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História Turn me On - Vestido branco, um estranho no bar, um possível reencontro.


Escrita por: Enluarei

Notas do Autor


Olá, esse capítulo está um pouco longo, tentei encaixar as coisas para que ficasse dentro do roteiro.

Capítulo 2 - Vestido branco, um estranho no bar, um possível reencontro.


Não importa o tamanho da sua perda, tampouco a forma que ela se deu, não importa se você é uma boa pessoa, uma pessoa ruim, um homem, uma menina… O mundo não vai parar para que você possa se recuperar do tombo, o tempo vai continuar a passar, as contas continuarão chegando, os e-mails, os famosos continuarão na TV. Apenas o seu mundo vai parar, somente, ele e você, ficarão ambos perdidos no espaço-tempo do momento mais doloroso da sua vida. Eu senti falta do Benjamin, apesar de todos os pesares, a ausência dele era tão forte, que conseguia se personificar. Benjamin era a xícara a mais na mesa do jantar, a poltrona vazia, o jornal acumulado no tapete, a sobra da sobremesa. Eu queria gritar, mandá-lo embora, de todos os cantos, da fronha do travesseiro, da necessidade de um abraço noturno, dos portas-retratos pendurados na parede e espalhados na estante. Eu destruí o escritório dele e o transformei em um cômodo vazio, as roupas dele viraram um enorme espaço no armário, a ausência do Benjamin tocava a campainha todos os dias às 20 horas, trazendo a lembrança do Ben de gravata afrouxada, sorriso no rosto e selinho de chegada. Aprendi da pior forma que o espaço a mais no armário não se comparava nem de longe com o vazio enorme que o Benjamin deixou dentro de casa, das paredes do nosso quarto, dentro de mim. Levei mais de seis meses para assinar os papéis do divórcio, durante esse tempo eu chorei, gritei, culpei Deus, o mundo, a mim, afastei de mim as pessoas que eu mais amava, fui egoísta, me dei ao luxo de sentir sozinha a minha dor, pouco importava se mais alguém choraria comigo, era a minha dor e apenas eu saberia de fato o que estava sentindo. Nesse processo de luto pós término eu muitas vezes fiquei me perguntando como não percebi o meu marido se apaixonando por outra mulher, ou será que apenas fingi não ver?

De qualquer forma, eu estava disposta a aderir à novas mudanças, mais que disposta, eu precisava de uma nova essência para a minha vida, precisava tomar as rédeas, controlar o meu guidom e para começar a de fato ser autora da minha própria história, eu precisava fazer as pazes com o homem mais importante da minha vida, e hoje eu iria dar o meu melhor para reconquistá-lo.

Peguei o telefone e liguei para a minha mãe, ela não demorou muito para atender.

- Oi mãe.

- Helena, tão bom falar com você!

- Mãe, onde ele está?

- Achei que você tivesse entendido o que ele quis dizer quando te pediu para deixá-lo em paz.

- Eu preciso fazer as pazes, eu vou enlouquecer. Eu sei que o evento é hoje e que ele vai fazer participar, eu só preciso saber se ele de fato vai estar lá, porque se estiver, eu estarei também.

- Ele é responsável, claro que vai estar. Começa as 21 horas, no clube do novo campus. E Helena, eu não te disse nada ok? Boa sorte.

- Obrigada. - Desliguei o telefone sentindo uma enorme onda de esperança. Hoje a minha vida ganharia um novo rumo. Passei o resto do dia tentando me preparar para o grande evento da noite, fui ao salão de beleza, cuidei do cabelo e das unhas, até tentei ir ao Centro de Estética, ou ao Spa, mas eu não queria ver tanto rosto conhecido, não ainda. Escolhi um vestido branco tomara que caia, ele era um pouco justo, o que me deixava mais jovem e saudável,  se tinha algo que poderia me ajudar hoje, era esse aspecto jovial, nos pés, saltos pretos e finos, que com certeza iriam começar a machucar depois de uma hora de uso. Usei um conjunto de jóias que ganhei quando completei 25 anos, os brincos e a gargantilha de safiras azuis em perfeito contraste com o vestido branco.

           Quando deu 20:30h, meu estômago começou a bagunçar, tentava ensaiar algum discurso em minha cabeça, mas sabia que seria em vão, esqueceria de tudo em menos de quinze minutos. Eu não queria ser a primeira a chegar, isso daria a ele a oportunidade de fugir de mim, de me evitar, e eu queria justamente o oposto. Pedi um táxi, não sabia se dirigir seria a melhor opção, porque a depender de como a noite termine, eu poderia não estar em boas condições para voltar para casa conduzindo um automóvel.          

         Cheguei ao meu destino dentro de 20 minutos, desci calmamente do táxi e paguei a corrida. Considerando que o evento começaria às 21h, eu ainda tinha um considerável tempo para relaxar e aliviar a tensão. olhei ao redor em busca de um bar, um Pub, ou um restaurante, qualquer lugar que servisse algo com teor alcoólico, encontrei um Pub em uma rua próxima, geralmente campus de universidades eram rodeados de bares, shoppings e pizzarias.

        O ambiente do Pub era comum, paredes de tijolos marrons, mesas de sinuca, sofás espalhados por todos os cantos, balcões, mesas e cadeiras. Caminhei até o balcão e fiquei tentando decifrar o menu, não tinha costume de beber em Pub’s, nem na minha época de faculdade. Fiquei encarando o menu tempo o suficiente para o barman me notar.

- Primeira vez aqui senhora?

- Sim, não sei o que pedir.

- Que tal um coquetel com rum?

- Tudo bem, parece bom. - Respondi, agradecida.

       Enquanto o Barman preparava a minha bebida, eu tentava mentalizar a sequência do meu pedido de desculpas, mas ficava envergonhada, então desistia, depois desistia de desistir e começava outra vez.

         - É impressão minha ou você está perdida em seus pensamentos com intensidade o suficiente para não perceber que a sua bebida chegou? - virei para o lado, no intuito de encontrar o dono da voz rouca. Peguei a bebida e tomei um gole, fiquei encarando o rapaz, em silêncio, em parte porque eu não sabia o que responder. - Então? se for por causa de homem, ele não vale á pena. - ele disse em tom brincalhão.

- e algum homem vale? - deixei a minha amargura interna escapar.

- e ela fala! - Ele praticamente gritou, chamando a atenção de boa parte das pessoas ao redor.

- Engraçado. - Respondi ironicamente. Notei ele se aproximar, passando para o banco mais próximo de mim, pessoas invasivas me assustavam.

- Olhe, eu poderia fingir que estou disposto a ouvir o seu drama, ou o que o cara te fez, mas não acho uma boa forma de começar um encontro.

- O quê?

- Não acho legal, só isso, o que vamos contar para os nossos netos? “ Conheci a avó de vocês em um bar, e ela falou mal do ex namorado a noite toda.”? Não. Não combina com a gente. Sem contar que para superar um problema, precisamos começar a parar de falar deles.

- Desculpe, mas isso não é um encontro, eu não te conheço, e se isso funciona com as outras mulheres, sinto muito, elas são tão loucas quanto você. - Ele me olhou com seriedade, observei os traços finos do seu rosto, as sobrancelhas falhas, os olhos pequenos e azuis, os lábios rosados, me perguntei porque alguém usaria terno e gravata em um Pub desses, ele poderia ter vindo direto do estágio, ou trabalho, aparentava ser mais novo que eu, e pela conversa barata de bar, era provável que realmente fosse.

- Eu que peço desculpas, eu sabia que não iria funcionar. Eu estava testando você. - Ele falou calmamente, com os olhos fixos em meus olhos. Senti um calor subir pelo meu pescoço e provavelmente tinha ficado com o rosto todo vermelho, ótimo.

- Tudo bem, comigo nada funciona mesmo. - respondi, tentando esconder o rubor em mais um gole de Rum.

- Então, vamos recomeçar. Você vem sempre aqui? - ele falou entre risos, eu tentei evitar, mas sorri de leve, mais uma conversa clichê de bar.

- “Você vem sempre aqui?”, saindo do peculiar ao clichê. Nem eu e nem você pelo visto, pelo menos não para paquerar.

- Eu não estou te paquerando. - ele respondeu em um tom seco. Mais uma vez senti meu rosto esquentar, fiquei muda, não sabia o que falar, eu não paquero desde… desde o colegial.

- Você falou em encontros, netos, filhos e conversas traumáticas. - respondi.

- Então, você estaria interessada?

- Em conversas traumáticas, netos e filhos?

- Acho que você está indo rápido demais, vamos começar com um encontro.

- Não acho uma boa ideia. - respondi, tanto pra mim, quanto pra ele. Ele parecia ser o tipo de homem que só levava as mulheres para cama, e não a sério. Era obviamente mais novo que eu, falava como um adolescente, sua postura era de um adolescente, até suas cantadas eram de adolescente.

- Eu não vou insistir porque sou o tipo de homem que respeita o não de uma mulher, não preciso que você diga que é casada, ou que tem namorado, ou que não está em um bom momento, ou que você é lésbica… Respeito um não, mas dou o meu melhor pelo sim. E sabe o que elas dizem depois de me dizer um sim? “ Por favor, não pare”.

- Você é bem convencido.

- E você é muito difícil de se convencer. Eu notei quando você chegou, sentou aqui, ficou namorando o menu, depois começou a falar sozinha, então pensei “ Que mulher linda. Será que aquela boca sorri ou só fala sozinha?” Então, se você sorrir, minha missão foi concluída com sucesso.

- Eu não posso sorrir para estranhos.

- Então se eu falar o meu nome, passamos ao estágio dois?

- Que estágio seria esse?

- Prazer, sou o Samuel, seu mais novo conhecido de bar. - ele estendeu as mãos em cumprimento, eu fiz o mesmo.

- Prazer Samuel, sou Helena. - De repente me dei conta do tempo, peguei o celular de dentro da bolsa, 22 horas. - Me traz a conta, por favor. - gritei para o Barman.

- Me dá o seu telefone. - Samuel pediu.

- Não acho uma boa ideia. - respondi.

- Então,se eu te der o meu, você me liga?

- provavelmente não.

- Então, me dá o seu número? O que você tem a perder? Eu só vou ligar o número de vezes o suficiente para você me dizer não quantas vezes quiser, e você pode me ligar, para dizer não, novamente, podemos falar não em todas as nossas conversas… vamos lá, não seja covarde. - Encarei aqueles olhos pequenos, a barba por fazer, os cabelos desgrenhados e o sorriso de canto de boca. O que eu tinha a perder? Não queria eu mudar o rumo da minha história? Poderíamos apenas conversar.

- Tudo bem. Me dá o seu celular. - pedi. Ele me entregou o aparelho, digitei meu número e salvei o contato “ NÃO”, em letras maiúsculas.  Devolvi o celular com a tela inicial. - Foi um prazer não conversar com você Samuel, mas agora preciso ir. - Sai sem muitas delongas, atravessei a rua e voltei para o Campus. Parecia outro lugar.

A área do Campus estava lotada, pessoas usando trajes finos, adolescentes emburrados, carros estacionados. Uma fila começou a se formar em frente a grande porta de vidro, procurei o meu convite dentro da bolsa, fiquei feliz em encontrá-lo. Esperei a minha vez, entreguei o convite para a cerimonialista e assinei o meu nome na lista de convidados. O interior do salão estava decorado de modo simples e elegante, bandejas de pérolas sustentavam diversos doces, jarros de flores brancas estavam espalhados por todo o ambiente, um palco estava ornamentado no fim do salão, fileiras incontáveis de mesas e cadeiras preenchiam o resto do ambiente.

O coquetel que tomei no bar não foi forte o suficiente para me deixar tranquila, mas eu me sentia estranhamente mais calma. Busquei algum rosto familiar, no meio de toda aquela multidão, fazia tanto tempo que eu não o via, que talvez ele estivesse completamente mudado. A ideia de não saber como ele estava agora, me machucou, e eu sabia que grande parte disso era culpa minha, eu o afastei. Um garçom passou com uma bandeja de champanhe, peguei uma taça e bebi todo o seu conteúdo, imediatamente senti o líquido aquecer o meu interior.

 As pessoas se acomodaram em suas mesas, algumas permaneceram na área do bar, outras do lado de fora. Um cerimonialista fez uma breve introdução sobre o evento, explicando a importância das atividades sociais desenvolvidas no Campus, da solidariedade de todos os pais, professores, alunos e convidados. Procurei um lugar reservado para sentar, encontrei uma mesa esquecida perto do bar, longe dos palcos, das luzes, da agitação. O nervosismo estava começando a surgir novamente

.-Será que só vou te encontrar assim? - Ouvi a voz familiar.

-Você me seguiu até aqui?! - Encarei Samuel.

-Ah, claro, entrei sem convite. - ele brincou, me oferecendo mais uma taça de champagne.

-Desculpe, eu estou um pouco nervosa. - confessei. - pode sentar comigo se quiser.

-Adoro sentar em locais exclusos. - ele brincou, puxando a cadeira mais próxima a mim. - O que te traz aqui?

-Conversa traumática. - sorri um pouco sem graça, não fazia sentido contar para um desconhecido todo o meu drama familiar. - E você?

-Se eu contar, vou ter que beijar você. - ele brincou.

-Acho que você bebeu demais.

-E eu acho que você bebeu de menos.

-Então embebedar as mulheres faz parte do seu respeito pelo não? - provoquei.

-Você está bebendo demais, com a sua licença… - Ele levantou e tomou a taça da minha mão, bebeu todo o seu conteúdo de vez. - Agora sim.

-Você fez mesmo isso?! - Perguntei incrédula.

-Quer que eu faça mais uma vez?

-Eu estava nervosa, precisava daquilo!

-E eu preciso muito beijar você. - Por um momento fiquei desconcertada, ele estava tão próximo, sentia o seu hálito de champanhe, seu perfume, e uma enorme vontade de enroscar as mãos em seus cabelos desgrenhados. - Por favor Helena, eu prometo que você não vai se arrepender. - ele se aproximou ainda mais.

-Eu não consigo fazer isso. - confessei. Samuel sorriu, se aproximou um pouco mais, senti a sua barba pinicar a minha bochecha, seus lábios se aproximaram do meu ouvido, ele apoiou uma das mãos nas costas da minha cadeira e com a outra puxou a minha nuca, senti a língua dele percorrer o lóbulo da minha orelha. Isso causou um arrepio em todo o meu corpo. Não lembro a última vez que um homem havia estado tão próximo de mim.

-Me beija. - Ele sussurrou. - Por favor, me beija. Aprenda a dizer sim para a vida Helena. - Desmanchei dentro de mim mesma, a proximidade dos lábios dele, da barba, das mãos, causou um pequeno terremoto dentro de mim, um terremoto pulsante e molhado debaixo da minha calcinha. Fechei os olhos e deslizei as mãos pelos seus cabelos, puxando - o para mim, meus lábios beijaram o seu queixo, depois tomaram os seus lábios, em um beijo terno, molhado e com gosto de champanhe. A fome tornou-se mais urgente, nossas línguas dançavam juntas, se encontrando, ele mordiscava os meus lábios e eu o puxava para mais perto. Quando nos afastamos, eu estava vermelha, meu coração estava a mil por hora, e o Samuel me olhou surpreso. - Eu te disse sim, então, por favor, não pare. - Ele falou, deixando um selinho em meus lábios.

-Eu não vim aqui para isso Samuel. - respondi, notei o desapontamento dele. - Me dê um minuto. - Sai educadamente e comecei a caminhar pelo salão, procurando por ele, pelos olhos e cabelos castanhos mais lindos do mundo. Quando eu já estava quase desistindo da minha busca, eu ouvi o som de um gargalhar familiar. Era ele. Estava lindo, usando um terno azul marinho, camisa social branca, sem gravata e com os primeiros botões abertos, seu cabelo impecavelmente penteado, ele estava feliz, elegante e acompanhado. Me aproximei devagar, com medo, com saudade, tentando mais uma vez pensar no que falar, por onde começar. Abri espaço por entre as pessoas que circulavam no salão, ele me viu. A expressão dele era um misto de surpresa e confusão, a mulher que estava ao lado dele imediatamente largou a sua mão e saiu, ele pediu licença e veio caminhando ao meu encontro, agora parecia irritado, não sei, quando foi que desaprendi a lê-lo? será que um dia de fato eu soube?

-Oi.

-O que tá fazendo aqui?

-Precisamos conversar. Eu sinto a sua falta. - Falei por fim, e notei que ele cedeu um pouco, seus ombros relaxaram.

-Venha comigo. - Ele me disse e eu o segui.

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado!


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