1. Spirit Fanfics >
  2. Tudo que há é poesia >
  3. Toque

História Tudo que há é poesia - Toque


Escrita por: realisse

Notas do Autor


Olá, pessoas!! Eu voltei finalmente! (mas sinto em informar que provavelmente não vou voltar tão cedo porque eu estou cheia de coisas pra fazer nesse fim de semestre T^T

Capítulo 14 - Toque


Segunda o cabelo de Sehun era rosa.

Terça seu rosto era roxo.

Quarta o cabelo de Sehun era preto de novo.

Era estranho como tanta coisa mudava somente em três dias. Segunda, os sorrisos do mais novo eram frequentes e despretensiosos. Livres e sinceros. Terça, era difícil fazê-lo mostrar alguma emoção, exceto tristeza e depreciação. Quarta, ele escondia as marcas em seu rosto com maquiagem, e seus sorrisos eram forçados. Máscaras corretivas.

Quarta, ele chegou na escola sem o boné do dia anterior, os cabelos de volta a cor natural. Ele explicou, com a voz baixa e frágil, que sua mãe o tinha levado em um salão, pagando o necessário para que seus fios voltassem a ser pretos o mais rápido possível.

Baekhyun não sabia o que dizer – não havia o que dizer – optando, então, por um aperto forte no ombro do mais novo enquanto Luhan abraçava o garoto de forma protetora. Baekhyun fingiu não ver uma única lágrima escorrer pela bochecha pálida de Sehun.

Quinta, após Baekhyun lavar seu rosto enquanto seguia sua rotina matinal antes de rumar para a escola, o garoto fixou seus olhos no delineador que Hyoyeon tinha lhe dado de presente. Ele pegou o pequeno tubo preto e o estudou entre seus dedos delicados. Destampou o objeto com facilidade e aproximou seu rosto do espelho, desenhando uma fina linha preta em sua pálpebra esquerda e repetindo o processo na pálpebra direita.

Baekhyun estudou seu reflexo por longos minutos após ter terminado, analisando a fina e discreta faixa preta causada pelo delineador e pelos movimentos calmos de sua mão. Hyoyeon estava certa, no fim, a prática leva a perfeição.

Percebendo que os minutos que perdera com aquela nova atividade o atrasariam, Baekhyun apressou-se para seguir o resto de sua rotina matinal, resultando em uma gravata mal apertada e um café da manhã corrido.

Assim que Baekhyun chegou na sala de aula, Sehun percebeu instantaneamente a maquiagem no olhos do garoto. Ele sorriu de leve, apontando vagamente para o rosto de Baekhyun e dizendo:

“Ficou bonito, Baek.”

“Quer que eu passe em você?” Baekhyun perguntou, tirando o delineador de um pequeno compartimento em sua mochila. Eles ainda tinham alguns minutos antes do início da aula, e Baekhyun estava suficientemente confiante em sua nova habilidade para fazê-la com rapidez.

Sehun assentiu como uma criança animada, e parecia haver séculos que ele não mostrava uma emoção genuína e positiva. Baekhyun destampou o pequeno tubo, e Sehun fechou seus olhos, ficando estático enquanto o outro realizava sua tarefa.

Baekhyun percebeu, ao maquiar o olho esquerdo, que todo aquele lado do rosto de Sehun estava ainda inchado, mas havia camadas e mais camadas de corretivo escondendo a pele machucada, roxa e amarelada. O garoto mais novo inspirou profundamente quando Baekhyun esbarrou acidentalmente em sua bochecha esquerda, mas manteve-se parado, aguentando a dor. O outro não disse nada, mas acariciou o maxilar de Sehun com sua mão livre, terminando seu desenho e soprando as pálpebras fechadas do mais novo.

“Você está muito bonito.” Baekyun disse, olhando fundo nos olhos do amigo. Luhan concordou, trazendo o rosto do namorado para perto em um beijo rápido sobre seu lábio cortado.

“A gente pode tirar quando a aula acabar.” Baekhyun acrescentou, guardando o delineador de volta em sua mochila.

Sehun assentiu com a cabeça, sorrindo em agradecimento logo depois. Porque mesmo que ele não pudesse manter seus fios cor de rosa, Baekhyun queria colocar um sorriso no rosto do amigo sempre que ele conseguisse. Mesmo que fosse por meio de um delineador, que seria lavado antes do garoto voltar para casa. Porque se a casa de Sehun não era segura e prazerosa, todo momento que ele passava fora dela deveria ser.

Baekhyun sorriu e bagunçou os cabelos de Sehun, ouvindo os protestos infantis do garoto. Luhan beijou o namorado novamente. Baekhyun sentou-se assim que o professor entrou na sala, olhando para as cadeiras próximas da janela e sentindo seu peito saltar levemente. Chanyeol, sempre cativante e sempre tão distante.

No fim, tudo estava como sempre fora.

 

 

We run together in this field.

But your legs are much longer than mine

and I can’t seem to reach you.

 

I keep running, though,

looking at your back while you run, hoping that one day

you will look back and wait for me to catch up.

     – Byun.

 

 

E Baekhyun conseguia escrever de novo. Mas olhar para Chanyeol ainda doía ridiculamente. Porque era como em seu mais novo poema, Chanyeol tinha as pernas longas demais, e Baekhyun ficava para trás. E Chanyeol não olhava para trás, não esperava Baekhyun alcançar para eles poderem correr juntos.

Baekhyun releu seu poema enquanto o professor ensinava a matéria. Releu e releu, memorizando todas as palavras estrangeiras em sua mente até decorá-las. Ele suspirou e virou a página de seu caderno, começando a copiar a matéria no quadro.

~*~

“Eu acho que minha parte preferida é ‘as palavras incompreendidas’.” Namjoon comentou com Baekhyun ao final de mais um dia de atividades do clube. Eles falavam sobre ‘A insustentável leveza do ser’ do tcheco Milan Kundera. Aquele fora o livro agendado para o primeiro mês após as férias de inverno e, mesmo após o fim das discussões oficiais, os dois garotos continuavam falando sobre a obra.

“Eu gostei muito da forma como ele mostrou que as diferentes visões de mundo de Sabina e Franz levaram a tudo o que aconteceu entre eles. As palavras incompreendidas são muito mais do que só palavras, entende?” Namjoon completou, elaborando sua preferência.

“Sim, eu também gostei bastante dessa parte.” Baekhyun respondeu, guardando seu exemplar do livro em sua mochila e fechando-a. “Mas eu preferi ‘a alma e o corpo’.”

Namjoon assentiu silenciosamente, esperando para que Baekhyun também desenvolvesse melhor seu ponto.

“Eu acho que as reflexões de Tereza sobre corpo e alma são muito profundas e válidas.” O garoto disse. “Ela distingue completamente corpo e alma e, por vezes, ela só quer ser ‘alma’. Ela sente tanto nojo e desprezo pelo próprio corpo que não o quer mais. E além disso, a questão do reflexo. Tereza sempre se olha no espelho, que só reflete o corpo. Mas ela tenta ver a alma.”

O garoto mais novo sorriu de novo para Baekhyun, mostrando suas covinhas e diminuindo seus olhos. Baekhyun, por sua vez, riu nervosamente, coçando sua nuca.

“Desculpa, eu me empolguei.” Ele disse.

“Não, tudo bem, hyung.” Namjoon respondeu. “Você sabe que eu gosto de conversar sobre livros... E Seokjin não gostou muito desse.”

“Eu realmente percebi que ele estava mais calado hoje.” Baekhyun comentou, olhando para Seokjin que tinha sua atenção voltada para seu celular. “Porque ele não gostou?”

“Eu acho que foi por causa do erotismo.” Namjoon deu de ombros.

“Ele achou vulgar?” Baekhyun inquiriu. “Eu achei que o erotismo fluiu bem com a narrativa. Com o contexto histórico também. Nem um pouco pesado para uma sociedade que leu ’50 tons de cinza’.”

Namjoon riu, assentindo com a cabeça. Ele olhou para Seokjin brevemente atrás de si, antes de acrescentar em um tom que o amigo ouviria: “Seokjin é uma princesa.”

“Eu escutei isso!” Seokjin protestou, guardando o celular no bolso e aproximando-se de Namjoon e Baekhyun. O mais velho observava os dois garotos, enquanto a risada de Namjoon transformava-se em um sorriso doce e Seokjin apoiava seu braço nos ombros do amigo.

“Só porque eu gosto de rosa, eu não sou uma princesa, Namjoon.” Ele respondeu. “Além disso, eu preferiria ser uma rainha.”

Namjoon riu ainda mais, dobrando seu corpo e segurando seu estômago. Baekhyun libertou suas próprias risadas, divertindo-se com as brincadeiras dos dois meninos.

“Nós temos que ir agora, hyung.” Namjoon disse depois que eles controlaram seus risos. “Nos vemos em breve!”

“Tchau, Namjoon! Tchau, Seokjin!” Baekhyun respondeu, acenando de leve enquanto eles rumavam para a porta.

“Tchau, hyung!” Seokjin acenou de volta, virando sua atenção para Namjoon em um instante para reclamar de sua fome.

Joonmyun aproximou-se de Baekhyun, então, colocando suas mãos nos ombros do outro e sorrindo levemente para ele.

“Você deve ser o hyung preferido do Namjoon.” Joonmyun disse.

“O quê?” Baekhyun começou a protestar. “Não posso? Você é o hyung preferido de todo mundo, deixa eu ser o de uma pessoa.”

“Isso quer dizer que eu sou o seu hyung preferido?” Joonmyun perguntou, um tom provocativo e leve em sua voz.

“Vou te dar o benefício da dúvida.” Ele respondeu o outro, mostrando sua língua de maneira infantil.

“Café?” Joonmyun ofereceu. “Eu estou precisando de café no meu sangue.”

“Claro, vamos lá.” Baekhyun concordou de imediato, jogando sua mochila em seus ombros e saindo da sala com Joonmyun ao seu lado.

Enquanto os dois garotos andavam pelo corredor, no entanto, Baekhyun ouviu seu nome sendo chamado por duas vozes que ele reconhecia bem. O que Baekhyun não entendia era o porquê de uma delas clamar sua atenção. Ele girou seu corpo, encontrando Yifan que andava com calma até eles e Chanyeol que corria levemente até eles.

Chanyeol e Yifan se entreolharam, tentando decidir quem falaria primeiro, até que Chanyeol moveu suas mãos em um gesto que indicava que Yifan podia começar.

“Hum... Baekhyun.” Yifan começou, claramente desconfortável.

“Sim?”

“Hum, você se lembra da festa de ano novo na minha casa?” O garoto perguntou, preenchendo o silêncio no corredor.

“...sim.” Baekhyun respondeu incerto, não sabendo onde Yifan queria chegar. Ele olhou nervosamente para Chanyeol, querendo que, naquele momento, ele não estivesse ali.

“É... Meu primo primo pediu para eu te pedir seu número de celular. Ele-“ Yifan desenvolveu, mas cada palavra só deixava Baekhyun mais confuso.

“Seu primo?”

“É, vocês estavam juntos naquela noite...”

Baekhyun não sabia o que dizer, vergonha espalhando-se pelo seu corpo e corando suas bochechas. Ele nem sequer lembrava do rosto – sequer do nome – do garoto que ele beijara no ano novo. E, no fim, ele tinha que ser primo de Yifan, chegando até a pedir seu número de celular. Baekhyun não sabia o que fazer e ele só queria fugir dos olhos inexpressivos de Chanyeol, então o garoto enterrou seu rosto em suas mãos e gemeu em constrangimento. A mão de Joonmyun estava sobre suas costas, alisando-as de forma reconfortante, mas ao mesmo tempo relembrando Baekhyun que aquilo tudo era, de fato, real.

Baekhyun separou seus dedos, mostrando somente seus olhos enquanto suas mãos permaneciam intactas sobre seu rosto. Ele gemeu baixo novamente, suspirando logo depois e deixando seus braços voltarem a sua posição inicial.

“Olha, Yifan.” Baekhyun começou, procurando pelas melhores palavras mesmo Yifan não sendo quem ele rejeitava. “Eu estava muito louco naquela festa, então eu não lembro de muita coisa. Não que alguém precise estar louco para ficar com seu primo, eu tenho certeza de que ele deve ser muito bonito... O que eu tô’ falando? Enfim! Me desculpa, Yifan. Por favor se desculpe com ele. É só que... eu não quero um relacionamento ou algo do tipo agora, entende?”

Para o alívio de Baekhyun, Yifan só sorriu de leve, dizendo que ele faria o pedido e que Baekhyun não devia se pressionar algo que ele não estava confortável. O garoto chinês virou-se e desapareceu no fim do corredor, deixando-o mais uma vez silencioso. Baekhyun não queria encontrar os olhos de Chanyeol, mas ele sabia que seria a maneira mais rápida de sair dali sem maiores constrangimentos.

“Chanyeol?” Ele chamou, incentivando-o a falar o que queria.

“É sobre o trabalho do laboratório.” Chanyeol começou. “Eu estava pensando em já começar o trabalho. E como ele é em grupo, eu estava pensando se você não quer ir para minha casa no sábado para fazer...”

Aquela era uma péssima ideia, do ponto de vista de Baekhyun. Porque eles tinham que se encontrar na casa de Chanyeol e não na biblioteca da escola? Porque eles não podiam separar o trabalho e fazê-lo individualmente?

Havia Yixing, pelo menos. Talvez Baekhyun não morreria em um desses encontros se o garoto chinês também estivesse neles.

“Mas já?” Baekhyun tentou pensar em alguma desculpa. “Falta muito tempo para a entrega, não?”

“Eu não queria deixar acumular.” Chanyeol disse logo depois.

“A gente pode dividir o trabalho em partes entre os integrantes.” Baekhyun sugeriu, tentando escapar aos poucos.

“Baekhyun...” Chanyeol suspirou. Seu nome ainda soava tão bem na voz do outro, Baekhyun perdeu-se um pouco. “Esse trabalho é mais complexo do que os últimos. Eu acho que só dividir partes não vai adiantar... Mas se você quiser eu posso fazer sozinho, não tem problema.”

Baekhyun mordeu seu lábio inferior. Ele não podia deixar Chanyeol pensar que ele era um preguiçoso qualquer que deixaria todo o trabalho nas costas de uma só pessoa.

“Não, isso seria completamente injusto.” Baekhyun refutou. “Sábado. Sua casa. Perfeito.”

Chanyeol libertou mais um de seus sorrisos largos, assentindo diversas vezes com a cabeça. Baekhyun sorriu de volta, mas seu sorriso não chegou a alcançar seus olhos.

“Eu te mando uma mensagem com as coisas que você precisa saber, ok?” Chanyeol disse, começando a andar. “Tenho que voltar para o treino, tchau!”

E Chanyeol virou no corredor com passos largos, seus cabelos brancos deixando flashes de memória para trás. Baekhyun ficou parado por um bom tempo, mas as mãos de Joonmyun apertando seus ombros levemente foram capazes de trazer o garoto de volta.

Eles voltaram a andar em direção a cafeína que buscavam antes, mas Joonmyun tinha um sorriso no rosto e não aceitava o silêncio entre eles.

“Qual foi a maior mentira que você contou além de ‘eu não quero um relacionamento agora’, Baek?” O garoto perguntou, claramente provocando o outro.

“Ugh...” Foi a única resposta de Baekhyun.

“Como você falou aquilo na frente do Chanyeol? Você é idiota?” Joonmyun perguntou frustrado.

“Não é como se fosse mudar alguma coisa se eu falasse que estou disponível para relacionamentos... exclusivamente com ele.” Baekhyun reclamou, um bico infantil em seus lábios. Joonmyun libertou um som gutural do fundo de sua garganta, cansado dos dramas do amigo.

“Já que chegamos nesse assunto...” Baekhyun recomeçou. ”O que você tem a me dizer sobre você e o Yixing?”

“Além daquele beijo ridículo planejado por você no ano novo, nada.” Joonmyun deu de ombros. “Não tem nada acontecendo. A gente nem se fala.”

“Você está amargo em relação a isso tudo, não está?” Baekhyun rebateu, divertindo-se por fazer o outro provar do próprio veneno. “Não importa se não há sentimentos como com o Yifan... Mas eu percebi o jeito que você olha para ele, Kim Joonmyun. Eu tenho certeza que o Yixing não importaria de te dar mais uns beijos.”

“Só cala a boca, Baek.” Joonmyun pediu quando eles finalmente entraram na cafeteria. “Eu só queria tomar um bom café em paz com um bom amigo. Espero conseguir a parte do ‘bom café’ ainda.”

Baekhyun riu alto, pegando sua carteira e pagando tanto pelo seu café quanto pelo de Joonmyun. Por sua vez, Joonmyun comprou muffins de chocolate para os dois.

Baekhyun entregou um copo a Joonmyun e aceitou seu muffin em troca. Os dois garotos se sentaram em uma mesa, conversando sobre diversos assuntos enquanto provocações baratas eram trocadas entre eles.

~*~

Fevereiro chegou no sábado que Baekhyun deveria ir à casa de Chanyeol. O ar ainda era frio, mas a neve do fim de dezembro e do início de janeiro já não caía mais.

Baekhyun saiu de casa por volta de três da tarde, após um almoço tardio de sábado e alguns minutos perdidos em frente ao espelho. O garoto recusava-se a admitir que passara mais tempo escolhendo sua roupa do que normalmente, não era como se Chanyeol tivesse alguma coisa a ver com aquilo.

Chanyeol não vivia tão longe. Baekhyun andou até a estação de metrô e desceu na terceira parada na direção sul, vez ou outra checando o endereço que Chanyeol tinha lhe mandado por mensagem. Ele andou por entre as ruas, olhando nomes e números ao redor. As casas do bairro não eram tão diferentes das do bairro de Baekhyun, espaçosas, mas modestas.

Após andar por contáveis quarteirões, Baekhyun encontrou a casa dos Park, limpando suas mãos suadas em suas calças repetidas vezes. Mesmo sendo um dia frio, o garoto sentia-se quente dentro de suas roupas, trocando seu peso de uma perna para outra em apreensão em frente ao pequeno portão pitoresco.

Sabendo que mais cedo ou mais tarde ele teria que entrar, Baekhyun deixou suas inseguranças de lado e apertou a campainha, esperando por longos segundos que alguém o atendesse.

“Baekhyun?” A voz de Chanyeol soou pelo interfone, grave e estável.

“É... sim! Sou eu.” Baekhyun aproximou seu rosto do aparelho eletrônico e respondeu, constrangendo-se pelas suas palavras logo depois. O portão se destravou quase que instantaneamente, e Baekhyun entrou com calma, suspirando em resignação.

Antes de Baekhyun chegar a porta de entrada, Chanyeol já tinha ela totalmente aberta como se Baekhyun fosse a pessoa mais querida naquela casa, seus cabelos brancos bagunçados e suas roupas largas e domésticas. O garoto aproximou-se com cautela, agradecendo o outro pela hospitalidade com uma distância razoável entre seus corpos.

Mas o sorriso do mais alto só se alargou, enquanto ele começava a falar sobre seus pais que estavam visitando seus avós e sobre sua irmã que só ficava em casa nas férias, quando ela não precisava se preocupar com questões acadêmicas do seu curso de jornalismo. Baekhyun sentiu seu estômago revirar com tais notícias, de repente, a casa parecia muito maior e espaçosa.

“O Yixing vem?” Baekhyun perguntou, tentando esconder sua esperança ao máximo.

“Bom... Eu chamei ele.” Chanyeol coçou sua nuca. “Mas, você sabe como ele é... Sinceramente, não acho que ele vai aparecer.”

Baekhyun concordou com a cabeça levemente, incerto sobre o que dizer exatamente.

“Você quer algo para comer?” Chanyeol inquiriu após algum tempo, apontando para a cozinha enquanto os dois permaneciam estáticos na sala de estar.

“Não, obrigado.” Ele respondeu. “Eu comi há pouco tempo, não estou com fome.”

“Ok, nós podemos ir para o meu quarto então, certo?” O garoto continuou, andando com calma para a escada de madeira e esperando Baekhyun alcançá-lo.

O quarto de Chanyeol não era como Baekhyun esperava. Não que ele tivesse imaginado o quarto do outro, mas definitivamente Baekhyun não esperava aquilo.

O quarto dele não era essencialmente grande, mas seu espaço era muito bem aproveitado. Em uma metade, estavam as coisas básicas como a cama, uma mesa de estudos e um armário. Na outra metade, no entanto, haviam diversos instrumentos musicais, e Baekhyun estava surpreso com tudo aquilo. Ele não sabia que Chanyeol escondia talentos musicais. Havia uma bateria e um teclado, além de um número considerável de violões e guitarras.

“Você toca tudo isso?” Baekhyun conseguiu perguntar.

“Aham.” Chanyeol respondeu, sentando-se na beirada de sua cama arrumada.

“Wow.” Ele disse, não sabendo ao certo se ele devia se sentar ao lado de Chanyeol ou ficar de pé. “Eu achei que você era mais esportivo do que musical.”

“Não, eu jogo só por diversão.” Chanyeol explicou, após um pequeno riso. “Mas o que eu gosto realmente de fazer é música. Mas eu sou muito tímido para me juntar a algum grupo de música da escola.”

“Você? Tímido?” Baekhyun riu de leve. Mas, no fim, ele entendia o que Chanyeol queria dizer. Mesmo nas pequenas coisas, quando todo mundo espera que você faça algo, correr atrás de sua verdadeira paixão é muito mais difícil.

“E você? Toca algum instrumento?” Chanyeol perguntou.

Baekhyun só apontou para o teclado, mas arrependeu-se no segundo seguinte. Chanyeol sorriu animado, e o outro sabia quais palavras saíriam de sua boca naquele exato instante.

“Toca algo para mim!”

“Nah.” Baekhyun riu nasalmente. “Eu não sou bom.”

“Aposto que você só está sendo modesto, Baekhyun.” Chanyeol refutou. “Vamos lá, toque algo para mim.”

Baekhyun balançou sua cabeça negativamente, aproximando-se da cama e afastando-se dos instrumentos. Ele olhou brevemente para a pequena mesinha de cabeceira de Chanyeol, onde havia um abajur e dois livros. Um era a autobiografia de Neil Young, o outro era ‘Flores para Hitler’ de Leonard Cohen. Baekhyun sorriu de forma doce ao ver o livro que ele tinha dado para Chanyeol de presente em seu aniversário.

“É um bom livro.” Chayeol disse. “Virou literalmente um dos meus livros de cabeceira.”

Baekhyun olhou para Chanyeol, e seu sorriso pemaneceu perfeito em seus lábios. “Fico feliz.”

“Viu?” Chanyeol começou. “Você devia tocar uma música para mim.”

“O que isso tem a ver com o livro que eu te dei?” Baekhyun inquiriu confuso. “E porque você quer tanto que eu toque algo?”

“Porque eu quero!” Ele respondeu de maneira infantil. “Por favor! Só uma!”

“Se eu tocar, você vai me deixar em paz?” Baekhyun suspirou, não conseguindo dizer ‘não’ para os olhos grandes de Chanyeol. O garoto assentiu animadamente, e Baekhyun não sabia como, mas o sorriso do garoto alargou-se ainda mais.

Ele se sentou no pequeno banco em frente ao teclado, ligando-o. Estalando seus dedos longos, Baekhyun posicionou-os sobre as teclas, tendo em mente uma canção que ele tocara com certa facilidade no fim das férias de inverno.

As notas de ‘All of me’ de John Legend eram produzidas de maneira limpa, mas Baekhyun deixava de fora a letra, afinal ele era inseguro demais para cantar na frente de qualquer um. Ele tinha suas costas viradas para Chanyeol, não percebendo que o garoto tinha levantado de sua cama e se aproximava com calma.

No verso My head’s under water, but I’m breathing fine’ Chanyeol começou a cantar acompanhando a melodia que Baekhyun tocava. Sua voz era grave e baixa perto de Baekhyun, que tentava se concentrar ao máximo com tamanha proximidade. Uma música compartilhada era muito mais íntima do que deveria ser, e Baekhyun sentia uma vontade de chorar por nada. Porque aquela música era tão bela, e eles a cantavam juntos, os murmúrios de Baekhyun tornando-se inaudíveis por causa da voz estável de Chanyeol. Mas, no fim, tudo era uma mentira. Não era íntimo, não era compartilhado. Era só uma música.

Baekhyun deixou suas mãos caírem sobre suas coxas assim que ele tocou as últimas notas, a melodia morrendo aos poucos enquanto o silêncio no quarto voltava com rapidez.

“Você toca bem.” Chanyeol elogiou.

“Você tem uma voz boa.” Baekhyun elogiou de volta. Ele conseguiu controlar suas emoções, deixando de lado qualquer vontade de libertar lágrimas. Afinal, aquilo era só uma música.

“A gente devia começar o trabalho.” Baekhyun sugeriu, levantando-se do pequeno banco em frente ao teclado.

Chanyeol concordou, ligando o computador sobre sua escrivaninha e trazendo mais uma cadeira para seu quarto para que os dois pudessem fazer suas pesquisas de maneira conjunta. Assim, os dois garotos começaram sua tarefa, trocando palavras pragmáticas, que não envolviam silêncios constrangedores e demorados e rubores desnecessários.

Mais tarde, Chanyeol pediu pizza pelo telefone, perguntando para Baekhyun qual era seu sabor preferido. Minutos depois, uma pizza gigante foi entregue, metade presunto com abacaxi e metade marguerita. Chanyeol acabou roubando alguns pedaços de Baekhyun quando ele percebeu que presunto e abacaxi era, de fato, uma combinação boa. Os dois comeram a pizza sentados no sofá em frente a televisão ligada, tomando goles de refrigerantes doces demais. Mas nenhum dos dois prestavam real atenção nas imagens coloridas, pois havia muitos sorrisos, muitas palavras para serem trocadas.

Ainda mais tarde, quando Chanyeol acompanhou Baekhyun até a estação de metrô, Baekhyun acidentalmente deixou escapar que ele escrevia poesias enquanto ele comprava um chá de cidreira e Chanyeol comprava um chocolate quente na cafeteria próxima.

“Você vai ter que me deixar ler suas poesias.” Chanyeol anunciou quando eles saíram da cafeteria, copos de papel esquentando a palma de suas mãos na noite fria.

“Não, definitivamente não.” Baekhyun balançou sua cabeça com veemência.

“Porque não?”

“Nesse quesito eu não vou ceder, Chanyeol.” Baekhyun disse. “Pode esquecer.”

Pelo resto do caminho eles conversaram, e Baekhyun descobriu que Chanyeol queria fazer faculdade de música e nada mais. E quando Chanyeol perguntou o que Baekhyun queria fazer, o garoto simplesmente não sabia responder. E era tão estranho se sentir vazio por causa daquilo, quando todos na idade dele já tinham certeza de suas carreiras futuras.

Baekhyun só queria escrever, mas ele não precisava de um curso superior para fazer aquilo, para ensiná-lo a transformar suas emoções em palavras. Claro, ele poderia aprender teorias literárias, mas não parecia a coisa certa para Baekhyun. Nada parecia ser a coisa certa para ele.

Ele respondeu a pergunta de Chanyeol dando de ombros, e a conversa seguiu enquanto eles seguiam para a estação.

Quando ele se sentou em um dos bancos do metrô e o veículo começou a se movimentar, Baekhyun não pegou seus fones de ouvido para escutar alguma playlist em seu celular. Ao invés disso, ele passou o pequeno trajeto murmurando no fundo de sua garganta o ritmo de ‘All of me’.  


Notas Finais


O poema desse capítulo foi tirado do meu instagram dedicado a kpop vulgo exo vulgo sehun (@bubblesforsehun). Só estou falando isso para evitar problemas... É tudo a mesma pessoa, eu não estou plagiando ninguém.

Enfim, espero que tenham gostado!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...