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História Tudo que há é poesia - Um olhar


Escrita por: realisse

Notas do Autor


Eu não sei porque tô postando essa fanfic em três sites, mas me deu vontade e ultimamente eu não tô fazendo nada então...

Espero que gostem 💚

Capítulo 1 - Um olhar


O sol ainda não tinha nascido quando Baekhyun se olhou no espelho e odiou seu corpo. O sentimento era novo e estranho para ele, mas a palavra que rondava sua mente era “desconforto” e a sensação que dominava seu peito era a de sufocamento. O menino, no entanto, ignorou o inusitado sentimento, apressando-se para se arrumar para a escola, ainda com os olhos pesados de sono na manhã escura. O garoto tirou seu pijama, jogando-o displicentemente na cama, procurando, logo depois, pelo seu uniforme no armário bagunçado. Após vestir a calça azul clara, Baekhyun colocou seus óculos de aros pretos e ajeitou a gravata vermelha em seu pescoço com dedos ágeis e treinados, seguindo sua rotina habitual.

Quando ele saiu de casa, pronto para mais um dia escolar, o sol já tinha nascido, o céu já tinha sido tingido de laranja e Baekhyun já não pensava mais no desconforto pousado em seu estômago. Aquele dia era só mais um como qualquer outro.

Exceto que não era.

~*~

O sentimento estranho estava de volta naquela mesma manhã quando Baekhyun chegou à escola. Ele observava os diversos estudantes em suas atividades cotidianas, mas aqueles que mais chamavam sua atenção eram as meninas. Elas que usavam as mesmas blusas brancas e gravatas vermelhas que os meninos, mas que vestiam saias azuis ao invés de calças azuis, que tinham nas pernas meias três quartos e nos pés sapatos delicados. Baekhyun as olhava com uma curiosidade incomum, estudando o movimento de seus quadris e de seus cabelos meticulosamente penteados.

Havia algo de místico no sexo feminino, no ponto de vista de Baekhyun. Existia algo intangível naquele específico gênero que atraía a atenção do garoto, alguns dias mais, alguns dias menos. Mas elas atraíam sua atenção de maneira diferente de como faziam com outros garotos. Baekhyun não fantasiava sobre elas, nem se imaginava beijando nenhuma delas. A atração dele estava muito mais ligada à curiosidade, àquilo que ele desconhecia, mas formigava para conhecer, entender. Quando Baekhyun as observava ele se sentia intrigado, confrontado e estranhamente excluído.

Baekhyun definiria o que sentia como novo e incomum, mas em seu âmago o sentimento era familiar como se sempre estivesse ali, apesar de escondido no fundo de si. Ele sempre observava as meninas de sua escola e até aquele momento ele não conseguia abstrair porque o fazia. Byun Baekhyun as observava e imaginava como seria ser como elas.

Depois de alguns minutos olhando os diversos alunos, o garoto obrigou suas pernas a se moverem para dentro do prédio, rumando para seu armário no corredor habitual. Baekhyun desviava de pessoas em seu caminho concentrando-se na voz entorpecente de Halsey, já que música era o que mantinha o menino em um relativo bom humor pela manhã. Ao chegar em seu armário, Baekhyun já murmurava a letra de “Is there somewhere?” para si calmamente, enquanto retirava os livros que precisava do pequeno retângulo. Ele fez questão de pegar seu caderno de poesias, desenhos e tudo não-escolar, pois só assim era possível sobreviver às massantes horas de estudo.

E então ele se dirigiu à sua sala, pouco tempo depois abrindo a porta e instantaneamente indo para o fundo, onde Luhan e Sehun já encontravam-se conversando normalmente. Baekhyun jogou sua mochila em uma cadeira qualquer, retirando seus fones de ouvido e sorrindo para seus amigos em um cumprimento silencioso.

“Oi, Baekhyun.” Luhan disse, enquanto Sehun retirava uma de suas mãos da cintura do menor para acenar levemente para o outro.

“Ok, agora que eu estou aqui... Vocês podem parar de esfregar o relacionamento de vocês na minha cara, tá bom?” Baekhyun disse, fingindo estar irritado, mas seu sorriso o denunciava.

“Você ama a gente, Baek.” Sehun disse, não se afastando de Luhan.

“Infelizmente.” Ele respondeu, sentando-se sobre sua mesa.

Ele, então, voltou a observar seus colegas de classe antes do início da aula. Baekhyun tinha essa mania. A mania de observar tudo a sua volta por trás das lentes de seus óculos, registrar tudo – tanto com palavras quanto com fotos –, como se ele fosse um espectador, um simples observador. Como se a vida dos outros fosse um filme que ele assistisse diariamente e não participasse de nada. Seus olhos, no entanto, sempre pousavam-se no seu personagem preferido, aquele que sempre roubava sua atenção: Park Chanyeol. Naquele momento ele conversava com Jongin e Yixing, um largo sorriso   em seus lábios, exibindo seus dentes brancos sem pudor. Devia ser proibido sorrir daquela forma, na opinião de Baekhyun. Era um ultraje a qualquer outro sorriso. Apesar disso, ele não conseguia tirar seus olhos do menino.

“Se eu não posso encostar no meu namorado de manhã, você não pode encarar Chanyeol desse jeito, Baek.” Sehun disse, a provocação inocente clara em sua voz.

“Eu não estava encarando ele.” Ele mentiu, sabendo que seus amigos não comprariam a mentira.

“Você sempre está encarando ele.” Luhan acrescentou, ternura em sua fala.

“Eu não tenho culpa se ele chama minha atenção e me dá inspiração com o sorriso e as orelhas estupidamente grandes dele!” Protesta Baekhyun.

“Cara, você tá’ tão fodido...” Sehun comentou.

“Deixa ele em paz, Sehunnie. Eu acho fofo.”

Baekhyun sorriu na direção de Luhan, agradecendo silenciosamente o apoio logo que o professor chegara em sala. Os alunos passaram a se organizar no cômodo e logo todos estavam sentados, esperando o início da aula. Assim que o professor começou a falar sobre equações trigonométricas, Baekhyun abriu seu caderno de poemas ao invés do de matemática, pousando sua lapiseira sobre o caderno e seu queixo sobre sua mão. Seus olhos instantaneamente começaram a observar o perfil de Chanyeol, como ele era delicado e único e como ele próprio conhecia cada traço daquele rosto, mesmo trocando tão poucas palavras com o garoto. Baekhyun gostava de dizer que observar o outro era como um hobbie para si, pois ele sempre descobria coisas novas, mas ao mesmo tempo entendia aquela face como a palma de sua mão.

Ele entendia, também, que ele e Chanyeol eram completamente diferentes. Chanyeol era a estrela do time de futebol americano da escola, o número 61 de sua camisa era adorado e respeitado, e seu nome era um mantra nos jogos oficiais e não oficiais. Chanyeol era o sorriso, a risada, a animação. Chanyeol irradiava alegria só pelo fato de existir. Enquanto isso, Baekhyun era o poeta anônimo e invisível, levemente depressivo, os olhos que sempre observavam, mas nunca eram observados. Baekhyun se escondia no meio de multidões, seu brilho visível para poucos, só para aqueles que procuravam por ele. Baekhyun só existia.

E Chanyeol era sua musa.

Ninguém sabia que Baekhyun via Chanyeol como sua musa, nem mesmo Luhan ou Sehun, seus amigos mais próximos. O garoto gostava de pensar que aquilo era seu pequeno segrego com Park Chanyeol, mesmo que o outro não soubesse sobre ele.

Baekhyun afastou seus olhos do outro rapidamente, pegando sua lapiseira e observando a página vazia de seu caderno. Ele gira o objeto de maneira constante entre os dedos, vez ou outra observando Chanyeol entre as falas do professor. O garoto permitiu, então, que as palavras saíssem de sua mente para o papel, versos e estrofes sendo construídos aos poucos. Baekhyun rabiscava palavras, trocando-as por outras, trocando-as por vocábulos que plastificavam melhor o que ele sentia. Ele nem se preocupava em apagar seus erros e rabiscos, seu caderno sempre externalizava sua cabeça conturbada.

Faltando cinco minutos para o fim de sua aula, Baekhyun já tinha mais um poema nas páginas do pequeno caderno. Ele o releu e sorriu com o resultado alcançado.

 

Escuto sua voz.

Pergunto-me

Se escuta a minha.

 

Observo seus olhos.

Procuro por eles

Vendo os meus.

 

Sorrio seu sorriso.

Desejava que ele

Sorrisse para mim.

 

Escrevo seu ser.

Mas minha voz

Não é ouvida.                                                             

              -Byun.

 

“Luhan.” Baekhyun chamou, cutucando o amigo calmamente e tomando cuidado para não chamar muita atenção.

“Oi?”

“Toma.” Ele disse, entregando o caderno ao outro.

Era quase que uma tradição mostrar seus poemas para Luhan e Sehun sempre que ele os escrevia. Às vezes, até Kyungsoo os lia, se estivesse com um bom humor. Trazia ao peito de Baekhyun uma felicidade momentânea, pelo fato de alguém estar lendo o que seus dedos produziam, já que aquele que os inspirava nunca leria tais poemas. Quando seus amigos liam seus versos, ele sentia que talvez aquilo fosse importante.

Sua atenção foi chamada, no entanto, quando o professor se despediu e saiu da sala, Luhan virando-se instantaneamente para trás e sorrindo para Baekhyun.

“Eles estão cada vez melhores, Baek.” Comentou Luhan assim que Sehun devolveu o caderno ao garoto.

“Verdade.” Concordou Sehun e, logo, acrescentou sorrindo. “Eu acho que você devia mostrar eles para o Chanyeol.”

“O quê? Claro que não.” Baekhyun disse, seu tom de voz mais baixo que o normal. “Seria estranho e ele me acharia um louco. E além disso, eu nunca falei com ele.”

“Vocês já se falaram algumas vezes, não?” falou o mais novo.

“Ah, sim... Esqueci que mês passado eu pedi desculpas depois de trombar com ele em um corredor.” Ironizou.

“Ok, vocês não se falam muito...” Começou Luhan. “Mas você podia tentar se aproximar. O Yixing é do clube de dança junto com o Sehun, afinal.”

“Vocês sabem que eu não quero me aproximar dele. Eu gosto de observar ele de longe, escondido. Eu gosto de observar ele, porque ele me dá inspiração, não porque eu gosto dele ou quero me aproximar.” Explicou Baekhyun pelo que parecia ser a milésima vez.

“Já que você diz, então...” Sehun disse, focando seu olhar na entrada da sala assim que o próximo professor entrou no recinto.

E com aquelas cinco palavras, Sehun colocou fogo nos pensamentos de Baekhyun. Queria ele se aproximar de Chanyeol? Não, Baekhyun sabia que não. E mesmo se ele quisesse, ele sabia que não deveria. Por mais que os poemas que ele escrevia fossem românticos e por mais que Chanyeol o inspirasse, aquilo não queria dizer que ele nutria sentimentos pelo outro. Era simplesmente inspiração. Era poesia. E além disso, Baekhyun sabia que ele não era a melhor pessoa para se relacionar. Ele era estranho e carregava problemas demais e alguém como Chanyeol nunca teria olhos para alguém como ele. E as coisas simplesmente eram assim. E Baekhyun estava conformado. Escritores bons sempre têm mentes e vidas inquietantes, afinal.

E dessa forma Baekhyun extinguia o fogo que Sehun tinha acendido.   

E então o dia continuou normalmente, Baekhyun dividindo sua atenção entre aulas que o interessavam, Chanyeol e seu pequeno caderno de poesia. Ele não escrevera mais nada, no entanto, focando-se em desenhar coisas amorfas nos cantos das páginas e em escrever palavras que a sonoridade lhe agradava.

Efêmero, framboesa, simbiose, fluidez, metalinguagem, instantâneo, corpo/alma, ronronar, vinil, som, neblina, tangerina...

Era só mais um dia normal. Pois todos os dias eram assim para Baekhyun. Observar, escrever, desenhar, refletir. Sempre o mesmo padrão. E Baekhyun vivia daquela forma, mas sentia que existia daquela forma. Sentia que seu corpo era uma gaiola, mas que sua mente ainda não possuía a chave para abri-la. Sentia-se preso. Sentia-se uma farsa.

E Baekhyun não tinha ideia de porquê ele se sentia assim.

Seus devaneios, no entanto, foram interrompidos pelo sinal que dava início ao almoço. Instantaneamente os alunos começaram a se levantar e movimentar, cada qual conversando com outros ou saindo da sala. Baekhyun e Luhan se levantaram, pegando suas respectivas carteiras antes de sair.

“Sehun, você não vem?” Luhan perguntou, já que o garoto continuava em sua mesa focado no livro a sua frente.

“Vocês podem ir, eu já alcanço vocês... Eu só preciso terminar isso daqui.” Disse sem levantar os olhos da página.

“Ok, então.” Respondeu o namorado, saindo da sala com Baekhyun logo depois.

Os dois meninos andaram com calma até a lanchonete da escola, entrando no fim da fila para comprarem seus almoços. Luhan mexia em seu celular silenciosamente enquanto Baekhyun observava o caos ao seu redor, pessoas conversando, rindo, andando com suas bandejas, ouvindo música, lendo livros... Era curioso como todos estavam no mesmo lugar, mas cada um tinha seu próprio mundo, seu próprio tempo, seu próprio olhar.

Depois de pagar por um sanduíche vegetariano e por um suco de tangerina, Baekhyun, seguido de Luhan, rumou para fora do prédio, procurando pela sombra habitual de uma árvore específica. Ao longo dos dias escolares, aquela árvore tinha se tornado sagrada entre eles. Os quatro garotos – Baekhyun, Luhan, Sehun e Kyungsoo – sempre almoçavam ali, passavam tempo livre ali, esperavam um pelo outro ali, que a árvore tornara-se uma constante no cotidiano dos meninos. Ela criava uma modesta sombra para eles, e o vento que soprava do oeste era harmônico em horários de almoço e sol forte. Semanas anteriores, Sehun tinha até esculpido no tronco da árvore suas iniciais, e o ‘BKLS’ que jazia ali sempre fazia Baekhyun sorrir com ternura.

“Minha mãe vai me matar se eu continuar a comer sanduíches de almoço.” Luhan comentou, enquanto abria a embalagem do sanduíche de frango.

“Pois é... mas é tão mais prático.” Disse Baekhyun, entre goles em seu suco.

Luhan concordou com a cabeça, enquanto mastigava seu almoço calmamente. Os dois caíram em um silêncio confortável depois disso, cada um comendo seu sanduíche e sentindo a brisa outonal de novembro. Logo seria inverno.

“Eu me sinto estranho ultimamente.’’ Baekhyun falou após alguns minutos.

“Estranho bom ou ruim?” Luhan perguntou.

“Nenhum dos dois. Só estranho.”

“Quer falar sobre?”

“Huh? Não.” Baekhyun sorriu para o outro. “Eu ainda não entendi o que eu estou sentindo.”

Luhan o observou por alguns segundos antes de falar de novo.

“Quando precisar estou aqui, Baek.”

“Eu sei.” Baekhyun sorriu para o outro, mordendo seu sanduíche. Conversar com Luhan sempre o acalmava, o garoto sempre estava disposto a ouvi-lo.

Naquele momento, Luhan e Baekhyun perceberam que Sehun se aproximava deles com seu almoço em mãos ao mesmo tempo que conversava com Kyungsoo. Os dois garotos os cumprimentaram, enquanto eles se sentavam na grama ao seu lado.

“Trouxe um cupcake para você, Lu.” Sehun disse, entregando o doce para o namorado.

“Aw, tão fofo, Sehunnie!” Luhan falou, sorrindo largamente e aproximando-se do outro para um beijo rápido, somente um roçar de lábios. Logo depois, ele se sentou no colo do namorado e passou a comer o doce, o sorriso ainda em seus lábios.

“Eu vou pedir para o Kyungsoo matar vocês dois daqui a pouco...” reclamou Baekhyun.

“Com prazer.” Acrescentou Kyungsoo.

“Você não vai almoçar, Kyungsoo?” Baekhyun perguntou quando notou que o outro não comia nada.

“Ah, eu já comi. O Jongin pediu para eu almoçar com ele e com os amigos dele... Mas graças ao Sehun, eu consegui sair de lá mais rápido.” Ele comentou.

“Eu percebi que você precisava de alguém para te salvar. Parecia que você ia desmaiar lá.” Sehun falou.

“É cada dia mais óbvio que o Jongin morre de amores por você, Soo.” Luhan disse, sua bochecha levemente suja de chocolate.

“Pena que não é recíproco.” Retomou Kyungsoo “Aquela mesa é uma bagunça, também. Sem falar no Yixing, que parece estar drogado o tempo todo ou no Chanyeol, que ri de qualquer coisa ou no Jongdae, que faz as piadas ruins. Obrigado, Sehun, te devo essa.” Concluiu.

“Qualquer hora.” Sehun sorriu, limpando o chocolate do rosto de Luhan e levando seu dedo aos lábios.

“Soo, você insultou o Chanyeol de novo na frente do Baekhyun.” Luhan ponderou.

“Ah, desculpa.”

“Eu não me importo, gente.” Baekhyun começou suspirando e ajeitando os óculos. “Afinal, você não gosta de ninguém, Soo. E eu sei como o Chanyeol é... Rir de tudo faz parte dele.”

“Pela segunda vez no dia, eu digo que você tá’ muito fodido.” Sehun disse.

“Enfim...” Kyungsoo falou, percebendo que o assunto não agradava de todo Baekhyun. “Joonmyun pediu para você não atrasar para o clube hoje, Baek.”

“Eu nunca atraso.”        

“Só repassando o que ele disse.” Respondeu dando de ombros.

Baekhyun fazia parte do grupo de leitura da escola juntamente com Joonmyun e Yifan. O grupo também era responsável pela elaboração mensal de um pequeno jornal escolar, contendo avisos ou reivindicações do grêmio estudantil, do qual Joonmyun e Yifan também faziam parte. Baekhyun, no entanto, mantinha sua atenção em um só clube, até porque ele era um dos que mais escrevia naquelas páginas, além de revisá-las. Somente a formatação não ficava por sua conta, a parte gráfica era totalmente de Namjoon e Soonkyu. Baekhyun gostava do clube, era calmo e não muito cheio, todos os integrantes se conheciam bem e respeitavam o espaço de cada um. Ele se sentia confortável quando estava no clube.

Porque Joonmyun fazia questão que ele não se atrasasse, Baekhyun não sabia.

Depois que Luhan e Sehun se separaram de Baekhyun e Kyungsoo provavelmente para procurar um corredor vazio, os outros dois passaram a andar juntos pela escola, rumando para suas respectivas salas. Eles conversavam sobre assuntos cotidianos até que chegaram à sala de Baekhyun, parando em frente a porta.

“Te vejo mais tarde?” Kyungsoo perguntou.

“Espero que sim.” Baekhyun respondeu sorrindo.

“Até, então.” Ele disse, saindo logo depois.

Baekhyun observou a figura do amigo afastando-se antes de adentrar na sala, instantaneamente observando quem já estava ali. Kim Taeyeon e Seo Joohyun conversavam em um canto em vozes baixas, os cabelos loiros quase brancos de uma contrastando com o ruivo forte da outra. Elas não chagaram a perceber que Baekhyun entrara na sala, continuando a conversa normalmente.

A terceira pessoa que já se encontrava na sala era Chanyeol. Estranhamente sozinho. O garoto estava sentado em sua cadeira e entretido em seu celular, os pequenos fones brancos enterrados em suas orelhas. Mesmo com os fones limitando sua audição, Chanyeol levantou  seus olhos assim que a porta se fechou atrás de Baekhyun. E ele encarou por segundos o menino, e Baekhyun se sentiu como um intruso na própria sala, e Baekhyun se sentia exposto, e ele queria correr, mas Chanyeol continuava olhando fundo em seus olhos, o celular esquecido em suas mãos.

E por isso, ele quebrou o contato visual de míseros segundos, abaixando seu rosto e fazendo com que seus fios pretos tampassem sua visão. Baekhyun se dirigiu para o fundo da sala o mais rápido que pode, sentando-se em sua cadeira e abrindo o primeiro livro que vira em sua mochila. Ele ajeitou os óculos e limpou sua garganta, focando sua atenção no livro. Ele pegara On the road em sua correria em meio aos muitos livros que carregava consigo. Não tinha começado a ler ainda, mas Yuri – outra integrante do grupo de leitura – tinha passado minutos ao seu lado argumentando e defendendo que “qualquer coisa que passara pelos dedos de Kerouac merecia ser lida”. Então, Baekhyun estava disposto a dar ao livro e ao escritor parte de sua atenção.

Antes de começar a nova leitura, no entanto, ele permitiu que seus olhos se pousassem em Chanyeol, mas o garoto já tinha sua atenção de volta no celular. Baekhyun sentiu seu peito contraindo-se e não soube o porquê.

Mas logo seus olhos estavam nas diversas letrinhas que iniciavam o romance norte americano. “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que minha mulher e eu nos separamos. Eu tinha acabado...”

~*~

Joonmyun não queria que ele se atrasasse, Baekhyun soube quando chegou na sala do clube, pois naquele mês o jornal precisaria sair mais cedo por qualquer motivo que ele não prestara a devida atenção quando o outro explicara. Tal fato resultara em Baekhyun tendo que revisar e terminar todos os textos em dois dias. Dessa forma, ele teria que voltar para casa com um grande envelope cheio de manuscritos para serem corrigidos de última hora.

Também por este motivo, as discussões em relação a Demian tiveram que ser adiadas para a semana seguinte, para a tristeza de Namjoon que tinha se interessado especialmente pelo livro. Por isso, Baekhyun saía da escola muito mais cedo que o normal, já que as atividades literárias estavam suspensas por um tempo.

“Baekhyun-hyung!” Namjoon chamou quando ele saía da sala.

“Sim?”

“Você precisa de ajuda para revisar os textos? Eu posso ajudar.” Disse.

“Relaxa, Namjoon-ah. Você já tem que cuidar da formatação e eu consigo me virar.”

O mais novo não parecia muito satisfeito com a resposta de Baekhyun, mas resolveu não discutir, despedindo-se dele enquanto ia embora junto com Seokjin. Baekhyun seguiu o próprio caminho, sem antes mandar uma mensagem para seus amigos. Ele pegou seu celular e o desbloqueou, indo direto para o grupo ‘Árvore BKLS’.

Baekhyun:

Precisei voltar mais cedo para casa.

Tomem uma xícara a mais de café por mim.

Depois de enviadas as mensagens, Baekhyun saiu da escola após pegar sua bicicleta no pequeno estacionamento. Ele tinha passado por perto dos campos de futebol americano e ouvido vozes animadas, mas decidiu não se sentar nas arquibancadas e assistir o treino. Ele normalmente se sentava lá, fazia poesia ou desenhava pequenos corpos treinando, mas não queria fazer aquilo naquele dia. Afinal, ele tinha muitas coisas para fazer no resto da tarde. Além disso, Baekhyun não conseguia apagar de sua mente a troca de olhares com Chanyeol mais cedo, os olhos escuros e simpáticos estudando-o com uma curiosidade inquietante. Ele ainda sentia que precisava correr de tais orbes.

Então, Baekhyun só observou de longe a quadra, jogando a mochila sobre seu ombro e subindo em sua bicicleta logo depois. O vento que encontrava seu rosto era frio e reconfortante, e sua velocidade limpava a mente do garoto durante o trajeto. Radiohead era o que o acalmava por meio dos fones de ouvido.

Trinta minutos depois, Baekhyun chegava em casa, deixando a bicicleta em seu respectivo lugar e entrando na casa construída em madeira. Sua mãe, que trabalhava somente pela manhã, estranhou a chegada precoce do filho, questionando-o rapidamente:

“Porque voltou tão cedo?”

“As atividades do clube foram canceladas por hoje, porque preciso revisar coisas para o jornal.” Explicou o garoto enquanto retirava seus sapatos.

“Hum... Tome um banho antes. Você parece tenso.” A mulher disse, voltando sua atenção para uma revista logo depois.

“Ok, mãe.”

“Arrume seu quarto também! Aquilo está um inferno.” Falou para Baekhyun que já subia as escadas, não recebendo uma resposta.

O quarto de Baekhyun ficava no sótão da casa onde a família morava. O garoto tinha um apreço especial pelo cômodo, e sem dúvida aquele era seu lugar preferido no mundo. Na verdade, era como se seu próprio mundo estivesse entre aquelas quatro paredes, tudo que ele precisava em um só lugar. O espaço estava sempre bagunçado, cobertas da cama reviradas, folhas espalhadas, livros não terminados no chão, xícaras sujas de café nos móveis, fotos de câmera instantânea perdidas, pelos de seu gato em suas roupas... Somente seus vinis permaneciam em ordem, dispostos em uma estante isolada no canto direito do quarto. A iluminação era sempre tênue, o lustre e os abajures exibiam uma luz amarelada, dando impressão de foto desbotada da década de 40. O teto mais baixo, trazia uma sensação de aconchego e conforto, mas nos olhos de sua mãe ali era só abafado demais.

Logo que ele abriu a porta, Baekhyun localizou Edgar, seu gato de pelo preto e de orbes âmbar, sobre sua cama, seu rabo balançando preguiçosamente de um lado para o outro. Ele soltou de forma displicente sua mochila no chão, aproximando-se do gato com um sorriso já formado em seus lábios.

“Ei, Edgar!” Baekhyun disse logo que ele se sentou na cama, trazendo o animal para seu colo. Ele passou a acariciar o gato com seus longos dedos, e o felino instantaneamente passou a ronronar por causa do contato.

“Sentiu minha falta?” Ele continuou a falar com Edgar. “Aposto que não. Gatos não sentem falta de humanos, certo? Eu senti a sua... Senti falta desse seu pelo macio e dos seus olhinhos amarelos. Mas eu voltei para casa mais cedo hoje só... para... te... ver.” Concluiu fungando o animal entre as palavras, enquanto massageava sua barriga.

“Na verdade, não... Mas você não precisa saber disso, certo?” Baekhyun disse em um sussurro, rindo levemente para si depois.

O garoto, então, passou mais alguns minutos com o gato, basicamente contando como seu dia tinha sido antes de se levantar para um banho. Baekhyun se despiu, deixando seu uniforme no chão junto com suas outras coisas, seguindo para seu banheiro, que também encontrava-se no sótão.

Logo que entrou no banheiro, a primeira coisa que Baekhyun fez foi se olhar no espelho. O espelho não mostrava seu corpo todo, somente de sua cintura para cima. Ele se observava em silêncio, o cabelo preto cortado em um corte essencialmente masculino, os ossos protuberantes evidenciando sua magreza e o peito reto irritando-o mais do que ele admitia.

Baekhyun levou uma de suas mãos ao seu tronco e alisou vagarosamente a pele alva, empiricamente estudando o lugar. Ele continuava olhando seu reflexo atentamente, o desconforto sentido durante a manhã de volta em seu estômago, mas dez vezes mais forte. Baekhyun sentia que sua alma não pertencia ao próprio corpo. Baekhyun se sentia no lugar errado.

E foi assim que ele sentiu a primeira lágrima rolar pelo seu rosto.

Baekhyun levou outra mão à sua bochecha, sentindo a umidade ali. E quando ele percebeu que chorava por causa de seu corpo, por se sentir desconfortável, mais lágrimas rolaram. Aos poucos soluços foram libertos por sua garganta e, então, ele chorava copiosamente, os barulhos que ele tentava suprimir ecoando no banheiro como um lembrete de seu desconforto. Em determinado momento, Baekhyun se curvou sobre a bancada da pia, incapaz de olhar para seu reflexo por mais tempo, porque doía tanto. Doía tanto que ele sentia que vomitaria se olhasse mais.

Ele se dirigiu ao chuveiro evitando seu reflexo como se ele fosse um alter ego maligno.

A água quente ajudou. A temperatura elevada relaxava os músculos cansados de Baekhyun e sua mente bagunçada, mas ele ainda não conseguia distinguir o que era lágrima e o que era água canalizada. Seus soluços, apesar de menos frequentes, ainda eram ouvidos e ecoados no banheiro em meio a neblina do banho quente.

O macarrão instantâneo também ajudou. Assim que a comida ficou pronta, Baekhyun voltou para o seu quarto e trancou-se, aproveitando o silêncio e a calmaria do cômodo. Ele comia sentado em sua cama, os olhos vidrados em um ponto fixo enquanto o maxilar mastigava o macarrão. Edgar comia sua ração no chão, mas pouco tempo depois o gato já se juntava ao dono no conforto da cama e dos cobertores.

Baekhyun não pensava em nada, só encarava o teto de madeira ao mesmo tempo que acariciava o gato que aos poucos dormia. Sua mente estava estranhamente vazia, mas seu corpo parecia estar tão pesado que ele mal se movia. Sentia frio mesmo estando debaixo de cobertas, querendo se encolher o máximo possível. Sentia-se exposto mesmo estando sozinho em seu quarto. Sentia tanto, mas também não sentia. Era tudo tão estranho, e Baekhyun sentia aquilo tomando conta de si.

Já era meia noite quando Baekhyun percebeu que ele nem encostara nos textos que precisava revisar.


Notas Finais


Eu vou postando aos poucos...


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