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História Tudo que há é poesia - Retorno


Escrita por: realisse

Notas do Autor


Eu sei que não importa o quanto eu me desculpe por esse sumiço de, sei lá, dois meses (??) não vai ser suficiente. Mas entre bloqueios e início de faculdade, eu simplesmente não conseguia escrever (espero que todo mundo ainda esteja aqui, apesar dessa autora relapsa, me desculpem)

Enfim, o capítulo está aqui agora e espero que gostem (apesar de que eu mesma não gostei muito dele não)

Capítulo 13 - Retorno


As aulas voltaram mais cedo do que Baekhyun esperara, seu despertador tocando daquela maneira repetitiva e irritante na manhã de segunda. O garoto demorou mais do que o normal na cama, acordando de cinco em cinco minutos e prolongando suas horas de sono minimamente. Os diversos cinco minutos, no entanto, resultaram em um grande atraso para Baekhyun, fazendo-o ignorar seu café da manhã e correr para a escola, seus cabelos ainda bagunçados e seus olhos ainda cansados.

Baekhyun, ao chegar, ficou surpreso e satisfeito ao encontrar seus amigos conversando no corredor em frente sua sala. Ele rapidamente andou até eles, pequenos pulos entre seus passos por pura excitação, o sono e o cansaço esquecidos. Pelo fato de ser algo difícil de se passar despercebido, Baekhyun notou com facilidade a nova cor do cabelo de Sehun. Os fios antes escuros agora exibiam um rosa chiclete pastel. Ele se jogou sobre o amigo em um abraço apertado, começando a falar sobre seu cabelo e deixando de lado qualquer conversa que os garotos tinham antes de sua chegada.

“Sehunnie!” Ele exclamou, bagunçando os fios rosas do menino. Sehun afastou sua mão com um leve tapa, mas Baekhyun conseguia ver um discreto sorriso em seus lábios. “Você ficou tão bem!”

“Obrigado, Baek.” Sehun respondeu, colocando suas mechas no lugar.

“Há quanto tempo você mudou?” Baekhyun perguntou.

“Há uns quatro dias.” Ele explicou. “Minha família foi visitar alguns parentes no interior e eu passei uns dias na casa do Lu. A gente resolveu fazer umas experiências no meu cabelo.”

“Eu amei.” Baekhyun respondeu com um sorriso, no entanto logo depois batendo sem força no braço do outro. “Porque você não me mostrou antes? Fotos!”

“Eu queria fazer uma surpresa, Baek.” Sehun deu de ombros. “Não é um grande problema, é?”

Baekhyun bufou e voltou sua atenção para Luhan e Kyungsoo que observavam a discussão infantil dos outros dois. Baekhyun abraçou ambos, dizendo as triviais palavras de saudade e falta.

“Como foi o resto da suas férias de inverno, Baek?” Kyungsoo perguntou, ignorando o fato de que os alunos começavam a entrar em suas respectivas salas.

“Curtas.” Ele respondeu instantaneamente. “Mas boas. Eu voltei a tocar piano.”

“Wow, isso é bom!” Luhan exclamou animado. “Eu nem sei porque você deixou de tocar, na verdade.”

“É, eu só preciso que vocês dois cantem para mim agora.” Ele disse, apontando para Kyungsoo e Luhan.

“Besteira.” Kyungsoo rebateu. “Sua voz é ótima, Baek. Você só precisa aceitar isso.”

Baekhyun não teve chance de responder, no entanto, já que naquele momento o sinal avisou que eles supostamente deveriam estar dentro de suas salas.

“Vejo vocês mais tarde.” Kyungsoo disse, acenando de leve enquanto rumava para sua própria sala enquanto os outros três seguiam juntos para a outra.

Baekhyun, Sehun e Luhan pegaram seus respectivos assentos no fundo da sala, jogando suas mochilas displicentemente sobre as cadeiras e suspirando preguiçosos por causa das aulas. Ele deixou seus olhos navegarem pela sala, parando nas mesas próximas à janela. Baekhyun sabia que era tortura, mas não conseguia evitar a tentação de olhar para ele.

Chanyeol, como de costume, conversava com Jongin animadamente, exibindo seu sorriso largo. Seu cabelo ainda estava branco, mas suas raízes pretas já eram mais visíveis, e Baekhyun ainda queria passar suas mãos pelos fios. Ele fechou suas mãos em punhos, sentindo suas unhas curtas apertarem contra suas palmas. Baekhyun suspirou e desviou seus olhos, aquilo já era tortura suficiente para um dia.

Luhan pousou sua mão sobre o ombro de Baekhyun e sorriu condescendente para o amigo, mas Baekhyun balançou sua cabeça e afastou a mão de Luhan gentilmente.

“Eu tô bem.” Ele disse antes que qualquer de seus amigos dissesse algo. “A aula está começando.”

~*~

“Eu estou preocupado com ele, pra te dizer a verdade.” Luhan comentou com Baekhyun enquanto os dois garotos ficavam na fila da lanchonete da escola e Kyungsoo e Sehun os esperavam do lado de fora no ponto usual.

“Como assim?” Baekhyun perguntou confuso.

“Você sabe como a família dele é.” Luhan elaborou. “E bom, hoje ele volta para casa e eu não sei como eles vão reagir em relação ao rosa.”

“Ah, sim.” Ele suspirou. Dentre os quatro, Sehun e Baekhyun tinham as famílias mais tradicionais e preconceituosas do grupo, mas era claro que a família de Sehun era mais radical. Enquanto os pais de Baekhyun escondiam seu preconceito com falsa aceitação, os de Sehun claramente mostravam seu ódio em relação a diversidade.

“É só que... Eu me sinto impotente.” Luhan bagunçou seu cabelos e bufou frustrado. “Eu não vou estar ao lado dele lá.”

Baekhyun abraçou Luhan de lado alisando seu braço, mas manteve-se calado. Não havia palavras para dizer, não havia ‘vai dar tudo certo’ ou ‘está tudo bem’ porque aquilo não era realidade. Ambos sabiam como a família de Sehun era e se preocupavam com o mais novo, não havia como negar o perigo que o garoto inevitavelmente sofria.

“Mas eu não podia simplesmente acabar com a felicidade dele quando ele sugeriu descolorir e pintar o cabelo.” Ele recomeçou. “Ele estava tão feliz, Baek, eu não consegui...”

“Eu entendo, Lu. Eu entendo.” Baekhyun o confortou, trazendo-o para mais perto.

Os dois garotos rumaram para o lado de fora da escola, juntando-se a Kyungsoo e Sehun ao pé da árvore com os lanches recém comprados. Eles distribuíram os respectivos lanches para cada um, comendo em silêncio nos minutos iniciais com o intuito de matar suas fomes. Sehun comia de maneira infantil, recusando-se a levantar sua cabeça do colo de Luhan enquanto jogava pedaços de comida em sua boca. Era possível ver o sorriso discreto e divertido de Luhan por causa do namorado, mas também a tempestade em seus olhos incertos. Kyungsoo e Baekhyun dividiam o tronco da árvore como encosto, comendo em um silêncio confortável enquanto a brisa fria de final de inverno bagunçava seus cabelos e amarrotava seus uniformes.

“Então.” Baekhyun começou, tomando um gole de seu café contido no usual copo de papel. A frente deles, Sehun tentava morder o morango que Luhan supostamente deveria colocar na boca do mais novo, mas afastava a fruta a cada segundo. “Como estão as coisas entre você e o Jongin?”

“Você sabe que nada está acontecendo.” Kyungsoo olhou feio para o outro, mas Baekhyun já era imune àquele olhar há anos para se sentir intimidado.

“Vamos, eu sou seu melhor amigo.” Baekhyun bateu seus ombros com os de Kyungsoo, incentivando-o a falar.

“Ele me convidou para sair no meu aniversário.” O garoto admitiu, fazendo Baekhyun arregalar seus olhos e abrir sua boca em surpresa.

“Soo!” Desta vez, Baekhyun socou o ombro de Kyungsoo. “Como você não me conta uma coisa dessas antes? Todo mundo agora esconde coisas de mim!”

“Relaxa, Baek.” Kyungsoo apertou a base de seu nariz com seus dedos, lembrando pais lidando com crianças barulhentas. Baekhyun estava bem próximo daquilo. “Nós saímos, conversamos. Nada de mais, ok? Eu já te disse, por mais que ele seja uma boa pessoa, eu não sei se ele é capaz de me entender.”

“Você é complicado demais, Do Kyungsoo.” Baekhyun resmungou, mas o sorriso em seu rosto denunciava que ele não acreditava nas próprias palavras.

“Agora eu sou o complicado?” Ele protestou, suas mãos encontrando a cintura de Baekhyun para provocar-lhe cócegas. “Você é a pessoa mais complicada desse universo, Byun Baekhyun!”

“Para! Para, Soo!” Baekhyun gritou, tentando fugir da tortura do amigo. Luhan e Sehun finalmente saíram do seu transe, observando a miséria em forma de risadas de Baekhyun. “Me ajudem! Misericórdia!”

Kyungsoo finalmente tirou sua mãos do corpo de Baekhyun, provocando-o com toques finais enquanto o garoto limpava suas lágrimas dos seus olhos.

“Enfim.” Baekhyun respirou fundo, colocando sua camisa dentro de sua calça novamente. “Eu quero os mínimos detalhes desse dia mais tarde. Eu não te daria seu presente depois desse ataque, mas eu preciso de uma desculpa para te prender na minha casa e sugar informações de você.”

“Eu não preciso de presentes, Baek.” Kyungsoo suspirou. “Você sabe disso.”

“Recusar presentes é feio!” Baekhyun apontou seu dedo para o outro. “Além disso, eu já avisei minha mãe que você vai passar lá depois da aula, então você realmente não tem para onde fugir. Eu sou seu melhor amigo, seu merda.”

“Você está falando isso demais hoje.” Ele constatou.

“Eu te odeio, Kyungsoo.” O outro replicou. “Meu plano na verdade, desde o início, é te matar.”

“Essas falas são minhas, Baek.” Kyungsoo provocou de novo, e Baekhyun o empurrou com força, fazendo-o cair sobre a grama úmida enquanto recebia repetitivos chutes de Baekhyun em sua bunda. A risada única de Sehun soava no jardim da escola e o sinal tocava e passava despercebido por eles.

~*~

Baekhyun girou suas chaves na fechadura da porta de casa e a abriu como de costume. O que não era comum, no entanto, era sua mãe enchendo a mesa com diversas comidas, quando normalmente ela se jogava no sofá após o trabalho e lia revistas para se entreter.

Baekhyun não negava que a mulher precisava do seu descanso, afinal ela trabalhava demais durante seis dias da semana. Só era estranhamente amargo ver ela se esforçando para receber Kyungsoo, quando ela ao menos olhava para o rosto do filho quando ele chegava sozinho.

“Kyungsoo!” A mulher exclamou e aproximou-se dos dois, abraçando Kyungsoo de forma maternal. Baekhyun percebeu naquele momento que ele não se lembrava qual fora a última vez que ele e sua mãe se abraçaram. O garoto engoliu em seco quando a mulher sorriu de leve para ele e deu tapinhas amigáveis em seu ombro.

“Eu preparei alguns chás...” Ela recomeçou, guiando Kyungsoo para a mesa bem posta. “E comprei uns biscoitos.”

“Não precisava.” Kyungsoo respondeu educado. “Realmente.”

“Claro que precisava!” A mulher replicou prontamente. “Seu aniversário foi há pouco tempo, não foi?” Kyungsoo assentiu e ela puxou uma cadeira para ele se sentar.

Baekhyun sentou-se do outro lado enquanto a mulher pegava o assento da cabeceira para si. A mesa permanecia em silêncio desconfortável, nenhum dos três tocando a comida ou trocando palavras. Baekhyun olhou para sua mãe brevemente, e a mulher limpou a garganta, levantando-se e arrumando sua saia social mesmo ela estando perfeita.

“Eu vou deixar vocês a sós.” Ela sorriu. “Baekhyun, sirva o Kyungsoo.”

“Ok, pode deixar.” Baekhyun falou pela primeira vez.

Ela se afastou e, ao fundo, os dois meninos ouviram a porta se fechar com um gentil ‘clic’. Kyungsoo pousou seus olhos em Baekhyun, que já enchia sua xícara com um chá de frutas vermelhas com um biscoito entre seus lábios.

“Baekhyun...” Ele começou, incerto sobre como falar sobre tudo aquilo.

“Relaxa e esquece meus problemas familiares.” Baekhyun o interrompeu antes que ele pudesse acrescentar algo, o biscoito movendo-se para cima e para baixo enquanto ele falava. “Eu lido com isso todo dia, não preciso estragar meus momentos bons também.”

“Desculpa.”                             

“Não se desculpe.” Baekhyun empurrou um bule e um pote de biscoitos em sua direção. “Coma.”

Kyungsoo aceitou o que Baekhyun lhe ofereceu, começando a comer em silêncio enquanto fitava o amigo entre mordidas e goles. Baekhyun sempre encontrava seus olhos, estampando um pequeno sorriso em seus lábios. Aos poucos, Kyungsoo relaxou, seus olhos ficando menos preocupados e seus lábios retribuindo os sorrisos do outro.

“Então?” Baekhyun perguntou assim que Kyungsoo pousou sua xícara vazia sobre o pires. “Pronto para receber seu presente?”

“Eu não posso recusar ele, posso?” O garoto perguntou, e Baekhyun negou com sua cabeça, sorriso pueril em seu rosto.

“Seria falta de respeito, Soo.”

“Você é impossível, Baek.” Kyungsoo comentou, levantando-se da cadeira e rumando para a escada ao lado do amigo.

“Pra te dizer a verdade, eu não ia comprar nada para você. Já que você não gosta de comemorar seu aniversário.” Baekhyun respondeu enquanto eles subiam a escada. “Mas durante as férias eu saía bastante para cafeterias e outros lugares... Até que encontrei algo que combina com você. Não consegui resistir e comprei. Eu queria um igual para mim, sinceramente.”

“Se segure para não me contar antes da hora o que o presente é.” Kyungsoo brincou assim que eles chegaram ao quarto de Baekhyun, que virou sua cabeça só para mostrar sua língua para o outro infantilmente.

Baekhyun fez com que Kyungsoo se sentasse na beirada de sua cama desarrumada enquanto ele pegava o presente do amigo dentro de seu armário. Edgar calmamente se fez confortável sobre as coxas e afagos de Kyungsoo, e logo Baekhyun aproximou-se de novo do outro, entregando-lhe um genérico embrulho retangular de livraria.

Kyungsoo estudou o embrulho antes de abri-lo, virando-o e observando-o antes de qualquer coisa.

“É um livro.” Baekhyun anunciou, trazendo a atenção do amigo de volta para si.

“Eu consigo perceber isso, Baek.” Ele revirou seus olhos em falsa irritação.

“Eu sei que eu deveria parar de dar livros de presente.” Baekhyun deu de ombros. “Vamos, Soo. Abra logo!”

Kyungsoo, por fim, rasgou o embrulho, descobrindo que o livro se tratava da autobiografia de Morrisey. Ele instantaneamente olhou de volta para Baekhyun e sorriu largo, lábios alargando-se em forma de coração e dando espaço para dentes e gengivas.

“Foi uma boa escolha?” Baekhyun perguntou já sabendo, de alguma forma, a resposta.

“Claro.” Kyungsoo respondeu de prontidão. “Obrigado, Baek.”

“Relaxa.” Baekhyun sorriu brevemente, sentando-se sobre as cobertas bagunçadas junto com Kyungsoo. Edgar optou por deitar entre os dois garotos, aproveitando os carinhos lânguidos de dois pares de mãos.

“Enfim” Baekhyun recomeçou, e Kyungsoo já sabia quais palavras seriam ditas em breve. “Agora me conta como foi seu encontro com o Jongin.”

“Não existe ‘encontro’ algum, Baek.” Ele suspirou.

“Não importa.” O outro bufou. “Você pode me contar o que os senhores fizeram no seu aniversário?”

Kyungsoo bufou de volta, acariciando as orelhas pretas de Edgar e suspirando longamente antes de começar.

“Um amigo dele, Taemin, tem uma banda. Essas de garagem.” Ele disse. “Jongin me chamou para assistir uma apresentação deles em um parque. Eles são bons. Mais tarde a gente foi para um restaurante comum. Ele me deu um presente e eu paguei pela comida. O aniversário dele é dois dias depois do meu, então...”

Baekhyun observou o rosto do amigo por longos segundos antes de se jogar dramaticamente sobre o colchão, fazendo barulhos inteligíveis.

“Eu shipo tanto!” Ele exclamou, voltando-se a se sentar de frente para o outro.

“Para, Baek.” Kyungsoo replicou, batendo de leve no joelho de Baekhyun e lutando contra o pequeno sorriso que ameaçava se formar. Ele recomeçou seriamente quando Baekhyun se recompôs. “Você sabe que não adianta nada shipar nós dois. Eu acho que eu sei o que o Jongin quer, mas acho que não é o mesmo que eu quero. Eu não vejo razão para um outro sentimento... Ou um relacionamento.”

Kyungsoo deu de ombros quando o outro permaneceu calado.

“Seria tão ruim estar em um relacionamento?” Baekhyun inquiriu também de maneira séria.

“Eu não quero me prender.” Ele respondeu quase instantaneamente. “Isso não é o que eu sou, Baek.”

“Eu sei, Soo. E eu não quero te pressionar ou te mudar, eu tenho certeza que você sabe disso.” Baekhyun explicou, acariciando de leve a perna do amigo. “Mas talvez você já esteja se prendendo, não acha?”

Kyungsoo não respondeu, olhos focados no livro em suas mãos.

“Pensa sobre isso.” Baekhyun finalizou. “E conversa com o Jongin, eu tenho certeza que ele vai entender. Ele não vai fugir de você só por um pequeno detalhe desses.”

“Você fala de um jeito que parece que eu gosto dele.” Kyungoo riu nasalmente.

“Você gosta.” Baekhyun sorriu de forma doce. “Não existe só uma forma de amor, certo?”

~*~

Não era comum chegar em sua sala e não encontrar Luhan e Sehun trocando toques gentis pela manhã. Era o que acontecia naquela manhã de terça, no entanto. Luhan sentava-se em sua cadeira sem a companhia do mais novo, seus olhos fixos na tela de seu celular enquanto um vinco entre suas sobrancelhas formava-se lentamente.

“Cadê o Sehun?” Baekhyun perguntou, jogando displicentemente sua mochila em seu assento. Luhan encontrou seus olhos e forçou um sorriso, respondendo com uma aparente falta de emoção. Mas Baekhyun o conhecia bem e reconhecia a tempestade em seus olhos grandes e expressivos.

“Ele ainda não chegou.” O garoto chinês disse. “Ele também não respondeu minhas mensagens, mas ele deve estar a caminho.”

“Relaxa.” Baekhyun pousou sua mão sobre o ombro de Luhan, apertando com a quantidade certa de força. “Ele vai estar aqui em qualquer minuto.”

Sehun chegou exatamente antes do professor, cabeça baixa e um boné preto sobre seus fios rosados. O boné trazia em letras garrafais e igualmente rosa pasteis a frase ‘no new friends!’, e a cabeça baixa e a postura reclusa do garoto só mostravam o quanto Sehun queria ser deixado sozinho. Alguns pares de olhos fitaram Sehun enquanto ele andava na direção de seu assento, mas seus passos largos não davam muito tempo para questionamento. Ele se sentou pesadamente em sua cadeira, mantendo a cabeça baixa, e foi então que Luhan e Baekhyun observaram o rosto do mais novo melhor.

Havia um corte no lábio inferior do menino, sangue ressecado sobre a ferida recente. O boné disfarçava, mas não era capaz de esconder o roxo por volta de seu olho esquerdo. Além disso, sua bochecha esquerda parecia mais inchada do que a direita.

“Hunnie...” Baekhyun começou com a voz baixa  e incerta enquanto o professor organizava seus materiais na frente da sala.

Luhan, pelo contrário, segurava as bordas de sua mesa com demasiada força, os nós de seus dedos ficando brancos. Ele olhava incrédulo para o namorado, horror em seus olhos e respiração mais ofegante.

Sehun olhou para o outro pela primeira vez. Havia lágrimas em seus olhos, mas ele não permitia que elas rolassem sobre seu rosto machucado. Ele já tinha chorado demais na noite anterior. Ele colocou sua mão sobre a de Luhan, apertando de leve e acariciando até que o namorado soltou as bordas da mesa.

“Lu... por favor.” Sehun sussurrou, sua voz tão pequena e frágil que ele parecia muito mais novo do que realmente era.

Luhan não respondeu. Ao invés disso, ele se levantou bruscamente de seu lugar e dirigiu-se para a porta, interrompendo a recém começada aula. A classe encarou silenciosa a porta que se fechava automaticamente sozinha, nenhum traço do aluno chinês deixado para trás.

O professor deu de ombros e voltou a se concentrar no que falava antes da interrupção, o resto dos alunos também voltando sua atenção para o homem mais velho. Sehun cruzou seus braços sobre a mesa e pousou sua cabeça sobre eles, escondendo-se aos poucos. Baekhyun encarou durante toda a aula o tremor dos ombros do amigo.

Luhan não voltou.

Até o intervalo das aulas da manhã, Luhan não voltou para a sala. Sehun vez ou outra levantava a cabeça de seus braços, mas logo voltava para tal posição quando via que a cadeira ao seu lado permanecia vazia. Baekhyun não era capaz de prestar atenção nas aulas, – ou, até mesmo, em Chanyeol – seus olhos sempre fixos nas costas curvadas de Sehun, antes tremendo e imóveis após vários minutos.

A sala estava quase vazia quando Baekhyun levantou-se de sua cadeira e agachou-se ao lado de Sehun, tentando trazer a atenção do garoto para si. Ele pousou sua mão sobre as costas do outro, e Sehun ficou tenso sob seu toque. Baekhyun o acariciou até que seu corpo relaxou novamente.

“Sehunnie.” Ele chamou com calma, quase um murmúrio. “Acho que a gente devia comer alguma coisa.”

“Eu não estou com fome.” A resposta abafada veio segundos depois.

“O que você quer comer?” Baekhyun pressionou. “Eu vou comprar para você.”

“A lanchonete daqui não vende bubble tea.” Sehun reclamou, finalmente virando seu rosto e encontrando os olhos do outro.

“É uma pena, não é mesmo?” Baekhyun sorriu de lado, mas Sehun não retribuiu como de costume. Nada era costumeiro naquele dia.

“Eu estou horrível, certo? Eu me sinto horrível.” O mais novo resmungou, e Baekhyun acariciou com mais força suas costas.

“O que me diz de chocolate quente?” Baekhyun disse, ignorando o comentário do amigo. “Eu sei que o chocolate quente daqui vem daquelas máquinas horríveis, mas deve ser tragável.”

Aquilo resultou em uma pequena risada vinda de Sehun, apesar de ter durado muito pouco. Baekhyun ficara orgulhoso de si, de qualquer forma. Sehun se levantou, então, e Baekhyun o abraçou de lado pela cintura durante todo o trajeto da sala à lanchonete.

Os dois garotos rumaram para o lado de fora assim que Baekhyun tinha em mãos os dois copos de papel cheios de chocolate quente. Nem Kyungsoo nem Luhan estavam sob a copa da árvore quando Sehun e Baekhyun sentaram-se sobre a grama. O silêncio era confortável, mas carregava muitas palavras não ditas e sentimentos ruins.

“Pessoas não param de olhar para mim.” Sehun comentou após um gole da bebida doce.

“Elas não importam.” Baekhyun respondeu.

“O Luhan importa.” O garoto disse e havia um certo amargor em seu tom.

“Eu vou procurar ele.” Baekhyun fez menção de se levantar, mas Sehun segurou seu braço, impedindo-o.

“Fique.” Ele pediu. “Por favor.”

“Tudo bem.”

O silêncio tomou conta deles mais uma vez então, e entre goles da bebida quente um se lembrava da desastrosa noite anterior enquanto outro procurava formas de alegrar o primeiro. Mesmo sabendo ser impossível.

“Eu não preciso dizer o que aconteceu para você saber, certo?” Sehun inquiriu após muitos minutos.

Baekhyun só assentiu.

Sehun retirou seu boné e mexeu nos fios artificialmente rosas. Ele puxou algumas mechas e olhou para elas, soltando os fios para que eles voltassem aos poucos para o lugar original.

“Eu gostei dessa cor.” Ele disse. Seu tom era melancólico, mas vazio. Ele colocou o boné de volta, escondendo o rosa e o roxo. “Me fala alguma coisa, Baek. Eu não aguento mais continuar lembrando.”

“Eu sou gênero fluido.” Baekhyun falou instantaneamente. Era estranho como as palavras saíram com facilidade para Sehun. Talvez fosse por causa da convicção de Baekhyun de fazer Sehun esquecer, pelo menos por hora.

Falar aquilo com tanta certeza era bom. Reconfortante. Confiante.

“Eu já sabia.”

“O quê?” Baekhyun perguntou confuso.

“Eu acho que já sabia.” Sehun sorriu para ele. “Você sempre foi diferente, Baek. Em todos os aspectos. Você sempre foi especial.” O menino deu de ombros. “Foi só intuição.”

“Oh.”

“Eu vou te chamar de ‘Nonna’ daqui para frente.” Ele brincou.

Baekhyun empurrou o outro garoto sem força para o lado, rindo de leve. Era bom que Sehun canalizava sua atenção para outra coisa, ao invés das marcas em sua pele alva ou da falta de Luhan.

“Eu não sei se devo mudar meus pronomes.” Baekhyun comentou quando a risada morreu.

“Você deve mudar seus pronomes somente se você quiser.” Sehun disse o óbvio. Mas, na verdade, não era tão óbvio. “Lembre-se, Baek: pessoas não importam. Só você... E eu, claro.”

“Egocêntrico.” Baekhyun acusou sem nenhuma malícia.

Sehun sorriu largo. Os dois tomaram goles do chocolate quente já morno, percebendo que Kyungsoo se aproximava deles. Kyungsoo era observador, e de longe seus olhos já eram preocupados no mais novo.

Ele não disse nada ao ver nitidamente o rosto de Sehun. Kyungsoo deixou seus lanches caírem sobre a grama e agachou-se para abraçar o menino com força. Seus dedos se enterraram nos poucos fios da nuca ainda expostos e seu abraço ficou mais e mais forte.

“Eu estou bem agora, hyung.” Sehun disse com uma pequena risada.

Mas Kyungsoo não soltou o mais novo depois de minutos.

Baekhyun terminou seu chocolate quente com uma golada final, levantando-se do chão e tirando a poeira de suas calças com batidas rápidas de suas mãos. Sehun olhou para ele com entendimento em seus olhos, mas não disse mais nada. Kyungsoo, por sua vez, o olhou com confusão.

“Fique aqui um pouco, ok Soo?” Baekhyun perguntou retoricamente, e Kyungsoo assentiu de qualquer forma.

Baekhyun andou cegamente pelos corredores da escola, procurando por Luhan em cada canto conhecido e desconhecido. Ele entendia o porquê de Luhan não ter aguentado ficar perto do namorado naquele momento, mas tal ação não deixava de entristecer o garoto. Mesmo que Luhan não fosse forte o bastante, ele deveria sempre permanecer ao lado de Sehun.

Baekhyun subira diversas escadas e andara por diversos corredores, procurando em banheiros e em salas vazias. Mas Luhan desaparecera.

Ele só encontrou o amigo faltando cinco minutos para o fim do intervalo. Luhan encontrava-se no telhado da escola, braços abraçando suas pernas contra seu peito enquanto seus olhos encaravam um ponto remoto do horizonte. Baekhyun observou por longos segundos o perfil aparentemente serenos do garoto, mas seus olhos e nariz vermelhos refutavam qualquer traço de serenidade. Luhan parecia tão absorto em outro mundo que nem percebera a presença de Baekhyun ali.

“Quanto tempo você pretende ficar aqui?” Baekhyun perguntou, tranzendo a atenção de Luhan para si.

“Baekhyun.” Ele simplesmente disse.

Baekhyun suspirou e se sentou ao lado do amigo pesadamente, esticando suas pernas no concreto sujo e bagunçando seus cabelos assim como seus pensamentos.

“Você sabe que ele precisa de você, não sabe?” Baekhyun inquiriu após certo tempo. O sinal em breve os mandaria de volta para sala.

“Eu não consigo.” Luhan respondeu. Ele bufou frustrado, tanto consigo quanto com toda aquela situação. “Eu sei que eu devo ser forte por ele, mas eu simplesmente não consigo, Baek. Eu me sinto tão impotente e fraco. Eu realmente não posso fazer nada. Eu odeio aquele homem, mas eu não posso fazer nada porque ele é a família do Sehun... E, no fim, tudo isso é minha culpa. Se- se eu não tivesse encorajado ele com isso de pintar o cabelo, talvez-“

“Shh” Baekhyun interrompeu, trazendo então Luhan para um abraço desconfortável, mas amável. “Para de se culpar por algo que não é nem um pouco culpa sua. Você tem essa mania, Lu.”

Luhan aproximou-se mais de Baekhyun, silencioso por hora.

“Mas você tem culpa de ter deixado o Sehun sozinho nessas últimas horas.” Baekhyun continou. “E você está errado, Luhan. Você não precisa ser forte por ele o tempo todo, afinal todos nós temos nossas fraquezas. Você só precisa ser presente. Estar ao lado dele. É bem simples.”

Luhan levantou-se bruscamente depois das palavras de Baekhyun, olhando para o amigo de cima. Seus olhos mostravam muito, mas o que mais se destacava ali era culpa. Culpa pelos motivos certos, dessa vez.

Baekhyun sorriu de leve, anunciando uma única palavra que Luhan entenderia muito bem. “Árvore.”

O sinal tocou assim que Luhan saiu correndo pela porta pela segunda vez no dia. Baekhyun levantou-se preguiçosamente do chão, um pequeno sorriso em seus lábios sabendo que, no fim, tudo daria certo quando tratava-se de Luhan e Sehun.

~*~

Baekhyun entrou no laboratório de biologia naquele mesmo dia com passos pesados. Atrás dele, Sehun e Luhan entravam na sala de mãos dadas, e Baekhyun estava feliz que tudo estava como de costume de novo. Aquela nunca fora uma aula que o agradava muito, mas depois que sua professora o obrigou a se sentar ao lado de Park Chanyeol, Baekhyun passou a odiá-la.

Não no início. No início, Baekhyun sentia movimentos estranhos dentro de seu corpo e uma constante vergonha e constrangimento ao lado de Chanyeol. Estar ao lado de Chanyeol agora significava uma dor constante em seu peito e um amargor no fundo de sua garganta. Principalmente quando Chanyeol sorria.

“Oi, Baekhyun!” Chanyeol o cumprimentou assim que ele colocou sua apostila sobre a bancada de granito.

“Oi.” Baekhyun respondeu de maneira simples, sorrindo tanto para Chanyeol quanto para Yixing. O garoto chinês já parecia sonolento.

Baekhyun nunca sabia que aquele momento chegaria, mas ele agradeceu a presença da professora que o livrou de futuras conversas com o garoto dos seus sonhos – literalmente. Ela fez seus comentários usuais, e Baekhyun permitiu que seus olhos se perdessem nos encontros de paredes enquanto sua mente divagava por territórios aleatórios.

Quando se acha que algo não pode piorar, no entanto, a ilusão é grande. Claro que a situação de Baekhyun ainda podia piorar. E muito.

Ele foi puxado de sua realidade paralela quando a mulher anunciou:

“Vocês farão esse projeto com seus colegas de bancada.” Ela explicou. “Serão diversos experimentos com relatórios detalhados sobre cada. Lembrem-se que esse projeto vale cinquenta por cento da nota de vocês.”

Ótimo. Baekhyun tentou não gemer em frustração. Um trabalho em grupo com Chanyeol era tudo o que ele precisava quando ele só queria esquecer o que o garoto mais alto causava em si.


Notas Finais


Pois é, só porque eu sumi não quer dizer que as coisas vão ser leves por aqui, pessoas. Me desculpem de novo.

O Sehun é meu bias e olha as coisas que eu faço, eu sei que eu sou uma pessoa horrível...

Eu não gostei muito desse capítulo, sei lá. Achei ele meio repetitivo... Enfim, até o futuro (próximo ou não) 💞


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