1. Spirit Fanfics >
  2. Tudo que há é poesia >
  3. Almoço de domingo

História Tudo que há é poesia - Almoço de domingo


Escrita por: realisse

Notas do Autor


Eu super sumi, não foi?? Bom, entre outras coisas, o wifi da minha casa resolveu estragar e só foi arrumado hoje.

Por isso, eu vou postar dois capítulos hoje yaaay! Espero que gostem...

Capítulo 8 - Almoço de domingo


Baekhyun acordou na manhã seguinte com batidas fortes e contínuas em sua porta. Ele demorou longos minutos para sair de seu sono e perceber as batidas e o seu nome sendo chamado pela voz conhecida de seu pai. Ele se mexeu na cama, percebendo que ainda usava as mesmas roupas do dia anterior e que suas cobertas estavam mais no chão do que sobre a cama. Seu pai continuava a bater na porta, e sua cabeça latejava a cada batida.

“Que foi?” Baekhyun perguntou, fungando seu travesseiro.

“Levanta daí, Baekhyun. Seu irmão chega em meia hora.” Seu pai respondeu, e então o garoto ouviu passos se afastando dali.

Baekhyun respirou fundo, rolando e se espreguiçando sobre a cama bagunçada. Logo ele se sentou e passou a mão pelos cabelos, sua cabeça doía e seu corpo parecia não ter ossos. Baekhyun tinha algumas lembranças animadas do dia anterior, mas tudo estava embaçado em sua mente. A grande questão, no entanto, era como ele tinha chegado em casa. Porque Baekhyun não fazia a menor ideia de como ele tinha saído da casa de Jongin e chegado a sua.

Ele se lembrava que às duas da manhã ainda estava na casa de Jongin, a festa terminando aos poucos, copos de plástico no chão e lixeiras cheias de garrafas. De alguma forma desconhecida ele chegara em casa, indo direto para a cama. Baekhyun olhou para o relógio ao lado de sua cama. Ele marcava 9:24 da manhã. Suspirou mais, tinha dormido tão pouco e seu corpo reclamava a cada movimento.

Mas ele tinha que se preocupar com aquilo mais tarde, pois Baekbeom chegava em meia hora, e ele precisava estar apresentável.

Baekhyun descartou as roupas que usava pelo quarto, dirigindo-se ao banheiro. Ele abriu a torneira do chuveiro, e enquanto esperava a água esquentar Baekhyun procurou por aspirinas nas gavetas do banheiro. Sua dor de cabeça o matava, e ele só queria um alívio rápido. O garoto engoliu dois comprimidos em seco antes de deixar a água quente o relaxar, molhando seus cabelos e seu corpo.

Vinte minutos depois, Baekhyun saía do banheiro, dor de cabeça levemente melhor e corpo relaxado. Ele vestiu uma roupa confortável, calças largas e um moletom antigo, descendo as escadas com os cabelos ainda molhados. Baekhyun só precisava de uma xícara grande de café, o que terminaria de curar sua cabeça.

Assim que ele colocou seus pés na sala, Baekhyun soube que sua mãe começaria uma discussão inútil. Seus pais estavam bem vestidos, diferentemente de Baekhyun, que prezava seu conforto em detrimento de sua elegância. Ele estava em casa, afinal.

“Baekhyun, que tipo de roupa é essa?” Ela perguntou, e Baekhyun quase começou a rir. Tão previsível.

“Uma roupa normal, mãe.” Respondeu enquanto preparava um café para si.

“Seu irmão está quase chegando. Você não podia se esforçar mais?” A mulher insistiu, e Baekhyun ouviu seu pai suspirando ainda entretido em uma revista.

“E daí? É só o Baekbeom. Não é como se ele não tivesse me visto em roupas piores.”

“A namorada dele também está vindo, Baekhyun. Que tipo de imagem você quer passar?” Ela continuou.

“Nenhuma.” Baekhyun riu de leve, brincando logo depois. “Eu tenho que ficar feio, para ela não trocar o Baekbeom por mim.”

“Quem trocaria o Baekbeom por você, Baekhyun?” Ela perguntou, e Baekhyun riu mais entre goles em seu café.

“Boa pergunta.”

A discussão foi interrompida por três toques gentis na porta, e Baekhyun recostou-se na mesa, ainda bicando seu café. Sua mãe suspirou irritada antes de dirigir-se até a porta, colocando um sorriso em seus lábios, já que seu primogênito voltava a casa.

“Baekbeom!” Ela exclamou feliz, abraçando o filho com força. Havia uma garota loira atrás de Baekbeom e várias malas ao redor do casal.

Baekbeom riu junto com a mãe, retribuindo o abraço. Seu pai também tinha se aproximado, dando tapas nas costas do filho. A garota entrava na casa receosa, sem saber como se comportar, mas seus pais logo a abraçaram, dizendo que ela era bem-vinda sempre que quisesse.

“Essa é Kim Hyoyeon, minha namorada.” Baekbeom apresentou a garota, que se abaixou respeitosamente, sorrindo ternamente.

“Obrigada por me receberem.” Hyoyeon disse.

Hyoyeon tinha seus cabelos curtos descoloridos em um loiro platinado, não era alta e seu rosto era angelical e calmo. Ela usava uma calça jeans básica, uma camisa social branca e um casaco preto, sorrindo constantemente.

“É um prazer querida! Eu sempre estou no meio de homens, vai ser bom ter uma companhia feminina!” Sua mãe respondeu, ajudando os dois com as malas.

“Cadê o Baekhyun?” Baekbeom se perguntou, seus olhos estudando a casa. Ele parou no irmão, um sorriso se estampou em seus lábios e ele começou a se aproximar.

Baekhyun sorriu e largou a xícara de café, aproximando-se também e encontrando o irmão no meio do caminho. Eles se abraçaram com força, eliminando a distância entre eles. Apesar das divergências, Baekhyun amava seu irmão. Era bom tê-lo de volta.

“Como meu irmãozinho está?” Baekbeom perguntou, bagunçando os cabelos ainda molhados do outro.

“Eu não sou mais uma criança, ok?” Baekhyun reclamou, mas seu irmão só riu.

“Você sempre vai ser meu ‘irmãozinho’.” Ele respondeu antes de pegar o pulso de Baekhyun, puxando-o para perto de Hyoyeon.

“Muito prazer, Hyoyeon.” Baekhyun disse, sorrindo para a menina e estendendo sua mão para ela.

“Prazer.” Ela respondeu, pegando a mão de Baekhyun. “O Baekbeom fala muito de você.”

“Não sei se devia estar aliviado ou preocupado.” Ele brincou, olhando para o irmão com o canto dos olhos.

O casal riu com a brincadeira, e seus pais seguiram o exemplo. Apresentações feitas, o grupo entrou na casa, sentando-se nos sofás da sala.

“Baekhyun, me ajude a levar as malas para os quartos.” Sua mãe pediu, e Baekhyun não discutiu pegando uma mala em cada mão.

“Eu posso ajudar.” Hyoyeon sugeriu, mas foi interrompida.

“Não se preocupe, querida. Você é uma convidada aqui.” A mulher disse, começando a subir as escadas.

Baekhyun a seguiu, carregando as malas com dificuldade em seus braços fracos. Sua mãe o instruiu a colocar as malas de Hyoyeon no quarto de hóspedes, e Baekhyun riu internamente com o conservadorismo da mulher, mas fez o que lhe foi pedido. Quando ele estava descendo as escadas novamente, ela o parou na escada.

“Vou fazer um almoço mais tarde para o Baekbeom e para a família toda.” Ela começou. “Coloque uma roupa melhor antes.”

Baekhyun assentiu e ela continuou a andar. Ela realmente não aceitava perder um argumento, pensou antes de voltar para a sala. Sua mãe dizia a Hyoyeon que suas malas estavam no quarto de hóspedes, e Baekhyun conseguia ver que Baekbeom não aprovava a decisão. Mas ele não ousava contestar a decisão da mãe. Velhos hábitos dificilmente morrem.

“Você é formada em quê?” Seu pai perguntou a menina, assim que Baekhyun se sentou no sofá.

“Hum... Veterinária.” Hyoyeon respondeu, e Baekhyun conseguia perceber que ela estava desconfortável. Mas então Baekbeom começou a falar sobre sua vida na cidade distante, e o silêncio a salvou.

Baekhyun realmente não queria estar no lugar de Hyoyeon, pois a atenção sempre era voltada para ela, mais cedo ou mais tarde. Baekhyun não queria estar em seu lugar e não queria colocar ninguém ali. Mas, no fim, Baekhyun não precisava se preocupar, já que ele não tinha planos de apresentar um namorado para sua família. Afinal, ele ainda precisava de um teto para morar.

Com os seus pais entretidos no jovem casal, Baekhyun sentiu-se livre para pegar seu celular no bolso da calça, procurando uma forma de distração. Entrou no grupo ‘Árvore BKLS’ e começou a digitar, o celular pousado em seu colo.

Baekhyun:

Eu gostaria de saber como eu cheguei em casa depois daquela festa.

Isso está me intrigando desde que acordei.

Você não vão me responder, certo? Devem estar todos dormindo.

Coisa que eu estaria fazendo se meu pai não tivesse me acordado.

Tudo porque o Baekbeom voltou... Ele podia ter chegado umas horas mais tarde. Sério.

Baekhyun voltou a guardar o celular, sabendo que não receberia uma resposta em breve. Ele passou, então, a observar entediado o que os outros faziam. Sua mãe preparava um chá na cozinha, seu pai e seu irmão conversavam sobre carros e Hyoyeon observava a casa em silêncio, seus dedos entrelaçados nos de Baekbeom.

A hora do almoço se aproximava com calma após várias xícaras de chá quente na manhã fria, e logo Baekhyun estava na cozinha ajudando sua mãe com o iminente almoço. Não havia muito o que ser feito, já que a maioria dos pratos já tinham sido temperados, mas ainda assim Hyoyeon ofereceu sua ajuda.

“Eu já disse que não precisa, querida.” Sua mãe respondeu, pousando um grande prato sobre a bancada. “Você deve estar cansada com a viagem. Eu e o Baekhyun podemos tomar conta disso sozinhos.”

“Eu insisto, senhora.” Hyoyeon respondeu, arregaçando as mangas de sua camisa e lavando suas mãos na pia da cozinha.

“Você é um doce.” A mulher disse sorrindo. “Você é Baekbeom realmente foram feitos um para o outro.”

A garota riu de leve, e Baekhyun revirou seus olhos quando sua mãe não era capaz de vê-lo. Porque há coisas que não se diz para um casal recém formado, e aquela era uma ótima maneira de afastar uma garota legal da família.

Os três corpos começaram a se mover na cozinha, cada um entretido em sua própria tarefa, raras trocas de palavras entre os trabalhos manuais. Em determinado momento, a mãe de Baekhyun saiu da cozinha, dizendo que arrumaria a sala e deixando Hyoyeon e o garoto em um silêncio desconfortável.

“Você não é muito de palavras, certo Baekhyun?” Ela quebrou o silêncio, cortando fatias de tomate com agilidade. O garoto riu levemente.

“Não das faladas.” Baekhyun respondeu, e Hyoyeon retribuiu seu riso. “Mas eu gosto bastante das escritas.”

“Eu ainda não te conheço direito, mas acho que já percebi que você e o Baekbeom são bem diferentes.” Ela comentou, e Baekhyun suprimiu um suspiro. Sua vida toda fora uma comparação em relação a de Baekbeom; todos faziam aquela comparação, até mesmo ele próprio.

“Como vocês se conheceram?” Baekhyun perguntou, desviando o foco da conversa. Ele podia ver a surpresa nos olhos da menina, mas ele realmente não se importava.

“Bom... Ele fazia medicina e eu veterinária, então a gente tinha algumas aulas juntos. Muito poucas, na verdade. Um olhar levou a outro e assim as coisas continuaram.” Hyoyeon explicou, focando-se no legume que tinha em mãos. “É uma história bem sem graça. Nada de muito interessante.”

“Dizem que esse é o melhor tipo de relacionamento, no entanto.” Baekhyun disse confuso, não sabendo ao certo como Hyoyeon se sentia.

“Eu discordo. Não que eu esteja descontente, Baekhyun. Não me entenda errado, eu amo o seu irmão.” Ela começou, e um leve rosado tingiu suas bochechas. “Mas você não acha que é mais emocionante quando há lágrimas, e discussões, e raiva... e, depois, amor?”

Baekhyun sorriu largamente. Hyoyeon sabia do que falava.

“Definitivamente.”

“Definitivamente o quê?” Sua mãe escolhera aquele momento para entrar na cozinha e na conversa.

“Eu definitivamente preciso trocar de roupa, porque logo pessoas chegarão, certo?” Baekhyun disse, observando o relógio preso a parede da cozinha.

Ele lavou sua mão rapidamente, sentindo seu celular vibrar com notificações no bolso de sua calça. Assim que ele saiu da cozinha, Baekhyun desbloqueou o aparelho, dirigindo-se ao seu quarto em passos extremamente lentos.

Kyungsoo:

Eu te levei para casa, Baek.

Porque você estava bêbado e, aparentemente, eu sou o único que consegue lidar com álcool aqui.

Ah, o Jongin teve que me ajudar a te colocar dentro do táxi. Você devia se desculpar mais tarde.

Baekhyun:

O quê???????????

Meu deusss, que vergonha, Soo!!!

Kyungsoo:

Não se preocupe, na verdade. Ele estava tão bêbado quanto você, então nem deve se lembrar. Mas ele continua forte mesmo bêbado então...

Sehun:

Huuummm... Alguém anda checando os músculos de outro alguém!

Luhan:

Minha cabeça dói só de olhar para essa tela.

Baekhyun:

Cuidem bem da ressaca de vocês.

Eu tenho um clássico almoço de domingo agora.

Sehun:

Ugh, que nojo.

Kyungsoo:

Boa sorte, Baek. Não morra.

Baekhyun riu com as mensagens finais de seus amigos e abriu a porta de seu quarto, entrando com calma no cômodo. Logo, ele procurava pelo seu armário roupas adequadas, aquelas que sua mãe não começaria mais uma discussão sobre. Porque Baekhyun estava cansado e a única coisa que ele queria era ser esquecido.

Talvez momentaneamente, talvez para sempre.

Logo que Baekhyun trocou de roupa e escovou seus dentes, ele estava de volta à sala de visita da casa onde alguns de seus parentes já se acomodavam. Baekhyun cumprimentou todos normalmente, prolongando-se em algumas conversas sobre seus estudos e escolhas futuras.

Assim que Baekhyun entrou na cozinha, checando se Hyoyeon ou sua mãe precisavam de ajuda, ele ouviu batidas na porta da frente.

“Baekhyun, você pode abrir para mim?” Sua mãe pediu, e Baekhyun assentiu, saindo da cozinha assim que entrara.

Quando Baekhyun abriu a porta, seu rosto explodiu em um sorriso ao ver quem estava do outro lado. Ele abraçou Taehyung com força, e o primo retribuiu o abraço instantaneamente, rindo levemente junto com o outro. Recuperando-se da surpresa de ter visto Taehyung, Baekhyunk cumprimentou seus tios com calma, abrindo espaço para que eles entrassem na casa.

“Você parece surpreso em me ver, Baek.” Taehyung disse enquanto o outro fechava a porta.

“Quando minha mãe disse que toda a família estava vindo, eu não associei que você viria também.” Baekhyun explicou, e Taehyung riu.

“Fico feliz em ouvir isso, ok?” Ele brincou, fingindo estar ofendido.

“Não é isso, Tae.” Baekhyun respondeu. “Eu cheguei duas da manhã em casa, acho que minha cabeça ainda não está funcionando direito.”

“Ah, está explicado. Qual foi a ocasião?” Taehyung perguntou.

“A gente ganhou uma partida de futebol americano ontem de manhã. A comemoração acabou durando muito tempo.”

“Por favor me diga que você passou o rodo.” Taehyung provocou, mexendo suas sobrancelhas sujestivamente.

“Taehyung!” Baekhyun exclamou, pousando um soco no ombro do primo. “Não, eu não fiz isso.”

“Mas devia ter feito.”

“Eu tenho lembranças vagas de ter dançado pra caralho, se isso te satisfaz...”

“Sim! Anda, Baekhyun, me conta mais!” Taehyung pediu animado, e Baekhyun começou a falar sobre o que lembrava da festa do dia anterior.

Enquanto os dois meninos conversavam, mais parentes chegavam, cumprimentando-os, mas Taehyung e Baekhyun mantinham-se entretidos na conversa entre si. Quando o almoço começou a ser servido, os dois garotos prepararam pratos para si e foram para o lado de fora da casa, já que a pequena mesa não era capaz de comportar tantas pessoas.

Baekhyun e Taehyung sentaram-se no banco de madeira do jardim, conversando entre mastigadas e goles nas pequenas taças de vinho.

“E aquele cara?” Taehyung perguntou, ajeitando o prato em seu colo.

“O Chanyeol? A gente conversa um pouco, mas nada mais do que isso. Estritamente amigável nossa relação.” Baekhyun respondeu.

“Qual é, depois de ver seus quadris se mexendo aposto que isso mudou.” O outro disse, mais uma vez movendo suas sobrancelhas.

“Taehyung, você não presta.”

“Não mesmo.”

“Ah, porque você não trouxe seu namorado hoje?” Baekhyun perguntou pouco tempo depois. “Seria uma boa oportunidade para a gente se conhecer.”

“Não, acho que seria estranho. Como você sabe, nossa família está cheia de preconceitos ainda.” Taehyung disse, e Baekhyun assentiu resignado. “Mas e a namorada do Baekbeom... Como ela é?”

“Ela é legal.” Ele começou. “Nós conversamos pouco, mas eu senti que ela é interessante demais para o meu irmão.”

“Você é uma pessoa horrível, Baek.” Seu primo disse, escondendo seu sorriso malicioso. “Falando mal do próprio irmão.”

“Não estou falando mal dele, mas a convivência faz coisas com você.” Baekhyun explicou, fazendo o outro rir.

Em breve, os dois pratos estavam vazios, e Baekhyun encarou seu colo antes de falar novamente.

“Eu quero te contar uma coisa, Tae.”

“Então conte. Você está me deixando preocupado com essa preliminar.”

“Aqui não.” Baekhyun respondeu, levantando-se do banco de madeira com o prato em mãos. “Vamos para meu quarto... E não precisa se preocupar, idiota.”

Os dois entraram dentro da casa, deixando as vasilhas sujas na cozinha antes de subirem as escadas, em meio as conversas e risadas altas da família.

“Seu quarto ainda é um inferno?” Taehyung perguntou, e Baekhyun riu alto.

“Se me lembro bem, o seu não era muito melhor.”

“É, você tem um ponto.” Ele disse, assim que Baekhyun abriu a porta de seu quarto e os dois entraram.

Taehyung instantaneamente sentou-se sobre a cama bagunçada de Baekhyun, pois a intimidade entre eles permitia. Baekhyun mexia em uma caixa de som, acoplando seu celular a ela. Logo, ‘I could’ve been your girl’ começou a tocar, e Taehyung estranhou a escolha específica de Zooey Deschanel.

“Posso te perguntar porque essa música especificamente?” Taehyung perguntou, e Baekhyun se juntou a ele na cama rindo de leve.

“Eu só acho que ela combina com a gente. Mas pode ficar tranquilo, o que eu preciso te dizer não é uma confissão bizarra de amor de primo para primo.”

“Eu não estava com esse medo, ok?”

“Tá bom, sei.” Baekhyun provocou.

“Ok, o que você quer me contar?” Taehyung inquiriu.

Agora que Baekhyun precisava falar, as palavras pareciam presas em sua garganta, o peso de ter que se assumir novamente sobre seus ombros. Ele conhecia Taehyung, confiava no primo, mas a ideia de falar tão abertamente sobre ele, sobre o que ele sentia era aterrorizante em qualquer situação.

Baekhyun sabia que Taehyung o apoiaria, mas Baekhyun não sabia se ele próprio se apoiaria.

Até aquele momento, só Luhan sabia sobre suas questões de gênero. Baekhyun queria contar para Sehun e Kyungsoo também, mas parecia nunca haver uma hora certa. Ele queria contar para seus amigos, porque gênero fluido não era o que ele era, mas sim parte do que ele era. E era tão difícil proferir aquelas palavras, aceitá-las e degluti-las.

Baekhyun queria que Taehyung soubesse, mas ao mesmo tempo Baekhyun só queria se fechar na cela de seu quarto, empurrando seus problemas para o lado, empurrando o mundo para fora.

“Baekhyun?” Taehyung chamou, quebrando a linha de pensamento do menino.

“Ah, o que eu quero te contar é que...” Ele começou, coçando sua nuca e observando suas pernas cruzadas sobre o colchão.

"Baekhyun, você sabe que pode me contar qualquer coisa, certo?” Taehyung o interrompeu, seu tom calmo e compreensivo.

“Eu sei... É só que, bom, é difícil.” Baekhyun falou.

E então o refrão da música começou, a voz estável de Zooey Deschanel penetrando em seus ouvidos.

I could’ve been your girl

I could’ve been a girl

A cabeça de Baekhyun mudou uma palavra na letra da música, mas assim tudo mudou. Baekhyun poderia ser uma garota. Baekhyun poderia ser uma garota também.

“Eu acho que sou gênero fluido, Tae.” Baekhyun disse de repente, mas corrigiu-se antes que Taehyung se pronunciasse. “Não, eu sou gênero fluido.”

E Baekhyun sabia que dizer aquelas palavras com convicção fazia uma grande diferença. Porque ele estava aceitando. Porque ele estava se aceitando. Baekhyun sabia que dali para frente não seria fácil. Pessoas não aceitam a transexualidade. Como aceitariam alguém que transita?

Mas dizer aquilo fazia o ar circular melhor no peito de Baekhyun. E ele não se arrependia de suas palavras.

“Sério?” Taehyung começou. “Isso é bom, Baek.”

E aquilo era exatamente o que Baekhyun queria. Uma aceitação normal, porque o que ele sentia era normal. Não era algo para ser desprezado, não era algo para ser aplaudido com loucura. Era só um sentimento.

“Posso desabafar?” Baekhyun perguntou.

“Vá em frente, Baek.” Taehyung sorriu.

“É tudo muito confuso, sabe? Eu não sei direito o que eu sinto, mas...” Baekhyun disse, deitando-se sobre seus travesseiros. “Mas tem momentos que eu sinto que estou no corpo errado e outros momentos não. E às vezes eu só quero colocar uma saia e ter maquiagem no meu rosto. Ou eu quero me esconder do mundo, ou eu quero gritar para ele... É bem estranho, não é?”

Baekhyun olhou para Taehyung que sorria docemente para ele. Era bom tê-lo ao seu lado, Baekhyun percebeu. Ele era capaz de se abrir tanto, de dizer tanto. E ele se sentia mais leve a cada sílaba.

“Eu nunca soube reagir direito quando as pessoas se assumiam para mim, sabe?” Taehyung começou. “Mas aí o Jungkook me disse que era trans. Nós só éramos amigos naquela época, e eu fiquei congelado. Eu tinha medo de dizer qualquer coisa que pudesse machucar ele, sabe? A única coisa que eu precisava fazer era assentir.”

“O Jungkook é trans?” Baekhyun perguntou, confirmando o que Taehyung tinha dito.

“Aham... Ele me disse uma vez que tinha medo de eu não me atrair por ele, porque eu era gay e ele trans. Porque eu sentiria falta de um corpo masculino.” Ele explicou. “Mas não é assim que funciona. O Jungkook sempre foi um garoto, e eu nunca conseguiria vê-lo como uma garota.”

“Eu queria tanto que você não fosse meu primo.” Baekhyun disse, e Taehyung riu. “Como alguém pode ser tão perfeito?”

“É só como todos devíamos ser.” O menino respondeu. “Enfim, nós não fizemos sexo ainda por causa disso, acredito. Ele ainda não está confortável com um corpo feminino, entende? Ele usa o binder direto por mais de doze horas, e, às vezes, ele só quer chorar, mas as cirurgias são caras. Eu tento deixar ele confortável em seu próprio corpo, não porque eu quero sexo, mas porque eu amo aquele garoto.”

Naquele momento, Baekhyun percebeu que Taehyung precisava dele tanto quanto Baekhyun precisava de Taehyung. Era muito provável que Taehyung não tinha ninguém para falar sobre aquilo, excetuando o próprio Jungkook. E Baekhyun estava mais do que pronto para confortar seu primo, já que ele era capaz de deixar Baekhyun mais feliz com apenas três palavras.

Baekhyun aproximou-se do primo e o abraçou, acariciando seus cabelos e sua nuca. Aos poucos, as palavras de Taehyung saíam com dificuldade, e sua respiração era entrecortada por soluços.

“Ele é tão especial, Baekhyun.” Taehyung disse, e Baekhyun sentiu o primo fungar em seu ombro. “Mas ele não sabe disso. Eu só quero que ele seja capaz de se amar.”

“Então você precisa mostrar isso para ele. Sempre.” Baekhyun aconselhou. “Você não pode deixar que ele se esqueça.”

E então os dois continuaram se abraçando, novas músicas felizes de Zooey Deschanel tocando no quarto. Mutuamente, eles mostravam seu apoio, seu carinho, sua presença. Naquele momento, nada podia abalar aquele elo, aquele abraço.

Às vezes, a única coisa que alguém precisa é um par de ouvidos, ou braços que abraçam. Às vezes, só o silêncio é necessário, enquanto a presença é constante. Palavras não eram mais necessárias ali entre os meninos, mas sim os gestos, ou a falta deles.

Sentados sobre a cama bagunçada, tudo que Baekhyun e Taehyung precisavam era que suas respirações voltassem ao normal, que seus olhos se secassem naturalmente, que seus braços ficassem dormentes para que o abraço chegasse a um fim.

Horas pareciam ter se passado enquanto Baekhyun e Taehyung continuavam na mesma posição, mas, no fim, só eram alguns minutos. Quando eles se separaram, sorriram de leve um para o outro, um grande peso tirado de seus ombros. Baekhyun limpou as últimas lágrimas silenciosas de Taehyung, fungando mais algumas vezes. Taehyung, então, reproduziu o afeto, seus dedos sobre as bochechas macias do primo.

“Nós dois somos grandes bebês.” Baekhyun disse, retirando uma pequena risada do outro.

“Acho que não posso discordar.” Taehyung completou, e os dois garotos substituíram suas lágrimas por risadas.

“Tudo vai dar certo.” Baekhyun disse.

“Tudo vai dar certo.” Taehyung repetiu.

“Será que eles já estão comendo a sobremesa?” Baekhyun perguntou-se, levantando da cama rapidamente.

“Vamos descobrir.” O outro respondeu, se levantando também.

Baekhyun e Taehyung sorriram mais uma vez entre si, antes de começarem a correr pelos corredores e escadas a procura de doces, recebendo olhares desconfiados de seus tios e familiares. Mas aqueles olhos não importavam, porque eles se sentiam leves, capazes de voar.

Os dois corriam como quando eram só pequenos bebês.


Notas Finais


Eu simplesmente amo o Taehyung nessa fanfic... E bom, mais informações sobre o relacionamento dele com o Jungkook!!

Eu sei que eu ainda tenho que responder alguns comentários, eu vou fazer isso em breve.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...