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História Origins - Quando tempo dura um segundo?


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


Esse é (oficialmente) o PENÚLTIMO CAPÍTULO da fic. Acho que é nesse cap que vemos o quanto a Char cresceu e quem ela se tornou no meio de todo esse caos do mundo. E, eu não vou mentir, estou muito orgulhosa dela.

Espero que gostem.
Boa leitura.

Capítulo 42 - Quando tempo dura um segundo?


Fanfic / Fanfiction Origins - Quando tempo dura um segundo?

 

Charlotte Walsh
Alexandria

Aquele que disse: "uma simples faísca é capaz de provocar uma explosão", estava errado. A faísca por si só não causa nada. Na verdade, a explosão é causada por pequenas partículas todas em um espaço confinado e todas se expandindo ao mesmo tempo. A faísca só inicia todo o processo de combustão.

Cada um do nosso grupo era uma partícula e Alexandria era o nosso lugar confinado. Eu podia sentir as partículas se expandindo. Eu podia ver cada um de nós se envolvendo em um problema que só acabaria causando mais problemas. Só faltava uma faísca pra tudo ir para os ares...

Rick estava estranho, havia algo que ele não estava compartilhando conosco. E eu sabia que era algo mais que aquela ideia idiota com as armas.

Glenn estava preocupado, a morte do Noah tinha abalado o coreano, mas havia outra coisa. E essa coisa tinha nome: Nicholas.

Maggie estava no mesmo estado, queria pensar que era coisa da minha cabeça, mas ela parecia estar escondendo algo também.

Sasha estava surtando. E Carol, bom... Eu olhava pra ela e apenas não a reconhecia mais. Era ótimo que ela tivesse se transformado em uma força da natureza, mas o problema com esse tipo de fenômeno é que eles costumam deixar destruição por onde passam.

E quando a mim... Eu estava preocupada com Daryl, ele devia ter voltado na noite anterior, mas tive que confiar que, fosse o que fosse, ele daria conta. Eu tinha que vencer a vontade de sair atrás dele e ficar dentro dos muros, pois eu sentia que se saísse naquele momento não haveria mais um lugar pra voltar.

Chamei Michonne e Alex, acabei usando a casa do "não-encontro" com Daryl para a nossa reunião.

Em uma conversa rápida eu os deixei a par das minhas preocupações e eles concordaram em me ajudar.

— Alex fala com a Maggie. Mich fica responsável pelo Rick e eu lido com a Carol. Sinto que se não fizermos algo agora, os danos podem se tornar irreversíveis.

Eles não viam as coisas como eu, talvez não entendessem a situação como eu entendia. Mas estavam dispostos a ajudar e eram as pessoas em que eu mais confiava no momento.

Nos separamos depois disso. Eu voltei pra casa, sabia que Carol estaria lá e não me enganei quanto a isso.

Ela estava na cozinha, mexendo uma panela no fogo, enquanto uma música qualquer tocava. Desliguei o toca CD's sem me preocupar com educação. Não era hora para sutilezas e eu sabia que essa coisa de ser sutil não funcionaria com a Carol...

— O que está fazendo? — Perguntei, parando ao lado dela no fogão.

— Almoço. — Carol respondeu como se fosse obvio.

— Não, Carol. — Apaguei a chama do fogão e a encarei com mais convicção. — O que você está fazendo de verdade?

Ela me encarou por um momento e colocou a colher na pia.

— Essas pessoas não sabem o que estão fazendo. Elas são sabem como sobreviver, pensam que é como antes, mas você e eu sabemos que não é. — Declarou, cruzando os braços, e eu fiquei feliz por ela ser direta.

— Elas não entendem como as coisas funcionam de verdade, concordo, mas ficaram vivos até agora, vamos dar algum crédito a eles. — Dei de ombros.

— Eles tiveram sorte.

— Não há nada errado em ter sorte, Carol. Você honestamente pode dizer que chegou até aqui sem contar com a sorte pelo menos uma vez? — Acusei, assumindo a mesma postura que ela.

— Sim eu tive. Tive sorte quando um errante matou o meu marido... Mas algumas pessoas não tem essa mesma sorte. Então eu tive que intervir. — Suspirou, se virando pra fazer algo na mesa.

— Do que está falando?

— O marido da Jessie bate nela... Alguém tinha que fazer alguma coisa. Então eu contei ao Rick.

— Você fez o que?!

— Ele tem que matar o Pete. — Declarou de forma fria e eu quase não a reconheci.

As ideias se misturaram na minha cabeça por um segundo, imagens soltas do Shane, Rick e toda aquela dor outra vez.

— Rick não pode matar o único médico da cidade, Deanna não vai perdoar isso... — Falei mais pra mim mesma do que pra ela. — Mas ele vai fazer, porque, de uma forma totalmente inapropriada, ele se importa com a Jessie.

— Então ele vai fazer a coisa certa. Depois lidamos com a Deanna e todo o resto, eles não podem conosco. — Carol deu de ombros.

— Jessie precisa de ajuda e talvez Pete até mereça morrer, mas Rick não pode fazer isso. — Passei a mão no cabelo impaciente e me dirigi para a porta.

— Não é como se fosse a primeira vez que Rick mata alguém. — Carol argumentou antes que eu saísse.

Ela claramente não via a situação como um todo, ela estava cega pela raiva e simplesmente não via o perigo daquilo.

— Não é o fato de matar um homem, é o motivo pelo qual ele vai fazer isso. Rick vai cruzar um limite, e depois disso não há volta. Shane terminou morto... Não vou deixar acontecer com p Rick. — Declarei batendo a porta atrás de mim e saindo apressada para as ruas de Alexandria.

Encontrei Alex no caminho, mas não parei pra falar com ele.

— Temos que encontrar o Rick. Carol fez algo bem impensado que pode colocar tudo a perder. A Mich está com ele? — Perguntei afoita e Alex passou a me seguir.

— Espero que sim. Mas temos outro problema também. Descobri o que estava preocupando a Maggie, ela ouviu o Padre falando pra Deanna que não somos confiáveis, que ela não devia ter nos deixado ficar. — Revelou nervoso.

— Ele fez o que? — Perguntei incrédula. Eu odiava padres, era oficial. — Temos que impedir o Rick antes que essa acusação do Padre se torne coerente.

— Impedir Rick de quê?

— De matar o Pete...

Corremos pela rua e de longe eu comecei a ouvir uma confusão. Estava acontecendo. Estava acontecendo naquele momento e eu não seria capaz de impedir.

Estávamos a uns cinco metros quando avistei Rick todo ensanguentado, apontando uma arma pra todos e surtando em um discurso louco. Exatamente como Shane. Era como um carma voltando pra me assombrar.

Dois metros. Eu ainda não fazia ideia do que faria pra tirá-lo daquela situação. Mas eu tinha que fazer alguma coisa.

Então Michonne, que eu realmente não tinha visto chegar, agiu primeiro, deu uma coronhada na cabeça de Rick e ele caiu desmaiado.

Ela chutou a arma em direção a Deanna e Spencer a pegou.

— Obrigada. — Agradeci, quando finalmente a alcancei.

Michonne apenas assentiu. Eu, ela e Alex tiramos Rick do chão.

— O Show acabou. Vão para suas casas. Não tem nada para ver aqui. — Falei para que todos ouvissem.

— Michonne? — Ouvi Deanna chamar. — Melhor leva-lo para a casa no fim da rua. Ele tem que ficar sob vigia.

Mich assentiu, mesmo que a contragosto. E demos meia volta seguindo pra onde Deanna apontara.

Carol vinha do lado oposto. Eu gostava dela, ela era minha amiga, mas possuía um papel decisivo naquilo. Eu estava com os nervos à flor da pele demais pra não culpá-la.

— Espero que esteja feliz. — Praticamente cuspi, quando passei por ela.

Assim que chegamos ao lugar que Deanna indicara, percebi porque ela nos mandara levar Rick ali. Era o andar inferior de uma casa, totalmente isolado, a porta que dava no piso superior estava trancada e a única saída tinha um portão de ferro. Aquilo era como uma prisão.

Alex acomodou Rick em um colchão jogado no piso frio, era a única coisa no lugar além de uma cadeira.

— Por que disse aquilo para Carol? — Michonne perguntou desconfiada.

— Ela contou para o Rick que o Pete bate na Jessie e pediu pra ele matar o cara. — Falei sem rodeios.

— Há quanto tempo sabe disso?

— Cinco ou dez minutos, assim que soube corri pra tentar impedir uma tragédia. Você chegou primeiro, felizmente. Obrigada de novo. — Agradeci, no mesmo momento em que Carl chegava com uma maleta de primeiros socorros.

— Eu prometi que ia te ajudar, não foi? — Michonne devolveu.

Alex cuidou dos curativos, enquanto um silêncio esmagador pairava entre nós.

— Ele não precisava fazer isso. Não desse jeito. — Carl lamentou. — Não vão ouvi-lo assim. Ninguém ouvia o Shane.

Assenti e passei meu braço ao redor dele.

— Vai ficar tudo bem. — Falei sem muita convicção. — Cuidem dele.

— Onde você vai? — Alex perguntou erguendo a cabeça.

— Eu não concordo com a Carol ter contado ao Rick. Mas também não concordo um homem que bate na esposa.

Sem esperar uma resposta saí em direção ao local da confusão. Deanna estava dando ordens para que o arsenal fosse vigiado.

— Onde ele está? — Eu não estava no clima pra educação e rodeios, então perguntei de uma vez.

— Eu o mandei pra casa. — Deanna apontou e foi um alivio que ela não tenha se feito de idiota.

— Olha, eu sei que o Rick falou com você antes de fazer isso. Eu o conheço. Você o ignorou e ele fez algo estúpido. Mas agora, me perdoe dizer, você é quem está fazendo algo estúpido mandando o Pete de volta pra casa. Acha mesmo que ele não vai descontar a ira na família? — Nos encaramos por um momento e ela parecia com raiva e de alguma forma eu podia entendê-la. — Eu nem faço ideia de qual é a pressão de ser líder desse lugar, mas eu sei que se algo acontecer com aquela mulher ou com as crianças a partir de agora, vai ser sua culpa.

Deanna ponderou o que eu acabara de dizer, abaixou a cabeça um momento e então pareceu se decidir.

— Spencer, peça para o Pete te acompanhar até uma das casas perto da enfermaria. — Ordenou firme.

Assenti e me afastei, não era hora de mais conversas, era muito dano pra simplesmente concertar em um dia.

Michonne acabou passando a noite com Rick, e eu não quis tirar isso dela. Voltei pra casa e me ocupei de cuidar da Judith. Carol continuava agindo calculadamente, desejei que Daryl apenas voltasse, afinal ele a conhecia bem melhor que eu.

Mas ele não voltou e adicionei mais aquilo na minha lista de preocupações...

Quando anoiteceu Maggie comentou que Deanna faria uma reunião. Ela não precisou dizer que aquilo provavelmente era pra expulsar o Rick, eu sabia. Todo mundo sabia.

Foi uma longa noite em claro tentando encontrar uma saída e a única coisa que eu conseguia pensar era que não devíamos ter nos envolvido com outros sobreviventes.

Eu tentava manter a calma por fora, mas por dentro eu era uma bagunça completa.

Assim que amanheceu eu, Carol, Glenn e Abraham fomos ver o Rick.

Não sei bem qual foi a pior parte, se foi Carol mentindo na nossa frente, fazendo Rick mentir também sobre a forma como conseguira as armas, se foi ela dizendo que tínhamos que mentir para o povo de Alexandria, ou se foi Rick planejando um ataque, fazer pessoas de refém e então tomar a cidade.

Aquilo realmente não estava certo. Minha mente trabalhava tão rápido que eu me sentia prestes a ter um derrame.

Rick pediu para sairmos, ele dormiria um pouco e então iria na tal reunião da Deanna. Mas eu não saí, mesmo quando ele voltou a se deitar eu fiquei parada ali, encostada na parede.

— Então esse é quem você é agora? — Perguntei, o fazendo notar minha presença.

— "Esse"? — Rick se ajeitou no colchão.

— Um mentiroso. — Expliquei me sentando ao lado dele. — Eu sei sobre as armas, Rick. Eu sei que a Carol roubou três delas, sei que você estava se precavendo. Eu entendo que você queria estar pronto pra nos proteger, mas é bem aí que as coisas que eu entendo acabam. Fazer reféns, tomar a comunidade, mentir...? Eu não entendo essa parte.

— O Alex pareceu entender, ele disse que estava comigo. Você não precisa fazer parte disso se não quiser. — Respondeu, colocando o braço sobre o joelho.

— Quando eu era só uma garotinha sentada do lado do caixão da minha mãe, você foi a única pessoa que sentou do meu lado e me disse a verdade. Mesmo o Shane não foi capaz de fazer. Você me contou a verdade e eu entendi, por mais dolorosa que ela fosse. Foi nesse dia também que você me contou que existiam boas pessoas e pessoas ruins. Você disse que éramos boas pessoas e eu acreditei nisso. — Me virei pra ele e o encarei com convicção. — E é em respeito a isso que eu vou te dizer a verdade agora, mesmo que ela seja dolorosa. Você não é uma boa pessoa se aponta uma arma pra cabeça de inocentes e quer obrigá-los a acreditar nas verdades que está gritando. Você não é uma boa pessoa quando entra em um lugar como esse, onde a maior parte não sabe se defender e planeja um golpe. Você não é uma boa pessoa se mente pra seus amigos e acima de tudo mente pra uma mulher que admira e confia tanto em você, que ficou sentada nessa cadeira a noite toda e levaria um tiro por você sem pensar.

Parei e respirei fundo. Rick me fitava um tanto atônito.

— Se eles nos ameaçarem eu serei a primeira a levantar uma arma pra nos proteger. Mas é aí que meu apoio acaba. — Segurei a mão dele. — Eu não quero perder você Rick, mas sei que se te apoiar nisso é exatamente o que vai acontecer, talvez não hoje ou amanhã, mas vai acontecer, porque esse caminho que você está trilhado agora não tem outro fim. Eu sei disso e você também sabe.

— Queria que fosse tão simples quanto você acha que é. — Retrucou negando. — Mas não podemos deixar esse lugar, e essas pessoas não entendem que precisam de nós.

— Você vai encontrar um modo de fazê-las entender. Não se subestime Rick, você fez uma criança de quatro anos entender morte e assassinato. Você é melhor com a verdade do que com a mentira. Você é melhor protegendo do que atacando. Você é uma boa pessoa Rick, você só está perdido. — Me levantei e dei-lhe um beijo na bochecha. — Sei que vai fazer a escolha certa.

Me encaminhei pra porta, ainda tinha mais algumas pessoas com as quais eu queria conversar.

— Mas se eu não fizer a coisa certa, sempre vai ter aquela ameaça de morte, não é? — Riu meio de canto.

— Ou eu posso pedir pra Michonne te nocautear de novo. Deu bem certo da primeira vez. — Devolvi me virando pra encará-lo.

— Ela me pegou de jeito mesmo. — Passou a mão na nuca.

— A grama do vizinho não é mais verde que a sua Rick. Se olhar bem do seu lado, vai ver que a sua é muito melhor.

Ele me olhou sem entender. Eu não esperava que entendesse, ele não estava pronto. Não podia julgá-lo por isso, eu também tinha levado muito tempo até ficar pronta para o Daryl. Mas eu sabia que Michonne esperaria. É o que fazemos quando amamos alguém...

➷•➷•➷•➷•➷

Minha próxima parada era um certo "Padre". Eu não gostava de padres, não gostava de homens que se escondiam atrás de Deus, ou melhor do falso moralismo de Deus. Talvez eu fosse alguém um pouco revoltada com a vida.

Gabriel ficava em uma casa que era o projeto de uma capela. Ele não me viu entrar, desatento. Totalmente despreparado para aquele mundo onde um segundo significava vida ou morte.

E quando o observei por um momento, percebi que o cara era a imagem do desespero, tinha tirado a batina, usava uma camiseta branca, de manga longa e tinha aquele olhar... um olhar que eu conhecia muito bem.

Encostei em uma parede qualquer e esperei que percebesse minha presença. Quarenta e sete segundos, eu contei. Teria sido tempo suficiente pra que eu o matasse, ou pra que um errante o mordesse. Era muito tempo pra notar a presença de alguém.

Assim que me viu o susto ficou estampado em seu rosto. Ele suava e tremia. Era apenas um homem com medo.

— Eu tinha todo um discurso pronto, sabe? — Joguei meu corpo pra frente e caminhei na direção dele. — Mas então entrei aqui e vi seu estado. Eu conheço esse olhar no seu rosto. Se chama dúvida. Você dedicou sua vida a uma causa e não sabe mais se essa causa era mesmo real.

— Você não.... — Ergui minha mão e o interrompi.

— Eu não acredito em Deus Padre, faz um tempo já. Mas admito que talvez ele exista. Se existir ficou bem claro que ele mudou as regras. E acho que é isso que te confunde. Os limites do bem e do mal não são mais tão claros, pessoas boas fazem coisas ruins pra sobreviver, é uma linha tênue e nós temos que cruzá-la muitas vezes. E é então que ter pessoas que se importam com você muda tudo. Eles te trazem de volta para o lado certo, você volta por eles. — Ele ouvia cada palavra minha muito calado e eu as dizia de queixo erguido. — Ninguém sobrevive sozinho. Não importa quão forte ou inteligente você seja, não importa quão abençoado você seja... Mas eu suponho que você já saiba disso, afinal o próprio Jesus Cristo tinha um grupo, não é?

Ele engoliu em seco. Gabriel não era burro, ele fez a ligação tão logo eu mencionei Jesus, ele sabia qual carapuça servia nele.

— Eu vim pra falar que você é um Judas. Mas não vou, eu vejo que você sabe disso, eu vejo que já está se punindo o bastante. Você chegou em um momento em que é "ou vai ou racha". Ou você luta ou desiste. Mas se lutar eu sei que vai achar um ponto de equilíbrio e então... Bom, existe algo que a bíblia prega no qual eu ainda acredito. Se chama perdão. — Terminei me virando. — Tenha um bom dia, Padre Gabriel.

Deixei o lugar sem esperar respostas, eu não precisava delas. Eu não tinha dúvidas, pela primeira vez na vida eu estava totalmente certa do caminho que estava trilhando e das decisões que eu estava tomando. Eu não tinha mais medo.

Minha próxima visita era para Deanna. Encontrei Alex no caminho, ele e Maggie estavam tentando falar com o máximo de pessoas possíveis. Era como uma campanha eleitoral, eles estavam tentando angariar votos pra que Rick ficasse. Mas sabíamos que era mais que isso, na verdade os votos era pra que não acontecesse uma tragédia, Rick nunca deixaria os muros e os Alexandrinos não tinham condições de vencer uma luta contra a gente.

Por que sim, eu tinha dito que não ficaria ao lado de Rick, mas a verdade é que eu lutaria por ele, não deixaria que ficasse na rua e não deixaria que ninguém o machucasse.

No fim aquelas pessoas estavam votando pela própria vida e sequer sabiam disso.

Subi os degraus da varanda de Deanna sem pensar muito. Spencer acabou abrindo antes mesmo de eu bater.

— Sua mãe está?

Ele assentiu e apontou a sala, abrindo passagem para que eu entrasse.

— Spencer? — Chamei antes que ele saísse e fechasse a porta. — Sinto muito pelo seu irmão.

— Pensei que achasse ele um panaca. — Retrucou meio neutro.

— E eu achava. Mas ele era seu irmão e morreu. Não importa quem ele era pra mim, importa quem ele era pra você.

Ele assentiu meio sem jeito e murmurou um obrigado antes de sair.

— Desde que você chegou aqui eu mal te via, mas só hoje é a segunda vez que está me procurando. Devo pressupor que está um tanto desesperada, senhorita Walsh. — Deanna falou assim que me viu.

Nada de educação, nada de um convite pra sentar, nada de nada. Ela estava de pé, queixo erguido.

Eu apenas ri pelo nariz, balançando a cabeça.

— Desesperada? Desespero é ver alguém que você ama morrer na sua frente, sem que você possa fazer nada. Desespero é ter a mão de pessoas desconhecidas pelo seu corpo enquanto você luta e grita. Desespero é ter que atirar em alguém a sangue frio, porque você sabe que se não fizer, eles farão com você. Vida ou morte, isso é desespero. Minha presença aqui agora, não é desespero, é a minha forma de prevenir o seu desespero. Porque se continuar com o que está fazendo, no final da noite de hoje, você vai acabar descobrindo o que é "desespero". — Falei muito naturalmente, assim como alguém fala do tempo em um dia ensolarado.

— Isso é uma ameaça?

Finalmente parei na frente dela e neguei.

— Não. Isso é um aviso, Deanna. Quando se é líder nos dias de hoje, cada decisão que você toma pode ser a faísca de uma explosão. E quando as coisas explodem, pessoas se machucam. Estou bem certa de que você não é alguém que quer ter sangue nas mãos. — Terminei dando de ombros. — Era só isso. Tenha um bom dia.

Não esperei que ela respondesse e apenas saí.

Tinha algumas poucas horas até a tal reunião, e eu sentia todo meu corpo protestar de cansaço. Resolvi voltar pra casa e dormir nem que fosse um pouco. Afinal dependendo de como as coisas se desenrolassem eu precisaria estar com o máximo de energia.

Estava no caminho de casa quando avistei Carol no parquinho que ficava próximo ao lago. Ela estava sentada em um dos balanços olhando o nada. Simplesmente me aproximei e me acomodei no assento ao lado, balançando levemente com as pernas.

— Você falou com o Rick, não é? Ele disse que não quer mentir para as pessoas. Acho que isso é obra sua. — Declarou sem me encarar.

— Cada um faz o que pode... — Respondi de forma vaga.

Ficamos em silencio por mais um tempo, apenas o movimento sutil dos balanços entre nós duas.

— Vamos lá, pode dizer que eu cometi um erro. — Carol incentivou, enquanto respirava fundo.

— Eu estou puta da vida com você, Carol, não vou mentir. Mas você fez a coisa certa, fez do modo errado, mas ainda assim era a coisa certa. Jessie precisava de ajuda, Rick não era a pessoa certa pra ajudar, mas ela precisava. — Argumentei calma e ela me encarou pela primeira vez naquele tempo. — Eu sei porque fez isso, eu entendo. Você se viu nela, e viu a sua filha no Sam, então você nunca admitira que algo assim acontecesse com eles.

Carol não negou. Não admitiu também, mas eu sabia que estava certa. Olhar pra Jessie e saber o que acontecia foi como viver toda a dor outra vez, ela precisava acabar com aquilo pra provar que não era mais fraca.

— Você mudou muito, você é forte, esperta, badass, você está moldada para esse terrível mundo novo. Mas ao mesmo tempo você acabou se perdendo no caminho. Acontece quando tudo que está ao seu redor é morte e sofrimento. Eu entendo. E eu só quero que saiba que você é minha amiga e eu não desisto dos meus amigos. Eu não vou desistir de você, Carol. Nunca.

Dei um meio sorriso e me levantei. Era muita conversa para um dia só...

➷•➷•➷•➷•➷

Acabei na casa do "não-encontro". Não era pra lá que eu estava indo, mas foi lá que eu acabei, entre os muitos travesseiros daquela cama enorme. Mesmo que eu tivesse limpado tudo, ainda era como se o perfume de Daryl estivesse impregnado por toda a parte.

Alcancei a faca com as iniciais dele na minha bota. Eu só queria que ele estivesse comigo, que tivesse voltado. Mil pensamentos desnorteados povoavam a minha mente, todas as piores hipóteses, cada vez mais sem nexo e etéreas conforme a inconsciência e o cansaço me abraçavam...

Acordei no meio de um pesadelo. Olhei em volta e já tinha anoitecido. Levantei com um pulo, correndo escada abaixo e deixando a casa. A reunião já devia ter começado.

Mas assim que eu coloquei meus pés pra fora soube que tinha algo errado. Não foi algo que eu tenha visto, foi o cheiro, o cheiro podre se espalhando pelo ar. Eles estavam dentro da cidade, eu sabia.

Preparei a faca e ouvi um cachorro começar a latir desesperadamente. A senhora Mason tinha um poodle e sem pensar muito foi pra lá que segui.

Estava virando uma esquina quando um errante pulou sobre mim, rolamos pelo chão enquanto eu fazia o possível pra manter seus dentes afastados, pra acertá-lo com a faca. Senti suas mãos em mim e agradeci internamente por estar de jaqueta.

O som de outro se aproximando pela esquerda me deixou ainda mais alerta, ou eu me livrava do primeiro ou não conseguiria resistir ao segundo.

Arrisquei tudo e o soltei quando vi a oportunidade de atingi-lo por baixo. Seu sangue gosmento caiu por cima de mim, segundos antes de seus dentes me alcançarem, mas pra isso minha faca ficou presa no seu crânio.

Empurrei o corpo para o lado no mesmo instante em que o segundo se jogava sobre mim. Eu segurei o pescoço gosmento com uma das mãos enquanto tentava retirar a faca do crânio do segundo.

Às vezes um segundo é muito tempo, e às vezes um segundo não é nada, daquela vez foi suficiente.

Senti mais sangue pingar sobre mim quando perfurei próximo a orelha daquela coisa nojenta.

Me coloquei de pé sem pensar muito, e retomei o caminho rumo aos latidos. Virei uma das ruas e Rick estava no chão exatamente como eu estava há alguns instantes.

Sem hesitar joguei a faca de caça. Atingi o alvo no mesmo momento em que Rick esmagava o errante com as mãos.

Nos olhamos por meio segundo enquanto eu estendia a mão pra que ele levantasse.

— Você está bem? — Perguntou e eu assenti. — O portão estava aberto, não tinha guarda.

— Nada como ficar coberto de sangue pra começar a noite. — Debochei, encarando o rosto de Rick.

— Obrigado.

— Você já tinha resolvido o problema com as mãos. — Dei de ombros pegando minha faca de volta.

Rick olhou de mim para o errante no chão, pensativo e muito sério.

— Acho que tinha razão. Eu tenho que contar a verdade pra eles de outra forma, e acho que encontrei a forma certa.

Segui seu olhar e entendi o que ele queria dizer quando tirou o corpo do chão e o jogou nas costas como um saco de batatas. A verdade era chocante, então iriamos chocá-los um pouco.

O segui em direção a reunião. Entramos no lugar no exato instante em que Toby falava.

Rick simplesmente jogou o cadáver podre no chão e tudo que eu podia sentir eram os olhos chocados deles em nós dois.

Encontrei o olhar de Alex e assenti que estava bem, respondendo à pergunta muda dele.

Deixei que Rick discursasse, deixei que as pessoas processassem o choque sem interferir. Ele expos a verdade nua e crua, sem subterfúgios, mas não pareceu um louco como antes, mesmo que estivesse coberto de sangue. Aquele era o Rick Grimes que eu conhecia e eu sabia que cedo ou tarde acreditariam nele.

Mas às vezes um segundo é muito tempo, e às vezes um segundo não é nada. O que se desenrolou a seguir foi uma mistura dos dois.

Foi a faísca da nossa explosão...

Pete apareceu descontrolado, disse que Rick não era um de nós. Ele tinha a espada de Michonne nas mãos. Estava fora de si.

Aconteceu rápido demais, e ao mesmo tempo tão devagar. Reg tentou impedi-lo no mesmo momento em que eu tinha essa ideia. Demos um passo pra frente ao mesmo tempo. Pete empurrou o marido de Deanna pra trás, um movimento totalmente impensado, ele não sabia lidar com aquela espada, ele não tinha ideia do quanto ela era afiada.

Reg levou as mãos ao pescoço, sangue jorrava. Ele caiu nos braços da mulher. Os olhos dela encontraram os meus por um milissegundo e eu vi que agora ela sabia. Ela sabia o que era desespero.

Abraham derrubou Pete no chão. Tudo acontecendo tão rápido, tudo acontecendo tão devagar... Ouvi meu nome ser chamado e me virei pra observar Alex correndo em minha direção aterrorizado.

Eu não sabia o que era. Senti algo quente escorrer pela minha barriga, por puro reflexo toquei o lugar e então reparei minhas mãos ensanguentadas. O sangue brotava de mim, como a água brota da nascente de um rio....

Eu soube por pura intuição que fora atingida pela espada, o movimento que Pete fizera terminou em mim, na lateral da minha barriga.

Eu tinha sido pega pela explosão que eu estava tentando evitar. Tudo tão depressa, tudo tão lento...

Rick deu um passo em direção a Pete, decidido demais pra que eu não soubesse o que ele pensou. Neguei erguendo uma das mãos. Havia sangue demais nelas.

Não precisamos de outra faísca, não precisávamos causar outra explosão. Era hora de Deanna ser a líder e fazer uma escolha.

O desespero leva as pessoas aos extremos.

Minhas pernas falharam. Alex me amparou, chamou meu nome, me abraçou.

Estava frio.

Ouvi a voz de Deanna muito longe, as coisas começaram a ficar etéreas, mas eu sabia que ela tinha dado a ordem. O tiro me deixou surda.

Alguém chamou por Rick e então alguém chamou por mim, uma voz tão familiar e acolhedora, era como estar em um sonho. Eu estava tão longe.

Então fui envolvida por um calor ameno, abraçada com desespero. Eu sabia que era ele. Sabia pelo cheiro, pelo toque. Sabia, pois quem ama sempre sabe.

— Daryl. — Murmurei, minha voz saindo muito mais frágil do que eu imaginava. — Eu sabia que você ia voltar.

— Eu estou aqui, estou aqui. Fica comigo. Não me deixa. Char, amor, por favor. Não fecha os olhos. Olha pra mim. — A voz dele era uma súplica. — Alex? Faz alguma coisa, por favor.

Senti alguma coisa pressionar minha barriga. Estava tão frio. Daryl me chamava com tanto desespero, e tudo que eu queria era poder olhar pra ele, ver o rosto dele, mas as coisas estavam distantes.

Apertei os olhos pra me forçar a enxergar. Ele estava bem ali e eu queria vê-lo, por que era tão difícil? Finalmente focalizei as íris azuis. Sorri. Eu o amava tanto... Queria dizer mais minhas cordas vocais não obedeceram. Era como se o meu corpo não fosse mais meu.

— Tudo bem. Tudo bem. Não diz nada. Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui com você. Fica comigo, Char. — Daryl estava tão assustado e eu queria tanto abraça-lo e falar que tudo ia ficar bem.

Era tão difícil. Eu estava tão cansada.

Tão frio...

O azul estava borrado de lágrimas. Daryl Dixon estava chorando por mim. Eu não queria que isso acontecesse. Eu tinha que consolá-lo.

Era como se todos os meus ossos tivessem virado pó, como se o sangue nas minhas veias fossem cacos de vidro.

As vozes começam a misturar, meu corpo flutuava. Daryl me chamou de Amor e eu o amava tanto que doía. Eu não queria deixa-lo, eu não podia. Eu queria ficar com ele.... Eu tinha que ficar com ele.

Desespero...

Às vezes um segundo é muito tempo, e às vezes um segundo não é nada.

A escuridão me abraçou como se fossemos velhas conhecidas...

 


Notas Finais


.... bom, bom... o que dizer desse cap que eu mal postei mas já me fez sofrer pakas??? Acho que a frase mais oportuna pra esse momento seria: Nada é totalmente certo antes que eu escreva "FIM"

O próximo é narrado pelo Daryl, eu posto domingo ou segunda.

Espero que tenham gostado (isso soou um pouco irônico devido aos acontecimentos, mas... kkkkkk)

Bjss e até


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