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História Tudo Por Acaso - Debaixo do seu nariz


Escrita por: bravenlarke

Notas do Autor


Não galerinha, eu não morri ainda ;) KKKK
A música de hoje é a clássica Iris, do The Goo Goo Dolls (é antiga e todo mundo já conhece ela, mas eu gosto mesmo assim, me processem). Nas notas finais, eu vou explicar sobre a demora do capítulo.
Por enquanto, boa leitura e espero que gostem!

Capítulo 19 - Debaixo do seu nariz


Clarke tamborilou os dedos pela tela do celular, de forma silenciosa, enquanto fingia prestar atenção no seu professor, que falava sem parar. Mesmo sabendo que deveria ouvir ao que ele dizia, a matéria parecia fácil de entender apenas lendo o livro, então ela deixou sua mente divagar, despreocupada. Naquela quarta-feira de manhã cinzenta, ela finalmente ficou livre da faixa em sua cabeça, podendo andar pelo campus sem ser o alvo de fofocas mais uma vez. Claro que os alunos ainda comentavam sobre o acontecido, de vez em quando, mas pelo menos eram discretos e não a incomodavam muito. A loira estava bastante contente com isso, visto que as provas finais não demorariam a serem aplicadas e que precisava estudar.

Nos últimos dois dias em que esteve na enfermaria, quase ninguém veio lhe visitar. Wells, que se alojava no prédio principal, passava lá sempre que possível, nem que fosse para dar um simples "olá", ainda que estivesse atarefado. Octavia apareceu uma vez, para bater um papo rápido. O resto não deu muitas notícias, somente mandando mensagens para saber de seu estado. Sem poder revisar suas matérias (ordens de Abigail, que lhe obrigou a descansar), Clarke não teve o que fazer no seu tempo livre a não ser imaginar se era possível morrer de tédio.

Agora que sentia-se bem, no entanto, teria que se esforçar para recuperar o tempo perdido. Havia mais exercícios para fazer, mais textos para ler e mais resumos para escrever antes que os exames chegassem. A garota não estava muito aflita, mas sabia que precisava de ajuda. E quem melhor para ajudá-la do que alguém que tinha experiência com isso?

Bellamy puxou assunto com ela apenas em duas ocasiões durante esse período: depois de ter surpreendido Octavia no domingo, e no dia seguinte, para perguntá-la se já estava de pé. Clarke compreendia muito bem que ele, assim como os outros, estavam estudando intensamente com o fim do semestre próximo, mas será que o rapaz se importaria em dar uma mão? Ou será que ele consideraria egoísmo de sua parte, querendo interrompê-lo nesse altura do campeonato? Só tem um jeito de descobrir, ela pensou, deixando de tamborilar os dedos no celular.

"Ei, Bellamy. Já acordou? Espero que sim. Deixa eu te contar uma novidade: saí da enfermaria! Não existe mais uma faixa na minha cabeça e eu posso andar pelo campus de novo, aleluia. Pra celebrar esse acontecimento, que tal uma sessão de estudos na biblioteca, hein? Tenho cada problema de Estatística, você vai adorar."

Clarke enviou a mensagem, um pouco nervosa. Mordendo o lábio em apreensão, ela digitou outra logo em seguida, com medo de ter sido inconveniente.

"Só se você quiser, é claro. Sei que você tá ocupado com seus estudos, também."

Ela colocou o celular no seu colo e se voltou para o professor, que parecia não notar seu desinteresse. Em poucos minutos, o aparelho vibrou e obrigou Clarke a parar de anotar em seu caderno.

"Oi, Clarke, já acordei sim. Tô tomando os analgésicos que sua mãe me deu pela manhã, então, infelizmente, tenho que levantar nessa hora. Que bom que você largou a faixa! Era meio cafona, na minha opinião. Pra celebrar, eu ia sugerir uma saída pra um lugar legal, mas conhecendo você e seu problema com bebida... É, uma sessão de estudos é melhor. E relaxa, não me importo de te ajudar com Estatística de vez em quando. Afinal, sem mim, você tiraria um zero, né?"

A loira, com um sorriso tímido brotando em seus lábios, revirou os olhos.

"Nossa, como você é chato pela manhã! Tinha me esquecido disso. Bom, se eu falar que não tiro um zero, você não me ajuda, então... É, sem você eu tô perdida, Bellamy. Satisfeito? E nem começa com esse lance da bebida. Você me pegou em situações ruins, só isso."

A resposta veio em menos de um minuto.

"Só isso, sei. E sim, o meu ego tá satisfeito com essa sua declaração. Não sei se consigo ficar a tarde toda, mas posso revisar por algumas horas com você. Quando a gente se encontra?"

"Pode ser depois que a minha aula terminar? Eu vou comer alguma coisa e depois passo lá."

"Beleza. Te vejo mais tarde, chatinha. Ops, Clarke."

Aliviada, ela guardou o celular na bolsa e voltou a anotar o discurso do professor no seu caderno. Por mais que entendesse que era errado, ela ainda se sentia culpada pelo que tinha ocorrido com o amigo. Passar o dia ao seu lado, conversando e o alegrando, era uma das maneiras que tinha planejado para o recompensar. O estudo, óbvio, era apenas um complemento. E neste caso, um complemento bem importante.

Quando o sinal tocou, todos os alunos, incluindo a garota, passaram a guardar seus pertences e se levantar depressa, ignorando as reclamações do educador rabugento, que pregava que "o alarme não libera vocês, eu libero!". Clarke seguiu para a saída do prédio com a bolsa sobre seu braço, já pensando na procura que faria pelas estantes empoeiradas até que achasse um livro bom de Estatística. Ela não admitiria, porém estava bem entusiasmada com a ajuda de Bellamy.

Ao chegar na biblioteca, Clarke quase foi direto aos fundos, mas algo despertou sua curiosidade, ainda na entrada. Pela mesa em que sempre se sentava, um jovem de cabelos desarrumados estava esparramado na cadeira, com os braços cruzados, a cabeça jogada para trás e uma expressão nada contente. Era Jasper. Intrigada, ela se aproximou devagar, mas interrompeu seus passos quando percebeu ter pisado em um objeto desconhecido.

Sob seu pé, estava um cartão da biblioteca perfeitamente plastificado e sem nenhum amasso. Nele aparecia uma fotografia de uma garota morena, com cabelos negros e cacheados, com o nome de Maya Vie, logo embaixo. A loira se virou para a mesa ao lado, onde a tal Maya estava, encarando Jasper sem a menor discrição. Como ele não percebia o olhar intenso da desconhecida era um mistério para ela.

— Hm.... — Clarke coçou a garganta, provocando um pequeno susto na outra, que a fitou com os olhos arregalados. — Isso aqui é seu, não é? Acho que você deixou cair. — Maya notou o cartão em sua mão e corou, envergonhada.

— Obrigada. — Ela disse, tomando-o de sua posse e se virando para o livro aberto na mesa, fingindo prestar atenção no que estava escrito. Clarke, um pouco incomodada com aquele momento constrangedor, continuou sua caminhada na direção de Jasper.

Ele pareceu não reparar sua presença até que colocou a bolsa sobre a mesa, causando um ruído na superfície de madeira. Jasper abriu a boca e se ergueu na cadeira, surpreso, enquanto ela se sentava.

— Ah, Clarke, o-oi. Tudo bem? Não esperava ver você por aqui. Quer dizer, não que seja algo ruim que a gente tenha se encontrado. É algo ótimo, mas pensei que ainda estivesse na enfermaria. Sua mãe te deu alta? — Ele falou sem parar, no mesmo ritmo esquisito que Clarke já conhecia. Ela o ouviu com um sorriso, enquanto organizava seus pertences pela mesa.

— Deu. Ainda tenho que tomar alguns remédios quando uma dor de cabeça aparece, mas não é nada demais. E você, como tá? Veio estudar ou fazer algum trabalho?

— Eu vim passar um tempo sozinho. O Monty não larga do meu pé, falei pra ele que ia revisar qualquer coisa e saí de perto dele. — Ele voltou a deixar sua cabeça jogada para trás e suspirou. — Não aguento mais ouvir a voz dele. Por hoje já deu, preciso de um pouco de paz aqui.

— O que aconteceu? Vocês brigaram? — A loira perguntou, honestamente preocupada. Aqueles dois eram como carne e unha; se Jasper pensava assim do outro, algo sério tinha ocorrido.

O celular estava na sua mão, pronto para avisar Bellamy que já tinha chegado na biblioteca, mas a conversa acabou a distraindo de enviar a mensagem. O rapaz sentou-se direito, trocou um olhar de relance para a amiga e se virou para a janela, hesitante. Clarke entendeu que aquilo podia ser um assunto complicado para compartilhar.

— Se você não quiser me contar, tudo bem. Eu posso te fazer companhia até seu humor melhorar e você esquecer disso. A gente pode conversar sobre aquela revista em quadrinhos que você gosta, que tal? Eu queria saber mais sobre ela, na verdade. — Nenhuma resposta. —  Ou posso ir pra outra mesa e te deixar aqui, se achar melhor.

— Não, não precisa ir. — Ele respondeu, a fitando de novo. Estava estampado no seu rosto que sofria com algo difícil. — Aliás, foi bom a gente ter se esbarrado um no outro assim, porque... O problema tem a ver com a Octavia. Quer dizer, o problema é a Octavia. — Jasper entrelaçou os dedos sobre a mesa, respirou fundo e abaixou os olhos, nervoso. A garota ficou ainda mais preocupada, mas resolveu esperar por uma explicação. — Vocês têm conversado nesses últimos dias?

— Sim, ela veio me visitar ontem na enfermaria. Por quê? Tem alguma coisa de errado com ela? — Clarke perguntou com as sobrancelhas cerradas.

— Não, fica tranquila, não tem, é só que... Ela comentou alguma coisa sobre mim?

— Jasper, fala logo de uma vez. — A paciência da loira estava se esgotando com a enrolação de sempre do outro. — O que acontecendo com você e a Octavia?

— Nada. Não tá acontecendo nada, essa é a questão! — Ele levantou a voz, pouco se importando com a cara feia da velha bibliotecária na sua direção. — Você se lembra que ela me beijou, não lembra? Desde então eu tentei conversar com ela, mandei algumas mensagens, a chamei pra sair e nada! A Octavia disse que ocupada ultimamente, que não pode ficar muito no celular, que tem que estudar... Só fica me dando esses foras indiretos. Aí, pra piorar, o Monty ainda fica de zoação, me falando que só na próxima vinda do cometa Halley ela vai me dar bola! Sabe quando esse cometa vai aparecer aqui, Clarke? Só daqui a 45 anos! — Clarke lambeu os lábios e tentou, com todas as forças, não rir. Era quase impossível levá-lo a sério quando ele falava uma bobagem dessas. — Até o Miller me disse pra desistir. Mas é complicado quando eu já sinto isso por ela há um bom tempo.

— Ah, Jasper... — A mais pura verdade era que Octavia não queria nada com o rapaz. Não queria e nunca quis; todo mundo podia ver isso, menos ele. A morena apenas agiu no calor do momento, como era de costume, e estava arrependida com aquele beijo. Clarke sabia disso, pois a própria Octavia lhe disse enquanto visitava.

O que ela não entendia era porque a garota não acabava com suas esperanças de uma vez, ao invés de dar desculpas sem noção e o iludir mais. "Não pode ficar muito tempo no celular?" Ela e o seu celular eram uma pessoa só. Não importava as horas ou o lugar onde estava, sempre era o momento certo para conversar com alguém, ver umas fotos e fuçar a internet, de acordo com Octavia. "Tem que estudar?" Aquela garota, lendo livros e revisando matérias? Sendo responsável por vontade própria?! Só na próxima vinda do cometa Halley, mesmo. É de dar dó, ela pensou, encarando o amigo em silêncio por poucos segundos.

— Olha, eu sei que é complicado, mas eu concordo com o Monty e o Miller. Eles estão certos, Jasper. Não faz muito tempo que eu conheço a O., mas posso te afirmar que ela é assim, impulsiva demais. Não pensa em nada, só faz e pronto. O beijo não rolou porque ela sentia algo por você, e sim porque ela tava alegre e quis comemorar. Aposto que a Octavia nem sabe do que você sente, mas não interessada em saber também. — Era horrível ver o rosto tristonho de Jasper, porém, tinha que ser honesta. Uma sensação de culpa, de não poder fazer mais nada por ele, inflamou em seu peito. — Me desculpa.

— Que droga. — Ele mordeu os lábios, abaixou o olhar e soltou uma risadinha irônica. — Sou muito trouxa de acreditar que tinha uma chance com ela, não sou?

— Claro que não, Jasper. Não dá pra escolher com quem a gente se apaixona, mas só porque não deu certo com ela, não significa que pode pensar assim. Quem sabe, às vezes tem alguém muito melhor esperando por você!

— Até parece. — Ele cruzou os braços e suspirou.

— Eu falando sério. Tem pessoas debaixo do seu nariz esperando você notar que existem. — Clarke olhou de relance para Maya Vie, que continuava observando o rapaz, um pouco mais discreta dessa vez. Jasper achou suspeito o sorriso animado da loira e se aproximou, falando baixo:

— Você não me cantando, né? Ou tá? Porque eu achei que o Bellamy já tinha um lance contigo e eu nunca cheguei a pensar em você dessa maneira, então eu...

Quê? Não, Jasper, não te cantando! E nem tenho um lance com o Bellamy, de onde você tirou essa ideia?! — A garota respirou fundo, sentindo o olhar furioso da bibliotecária nas suas costas. — Noventa graus, à direita. Olha devagar. — Ela sussurrou.

— Sua direita ou minha direita?

— Sua, anda logo! — O rosto dele foi se virando, acompanhado pelo seu olhar, até chegar na direção de Maya. A desconhecida, pega de surpresa, abaixou o rosto na velocidade da luz e fingiu estar lendo. Era óbvio que estava constrangida, pois sua face ganhou uma coloração avermelhada e suas mãos não paravam em cima do livro, sem saber o que fazer.

— Quem é ela? — A empolgação de Clarke só aumentou com a curiosidade do amigo.

— O nome é Maya Vie. Pelo que eu me lembro, ela tava lendo um livro sobre o corpo humano, então ela estuda... Medicina? Enfermagem? Não sei, mas você pode ir lá perguntar. — A loira levantou as sobrancelhas, como se dissesse "que tal?".

— Você é maluca. — Ele retrucou, já mais alegre. — Eu não sou tão corajoso assim, não. Ah, e é verdade que você e o Bellamy não tão juntos? Eu podia jurar que tinha algo mais que amizade entre vocês dois.

— Não inventa, Jasper. O Bellamy é meu amigo. Aliás, acho que, depois do que aconteceu recentemente, ele já é quase um irmão pra mim.

Oooouch. — O rapaz cerrou as sobrancelhas e deu tapinhas em cima do seu coração, como se tivesse se machucado ali. — Essa doeu em mim. O Bellamy pode até ser um irmão pra você, mas não fale isso na frente dele, ok? Coitado do cara.

— Coitado nada, deixa de ser chato. — Clarke revirou os olhos. — Enfim, para de me enrolar. Por que você não vai lá falar com ela? — Jasper sorriu, mas não respondeu. Ele olhou para Maya outra vez, que continuava "concentrada" no seu estudo. — Ah, vamos lá! O que pode acontecer de pior? Ela te dizer não? — O moreno respirou fundo, esfregou uma mão na outra e disse, antes de se levantar:

— Me deseja sorte.

Ela sabia que nem precisava desejar. Maya ficou visivelmente assustada quantou notou sua presença, tão próximo dela, mas assim que ele se sentou e disse qualquer coisa (que Clarke não conseguiu decifrar, pois Jasper estava de costas), abriu o maior sorriso. A garota era linda e a loira ficou feliz pelo amigo. Mesmo que desse errado, só esta conversa já seria ótima para sua auto-estima.

Após alguns minutos, ela desviou o rosto e encarou seu celular. A mensagem para Bellamy permanecia na tela, ainda sem enviar. Será que eles tinham tanta química assim, para deixar seus amigos pensando que estavam juntos? Bom, ela pensou, não seria tão ruim. Bellamy era uma pessoa muito legal, atenciosa e nem um pouco mau para os olhos. Era até difícil de acreditar que ele não tinha uma namorada. Ou melhor, era só difícil de acreditar se você não o conhecesse.

A vontade que ele tinha de proteger todo mundo era admirável, mas ainda causava problemas. Acabava sendo controlador demais e, se as coisas não fossem do seu jeito, era um motivo para briga. Era tão impulsivo quanto a irmã e ainda reclamava dela, mostrando um pouco de hipocrisia do seu lado. Até mesmo nos seus melhores dias, as brincadeirinhas não cessavam e podiam se tornar irritantes ao longo do tempo. Além disso tudo, era fumante.

Bellamy tinha vários defeitos, Octavia que o diga; mas ninguém é perfeito. Clarke também tinha os seus e, na verdade, eram um pouco parecidos com o do outro. Ela sempre queria que tudo acontecesse a sua maneira, assim como ele, mas porque era perfeccionista. E pior ainda, se Bellamy tentava fazer sua palavra valer pela força, Clarke a fazia pela manipulação. Ela sabia como contornar as pessoas e as deixar do seu lado se quisesse, uma habilidade da qual não se orgulhava muito. Tinha seus momentos de intolerância e teimosia, mas ao mesmo tempo podia mudar de opinião rapidamente, se o outro lado mostrasse mais benefícios para ela. Talvez, o nome de alguém assim fosse "interesseira".

Um casal de jovens com personalidades tão turbulentas não podia dar certo, podia? Clarke imaginava que nem precisava se importar com uma pergunta dessas, pois Bellamy, do jeito que se dizia mulherengo, não estaria afim de saber de um relacionamento. E, claro, ela também não queria saber, de jeito nenhum. Com o estrago que Finn fizera em sua vida, só nos anos seguintes que pensaria em algo sério de novo.

Quando saiu de seus devaneios, ela avistou Jasper lhe dando uma piscadinha enquanto saía da biblioteca ao lado de Maya. Pelo visto, deu tudo certo, ela pensou, acenou para o amigo e finalmente enviou a mensagem no celular, pronta para a sessão de estudos.

"Ei, já cheguei na biblioteca. Tô te esperando."

Os minutos se passaram. Ela leu o capítulo introdutório inteiro de um livro de Estatística que encontrou nas estantes e não recebeu nenhum sinal de Bellamy. Clarke tentou se manter calma, mas sua imaginação ficou à solta, pensando no pior. O que tinha acontecido? Por que ele não respondia as mensagens? Será que algum amigo do Murphy quis se vingar e...

Ela respirou fundo e virou a página, se deparando com uma série de exercícios na folha. Não, tá tudo bem. Ele vai aparecer e vai me dar uma boa explicação pelo atraso, com certeza. Os minutos se passaram novamente e ela terminou a maior parte dos problemas, com muita dificuldade. Foi só quando deu uma pausa para olhar o celular que resolveu tomar medidas drásticas.

Já fazia uma hora e meia que Bellamy a ignorava. Escondida da bibliotecária, Clarke se debruçou na mesa, discou o número do rapaz e colocou o aparelho na sua orelha. Vamos, atende, atende, atende...

— Oi, liga mais tarde, tá? Tchau.

E pronto. Com uma frase só, Bellamy tinha desligado na cara dela. A sua voz deu a entender o porquê de ter se atrasado: estava ocupado, dormindo. Clarke revirou os olhos e suspirou, raivosa. Tinha se preocupado à toa, ou melhor, tinha ido até ali à toa. Por que ele não pôde avisar que queria tirar uma soneca ao invés de estudar? Ela não ficaria chateada com isso. Agora, com essa falta de compromisso, ela ficou bem chateada.

Um chuvisco começou a cair do lado de fora. O barulho da água e a visão da nuvem preta que pairava sobre o campus lhe deram uma preguiça imensa, mas já que estava na biblioteca e tinha provas daqui a alguns dias, era bom que estudasse. Pelo menos, não seria uma tarde totalmente desperdiçada.

Após meia hora e poucos exercícios resolvidos, o cérebro de Clarke estava soltando fumaça. Não era por nada que suas piores notas eram em Estatística durante o colegial; a matéria não entrava na sua cabeça, de jeito nenhum. Ela estava prestes a desistir do estudo e ir revisar outro tópico quando alguém lhe chamou a atenção.

— Com licença, você é da turma de Relações Internacionais do primeiro período? — Uma garota magra, de pele branquinha e com os cabelos castanhos e ondulados presos em um rabo de cavalo parou na sua frente. Ela perguntou alto, com firmeza, deixando Clarke impressionada por um instante.

— Sim, sou. Por que a pergunta?

— Posso me sentar? — A estranha respondeu, mostrando o rosto de boneca sem expressão alguma. Certamente, com a aparência que tinha, ela podia ser uma modelo com facilidade. 

— Pode, claro. — Ela se sentou de forma delicada.

— Meu nome é Lexa Carey. Eu faço transferência nessa universidade e também estudo Relações Internacionais. Somos da mesma sala, aliás.

— Oh, prazer, o meu é Clarke Griffin. Me desculpa por não te reconhecer. Não sou muito de conversar na sala de aula. — A loira sorriu, envergonhada, enquanto reparava no sotaque estrangeiro da colega, australiano.

— Sem problemas, eu também não sou. — Lexa retribuiu o sorriso. — O que você está estudando?

— Estatística. Mas acho que não consigo mais ver números por hoje, sou péssima com eles. E você, veio estudar o quê?

— Direito Internacional Público. — Um silêncio constrangedor apareceu entre as duas. — Você se importa se estudarmos juntas? Eu entendo de Estatística, consigo te ajudar e tirar suas dúvidas, e você faz o mesmo por mim. O que acha?

— É uma boa ideia.

A chuva continuou a cair do lado de fora até a noite, quando a bibliotecária avisou que fecharia a sala por hoje. Clarke ficou surpresa com a fala da mulher, afinal, nem tinha visto o tempo passar. Ela e Lexa ficaram tão empenhadas em estudar que as horas pareceram minutos. Com quase todos os exercícios resolvidos e duas matérias revisadas, elas decidiram voltar para os seus quartos juntas, pois o toque de recolher não demoraria a chegar.

— A gente podia combinar de fazer isso de novo, outro dia. — Clarke sugeriu, enquanto andavam juntas debaixo da sombrinha de Lexa. Estava animada de ter conhecido alguém com tanta dedicação aos estudos quanto ela. Nem a sessão de estudos com Bellamy, que foi ótima, conseguiu ser melhor do que essa.

— Tudo bem por mim. — A estrangeira respondeu, com um pequeno sorriso. Em breves minutos com pouca conversa, elas alcançaram o primeiro andar do dormitório. — Meu quarto fica aqui.

— Hm, o meu é no segundo andar. Acho que nos vemos amanhã, então? — A loira foi se despedindo, doida para tomar um banho e se aquecer no clima frio.

— Sim. Ah, eu anotei pra você. — Lexa entregou um papelzinho dobrado na mão da outra. — É o meu número. Se você quiser me chamar pra estudar, fica mais fácil por celular.

— Entendi. — Clarke sorriu, disfarçando sua suspeita. Era muito comum que ela visse, pelo campus, rapazes tentando paquerar e entregar seus números dessa maneira. Por que sentia que Lexa estava fazendo o mesmo com ela? Às vezes, podia ser só fruto da sua imaginação, mas, com certeza, algo com aquela morena era diferente.

Depois de ter se despedido, seus pensamentos voltaram ao banho quente enquanto subia os degraus da escada. Quem sabe, até pegaria no sono mais cedo hoje. Seu cérebro, que tinha fritado o dia inteiro, merecia um belo descanso. Uma longa noite bem dormida soava tão bom para ela...

— Clarke! — Raven exclamou, assim que a garota abriu a porta. Sentada na cama, com o notebook na sua frente, uma vasilha de pipoca no colo e a boca cheia, ela continuou a falar: — Você chegou na hora certa! Eu tava prestes a apertar play aqui. O que você acha de comemorar a sua saída da enfermaria assistindo um clássico filme de ação: Lara Croft: Tomb Raider? — Clarke levantou as sobrancelhas, como se dissesse "agora?". Raven apenas sacudiu a vasilha, empolgada. Segundo ela, não tinha hora errada para assistir esse tipo de filme.

— Deixa eu só tomar um banho. — A loira aceitou o convite, após um suspiro cansado.

Yayyy! Acho que vou pegar uma latinha de suco pra mim enquanto isso, sempre fico com sede depois de comer pipoca. Busco uma pra você também.

Após alguns minutos, já usando seu pijama e com as latinhas que Raven trouxe ao seu lado, as duas colocaram o notebook no chão e se deitaram por ali mesmo, com almofadas e travesseiros ao redor para não ficarem desconfortáveis. Enquanto os trailers passavam, elas tiveram uma conversa rápida sobre como foi o dia de cada uma. Raven também tinha estudado o suficiente por hoje.

Clarke, que pensava em dormir quando chegou na metade do filme, tomou um pequeno susto com o seu celular vibrando. Quando desbloqueou a tela, viu que tinha cinco novas mensagens, todas de Bellamy. A primeira foi enviada às 16:43.

"Clarke, me desculpa. Eu acabei dormindo depois do almoço e só acordei agora. Foi sem querer, de verdade. Você ainda quer estudar? A gente pode ir na biblioteca ou no seu quarto (só uma sugestão), eu saio agora mesmo."

A segunda foi enviada às 17:02.

"Vai ficar me dando gelo, é? Não tô brincando com você, não foi proposital. Eu não queria ter te dado um bolo. Se você me responder rápido, ainda consigo passar na biblioteca ou no seu quarto (de novo, só uma sugestão) e tirar suas dúvidas. Vai querer estudar comigo ou não?"

A terceira e a quarta foram enviadas às 18:55 e às 18:56.

"Olha, não vou me fazer de vítima aqui, mas tenho uma boa razão por não ter ido. Só conto se você me prometer que não vai me zoar."

"Lembra que eu acordei cedo hoje pra tomar um comprimido? Sua mãe me deu dois diferentes pra tomar. Um pela manhã e outro pela noite. Se eu esqueço de tomar algum, eu começo a ficar com dor em algum canto do meu corpo, então, eu sempre tento tomar todos no horário certo. O que tomo à noite me apaga totalmente. Eu desmaio e só abro os olhos no outro dia. E hoje, por obra do destino, eu confundi os dois e tomei o errado. Resultado: dormi e perdi nossa sessão de estudos. Agora que você sabe o que aconteceu, pode parar de me ignorar? Eu agradeço."

A última, que foi recebida naquele segundo, dizia:

"Tudo bem, você ganhou. Boa sorte com a sua prova de Estatística, vou aproveitar o seu gelo e pegar um refrigerante pra tomar com ele. Boa noite."

Clarke soltou uma risadinha e começou a digitar.

"Você sabe insistir, hein? Hahaha. Desculpa, eu não quis te ignorar, só esqueci de olhar meu celular. Relaxa, não sou como certas pessoas que furam uma sessão fantástica de equações e tudo mais... Brincadeira, eu entendi o que rolou. Cabeça de vento, não leu o rótulo do remédio, não? Enfim, acabei encontrando uma colega de sala lá e estudamos juntas, pode ficar tranquilo."

Poucos minutos depois, o aparelho vibra de novo.

"Poxa, justo quando tinha pegado o refri... Haha. Alguém conseguiu te ensinar Estatística além de mim? Ué, talvez você não seja uma causa perdida no fim das contas! Ou então essa sua colega que é excelente em matemática, não sei. E não, eu esqueci de ler o rótulo. Ah, eles são tão parecidos, podia acontecer com qualquer um."

"É, qualquer um que seja um cabeça de vento. Na próxima vez, você vai trazer um pacote de Skittles pra me recompensar. Só assim você será perdoado, ok? Sem negociações."

Em menos de 30 segundos, ele responde.

"Você vai me quebrar desse jeito, mas tá, eu levo. Só de curiosidade, você também obrigou a sua colega a te alimentar ou só eu que recebo esse tratamento?"

"Só você. Ela pôde aproveitar o prazer da minha companhia de graça."

"Hmm, tô me mordendo de inveja aqui..."

Clarke riu novamente.

"Inveja? Quer dizer que você queria aproveitar do prazer da minha companhia de graça também?"

— Olha essa parte, é uma das minhas cenas favoritas. A Lara consegue pular de uma altura absurda e ainda atacar com um chute no ar! Que tipo de diretor pensa nessas coisas? A física toda errada! Mas eu admito, fica com um efeito bem legal e... — Raven, que tinha o olhar vidrado na tela, se virou para a amiga e pausou, cerrando as sobrancelhas. — Ou, eu te chamei pra assistir filme comigo, não pra ficar mandando mensagem do meu lado. Pode parar com isso aí!

— Desculpa, desculpa. É só o Bellamy, já vou me despedir dele.

— "Só o Bellamy", hã? Sei... — Um sorriso estranho brotou no rosto de Raven.

— É, só o Bellamy! Não começa, por favor. Vou falar pra ele que ocupada, espera.

Assim que começou a digitar, uma resposta chegou.

"Só se for nos seus sonhos, Clarke. Vou tentar dormir aqui. Boa noite, tchau."


Notas Finais


Nossa, vocês esperaram esse tempo todo por um capítulo que tem a Lexa no meio? KKKKKKKKKKKKK não me matem, por favor, agradeço desde já.
Então, quanto à demora desse capítulo, é porque estou estudando/trabalhando por enquanto, e em véspera de prova e projetos fica difícil de escrever e postar aqui. Eu disse antes e repito, ainda vou terminar a fic, não importa o tempo que passe. Só espero que vocês aguardem os próximos que ainda virão com paciência ❤️
Tomara que tenham gostado desse. Se sim (ou se não), comentem aí, porque gosto de saber o que vocês acham do desenvolvimento da história. E fiquem ansiosos pela confusão que vai rolar com a Lexa, ainda... Beijos de luzzz!


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