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História Tudo Por Acaso - Presentes de Natal


Escrita por: bravenlarke

Notas do Autor


Olá, queridos! Olha só quem apareceu, novamente, antes de um mês desde ter postado o último capítulo (faltava dois dias pra dar um mês, mas isso é só um detalhe KKKKK)! Sei que vocês estão ansiosos pra saber o que acontece, então, não vou enrolar muito: a música de hoje é "Someone New", da Banks!
Boa leitura!

Capítulo 25 - Presentes de Natal


Pela manhã da véspera de Natal, Clarke tirou o que ainda restava dentro de seu armário. A maioria de seus pertences já estavam bem guardados na mala, mas alguns acessórios e decorações ficaram jogados pelas gavetas, esperando a hora de serem acomodados na bagagem. Enquanto realizava sua tarefa cuidadosamente, sentada no chão, Raven andava de um lado para o outro, mordendo uma de suas unhas e com as sobrancelhas franzidas. Sua mala estava pronta, fechada do lado da cama.

— Você tem certeza?

— Tenho, Raven. — A loira respondeu em um tom tranquilo, sem nem oferecê-la um olhar. Continuou a empurrar objetos entre suas roupas .

— Certeza absoluta?

— Pela milionésima vez, sim. — Ela fechou as pálpebras, um pouco cansada daquela conversa que vinha se repetindo por um tempo. — Você quer que eu te mostre a mensagem que ela me mandou?

— Não, não precisa. — Raven parou de se mover e jogou os braços para a frente, mostrando-se aflita. — É só que não quero atrapalhar o Natal de vocês. Você avisou que  vou ficar só um dia na sua casa?

— Avisei, e minha mãe me perguntou porque eu não convidei você pra passar as férias todas lá. — Ela fechou o zíper com uma leve dificuldade, soltando um suspiro quando finalmente pôde fechar a mala, e se levantou. — Ela quer que você vá, não se preocupa.

— Tudo bem, então... — A garota se sentou na cama, deixando o pescoço pender para trás e esticando-o. Seus olhos pararam no interior do armário por um breve instante e voltaram-se para Clarke, que checava as horas no seu relógio. — Você esquecendo o presente do Bellamy.

— Ah, não. — A loira a encarou. — Vou levar ele na minha bolsa de mão. Tenho medo de acontecer alguma coisa e a caixa abrir no meio da viagem.

Hmm, entendi... Não podemos correr o risco de estragar o presente do mozão, não é? — Ela falou com voz de criança, zombando da amiga. A outra quis permanecer séria, mas não pôde conter uma risadinha.

— Cala a boca, Raven. Vou te desconvidar pra vir comigo. — A morena mostrou sua língua.

— Tarde demais, colega.

As duas trancaram o quarto, desceram pelas escadas e caminharam para fora do dormitório, em direção ao estacionamento. O clima tinha dado uma pequena esquentada na noite anterior, abrindo espaço para um tímido Sol entre o céu nublado sob suas cabeças, mas ainda precisaram usar casacos para protegerem-se do vento frio. Não havia nenhum estudante à vista pelo campus além delas. Os poucos carros que se encontravam ali eram dos funcionários, incluindo o prata de Abigail Griffin.

Ao se aproximarem, perceberam que a mulher, escorada no carro, conversava com Marcus Kane alegremente. Quando as avistou, ela fez um aceno.

— Já ia chamar vocês. — Abigail sorriu, acariciando o braço da filha. — Checaram os armários pra ver se nada ficou pra trás? Trancaram a porta do carro? Guardaram as chaves?

— Sim, sim e sim, mãe. — Clarke falou de forma mecânica, tão acostumada às perguntas da mulher. Ela contraiu os lábios em uma linha fina, formando um sorriso desconfortável. — Tamos prontas pra ir.

— Ótimo. Vamos arrumar as malas, então.

— Opa, eu ajudo. — O homem se pronunciou, rapidamente tomando as bagagens das mãos das garotas. Enquanto a monitora abria o porta-malas, Clarke e Raven trocaram um breve olhar, estranhadas. Kane nunca era tão bondoso, nem mesmo com a filha que Abigail, que recebia privilégios na universidade. Não demorou para ajeitá-las dentro do veículo e virou-se para elas. A curva atípica nos seus lábios era um tanto assustadora.

— Tem certeza de que levaram tudo? Suas malas estão levinhas...

Aham. — Raven assentiu, constrangida com aquela conversa fiada.

— Bom. — O homem, que tinha as mãos nas cinturas, pareceu pensativo ao fitar as duas. — Tomem cuidado nessas férias, ok? Eu sei que vocês gostam de festejar e fazer besteiras nessa época do ano, mas juízo, hein? Nada de exagerar nas bebidas, mocinhas. — Falou a última parte olhando para Clarke, provocando uma súbita fúria na garota. Quem ele achava que era, seu pai?!

— Pode deixar. — Ela retrucou, revelando seus sentimentos no tom de voz. Um silêncio embaraçoso surgiu entre o grupo.

Hm, senhora Griffin, você pode abrir a porta, por favor? — Raven começou, tentando salvar a situação. — A gente morrendo de frio.

— Ah, claro. — Ela pegou sua chave do bolso da jaqueta e apertou o botão. As garotas entraram no veículo, deixando a mulher do lado de fora. Clarke, que não era ingênua nem nada, percebeu o clima que os dois adultos estavam compartilhando. Até tentou ignorá-los, sentada no banco da frente e concentrando-se no seu celular, mas acabou sendo vencida pela vontade da amiga de bisbilhotar aquela cena, que cutucava seu ombro incessantemente. — Acho que já vou indo.

— Espera, tenho que te dar algo antes de ir. — Ele enfiou a mão no bolso traseiro da calça.

— Não pode me entregar isso depois? — A mulher perguntou, claramente apreensiva. Sabia muito bem que estava sendo observada, e por ninguém menos que sua própria filha.

— Não, é importante. — O homem tirou uma caixinha vermelha e arredondada do compartimento e a abriu. — Aqui está o seu presente. — Abigail pôs a mão sobre o peito, surpresa.

— Marcus, é... É lindo. — Clarke esticou-se, o mais discreta possível, para ver do que se tratava.

— Posso colocar? — Ela assentiu, se virou de costas e segurou o cabelo. Ele passou uma fina corda dourada ao redor de seu pescoço e a mulher voltou a encará-lo. — Sabia que ia gostar. E ficou muito bonito em você.

— É maravilhoso, de verdade. Obrigada. — Ela olhou para o seu presente mais uma vez. — Sinto muito, não comprei nada pra você. Juro que vou te dar um presente antes das aulas começarem.

— Que isso, não precisa. — As esferas castanhas do homem encontraram-se com as da loira de repente, fazendo com que ela retornasse a sua posição original às pressas, cheia de vergonha. Aparentemente, ele também notou que recebia a atenção de Raven, pois a garota virou-se para o outro lado em um pulo. — Agora, eu deixo você ir. Feliz Natal, Abby. — Ele dividiu um curto abraço com a mulher.

— Feliz Natal pra você também, Marcus. — Ele passou a caminhar para longe, oferecendo um último aceno para a colega de trabalho, que já tinha entrado no carro. Ela acenou de volta e, como se nada houvesse acontecido, ligou o carro e se afastou do estacionamento.

Olha só, senhora Griffin! — Raven exclamou após alguns segundos, surpreendendo as duas no banco da frente. — melhor do que eu e a Clarke juntas!

— O quê?! — Abigail caiu em uma gargalhada enquanto sua filha bufou e  tampou os olhos. — A situação tão ruim pra vocês duas assim? Essa ingrata não me conta nada! E pode me chamar de Abigail, não sou sua monitora por agora.

— Nossa, Abigail... Nem queira saber do nosso estado! Se bem que sua filha tem recebido muita atenção recentemente... — Clarke arregalou os olhos para a amiga, mas ela apenas soltou uma risada abafada como resposta.

— Ah, não, agora eu quero saber de todos os detalhes!

— Vai ficar na vontade, Abby. Atenção na estrada. — Ela retrucou.

A viagem até o lar das Griffin correu bem, com piadinhas e conversas descontraídas, acompanhadas pela música no rádio. Em quase duas horas, elas chegaram ao seu destino, parando o carro na garagem de uma grande e bela casa de um andar, com paredes azul-claras e telhados cinzentos. 

— Não é nenhuma mansão, mas dá pro gasto. — Clarke falou para a colega ao pegarem suas malas.

— "Dá pro gasto"? Do quê você falando? É o triplo do tamanho do meu apartamento, no mínimo. — Raven levantou as sobrancelhas, maravilhada, e admirou a moradia por um tempo. A mulher abriu a porta e as deixou entrar.

  — Pode ficar à vontade, viu? Deixa suas coisas na sala, vamos te mostrar o interior primeiro. — Como uma guia hospitaleira, ela apresentou cada canto da casa, parando no quarto de Clarke por último, ao final do corredor.

O olhar minucioso de Raven fez com que a garota se sentisse um pouco envergonhada. O quarto estava bem arrumado, como sempre, mas havia algumas pilhas de livros espalhadas pela escrivaninha, de ficção, arte e acadêmicos. O armário, a cama e a cadeira eram revestidas por diferentes tons de cinza, com almofadas e decorações azuis pela estante. O verdadeiro atrativo do cômodo, no entanto, eram as paredes, que estavam repletas de papéis, todos desenhados. Clarke hesitou, imaginando o que a colega poderia pensar deles. Após um instante, sua amiga a encarou com um sorriso nos lábios.

— Você que desenhou? — Ela apontou para os rabiscos.

— Sim.

— Uau… de parabéns.

As três voltaram para a sala de estar, onde começaram a organizar seus pertences até o horário do almoço. Abigail fez uma pausa e foi para a cozinha, chamando as jovens alguns minutos depois, fazendo uma macarronada como refeição para elas.

— Fiz na pressa porque vocês já devem com fome. Não liga muito, por favor. — A mulher se virou para a hóspede enquanto se sentavam à mesa de jantar. — Vou fazer alguma coisa melhor e mais gostosa mais tarde.

— Que isso, relaxa. — Raven enfiou uma garfada na boca. — ótimo, de verdade. Meu macarrão fica com gosto de nada, o seu é uma delícia.

— Obrigada, que bom que gostou! Ah, faz tanto tempo que alguém elogia minha comida, fiquei até sem graça agora. — A filha dela rolou os olhos, entendendo muito bem sua indireta e ficando um pouco encabulada. Clarke e Raven continuaram a comer silenciosamente, saboreando o maravilhoso prato, mas tomaram um susto quando Abigail, de repente, levantou as pálpebras e inspirou de boca aberta, como se estivesse chocada.

— O que aconteceu, mãe?! — A loira ergueu-se do assento, esperando uma crise de tosse da outra, que apenas a encarou, totalmente séria.

— Uma coisa terrível: não arrumamos a casa pro Natal. Como pudemos fazer isso? É tradição. A casa dos Griffin sempre decorada nessa época. O que nossos vizinhos vão pensar de nós? — Clarke bufou, cerrou as sobrancelhas e voltou ao seu lugar.

— Nossa, mulher. Precisava desse drama? Me assustou à toa.

— Desculpa. Você ajuda a gente, Raven?

Após lavarem a louça e guardarem tudo nos lugares certos, Abigail trouxe uma enorme caixa de papelão da dispensa, de onde tirou uma árvore falsa e um grande saco plástico cheio de bolas de vidro coloridas. A morena sugeriu que ouvissem músicas enquanto a montavam e não pode recusar quando a mulher lhe perguntou se gostaria de ouvir canções natalinas, para a infelicidade de Clarke. Depois de poucos minutos, todavia, ela decidiu que não seria tão ruim ouvir Jingle Bells Rock por horas seguidas se isso fizesse Abigail feliz.

A verdade é que teve medo de vê-la tristonha nesse dia. Sabia que ela era forte e não revelava seus sentimentos com facilidade, a loira conhecia bem sua mãe; mas aquele era o primeiro Natal que passavam sem Jake, na casa que sempre foi tão marcada por sua presença. Tinha certeza de que, assim como ela, Abigail sofria com a falta da cantoria do homem, que preenchia o silêncio daquele lar; de seu sorriso caloroso, que sempre transmitia esperança; ou de suas clássicas frases bobas, que tinha na manga para alegrá-las quando fosse preciso.

Ainda doía não tê-lo mais por perto e Clarke tinha a impressão de que essa dor nunca desaparecia, mas, pelo menos, podia tentar se distrair dela. Nesse ponto, Raven se encaixou perfeitamente, pois conseguiu não apenas melhorar o dia de Abigail, mas o seu próprio também. Ter convidado ela foi uma excelente ideia.

O céu já estava escurecendo quando terminaram de montar a árvore e colocar o resto da decoração pela casa, tanto no interior como no exterior. A mulher chamou sua hóspede para ajudá-la na cozinha, ao que Raven mencionou que não era boa nessa área, mas que se esforçaria. Clarke resolveu tomar um banho rápido, incomodada com o frio que chegava, e trocou-se, usando um moletom surrado, uma calça jeans e um velho tênis com duas meias por baixo, além de ter deixado o cabelo em um coque desarrumado. Não tiraria nenhuma foto naquela noite e, como suas companhias já tinham a visto em estados piores, por que se importar com a aparência? Ignorando as reclamações de sua mãe sobre esse assunto, ela se deitou no sofá da sala e pegou o celular, pronta para procurar novidades dos amigos.

Todos os casais que conhecia tinham postado fotos juntos nas redes sociais. Jasper e Maya se abraçaram intimamente na frente de uma fonte, Monty e Nathan deram um beijo debaixo de um visco e Octavia e Lincoln mostraram um belo sorriso para a câmera, lado a lado. Clarke não tinha muita fé nos dois até o momento, mas não podia negar que faziam uma bela dupla. Sua amiga usava um vestido vermelho de manga longa, que revelava suas pernas, e um salto alto, e seu acompanhante, como sempre, exibia uma roupa social, mas a curva genuína de seus lábios acabou com a aura séria que tinha, dando-lhe uma aparência mais jovial. Estavam maravilhosos. Enquanto os admirava, a loira pensou em quem tinha feito esse favor a eles. Copiou o link da fotografia e a enviou para Bellamy em forma de mensagem, junto com as palavras:

"Foi você quem tirou?"

Após pouco menos de dez minutos, ela recebeu uma resposta, interrompendo seu fuxico pela internet.

"Oi, tudo bem comigo sim, obrigado por perguntar! É, fui eu. A fofa da irmã nem me deu os créditos na foto, vai sonhando que vou tirar outra pra ela. Ah, e cadê minha educação, tudo bem com você?"

"Nossa, tá mal humorado por que, hein? Hoje é Natal, para com isso. Ia até elogiar suas habilidades fotográficas, mas depois desse drama todo, não falo mais nada. E tudo bem comigo, também."

"Foi só uma brincadeirinha, Clarke. Já se desacostumou com as coisas que eu falo com um dia longe  de mim? Além disso, eu tenho o di-rei-to de ficar mal humorado hoje. Os pombinhos tão num grude insuportável desde que o Lincoln chegou aqui. Vou ter um refluxo se ouvir a Octavia falando mais coisas melosas do meu lado."

A loira se segurou para não gargalhar, imaginando a expressão do rapaz.

"Você já deu sua bênção, não adianta voltar atrás agora. Fora isso, como tá a sua noite?"

"Normal. Não sou de me gabar, você sabe, mas fiz um assado que ficou perfeito. Octavia vai fazer um ensopado daqui a pouco pra impressionar o namoradinho, quero só ver como vai sair. E a sua?"

"Boa. Acho que não te contei, mas a Raven veio pra minha casa, passar o Natal comigo. Ela e minha mãe tão cozinhando nesse momento. E, aham, eu sei bem da sua... Humildade."

"Bom que você sabe. Isso da Raven é novidade pra mim. E você não vai ajudar elas, não?"

"Não. Eu tenho a importante tarefa de esquentar o sofá pra quando elas se sentarem do meu lado. Além disso, eu não tenho o dote culinário da minha mãe. Sou uma negação nessa área."

"Ah, entendi. Por isso que você e minha irmã são amigas, então, ela também não sabe o que faz com uma panela na mão. Mas, sim, sua tarefa é realmente importante."

"Bom que você sabe."

"Imitona." 

Clarke soltou uma risadinha abafada com o comentário e encarou a tela do celular por um momento, sem ter ideia de como continuar aquela conversa. Após  um tempo, Bellamy continuou a digitar.

"Acabei de lembrar de uma mancada que eu dei."

"Qual?"

"Esqueci de te desejar um feliz Natal ontem, pessoalmente. Droga."

A loira tamborilou os dedos no aparelho, imaginando o que falar. Entendeu em qual direção aquela conversa seguia, mas não quis criar esperanças. Esperou ansiosamente até que Bellamy terminasse de escrever outra mensagem.

"Seria muito desesperado da minha parte se eu fosse te ver agora? Só pra te dizer isso e trocar nossos presentes de uma vez, claro. Nada mais."

O coração da garota pulou ao ler a frase. Apesar de animada com a ideia, ela não perdeu a chance de irritá-lo um pouco.

"Pode ser honesto e falar que tá com saudades de mim mesmo, não vou reclamar. Por mim, tudo bem, mas e quanto a deixar a Octavia e o Lincoln sozinhos em casa?"

"Eles são crianças grandes, sabem se virar. Além disso..." Ele enviou a foto do casal, sentados à mesa de jantar, abraçados e trocando cochichos. "Eu preciso de uma folga deles, imediatamente. Qual é o seu endereço?"

A garota respondeu com o nome de sua rua e o número de sua casa, acompanhada de uma curta descrição da sua aparência.

"Olha, é até perto da minha. Te vejo daqui a uns vinte minutos, mais ou menos."

"Com o meu presente."

"Com o seu presente, óbvio. Se eu esquecer disso, você nem abre a porta pra mim. Vou avisar os dois pra se comportarem e tô saindo."

Clarke se levantou em um salto do sofá, já desesperada. Não imaginava que voltaria a vê-lo tão cedo, mas nem sonhava em reclamar de uma oportunidade como essa. Deu passos rápidos até seu quarto e pegou o presente bem guardado dentro do armário, oferecendo uma breve olhada ao espelho. Estava um caco e tinha menos de meia hora para se arrumar. Era melhor começar logo.

Com quase a metade de suas peças de roupas jogadas na cama ao avesso, ela vestiu uma calça preta e apertada e uma blusa de manga azul-escura, calçou um par de sapatilhas e passou uma leve maquiagem no rosto. Enquanto avaliava seu reflexo à busca de imperfeições, a porta se abriu, mostrando Raven do outro lado.

— Aqui, sua mãe já terminando o jantar, ela só precisa de uma ajudi... Que isso, gatinha. — Ela a olhou de cima a baixo, com os braços cruzados e um sorriso brincalhão. — O que deu em você pra vestir essa roupa? Vai sair, por acaso? — Clarke suspirou, nervosa.

— Bellamy vai aparecer daqui a pouco.

— O quê? Ele vai passar o Natal aqui também?

— Não. Vamos só trocar nossos presentes e ele vai embora.

— É melhor eu tomar meu banho rápido, então. — As esferas castanhas dela brilharam de malícia. — Vou querer ver essa cena. — A loira semicerrou suas pálpebras e riu de forma extremamente falsa à provocação.

Como prometido pelo rapaz, após poucos minutos a campainha tocou. Clarke, correndo até a sala, parou sua mãe no exato instante em que ela ia atender a porta. Tentando ao máximo ignorar o olhar desconfiado da mulher, ela recuperou o fôlego e falou, torcendo para soar natural:

— Pode deixar, é só um amigo meu.

Sem esperar por uma resposta, ela caminhou até o corredor da entrada, escondendo o presente a suas costas, e respirou fundo. Se ajeitou e abriu a porta, deparando-se com o Bellamy. Ele estava com sua clássica jaqueta de couro, as duas mãos enfiadas no bolso, o cabelo bagunçado por culpa da ventania e as orelhas e o nariz levemente vermelhos, graças a baixa temperatura. Levantou as esferas castanhas do chão quando viu a garota e abriu um tímido sorriso.

— Oi. Demorei um pouco, desculpa.

tudo bem. — Ela também sorriu, criando um pequeno clima constrangedor entre os dois. Ficou alguns segundos sem saber o que falar. — Ah, entra aí. Você vai acabar pegando um resfriado do lado de fora. — Ela disse, por fim, abrindo mais a porta e dando espaço para ele entrasse. Sentiu o cheiro inebriante de sua nuca quando se aproximaram, mas permaneceu discreta. Bellamy murmurou um "licença" após ter dado os primeiros passos e parou, ainda no fim do corredor, voltando-se para Clarke.

— Cadê a Raven e sua mãe?

— Raven foi tomar um banho, minha mãe na cozinha. — Ele mexeu a cabeça de cima para baixo, desviando o olhar para os seus pés e contraindo os lábios. — E os pombinhos?

— Disse que se os dois saíssem da sala e fossem pro quarto, eu deixava eles de castigo. Minha irmã deu um chilique, novidade, mas meu cunhado achou graça. Não falei de brincadeira. — Ela levantou uma das sobrancelhas e exibiu uma expressão debochada.

— Entendi. Então... — A loira o observou com cuidado, reparando em cada canto de seu corpo, fazendo um charme de propósito e diminuindo a distância entre os dois. — Você trouxe o que eu pedi?

— Trouxe, menina exigente. Mas só vou te entregar depois que você me der o meu. — Ela pareceu pensativa por um instante, fitando o teto com os dedos no queixo.

— É justo. Eu que fiz essa proposta, no fim das contas. Bom, aqui ele. — Clarke revelou sua outra mão, que segurava uma caixa branca um pouco maior que seu palmo. Ele a tomou e a abriu com calma, lambendo os lábios e sorrindo ao ver o que estava ali. — A Octavia me contou que você tinha um relógio na escola, mas ele quebrou. Eu nunca vi um no seu punho e não sei se você ainda gosta de usar, mas achei esse modelo tão bonito e pensei... — Ela parou de falar, incomodada. Bellamy começou a rir, ou melhor, a gargalhar, até jogando sua cabeça para trás de tão engraçado que aquilo parecia ser. A garota, apesar de chateada com a reação, foi contaminada por seu bom humor e soltou uma risadinha involuntária. — Poxa, se você não gostou, era só ter falado. Não precisa rir na minha cara!

— Não, não! — Ele tampou a boca e voltou a encará-la, claramente se esforçando para acabar com sua crise de riso. — Você entendeu errado. — Respirou fundo e apenas sorriu. — Eu gostei do meu presente, é só que impressionado. Olha o seu. — Ele devolveu a caixa e tirou outra parecida do bolso da jaqueta, abrindo-a e mostrando um relógio interior, bem parecido com o que era de seu pai. A armação, os ponteiros e os números eram prateados, da mesma maneira, mas a tira e o fundo dele eram azul-escuro. Era menor e mais delicado, definitivamente um modelo feminino. — Eu sempre te vejo com esse daí, pensei que você ia gostar de ter mais um. Pra dar uma diferenciada de vez em quando. E olha só, compramos no mesmo lugar: os dois são da mesma marca. — Ela pôs a mão sobre os lábios, em choque, e olhou para Bellamy, que segurava, sem sucesso, mais uma onda de risadas. Eles não resistiram e compartilharam uma breve gargalhada.

— Eu acho que nós temos uma sintonia bem estranha.

— Muito estranha. — Eles trocaram seus presentes. — Mas é verdade que quebrei o que eu tinha. Esse é ótimo, Clarke. Gostei dele, de verdade.

— E eu também gostei desse. — A loira passou o dedo, gentilmente, pelos detalhes do relógio, reparando em cada pedaço. Após um tempo, ela voltou a fitar o rapaz. — Obrigada.

— Eu que agradeço. — Ele guardou o seu no bolso e se aproximou, reduzindo a distância entre seus corpos para poucos centímetros. A mão quente de Bellamy acariciou a sua, causando um estardalhaço em seu peito. Suas esferas azuis percorreram a boca dele, mas não por sua culpa. Tão próximos assim, a diferença de altura que tinham fazia com que seu campo de visão fosse preenchido diretamente pelos lábios do rapaz. Ok, talvez fosse um pouquinho sua culpa. O desejo de beijá-lo ainda não tinha sumido, afinal. Dividiram um olhar íntimo por um momento, sem soltar um pio.

— Então, esse é o amigo que veio te visitar. — Uma voz, vinda do interior da casa, se pronunciou. Os dois se separaram e o rapaz teve de se virar para descobrir a fonte daquele som. Abigail falou em tom zombeteiro, mas tinha doçura em sua mirada. Enxugava os dedos em um pano de cozinha. — Como vai, Bellamy Blake?

— Bem, senhora Griffin. Boa noite. — Ele respondeu, constrangido até o último fio de cabelo.

Oh, por favor, dispense as formalidades, pode me chamar de Abigail. Não acredito que a Clarke não te mostrou o restante da casa até agora. Se arrumou toda pra receber a visita e nem saiu da entrada? Isso são maneiras, filha? — A loira sorriu, envergonhada, e desejou com todas as forças que sua mãe fosse transportada para o outro lado do mundo naquele instante. Ela sentiu a olhada de soslaio de Bellamy em sua direção e nem precisou encará-lo para saber que ele estava se achando o máximo com a fala da mulher. — Sem contar que me avisou no último segundo que você vinha. Entra, Bellamy. A ceia quase pronta, não deve demorar muito.

— Obrigado pelo convite, senhora Grif... — Ela inclinou o rosto, séria e com as sobrancelhas cerradas. — Q-Quer dizer, Abigail. — Um sorriso instantaneamente brotou nos lábios da mulher. — Mas eu tenho que ir, só passei pra ver a Clarke rapidinho. Deixei minha irmã com o namorado em casa, se os dois ficarem sozinhos por muito tempo, sabe-se lá o que vai acontecer.

— Te entendo. — Ela analisou os jovens, deixando claro sua indireta. — Bom, vou deixar vocês se despedirem a sós. Feliz Natal, Bellamy.

— Pra você também. — E, novamente, a loira estava sozinha com ele.

— Achei que você confiasse no Lincoln. — Comentou, curiosa.

— Eu confio. É na Octavia que não boto fé. Aposto que ela na cozinha agora e não sei se o namoradinho já desconfiou sobre o desastre que ela é nessa área. Não quero ter que passar meu feriado limpando os armários, o piso, o fogão...  — O rapaz fitou o chão, silencioso por um curto período, e a olhou com uma leve perversão. — Mas deixa isso pra lá. O que sua mãe disse é muito mais interessante, de qualquer maneira. Que você se arrumou toda pra receber a visita. — Ele cruzou os braços, parecendo vitorioso.

— Ela tava exagerando. — Clarke revirou os olhos. — Só vou me arrumar mesmo no dia que você me levar pra sair.

ansiosa, é? — Ele fez a garota derreter com seu riso. Até tentou sentir raiva daquela atitude convencida dele, mas não conseguiu. Não podia mais odiar aquele aquele sorriso. — Te prometo vamos sair nessas férias. E nada de baladas, pra sua felicidade.

— Como você é atencioso. — Seu tom foi ligeiramente sarcástico.

— Demais. — Bellamy percebeu sua provocação, mas não se importou em respondê-la. Pegou sua mão mais uma vez e colocou a outra em seu rosto. Olhou-a com carinho, ou melhor... Com um sentimento maior que esse, que Clarke não teve coragem de nomear. De forma lenta e gentil, depositou um beijo em sua bochecha, bem próximo dos lábios. — Acho melhor eu ir agora. — Sussurrou, enquanto ainda estava colado na garota. O timbre rouco e grosso fez ela se arrepiar e perder sua linha de raciocínio. Teve até medo de que o batimento do seu coração fosse ouvido. Será que ele tinha noção do quanto conseguia deixá-la desnorteada com seus gestos? Bellamy se afastou. — Você abre a porta pra mim? — Após engolir em seco, balbuciou:

— Abro. — Ela o deixou passar para o lado de fora, desapontada de ter que despedir-se tão depressa, mas ainda mais preocupada em manter sua compostura.

— A gente se fala mais tarde, bem? — O rapaz levantou sua cabeça, desconfiado, induzindo Clarke a fazer o mesmo. Pequenos flocos brancos caíam do céu. — Ah, começou a nevar. Volta pra dentro, tá fazendo muito frio. — Ele acariciou seu braço por um segundo antes de andar para longe.

O vento gélido parecia ter congelado a loira no lugar. Ver a neve caindo era o único ponto positivo do inverno para ela e, no entanto, não deu a menor atenção aos flocos naquele momento. Seus olhos não queriam sair de cima de Bellamy. Sentia seu rosto pegar fogo, principalmente no local em que os lábios dele a tocaram. Tentou respirar fundo para se acalmar, mas o ar parecia preso em seus pulmões. As borboletas que tinha no estômago deram um salto quando ele se virou para trás, na frente do seu carro, e a fitou.

— Ei, Clarke? — Chamou, em alto volume.

— O que foi? — Os cantos da boca do rapaz se curvaram.

— Feliz Natal. — Ela também sorriu.

— Feliz Natal, Bellamy.

Ele entrou em seu carro e se afastou, sumindo da vista de Clarke, que acompanhou sua partida. Voltou para dentro e se escorou na porta, mirando o chão. Seu coração ainda batia como louco. Não tinham dividido nada de mais, só um pequeno beijo na bochecha. Por que estava reagindo desse jeito? Fitou sua mão, lembrando-se do toque dos dedos dele, e uma corrente elétrica percorreu seu corpo. Isso era exagerado para uma atração física, ela sabia, então, por que... 

Ao entender o motivo, arregalou as pálpebras. Esse sentimento intruso em seu peito não era nenhum estranho, pelo contrário, entendia do que se tratava. E, foi ao realizar seu nome que um medo, sorrateiro, tomou conta de si, extinguindo os rastros da felicidade que teve minutos atrás. Era amor. Tímido e pequeno como uma semente, mas ainda assim, amor. Desejou, fervorosamente, que aquela não fosse a verdade.  Como ficaria a amizade deles a partir de agora? Como poderia fingir que tudo estava normal ao vê-lo novamente?

Era uma burrice, uma tremenda estupidez, sentir esse amor. Tinha acabado de remendar seu coração, com uma cicatriz bem sensível no seu peito, dizendo-lhe para se afastar dessa emoção como um fantasma. Isso não podia estar acontecendo. Finn lhe causou um estrago tão grande. Não estava pronta para ser vulnerável mais uma vez, simplesmente não estava. Mas também não sabia de um remédio que a fizesse parar de sentir isso. Talvez, nem existisse.

Clarke ouviu sua mãe lhe chamando da cozinha. A ceia devia estar pronta, deduziu. Suspirou e fez um esforço para sorrir, dando a ideia de que tudo estava bem. Com passos desanimados, ela se juntou às mulheres da casa. Não deu ouvidos quando Raven a caçoou, ou quando Abigail fez comentários sugestivos. Apenas forçou uma risada. Não prestou atenção no que falavam, perdida em seus pensamentos.

Todos sobre Bellamy Blake.


Notas Finais


É o amoooooor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assimmmmm... Alguém ainda canta isso pros coleguinhas apaixonados? Eu canto KKKKKKKK Não teve beijo, mas teve o Bell conversando melhor com a (futura) sogrinha e a Clarke realizando seus sentimentos. Bom demais, né?
Tenho que ser honesta com vocês, eu tava tão animada pra escrever esse capítulo, tinha várias ideias legais, mas quando realmente sentei pra criar ele... Não saiu bem como eu queria. Também não tive muito tempo pra editar ele, então deu no deu. Eu espero, do fundo do meu coração, que vocês tenham curtido. Se sim, se não, falem nos comentários! Leio tudo o que comentam, apesar de demorar um pouquinho pra responder (sorry).
Um beijão, fiquem bem e até o próximo (que deve sair em um mês, como esse)! ❤️

PS. Fiquei surpresa que ninguém se tocou com uma coisa que a Raven disse no capítulo passado. Enfim... Falo nada KKKK


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