História Twenty-Two - This is all bullshit

No Capítulo Anterior…

— Jess... — Sussurrei e dei um passo à frente.

Pela primeira vez ele me tocava para então me manter afastada, engoli em seco sentindo lagrimas rolarem pelo rosto.

— Só, por favor, vá... — Ele disse enquanto olhava fixamente para o seu carpete, vendo que não teria jeito de conseguir fazê-lo mudar de ideia naquele momento, eu em silencio caminhei para fora do seu apartamento.

Me virei para olha-lo nos olhos, para tentar por uma ultima vez ficar com ele, mas Jesse já me dava as costas enquanto empurrava a porta com força com a mão.

Assim que ela se fechou a minha frente fazendo um back oco ecoar pelo corredor, senti as lagrimas correrem mais ferozes e de repente eu não via, ouvia ou sentia mais nada, de repente eu estava no meu próprio infinito.

…

Sábado, 26 de Julho de 2016, Huntington Beach, Califórnia.

Na tarde seguinte...

Abri meus olhos em uma lentidão impressionante, além da forte claridade eles pesavam como duas toneladas, decidi então fecha-los novamente. Ao tentar me levantar senti uma forte pontada na cabeça, e também percebi que estava nua.

Não queria abrir os olhos por que tinha medo de onde estava à cama macia não parecia familiar ou estranha, mas não conseguir me lembrar do que fizera ao sair do apartamento de Jess me deixava apavorada.

Continuei sentada estática na cama, o lençol agarrado ao peito tentando tampar a minha nudez, meu quarto não poderia ser, nunca entrava tamanha claridade assim nele, e infelizmente eu sabia que o de Jesse também.

Respirando fundo criei o que precisava de coragem e abri rapidamente meus olhos. Levei minha mão à boca que se abria em um espanto genuíno.

A minha frente a enorme estante com garrafas coloridas se estendia por toda a parede, o quarto parecia continuar o mesmo, mas o clima que o envolvia não. Na parede direita, no lugar onde ficava um dos quadros preferidos de Brian, se tinha agora fotos minhas de cima a abaixo.

— Você acordou... — Escutei a mesma voz que ouvira durante sete anos dizer aquilo para mim como se ainda estivéssemos juntos. Virei rapidamente meu rosto na direção do som, Brian estava parado em pé na porta que se abria para o pequeno corredor, ele me olhava atento com aqueles olhos castanhos escuros.

Ele não parecia mais o meu Brian, seu cabelo está mais comprido penteado para trás, a feição em seu rosto eu tinha certeza que refletia a minha, dor e angustia, eu sentia a ponta dos meus dedos queimarem de vontade de toca-lo, mas também sentia meu peito pegar fogo de culpa.

— O que...? — Comecei tentando formular a pergunta que sobrevoava meus pensamentos, engoli em seco e senti minha respiração acelerar — Brian... O que nos fizemos?

Brian em silencio ele levou o copo que tinha na mão aos lábios tomando o ultimo gole, e assim passou a caminhar até o balcão se sentando em uma das banquetas de frente para a mim.

Era surreal estar ali, tão próxima dele como não estive em messes, e me sentir tão longe como se tivesse um oceano nos separando.

—O que você acha que nos fizemos? — Ele perguntou me olhando impassível.

Eu ri, não poderia ser real, isso não poderia estar acontecendo, tinha que ser um sonho. Por que eu não podia uma vez na minha vida ter algo duradouro? Algo que fosse real, que não acabasse me machucando ao final.

Sem me importar com a merda do lençol, levei meus joelhos ao peito e escondi minha cabeça, eu precisava pensar, precisava me lembrar, por que eu sabia que não podia ter sido capaz de uma coisa dessas, não poderia ter feito isso.

— Não faça disso grande coisa, por que não foi... — Brian disse tão secamente, que fui obrigada a levantar meu olhar para ele, que caminhava para trás do seu balcão a fim de pegar outra bebida — Estávamos bêbedos e você mentiu para mim, nos transamos e vida que segue...

— Do que é que você esta falando? Eu nem lembro de noite passada — Disse jogando meus braços ao alto, a mão de Brian parou a meio caminho de levar o copo com o liquido amarelo queimado a boca, seus olhos se fixarão em meu peito e eu soube o que tinha acontecido.

Rapidamente voltei a me cobrir.

— Você não se lembra de ter batido na minha porta as 04h30min da manha, chorando e me dizendo que você e Jesse tinham terminado? — Brian perguntou levantando uma sobrancelha

Meu queixo caiu, eu não duvidava nada que eu tivesse feito isso, mas o que me impressionava era a frieza com que Brian falava comigo. Engoli em seco olhando afiada para ele.

— Não, eu não lembro infelizmente depois da minha briga com Jess eu tive um dos meus ataques — Disse ríspida.

— Ótimo — Brian disse e veio caminhando até a cama, jogou algo aos meus pés e então voltou a caminhar para a porta do quarto — vai ver vocês dois realmente se merecem, já que ele também não se lembra de ter terminado com você. — Ele abriu a porta e parou se virando em minha direção — Aliais você deveria de ter trocado a senha.

Ele terminou a frase batendo a porta com força e desaparecendo. Engoli em seco e rapidamente peguei meu celular desbloqueando a tela.

O horario no topo da tela marcava 14h da tarde, levei à mão a testa me sentindo desnorteada, como eu podia ter perdido tanto a minha consciência para fazer algo assim? Suspirei e juntando coragem abri o whats, a conversa de Jess já estava aberta.

Jess — “Sinto muito por ter sido grosso, não consegui dormir, fiquei pensando a noite inteira acho que deveríamos conversar”.

Taylor — “Acabei de acordar, logo estarei ai”.

A mensagem havia sido enviada há 10 minutos, o que significava que Brian não estava a mais tempo acordado que eu. Levantei da cama, em busca das minhas roupas, não tinha a menor ideia do que faria, e por causa da mensagem de Brian eu não tinha nem tempo de pensar.

Engoli em seco e peguei as minhas roupas, que estavam perfeitamente dobradas em cima do sofá, nem me preocupei em ir tomar um banho, talvez merecesse estar suja, combina com essa nova personalidade minha, a que gosta de fazer muita merda.

Depois de me vestir, peguei tudo que poderia ser meu naquele lugar, e sai do quarto descendo as escadas.

Parei no meio do corredor não sabendo que caminho seguir, se deveria ir para casa e esquecer que tivera essa noite com Brian, ou se deveria ir falar com ele. Bom, o orgulho não venceu o carinho que eu tinha pelo idiota.

Engoli em seco e rumei para a sala, passei pelas portas apertas conseguindo ver a cabeça do meu ex. A TV estava ligada alta em algum canal de propaganda que Brian gosta, eu segui até ficar em frente a ele peguei o controle sobre a mesa de centro e desliguei a TV.

— Mas que merda você pensa que esta fazendo? — Ele gritou para mim.

— Eu quero saber exatamente o que aconteceu ontem à noite. — Disse olhando para ele o mais confiante possível.

— Não, você não quer — Brian falou enquanto se sentava direito ficando extremamente perto de mim, não queria me afastar e deixar parecer que tinha receio dele, mas estar próxima assim me deixava nervosa. — Por que assim você vai poder voltar sem nenhum peso na consciência para o seu namorado. — Ele disse e fez um sinal com as sobrancelhas voltando a encostar-se ao sofá — Será que da para me devolver o controle?

Fiquei encarando-o por algum tempo, tentando decidir o que fazer, ele poderia até ter razão, mas não importava, se eu tivesse mesmo feito isso com Jesse eu precisava saber o que tinha realmente acontecido.

— Tudo bem então, eu não quero... Eu preciso saber. — Disse e cruzei os braços, isso fez Brian revirar os olhos.

— Ta — Falou derrotado, sabendo que eu não desistiria — Se sente, por favor — Soltando o ar eu me sentei em um dos sofás opostos ao dele. Brian passou a mão no rosto enquanto parecia pensar — Como eu disse você chegou realmente alterada aqui, estava bêbada e chorando, eu tinha acabado de voltar do bar com Kendall, e...

— Kendall? — perguntei levantando uma sobrancelha, os olhos de Brian ficaram mais cautelosos, e ele limpou a garganta antes de responder.

— É uma mulher com quem estou saindo, — Ele falou isso rapidamente, como se não quissesse ter que me contar isso — ela foi embora e... Nos sentamos para conversar, e acabamos bebendo, — Estar ali envolvida em seu cheiro, em sua voz, de volta aquela casa onde tivemos tantos momentos foi como ser engolida por lembranças, enquanto ele ia narrando os acontecimentos eu ia lembrando do que acontecerá, ou talvez querendo tanto me lembrar que acabará imaginando.

Estava sentada no balcão do bar da sala, Brian estava do outro lado do balcão enquanto me conseguia algo para beber, tinha feito ele dispensar a garota com quem estava para ficar comigo, e não sentia remorso algum por isso.

Estar lembrando-se disso é como ver alguém brincar no seu corpo, fazer coisas que você condena em seu nome, como se tivesse a autonomia de fazer isso no seu lugar.

— Prontinho, Gim com Tonica — Brian disse sorrindo e colocando um copo na minha frente o qual eu bebi inteiro em um só gole.

— Você acredita que ele não acreditou em mim? Disse-me que eu estava mentindo, na minha cara, eu não minto, não gosto de mentiras — Falei jogando as mãos ao alto, parecia que  quanto mais álcool eu bebia, mais perdia o controle de mim mesma.

— Você precisa se acalmar, Tay — Ele disse e deu de ombros colocando o cotovelo no balcão. — Aposto que amanha vocês vão conseguir se acertar.

Brian disse, sua voz tinha um tom doce, e ele estava todo atencioso. EU neguei com a cabeça.

— Eu não vou fazer o papel da namorada que perdoa tudo que o outro faz, ele me chamou de infantil e adolescente — Falava alto sem pudor nenhum, era assim que me senta perto de Brian — mas o que aconteceu com você? — Perguntei me inclinando e arqueando as sobrancelhas — Deveria ser o ex-namorado babaca, não o ex-legal, assim não consigo ficar irritada com você.

Isso fez Brian rir e abaixar a cabeça tinha saudades dessa risada.

— Sabe eu tenho sentido bastante a sua falta — Disse sem nenhuma inibição, ou vergonha, disse como se estivesse falando de qualquer outra coisa.

— Passamos muito tempo juntos, é natural que acabe sendo estranho ficarmos longe.

Balancei a cabeça concordando, e o silencio tomou o cômodo, eu tinha tantas coisas a dizer a ele e era como se não soubesse por onde começar. Depois de mais algum tempo em silencio, engoli em seco.

— Posso perguntar uma coisa? — Perguntei a Brian levando meu olhar ao seu, que afirmou com a cabeça. — Por que você agiu daquele jeito no dia em que fui embora?

Isso o pegou desprevenido que abaixou o olhar ficando momentaneamente quieto, eu dei espaço, para ele poder pensar no que me responder.

— Na verdade eu não sabia com agir, — Ele disse levantando o olhar — era surreal demais pensar que você realmente estava indo embora, e tinha medo de que se realmente visse isso eu acabasse fazendo você ficar, eu não achava e nem acho que você devesse ficar comigo.

Confirmei com a cabeça olhando para meu copo vazio, e me sentindo da mesma forma, estiquei o copo a Brian pedindo por mais, que sem contestar foi colocar o gim e a Tonica no copo.

Ficamos conversando por bastante tempo, coisas precisam ser ditas entre nos dois, e bêbados não ligávamos para a hora ou para o tipo de resposta que tínhamos. Era reconfortante estar com ele, eu sentia como se tivesse viajado por um bom tempo, e então tinha resolvido fazer uma visita para minha antiga vida.

Brian e eu conversávamos rindo desinibidos, cada vez mais perto um do outro, cada vez mais sentindo como se tivesse entrado novamente no nosso relacionamento, e foi só uma questão de tempo até eu me inclinar para o outro lado do balcão e beija-lo.

A voz de Brian de repende no meio da historia desceu uma oitava, e ele abaixou o olhar.

— Sabe não é nada legal mexer assim com os sentimentos dos outros, Tay — Falou em tom de brincadeira, mas eu só escutei verdades saindo da sua boca — Eu tenho mais que uma queda por você, e sempre vai ser o meu ponto fraco, não consigo e nunca conseguiria dizer não a você. Nos transamos e no fim você só virou para o lado e dormiu... — Ele limpou a garganta e se inclinou para frente colocando o cotovelo nos joelhos — Acordei com seu celular tocando, quando vi o nome de Jess, fiquei irado por você ter mentido para mim...

Eu realmente não sabia o que dizer a ele, alem de fazê-lo provavelmente perder uma boa garota, eu ainda tinha quebrado seu coração mais uma vez, coisa que tinha prometido a mim mesma nunca fazer.

— Eu quero que saiba que não menti para você — Disse me inclinando e olhando dentro dos olhos dele — Jesse realmente falou essas palavras para mim ontem, e por mais que não tenham sido verdadeiras, bêbada eu não conseguiria distinguir.

— Bom, então não se culpe, por que você realmente não se lembra, você tem uma doença, não é como se fosse culpa sua, você não queria fazer isso.

— Na verdade, eu não acho que querer ou não vai importar importa para Jesse... — Falei suspirando e voltando a colocar minhas costas no encosto — Eu fiz isso já é suficientemente horrível — Disse e engoli em seco fazendo uma breve pausa, esperei que Brian fosse me falar alguma coisa, qualquer coisa... Mas ele não falou.

Não queria ir embora, conversar com ele me fazia bem, fazia eu me sentir em casa...

— Sinto muito que você tenha perdido uma garota por causa mim ontem — Falei a ele, que abriu um sorriso de canto.

— Não perdi... — Ele falou dando de ombros, ao falar dela ele não me olhava nos olhos.

— Ela não se sentiu intimidade com a sua ex bêbada aparecer na porta de sua casa?

— Ela é um tipo diferente de mulher — Brian falou enquanto balançava a cabeça afirmando.

O silencio desconfortável voltou a se instalar ao nosso redor, antes de voltar a tentar puxar assunto limpei a garganta.

— Fico feliz que esteja finalmente se encontrando — Disse docemente.

— Eu nunca estive perdido — Ele retrucou, eu levei meu olhar ao dele, que riu indicando ser uma brincadeira — Eu te perdi Taylor... E ficou um vazio no lugar que você preenchia, eu sabia que nem mesmo álcool e prostitutas poderiam tapa-lo, mas eu tentei fazer com que essas outras coisas que eu gosto me ajudassem a esquecer de que havia te perdido.

— Isso para você da certo? — Perguntei abrindo um pequeno sorriso.

— No inicio deu, deu bastante certo — Falou enquanto confirmava com a cabeça — Só que logo tive que encontrar outras coisas.

— Bom nesse caminho você fez bastante merda, tem que admitir — Falei levantando uma sobrancelha para ele, era tão bom finalmente estar falando sobre todas as coisas que estiveram em meu coração, com quem as tinha colocado lá.

— Você não pode apontar o dedo para mim — Ele falou enquanto balançava a cabeça — Serio mesmo que ficou com ele logo depois de terminar comigo?

Tudo bem, essa eu realmente merecia, mas não desviei o olhar.

— Eu levei uma semana para conseguir pensar em beija-lo — Disse e sem delongas continuei — E um mês para conseguir ir para cama com ele, você quer mesmo comparar o que eu fiz com o que você fez? — Perguntei e soltei uma risada crua.

— A vida pessoal de vocês, é a vida pessoal de vocês, eu não tenho merda nenhuma haver com isso — Brian falou grosso se inclinando mais ainda para frente — A questão é que você fez parecer como se eu tivesse sido chifrado.

— Você quer mesmo discutir isso comigo? — Perguntei a ele levantando a voz, e me indicando. — Por que na mesma semana em que terminamos saiu uma matéria só para dizer a quantidade de mulheres que você tinha comido. Então Brian não venha ser hipócrita para cima de mim, que não vai funcionar.

Isso o deixou sem resposta, mas não tirou o olhar convencido de seu rosto, negando com a cabeça fiquei de pé.

— Eu realmente espero que você faça algo melhor com o resto da sua vida do que ficar enchendo a cara e tranzando com qualquer vagabunda por ai, por que só tem um caminho para uma vida assim, ou você morre de AINDS e completamente sozinho, ou de cirrose e completamente sozinho. — Falei as palavras duramente mesmo, queria que elas o tocassem que elas o fizessem mudar, dei alguns passos saindo do campo de visão dele, antes de me lembrar de outra coisa.

“Há! E não pense que eu não vi a sua caixinha em cima da mesa de centro no seu quarto, você só usa ela quando precisa guardar cocaína, então pode acrescentar overdose a sua lista de mortes prováveis”.

— Quem você acha que é para falar me falar essas merdas? — Brian perguntou enquanto ficava de pé se virando em minha direção. — Você mal sabe o que fazer com a própria vida, pula de homem em homem tentando preencher algo que existe em você que nunca será preenchido, tentando fazer os outros te amarem por que no fundo nem você se ama. — Eu me virei para ficar frente a frente com ele, e Brian também parecia ter algumas verdades a me dizer.

“Você não me conhece mais, não sabe mais quem eu sou ou o que eu faço, não venha apontar o dedo para mim como se fosse à rainha da razão, olhe para a sua própria vida, esse é mesmo o caminho que quer seguir?”

Meu olhar a Brian era suave.

— Você tem razão — Disse a ele balançando a cabeça — Eu não faço mais a menor ideia de quem é você, mas velhos hábitos nunca mudam Brian, e esse sempre será o seu, se acabar em seus vícios, se afundar neles até não conseguir mais sair, e precisar de alguém para te tirar de lá, acontece que dessa vez não tem eu ou Michelle que vá fazer isso.

“E sim, essa é a minha vida, eu amo Jesse, ele me faz feliz, me faz sentir amada e bem, e você nunca vai ser metade do homem que ele é”.

Não querendo ouvir mais nada dei as costas para o meu ex deixando-o finalmente para trás.

———

As mesmas portas de metal se abriram para o mesmo corredor, mas nada ali parecia igual, eu me sentia suja e nojenta, havia feito à coisa que mais desprezava na vida, e teria que encarar meu namorado e contar a ele.

Respirando fundo continuei parada dentro do elevador, as portas ameaçaram se fechar e eu coloquei minha mão para impedi-las, sem nem mesmo ter coragem eu dei o primeiro passo finalmente entrando no corredor.

Não adiantava o quanto lentamente eu andasse a cada passo que dava ficava mais perto da casa de Jess e mais longe ainda da minha coragem. Com as pernas bambas, e a bile presa na garganta eu me pus em frente à porta de madeira completamente branca. É agora ou nunca, pensei.

Soltando o ar que prendia, levei meu dedo à campainha e pacientemente esperei. Poucos minutos depois a porta foi aberta, e dei de cara com um Jess todo arrumado, mas com o cabelo ainda bagunçado.

— Oi — Ele disse sorrindo tímido.

Não esperava que fosse me sentir tão culpada quanto me senti ao vê-lo, foi como se tivessem me apunhalado nas costas, mas na verdade quem tinha feito isso havia sido eu, e com o único homem na minha vida que finalmente estava disposto a me dar alguma coisa.

Foi como se uma represa tivesse se rompido, não consegui mais segurar o choro simplesmente vinha e parecia crescer cada vez mais, Jesse me envolveu em seus braços, e eu me debati para me soltar, não querendo me machucar ele me soltou.

— O que foi Taylor? — Ele perguntou enquanto tentava me segurar e me fazer olha-lo — Não chora aquela briga de ontem não teve significado — Ele falou e isso só me fez querer chorar mais ainda, e foi o que eu fiz — Ai meu deus Taylor, por favor, para, me conta o que ta acontecendo, eu não quis ser um escroto ontem é que...

— Para — Gritei para ele dando dois passos para trás e levantei o braço dando um bom espaço entre-nos, tentei controlar o choro o que até tive certo sucesso — Nos precisamos conversar... — Disse totalmente seria a ele, e só depois de terminar de dizer que me senti segura para olha-lo nos olhos.

Jesse tinha a expressão preocupada, mas fez que sim e então deu espaço para eu poder passar. Segui reto adentrando a sala dele e contornei me sentando no sofá, os balões não estavam mais ali, e eu agradeci imensamente por isso, não sei se teria coragem o suficiente para falar o que precisava se eles ainda estivessem ali.

Jesse se sentou ao meu lado e eu tentei ficar de frente para ele, peguei em sua mão sentindo as lagrima voltarem, isso não vai dar certo.

Contei até dez enquanto acalmava minha respiração, eu tinha que fazer isso. Jesse esperava pacientemente, mas seu rosto tinha o mesmo semblante de preocupação.

Engoli em seco e levantei a cabeça decidida.

— Ontem... — Comecei a dizer, mas segundos depois não consegui terminar. Meu deus como podia ser tão difícil? Eu preciso beber. Fechei os olhos e me concentrei em continuar — Eu só queria dizer antes de tudo, que tudo que eu falei ontem era verdade, parece maluquice, mas realmente passei por tudo aquilo, é só que não soube falar, estava nervosa — Disse esse é um terreno bem mais confortável de se andar. — Bom, depois que você bateu a porta na minha cara, eu tive um dos meus famosos apagões, já estava mal e a briga piorou tudo... Então eu acordei hoje e simplesmente não me lembrava de merda nenhuma que eu tinha feito depois daquilo, e não fazia a menor ideia de onde estava.

— Nossa — Jesse disse seu semblante agora estava mais para confuso e culpado do que para preocupado. — Relaxa amor, agora você esta bem.

Disse chegando mais perto querendo me abraçar, eu o impedi de fazer isso.

— A questão não é essa Jess... — Comecei depois de afasta-lo, ele voltou a franzir as sobrancelhas.

— Então o que é? — O fato de ele nem pensar, ou desconfiar me doía mais ainda. Engolindo em seco eu abaixei o olhar continuando

— A questão é o que eu fiz quando estava apagada — Disse isso enquanto meus olhos marejavam e minha voz embargava e voltava a olha-lo.

Jess ficou estático por algum tempo, quando entendeu que o olhar em meu rosto não era uma coisa boa, e percebeu o que significava, ele me soltou se afastando.

Sentou-se de frente para a TV desligada, os cotovelos estavam apoiados nos joelhos enquanto ele olhava para frente quieto. Depois de 5min em silencio foi impossível não começar a falar.

— Eu juro que nunca faria isso em sã consciência, não era eu... Por favor, diz que você sabe disso? — Falei enquanto me aproximava dele e tentava pegar novamente em sua mão, Jess não me deixou encostar-se a ele, se levantou do sofá e foi caminhando até a janela, eu nunca virá ele tão quieto assim.

Percebi que falar aquilo só tinha piorado as coisas, talvez fosse melhor deixa-lo pensar.

Sentia-me pior que lixo, era realmente a minha cara perder a única coisa boa que tinha me acontecido em tempos. Eu me segurava para não chorar, sabia que o choro não adiantaria em nada naquela situação, talvez acabasse só piorando tudo, mas eu queria tanto chorar que sentia a minha alma doer.

Percebi que com aquilo tudo eu conseguia ver meus sentimentos mais transparentes, a briga com Brian era talvez o que eu precisava para seguir em frente.

Depois de 10 min. de completo e estranho silencio, Jess finalmente virou a cabeça em minha direção.

— Aonde e com quem você acordou? — Disse ríspido, mas já foi o suficiente para me fazer soltar o ar me sentindo aliviada, embora a pergunta me desse arrepio. Nem para começar com uma mais leve?

— Eu não sei se...

— Só me fala — Ele gritou ríspido me interrompendo, ficou todo vermelho e me fazendo dar um pulo de susto no sofá, engoli em seco e confirmei com a cabeça.

Precisei tomar fôlego e fechar os olhos, para falar as cinco palavras o mais rápido possível para que assim eu não desistisse.

— Acordei na cama de Brian — Disse apenas isso e abri os olhos virando-os para ele aflita, tinha medo da reação dele.

Foi então que ele riu como se fosse à piada mais engraçada do mundo.

— Claro que tinha que ser com ele — Jess balançava a cabeça enquanto olhava para a paisagem abaixo de si e ria. — Mais irônico que isso impossível.

Seus punhos fechavam e abriam e ele trincava o maxilar com tamanha força, conseguia ver da onde estava o queixo trincando.

— Jess me perdoa, por favor, eu não queria...

— Cala a boca — Ele voltou a gritar enquanto levantava uma mão pedindo para parar, engoli a frase no meio e senti lagrimas descerem pelo meu rosto. — Por que você me contou isso? — Perguntou finalmente virando os olhos cheios de ódio em minha direção — Por que não fez igual a qualquer um e escondeu isso? Você sabe que conseguiria.

De repente eu me sentia ofendida, quer dizer então que se ele me traísse não me contaria? Engoli a magoa em ouvir aquilo e deixei as lagrimas descerem pelo meu rosto enquanto buscava forças para responder aquela pergunta.

—Eu nunca conseguiria esconder algo assim de você, e me dói saber que você esconderia de mim, mas eu entendo aonde quer chegar — Jesse me deu as costas voltando a olhar para fora da janela, eu respirei fundo preparando para falar — Se eu escondesse isso, — Comecei a dizer com a voz no tom mais dócil e amável que conseguia.

“Seria por que não me arrependo, ou por que não me sento envergonhada e humilhada por causa disso, mas eu me sinto assim. — não queria que ele achasse que eu me orgulhava de algo sequer parecido com isso, por que eu me sentia como a pior pessoa do mundo naquele momento — Eu acho que você sabe o quanto eu acho repugnante traição, não queria isso tivesse acontecido, não agora, tirando a briga de ontem, nos somos bons juntos, com você eu sou melhor do que já fui a qualquer momento da minha vida. Independente de qualquer coisa quero que saiba que eu amo você.”

Jesse ficou mais algum tempo em silencio, depois passou a andar em direção à porta que dava para o hall, e no caminho pegou um casaco, eu fiquei de pé rápido o acompanhando com o olhar.

— Aonde você vai? — perguntei colocando a mão sobre o coração e já sentindo a preocupação me tomar.

— Eu preciso sair daqui, preciso ficar bem longe de você, e das suas merdas. — Jesse gritou e saiu me deixando em pé perdida no meio da sua sala.