a pergunta? — Clarke engoliu o comprimido junto com o suco de laranja que estava sob a bandeja. — Vou avisar pro Jaha que você e o Bellamy já melhoraram.

— Espera. — A garota a segurou pelo punho involuntariamente, sobressaltando-a. — Você precisa fazer isso agora? Não pode ficar um pouco mais aqui? — Ela pausou. Abigail pareceu não gostar muito dessa ideia. — Mãe, eu... Tenho que te pedir desculpas. Eu agi de uma maneira grossa com você, não te obedeci quando você me pediu pra ficar aqui e causei uma confusão enorme. Me perdoa. — A mulher assentiu, desconfortável. — Eu... entendo como se sentiu em relação ao meu pai. Não devia ter descontado minha raiva em você. Foi errado.

— Clarke, não... — Abigail sentou-se à beirada da cama e tampou os olhos com a mão, respirando fundo antes de encará-la. — Não foi errado. Eu tinha que ter te contado que a culpa foi minha, que fiz algo que não deveria. Ao invés disso, eu preferi me esconder. Que tipo de exemplo eu passo pra você assim? — Ela soltou uma risada cínica, deixando evidente a mágoa que sentia. — Acabei tirando o Jake da sua vida e eu sinto muito.

— A culpa não foi sua. — Clarke retrucou, vendo que sua mãe começaria a chorar a qualquer momento. — Você só queria ajudar. Às vezes, as coisas não dão certo, acontece. Sei que meu pai não tem raiva de você e que sente a nossa falta, aonde quer que esteja. — Seus próprios olhos ficaram úmidos. — Daqui pra frente, vamos ser mais honestas uma com a outra, que tal? Ele gostaria disso.

— Gostaria sim. — Um sorriso tímido brotou em seus lábios enquanto ela se sentava ao lado da filha, abraçando-a com carinho. — Você pode continuar aqui, se quiser. Não precisa ir tão cedo.

— Vou aceitar sua oferta. — Clarke disse, dando uma risadinha. 

As duas permaneceram o resto da manhã juntas naquele abraço, comendo as tão familiares e preciosas panquecas como se fosse um domingo qualquer, parecido com aqueles dos anos passados.


Notas Finais


O que acharam? Sim, eu sei, é um pequeeeno desenvolvimento na relação do Bell e da Clarke, mas já alguma coisa, não? Uma quedinha já se formou ali, com certeza. Gostaram da Abby ter resolvido o problema com a filha dela? Tinha que ter um perdão em algum momento.
Em uma nota mais preocupante... Vocês não tem noção. Eu perdi o arquivo da fanfic, onde eu escrevia ;-; minha sorte era que só tinha escrito um parágrafo desse capítulo até então. Foi azar e sorte ao mesmo tempo, pra falar a verdade HSUAHS Ah, e personagens importantes aparecerão daqui a pouco, viu? Só pra deixar vocês na vontade. Enfim, espero que tenham gostado e comentem, se quiserem! Sempre me deixa muito feliz ❤ até o próximo!


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