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História Tudo que há é poesia - Passante


Escrita por: realisse

Notas do Autor


Estou de volta!!!

Capítulo 3 - Passante


Quando Baekhyun acordou no dia seguinte, seu corpo parecia não ter ossos, pois ele estava totalmente relaxado. Ele finalmente tinha conseguido suas preciosas horas de sono perdidas nos dias anteriores. O garoto mexeu suas pernas debaixo das cobertas, espreguiçando-se longamente. Feixes de luz tentavam adentrar em seu quarto pelas suas cortinas fechadas, somente alguns conseguindo, criando uma iluminação desprezível.

Sua mente encontrava-se estranhamente vazia de problemas, e Baekhyun pegou seu celular em seu criado para mantê-la daquela forma. Conectando o aparelho ao wifi da casa e esperando alguma notificação, Baekhyun calmamente acariciou o pelo de Edgar, que ronronou pelo seu toque. Ele só recebera algumas mensagens de Joonmyun e um snap de Luhan.

Joonmyun

Recebi seu e-mail.

Você é o melhor, sabia que podia contar com você, Baek.

Baekhyun

Tudo bem, estou aqui para isso.

Depois de responder Joonmyun, Baekhyun abriu o Snapchat para checar o que Luhan tinha lhe enviado. Era uma única foto de Sehun dormindo ternamente em meio a várias cobertas, seus ombros nus a mostra. Baekhyun sorriu com o que aquela foto explicitava e implicava.

Era sábado. E por isso Baekhyun não precisava comparecer à escola naquele dia. Só este mero fato era capaz de melhorar o humor do garoto, que continuava deitado em sua cama simplesmente porque ele podia.

Baekhyun levantou-se alguns minutos depois, no entanto, abraçando Edgar em seus braços e descendo as escadas com os pés descalços, o tempo todo acariciando o animal. A casa estava vazia, como esperado. Afinal, seus pais trabalhavam aos sábados e Baekbeom, seu irmão, fazia sua residência médica em uma cidade relativamente distante. No início da faculdade do irmão, Baekhyun estranhava a falta do outro, de alguém que sempre estivera presente, mas com o passar dos anos ele acabou se acostumando. Com o tempo ele aprendera a apreciar sua solidão.

Ele depositou o gato no chão assim que chegou na cozinha, recebendo um miado em protesto. Baekhyun riu levemente e abriu a geladeira, pegando uma caixa de leite e servindo o líquido ao animal em um pequeno prato.

“Um prato de leite para Edgar.” Brincou, afagando sua cabeça assim que ele começara a comer.

“E um café para Baekhyun.” Disse, pegando uma chaleira e o pó de café necessitado para preparar sua bebida.

Baekhyun, então, coou seu café e voltou para o quarto, a grande caneca esquentando suas mãos gradativamente. Ele sentou-se em sua cama, pegando On the Road em seu criado e abrindo na página certa. Ele lia com calma a narrativa, bicando a quente bebida entre frases, parágrafos, capítulos.

Algum tempo depois, Baekhyun não saberia dizer quanto, ele fechou seu livro, colocando um fim na constante mudança de posições na cama e no movimento metódico de se passar as páginas. Ele fechou o livro, deixando-o momentaneamente sobre a cama e levantando-se da cama logo depois. Baekhyun andou até sua estante de vinis e passou a estudá-los, decidindo o que ouviria a seguir. Seus longos dedos pararam no vinil da banda britânica Arctic Monkeys, AM. Baekhyun tinha um apreço especial pelo aquele LP em específico, sem nenhuma razão certa aparente. Ele simplesmente gostava das músicas, da voz, das ondas que compunham a capa, das linhas sinuosas que se formavam na sua cabeça quando ele ouvia o álbum. Era relaxante e surpreendente ao mesmo tempo. E Baekhyun amava o limbo que era aquela sensação.

Baekhyun retirou o vinil de sua capa, colocando-o com cuidado sobre a vitrola, que ganhara de presente de seu pai. Em alguns segundos, ele já ouvia o ritmo conhecido da percussão acompanhada de uma guitarra afiada. E então a voz entorpecente de Alex Turner. E a letra de ‘Do I Wanna Know?’ preenchendo seu quarto rapidamente. E as palavras preenchendo seu mundo.

E os versos o lembravam tanto de sorrisos largos e de orelhas grandes, que Baekhyun se deitou na cama de olhos fechados, focando-se na música e no Chanyeol materializado em sua mente. Porque Baekhyun se perguntava se Chanyeol sabia que era sua obsessão, porque ele sonhava com o outro quase todas as noites. Todas as manhãs. E o poeta encontrava melodia na poesia, repetindo-as em sua cabeça e derramando bebidas em sua cama. E Baekhyun queria saber se o sentimento era recíproco, mas sabia que aquilo era impossível. E talvez ele quisesse que Chanyeol ficasse, que Chanyeol notasse. E talvez não.

Talvez ele não quisesse saber de nada.

E o vinil continuava a rodar, os pensamentos de Baekhyun rodando também. Tudo no quarto lhe lembrava Chanyeol. Seu uniforme jogado em um canto do quarto. As músicas de banda britânica. O pom pom de torcida que Sehun lhe dera no último jogo da escola. Os poemas em seu pequeno caderno. Ele próprio. Baekhyun lembrava Chanyeol.

Porque Park Chanyeol estava sempre em si.

Baekhyun concordava com Sehun quando ele dizia que o amigo estava fodido. Afinal, Baekhyun tinha se apegado tanto a figura de Chanyeol que ele simplesmente não conseguia mais se separar. Ele não conseguia mais desprender seu emocional do outro. Chanyeol, de certa forma, o controlava. E Baekhyun só queria ser dele. Ou talvez não.

The ghost in your room/ Run but you cannot hide

E Baekhyun não sabia dizer se o fantasma era Chanyeol ou ele próprio. E ele corria e se escondia. Mas não conseguia se esconder de seus pensamentos. Eles sempre voltavam com força, trazendo dor, soluços, lágrimas...

Chanyeol. Chanyeol parecia sempre tão inatingível, tão distante. E nos míseros momentos em que ele trocava olhares ou palavras com o outro, Baekhyun sentia a necessidade de fugir, calar, desviar. Porque estar perto de Chanyeol o deixava desconfortável. Afinal, Baekhyun gostava de estar longe, observando em silêncio enquanto suas páginas falavam por si.

Turner continuava a cantar, e Baekhyun ainda encarava seu teto revestido em madeira, pensamentos a mil.

Joohyun. A garota apareceu em sua mente. O sorriso que Chanyeol usava ao falar com ela apareceu em sua mente. A inveja também apareceu. Porque Baekhyun invejava Joohyun. Ele a invejava porque ela conversava normalmente com Chanyeol, porque ela tinha sua atenção, seu sorriso, seu desejo. E ele a invejava pelos seus longos e vibrantes cabelos, pelas suas curvas femininas, pela delicadeza de seu corpo e rosto. Baekhyun a invejava tanto.

Música ainda penetrava em seus ouvidos.

Baekhyun. Após pensar em Chanyeol e em Joohyun, ele refletiu sobre seu próprio ser. Baekhyun. Aquele era seu nome, mas às vezes ele sentia que o nome não estava certo. Que o nome não lhe pertencia.

“Byun Baekhyun.” Disse em voz alta, o som sendo abafado pelo vocalista.

Mas o que mais causava desconforto a ele era seu corpo. Com o passar do tempo, Baekhyun aprendeu a odiar sua gaiola. Mas, assim como com o nome, o sentimento não era constante, indo e voltando na sua fluidez. E Baekhyun não sabia porque ele se sentia daquela forma. Ou talvez ele soubesse. Mas não conseguia aceitar.

Porque tinha medo. Medo do que guardava dentro de si. E ele ainda não tinha a chave.

Ele estava perdido dentro do próprio ser.

O garoto, então, moveu sua mão direita e enfiou-a debaixo da camisa de seu pijama, sentindo a pele macia e plana ali. Baekhyun passou algum tempo alisando seu peito, sentindo como só aquilo era capaz de lhe trazer tristeza. Como se não bastasse, ele levou sua mão esquerda a sua calça e pressionou levemente sobre o tecido contra seu membro. Baekhyun sentiu sua respiração ficar presa em sua garganta e ele não sabia se era por medo, excitação ou nojo.

E quando o álbum chegou ao fim, o vinil perdendo velocidade em seu giro e as últimas notas de ‘Stop the world I wanna get off with you’ soando no ar, Baekhyun sentiu lágrimas silenciosas deixando seus olhos e rolando para as cobertas da cama.

~*~

Baekhyun estava tendo uma crise. Às vezes, andando pela casa as lágrimas voltavam com toda força, e ele não podia fazer nada a não ser se encolher e chorar até parar. Além disso, ele não conseguia concentrar-se em nenhum livro que segurava entre suas mãos, a leitura simplesmente não fluía. Ele não conseguia fazer mais nada. Baekhyun não tinha vontade de fazer mais nada.

Por isso, o garoto encontrava-se sentado no sofá da sala, os olhos vidrados em um comercial na tela da TV enquanto abraçava um balde de pipoca. Ele comia as pequenas pipocas brancas compulsivamente, ao invés de um almoço decente. Edgar tinha se juntado a ele no sofá, enrolado em um canto, uma pequena bolinha preta, que dormia ternamente. Baekhyun o acariciava de tempos em tempos, sorrindo para o adormecido animal.

Em algum momento do programa de culinária que Baekhyun assistia, seu celular vibrou ao seu lado. Preguiçosamente, ele pegou o aparelho e o desbloqueou, checando quem tinha lhe mandado mensagens. Só algumas de sua mãe.

Mãe:

Eu e seu pai decidimos passar na casa de sua tia Yang Mi.

Provavelmente vamos demorar aqui.

Tudo bem em você ficar sozinho aí?

Baekhyun:

Tudo bem, se divirtam.

Diga para o Tae que eu sinto a falta dele.

Mãe:

Ok, até mais tarde.

Baekhyun respondeu brevemente, mas antes de bloquear o celular de volta seus olhos estudaram seus contatos mais recentes. Ele, antes que mudasse de ideia, clicou sobre o nome de Joonmyun e escreveu rapidamente, mandando logo depois. Baekhyun realmente precisava de algum conselho.

Baekhyun:

Joonmyun, o que você faz quando está passando por uma crise interna?

Esperando pela resposta do outro e voltando a comer suas pipocas com calma, Baekhyun passou a pensar em seu primo. Ele verdadeiramente sentia a falta de Taehyung e das coisas que eles costumavam fazer quando mais novos. Havia tanto tempo que ele simplesmente não se sentava e conversava com o outro. Baekhyun lembrou, com um sorriso nostálgico, do episódio em que ele e Taehyung trocaram pequenos beijos proibidos em seu quarto. No momento, Baekhyun tinha quatorze anos, enquanto Tae só tinha doze, e eles roubavam selinhos enquanto ouviam Zooey Deschanel. Era o primeiro beijo de ambos, e tinha sido doce, divertido e único. Baekhyun se perguntava quem Taehyung estaria beijando agora.

Suas memórias foram interrompidas, então, quando o celular vibrou mais uma vez, sinalizando a resposta de Joonmyun.

Joonmyun:

Eu faço listas.

Quer ajuda para organizar sua crise em uma lista?

Baekhyun riu. Só Joonmyun faria listas em um momento de crise interna, sempre racional e organizado. Além disso, o caráter maternal de sua segunda mensagem não passara despercebido pelo garoto, que sorriu mais com a preocupação do outro.

Baekhyun:

Não, Joonmyun. Mas obrigado pela ajuda.

Assim, Baekhyun obrigou-se a abrir um bloco de notas que sua mãe sempre deixava sobre a pequena mesa de centro. Ele encarou a folha em branco com a caneta em mãos, pensando sobre como colocar a disforia que sentia em uma lista. Parecia impossível. Baekhyun já se se perguntava se ele não era cisgênero e tal questão o assustava, mas parecia estranho fazer uma lista sobre aquilo também. Cis versus Trans? Não, aquilo soava horrível. Então, ele só jogou o bloco longe, juntamente com a caneta e suspirou longamente em cansaço e estresse.

Porque era tão difícil chegar a uma conclusão?

A pipoca não durou muito depois disso e logo Baekhyun já estava de volta na cozinha. Ele só precisava de uma xícara de chá para se acalmar. Baekhyun esperou que a água esquentasse navegando em seu Instagram recostado na bancada da cozinha. Sehun tinha postado uma foto alguns minutos atrás, e Baekhyun sorriu ao vê-la. Luhan encarava uma bela taça, que parecia conter um elaborado café, como se brigasse com ela, um bico infantil em seus lábios. Sehun escrevera como legenda: “Lu continua com raiva dos pedaços de chocolate que fogem de si”, e Baekhyun sorriu mais, curtindo a foto logo depois.

Quando a água atingiu a temperatura certa, Baekhyun a colocou em uma caneca, jogando o sachê de chá e observando a gradual mudança de cor causada pelas curvas efêmeras, que o lembravam das curvas dos cabelos de Joohyun. Era bonito e durava tão pouco. Assim que ele deu o primeiro gole na bebida, Baekhyun reconheceu o barulho homogêneo da chuva contra o telhado da casa. Ele amava as chuvas das estações mais frias, elas eram mais calmas e contidas, começavam sem que ninguém percebesse e seu cheiro permanecia por horas e horas.

Depois de desligar a televisão, Baekhyun seguiu para o seu quarto novamente, ouvidos atentos ao gentil som da água. Ele se sentou no chão de seu quarto, observando o cair contínuo das gotas pela janela enquanto tomava pequenos goles de chá. Era impressionante como o fenômeno era capaz de chamar sua atenção e de o inspirar, tirando Chanyeol de sua cabeça um pouco. Mas era irônico, porque quando ele pensava que a chuva conseguia inspirá-lo ele logo pensava em Chanyeol, sua musa original.

Seu dedo traçava as formas de sua caneca, e Baekhyun dividia seu olhar entre o líquido que segurava e o que não segurava.

“Chá e chuva...” Murmurou. “Chuva e chá...” Sorriu. A sonoridade era bela, e havia folhas e canetas não muito longe de si.

Em segundos, já tinha em suas mãos o que precisava, sua mente borbulhando com palavras que enriqueceriam a sonoridade. Sua cabeça fundia fonemas, líquidos, pessoas.

E o lápis se movia, tendo como combustível chá e chuva.

E algo novo se formava enquanto a caneca se esvaziava e as nuvens sumiam no céu.

 

Chá e chuva

 

O chorar da chuva chega.

A xícara cheia de chá chama.

 

Choro

 

Minha chave não acho.

Minha chave é sua.

 

Choro

 

Sua chegada machuca.

Murcho como sachê de chá.

 

Chá é chuva.

             -Byun.

 

Baekhyun releu em voz alta o poema que escrevera na folha avulsa, estudando como ele fundira chuva e Chanyeol ao seu eu lírico. E ele chorou mais um pouco, como no poema. Tudo aquilo era tão desconfortável para o garoto, pois Baekhyun nem sabia porque chorava, porque sentia tristeza e dor. E a falta de respostas o confundia ainda mais sobre tudo o que se passava dentro de si.

E ele não sabia como chegar a uma resposta, sentindo-se em um limbo existencial. Ele poderia conversar com Luhan, pois ele sempre o ajudava, mas parecia que naquele momento nem aquilo resolveria o problema. Porque além das respostas Baekhyun também não tinha as perguntas. Ele não entendia.

Baekhyun pensou sobre toda aquela situação durante horas, revolvendo seus pensamentos constantemente em um ciclo vicioso. Há muito a chuva já tinha cessado e o chá esfriado, mas o poema permanecia vivo, tanto em palavra quanto em sentimento.

Faltavam poucas dezenas de minutos para as cinco da tarde quando o telefone de Baekhyun tocou, assustando-o levemente. Era raro, se não inexistente, as circunstâncias em que ele recebia ligações em seu celular, então Baekhyun pegou o aparelho vagarosamente, estudando quem estava ligando. Era Sehun, e ele atendeu sem hesitar.

“Sehunnie?” perguntou assim que tinha o celular em uma de suas orelhas.

“Baekhyun! Aqui é o Luhan, na verdade.” Luhan disse, e o sorriso era perceptível em seus lábios.

“A quê devo a honra de interromper seu encontro com o Sehun?” Baekhyun perguntou, rindo levemente no fim.

“Bom, eu e o Sehun estamos aproveitando essa tarde desde muito cedo...” Luhan começou. “E nós estávamos pensando em comer um belo hambúrguer agora.”

“E?” Baekhyun perguntou não entendendo onde Luhan queria chegar.

“E você podia aparecer aqui, a gente quer a sua companhia.”

“Porque?”

“Porque você deve estar sozinho nessa casa e você só sai daí para ir para a escola. Você precisa aproveitar mais o tempo. E a gente quer te ver.” Luhan explicou.

“Você sabe que se eu for aí vou ficar reclamando o tempo todo, certo?” Baekhyun disse.

“Aham, mas a gente te quer aqui.” Luhan insistiu.

“Lu... Estou com muita preguiça.” Ele reclamou.

“Ah nem, Baek. Deixa essa preguiça de lado.”

Baekhyun, então, ouviu o telefone sendo passado para outra pessoa, e logo a voz de Sehun soava pelo aparelho.

“Baek, eu estou te obrigando a tirar sua bunda preguiçosa de casa e aparecer aqui.”

“Sempre tão convincente, Sehunnie.” Baekhyun comentou sorrindo.

“Pois é. Enfim, nós estamos prestes a comer na sua lanchonete preferida, então você tem a obrigação de nos encontrar.”

“Sério?”

“Sério.” Sehun respondeu instantaneamente.

“Vocês aceitam ‘não’ como resposta?”

“Não.”

Baekhyun suspirou longamente e bagunçou seus cabelos, já andando na direção de seu armário.

“Ok, eu apareço aí.”

“Yay! Você quer que a gente já peça seu hambúrguer?” Ele ofereceu.

“Aceito. O Luhan sabe qual é o meu preferido.”

“Ok. Vista algo que te deixe irresistível. E não demore.”

“Tá bom, tá bom.” Baekhyun concordou, estudando as roupas que seus cabides exibiam.

“Até logo, Baek.” Sehun disse.

“Até logo.” Ele respondeu, desligando o celular logo depois.

Baekhyun escolheu sua roupa rapidamente, jogando as peças sobre a cama e dirigindo-se para o banheiro para um banho rápido. Ele fez questão de não demorar, já que Luhan e Sehun já estavam na lanchonete, e logo ele já vestia a calça preta rasgada e uma blusa básica, seu casaco por cima e tênis nos pés. Seu cabelo ainda pingava sobre suas roupas, mas ele realmente não tinha tempo para secá-lo. O garoto colocou ração para Edgar e sua carteira e chaves no bolso de sua calça, saindo de casa e trancando-a.

Ele andou por algumas ruas até a estação de metrô, checando as horas no celular. Ainda não era cinco e meia, e Baekhyun convencia-se de que ele não fizera seus amigos esperar demais. Ele não teve que esperar o metrô por muito tempo, permanecendo em pé no veículo, já que ele já desceria na terceira estação para a lanchonete onde eles estavam.

Um garoto sentado não muito longe de si o observava, Baekhyun percebeu. Ele era charmoso. Seus olhos eram bem pequenos e parecia haver uma leve maquiagem ali, evidenciando-os. Seus lábios, no entanto, eram grossos, e o menino usava um boné ao contrário sobre seus cabelos castanhos. Suas roupas eram pretas e os dedos que seguravam seu celular exibiam diversos anéis. Quando ele sorria na direção de Baekhyun seus olhos ficavam ainda menores, e o outro sentia seu peito contrair com a atenção. Sempre que o desconhecido sorria, Baekhyun retribuía o sorriso de forma tímida, desviando o olhar da mesma forma.

A troca durou pouco tempo, no entanto, pois Baekhyun precisava descer rapidamente do metrô. Quando sua estação foi anunciada, ele mais uma vez observou o belo menino, sorriu e saiu do veículo. Os olhos do garoto traziam ao corpo de Baekhyun algo novo, uma atenção que normalmente ele não recebia.

Baekhyun pegou seu celular enquanto andava para fora da estação, olhando seu reflexo. Seu cabelo estava metade molhado metade seco, apontando para diferentes direções, e Baekhyun sentia-se feio. E todos os sorrisos que o garoto lhe direcionara, de repente, pareciam de deboche ao invés de apreço. E a atenção que ele recebera não parecia mais tão boa.

Suas pernas pareciam mais cansadas no caminho para a lanchonete.

Não demorou muito e logo Baekhyun estava em frente a pequena casa amarela, subindo preguiçosamente os degraus que levavam a entrada da lanchonete. Logo que ele entrou, Baekhyun percebeu que Sehun e Luhan encontravam-se em uma mesa no fundo, entretidos em qualquer conversa que eles estivessem tendo. Uma mesa mais próxima de si, no entanto, chamou sua atenção quase que instantaneamente. A mesa mais próxima de si continha Yixing, Jongin, Minseok, Jongdae e Chanyeol.

Chanyeol estava de costas para a entrada, não vendo Baekhyun no primeiro instante. Yixing, porém, acenou de leve para ele logo que eles fizeram contato visual, sorrindo com suas covinhas. Baekhyun retribuiu timidamente. E assim mais quatro pares de olhos se voltaram em sua direção, curiosidade por trás deles. O garoto rapidamente abaixou seus olhos, desviando a mesa e seguindo para onde seus amigos estavam.

“Oi.” Baekhyun cumprimentou assim que se sentou na cadeira vazia.

“Baek!” Luhan sorriu.

“Você chegou na hora certa, os hambúrgueres acabaram de chegar.” Sehun comentou, observando os três pratos intocados sobre a mesa.

“Vocês me chamaram aqui de propósito, não foi?” Baekhyun perguntou, acusação em sua voz.

“Não sei sobre o que você está falando.” Sehun brincou, mas Baekhyun não queria brincar.

Luhan.” Ele chamou, e seu tom exigia explicações.

O garoto tirou seus olhos da comida sobre a mesa e apagou seu sorriso, focando seus olhos nos de Baekhyun.

“Nós já estávamos pensando em te chamar para sair, Baek. E quando a gente chegou aqui, eles estavam ali... E parecia uma boa ideia te chamar. Foi só mais um fator que influenciou, Baek.”

“Não fique com raiva, ignore aquela mesa e saboreie seu hambúrguer.” Sehun instruiu, e Baekhyun decidiu não guardar rancor das ações dos amigos. No entanto, eles realmente precisavam parar de brincar de cupido.

Ele sorriu e recebeu dois sorrisos de volta. Após a primeira mordida na comida, Baekhyun já sentia-se no céu, encantado com o que sentia em suas papilas gustativas. Os três passaram certo tempo em silêncio, cada qual apreciando seus pratos sem palavras.

“A roupa está ótima, Baek...” Sehun começou depois de alguns minutos. “Mas você não está irresistível.”

“Bom...” ele começou, pausando para dar goles em seu refrigerante. “Eu tive que sair o mais rápido possível de casa, então...”

Quando Baekhyun riu de leve para si próprio sem nenhum motivo aparente, Luhan perguntou o motivo da risada. E Baekhyun só sorriu mais.

“Tinha esse cara... No metrô. Ele estava constantemente me encarando.”

“Meu deus... Fala mais!” Sehun pediu animado.

“Ele passava um ar meio punk, sabe? Roupas pretas, maquiagem, acessórios... Mas ao mesmo tempo seu sorriso era infantil e delicado. E era uma combinação que dava certo. Eu acho que, na verdade, ele estava me encarando por causa do meu cabelo ridículo que estava uma bagunça.” Baekhyun desenvolveu.

“Eu duvido.” Luhan respondeu. “E você sabe que você fica fofo com o cabelo bagunçado.”

“Não faz muito diferença, no fim. Afinal, é provável que eu nunca mais o veja.” Baekhyun deu de ombros, mordendo seu hambúrguer mais uma vez.”

“É uma pena...” Sehun comentou.

“Eu devia dedicar ‘À une passante’ a ele. É perfeito.” Baekhyun disse, mais para si do que para os outros dois.

“Esquece Baudelaire um pouco, Baek.” Luhan disse, e a provocação era evidente.

“Nunca.” Ele respondeu, mostrando a língua para o outro.

Sehun, então, pegou seu copo de refrigerante e levantou-o acima de suas cabeças, uma expressão séria estampada em seu rosto. Luhan e Baekhyun o olharam intrigados.

“Dedicatória a um estranho” Sehun começou e ele lutava contra um sorriso. “Levantem seus copos. Baek, recite Baudelaire.” Ele ordenou depois.

“Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,/ Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!” Ele recitou os dois últimos versos, ainda segurando seu copo junto com seus amigos.

Luhan foi o primeiro a começar a rir, sua risada alta contaminando Sehun e Baekhyun, que logo riam também. O pequeno ritual tirava risadas estéricas dos garotos, e eles sabiam que tinham a atenção de muitas mesas, mas não se importavam. Naquele momento só existia os três, hambúrgueres e Baudelaire. Naquele momento só existia a risada e um estranho em um metrô.

A risada de Baekhyun cessou, no entanto, quando ele percebeu qual par de olhos o observava avidamente. Ele olhou nos olhos de Chanyeol por alguns segundos, desviando o olhar não muito tempo depois. Buscando distrair sua mente, Baekhyun disse a primeira coisa que veio em sua mente.

“Ah, Sehunnie... Adorei a foto que você postou hoje.” Comentou sorrindo.

“Ah, valeu.”

“Que foto?” Luhan perguntou, já pegando seu celular para checar.

Poucos segundos depois, Luhan já batia no braço do namorado, reclamando da foto postada. Sehun só ria, desviando dos ataques do outro e argumentando que ele estava adorável na foto.

“Eu não quero ser adorável...” Reclamou Luhan, um biquinho infantil nos lábios. Era adorável.

“Porque, Lu?” Sehun inquiriu, já sabendo o que ouviria com resposta.

“Você gosta de caras fortes e... sei lá, viris.” Luhan respondeu em voz baixa.

“Eu gosto de caras como você, Lu.” Ele respondeu sorrindo. Logo depois sussurrou pausadamente. “Você é minha estética.”

Luhan corou fortemente, e Sehun aproximou seus lábios aos do outro, beijando-o com calma e carinho, somente um pressionar de lábios. Baekhyun, que antes observava calado, resolveu intervir naquele momento.

“Ok! Podem parar de flertar na minha cara!”

Sehun e Luhan afastaram-se sorrindo e corando, e Baekhyun não conseguia fingir que estava verdadeiramente irritado. Os três passaram a conversar casualmente, até que se levantaram para pagar e sair da lanchonete. Estranhamente, assim que os três se levantaram Chanyeol e seus amigos também começaram a se levantar, movendo-se preguiçosamente. Baekhyun os observou com apreensão, mas ainda assim seguiu seus amigos para o caixa do lugar.

Aconteceu aquilo que Baekhyun mais temia. Sehun conversava com Yixing com animação. Luhan falava algo com Minseok, e desde quando eles têm algum assunto? Jongin e Jongdae também conversavam entre si, enquanto Baekhyun permanecia em pé e calado, em meio a palavras e alheio a todas elas. Chanyeol estava ao seu lado, igualmente calado, e era tão estranho e desconfortável tê-lo ali.

“Ei.” Chanyeol disse do nada, assustando o outro com sua voz súbita e grave.

“Ei.” Baekhyun respondeu encarando seus tênis All Star e os Vans que Chanyeol usava.

“Hum, você mora aqui perto?” O garoto perguntou, e Baekhyun não fazia ideia de onde Chanyeol queria chegar. Provavelmente a lugar nenhum. Conversa casual.

“Aham, não muito longe.” Ele falou, surpreso com sua voz que não falhava.

Chanyeol concordou com a cabeça, murmurando um “entendi...” mais para si do que para o outro. E assim eles caíram em mais um silêncio desconfortável e estranho, Chanyeol observando os outros garotos e Baekhyun observando os sapatos de cada um.

Baekhyun sentiu-se mais leve quando os dois grupos se separaram, libertando o ar de seus pulmões que ele não percebera que segurava. Ele rapidamente despediu-se de Luhan e Sehun, abraçando-os e beijando suas bochechas, logo depois, rumando para a estação novamente.

O tempo voara, pois já era tarde e a estação não encontrava-se tão cheia. Baekhyun pegou seu respectivo metrô, sentando-se em um banco próximo a porta. Em seu vagão só havia um homem em seu terno amarrotado que provavelmente devia ter seus cinquenta anos e uma garota talvez em seus vinte anos, entretida em seu celular.

Baekhyun não prestou muita atenção em nenhum dos dois, observando pela janela as imagens desconexas que a velocidade do veículo formava.

Baekhyun sentia falta de certa atenção.

E ele não sabia se sentia falta dos olhos gentis de um desconhecido ou dos olhos curiosos de uma musa.


Notas Finais


Ok, interações do ship... 💕💕

Enfim, queria agradecer todo mundo que tá lendo essa fic, além dos comentários e dos favoritos. Vocês são lindos!


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