Hospital Universitário de Gangnam-gu, 03h17min AM
Área pediátrica
Nove crianças internadas em estado crítico, cinco em observação, uma sendo preparada para receber alta e uma inúmera quantidade de pais afoitos em busca de informações sobre o estado de seus filhos.
A música ambiente impregnando meus ouvidos á fim de retirar parte daquela tensão corporal que me acometia não estava funcionando em nada. Como chefe das áreas obstetrícia e pediátrica daquele hospital, minha cabeça se encontrava “á mil”, eu podia escutar o murmurinho incansável dos familiares dos pacientes do outro lado da porta de minha sala. Meu plantão estava prestes á acabar, mas, de qualquer forma, eu não sentia que havia muito o que fazer dentro daquele recipiente. Minha cabeça já pesava, assim como as pálpebras oculares e eu só rezava para que o médico do próximo turno chegasse o quanto antes.
Eu adoraria chegar em casa e apenas dormir, mas eu sei bem que não será assim. NamJoon, meu marido, vem tirando todo o meu sono nos últimos meses, eu ando desconfiando dele, mesmo sem provas. E o fato de querermos sempre revidar as palavras grosseiras, não ajuda em, absolutamente, nada.
Nosso casamento entrou em decadência.
Á tempos não nos relacionamos mais profundamente, corpo a corpo. Não compartilhamos mais do mesmo calor e a chama que se tornava imensa sempre que estávamos na mesma cama. Já não havia mais sexo, não existia mais amor.
Essa era a conclusão que havia chegado até mim.
Mas eu sabia que não era isso, eu ainda sentia falta da sua pele na minha, dos suspiros e lágrimas de prazer. Eu ainda sentia falta do meu NamJoon e não pensava, mesmo em meio a tanto caos, em deixá-lo. Cogitar esta idéia me deixava, demasiadamente, nauseado.
- Não acha que está na hora de ir pra casa e descansar um pouco? Sua expressão está péssima e seu marido deve estar lhe esperando.
Senti uma mão quente e acolhedora em meu ombro, pressionando-o levemente. Não havia notado quando Yoongi, também obstetra, havia entrado em minha sala. Ele me olhava de forma acolhedora enquanto eu tentava falhamente retribuir o sorriso. Talvez eu estivesse mesmo cansado, de tudo.
- Ele não tem mais esta preocupação. – Sorri amargamente ao que minha fala se referia ao meu marido. – Talvez tenha optado por continuar no seu escritório, como ele sempre tenta justificar quando não o encontro em casa, mesmo de madrugada.
- Hyung, você deveria saber que toda profissão tem suas dificuldades e deveres. – Ele sentou-se a minha frente. – NamJoon é um advogado muito respeitado, não devem ser poucos os casos que ele tem de resolver.
- Eu sei, Yoongi. Mas... – Suspirei pesada e pausadamente. – Eu não agüento mais. Eu sinto tanta falta dele.
Assim que notara minha voz vacilar, o loiro se levantou e me abraçou. Ele havia se tornado um grande amigo e eu agradecia por isso, pois ele era uma das poucas pessoas em quem eu podia confiar dentro daquele hospital, pois a inveja era um dos maiores males daquele ambiente. Ninguém media esforços para derrubar ninguém, nem mesmo o filho do dono de todo aquele lugar.
- Vá para casa. Já está passando do horário designado á você, eu seguro as pontas enquanto o outro médico não chega.
Apenas assenti em agradecimento a sua compreensão e companheirismo, logo depois me dirigindo para o estacionamento a fim de entrar de uma vez em meu carro e seguir direto para o conforto, ainda que distante, do meu lar.
∞
Assim que cheguei ao condomínio, estacionei meu carro ao lado do de Namjoon. Além de nossos automóveis, havia mais um, o qual não reconhecia. Ainda do lado de fora, pude notar que a maioria das luzes da casa estavam ligadas e algumas sombras demonstravam que não havia apenas meu marido lá dentro.
Encontrava-me angustiado, pois a sonolência já começava a dar sinais de que iria embora e era muito tarde para visitas.
Ao adentrar o local, notei que a mesa de jantar estava impecável e os alimentos ainda intocados. Porém, a mesma estava vazia, sem nenhuma alma penada, fazendo-me chamar pelo meu marido, mesmo que um pouco á contragosto.
- NamJoon? – Comecei a subir os degraus da escada assim que não obtive resposta alguma. – Alô? – Cantarolei.
- HYUNG! – Me assustei em imensas proporções assim que senti ser abraçado com tamanha força para braços tão magros quanto os de meu irmãos caçula.
- Que susto, TaeHyung! – Me afastei de seus braços apenas para fitá-lo melhor e lançar alguma ameaça. – Você-
- Aish, Jin hyung! Hoje não, por favor. – Falou com um bico, mas logo este fora desfeito dando lugar ao sorriso quadrado que eu tanto amava. – Não vai me parabenizar? – Abriu os braços á espera de felicitações que não vieram.
- Pelo quê...? – Dei um sorriso sem graça. Desde que eu me formei, TaeHyung sempre reclama por não sermos mais tão próximos e eu não me importar mais com ele. Mas não era essa a verdade, minha profissão havia tomado grande parte do meu tempo.
- Eu não acredito. – Ele desfez o sorriso. – Você não leu os mais de 300 e-mails que eu lhe enviei, como sempre, não foi?
- Tae, me desculpe. – Tentei me aproximar, mas o mesmo recuou um pouco. – Olha, você sabe como é corrido pra mim. E têm acontecido tantas coisas ultimamente. Por favor, me perdoe.
- Eu passei, hyung. – Falou baixo e sem ânimo. – Eu passei para a tão sonhada faculdade de música, Julliard.
Não evitei abrir o meu maior sorriso e pular em cima do meu irmão. TaeHyung sempre sonhou em cursar música na América, e vê-lo conseguir esta proeza em uma das maiores e mais renomadas universidades de lá, compensou todas as noites em que eu não tenha dormido durante esta semana.
- Eu não acredito. Você- Não me contive e o abracei novamente – Você conseguiu. Eu estou tão feliz, tão orgulhoso de você. - A esta altura eu já chorava e meu irmão ria baixinho enquanto afagava minhas costas.
- Eu havia prometido a você, hyung. – Ele sussurrou.
- E você cumpriu. – Respondi na mesma tonalidade, antes de puxá-lo para a sala de jantar.
∞
Assim que chegamos até o cômodo desejado cumprimentei meu cunhado, Jung Hoseok, a quem o carro que havia encontrado ao lado do de NamJoon, pertencia. Fiquei sabendo também que TaeHyung havia chegado as oito horas da noite e que cismou que só sairia de minha residência quando me contasse a novidade, mas como eu havia chegado muito tarde, não permiti que o mesmo e seu namorado fossem embora e lhes ofereci um dos quartos livres da casa.
Após o jantar, este que eu descobri que havia sido feito pelo meu irmão, ficamos jogando conversa fora até que o cansaço vencesse. Bom, meu marido não nos acompanhou e, para ser sincero, eu é que não me dei ao trabalho de chamá-lo, mesmo sabendo que ele estava em algum dos cômodos do lugar.
Ao adentrar o meu quarto me deparo com NamJoon sentado com as costas escoradas na cabeceira da cama fazendo alguma leitura, tendo como iluminação apenas a luz fraca do abajur. Quando notara minha presença voltou toda sua atenção para mim, como se esperasse algo de minha parte.
Eu apenas me mantive em silêncio.
- Plantão? Outra vez? – Fora ele quem se pronunciara primeiro.
- NamJoon, eu estou, realmente, cansado. Se você permitir que eu durma, ao menos por hoje, eu seria grato. – Falei enquanto retirava o jaleco, o qual só agora havia notado que ainda permanecia em meu corpo.
- Eu apenas estou perguntando onde você estava. Não é só você que tem curiosidade em saber onde seu marido passou a madrugada inteira. – Ele falou com uma calma que não condizia com o contexto, e isso fora o suficiente para fazer com que eu chegasse ao meu limite.
- Você sabe onde eu estava. – Falei com o tom já, demasiadamente, alto. – Você sempre sabe onde eu estou, ao contrário de mim, que perco noites de sono á sua espera!
- Eu nunca pedi para você me esperar. – Ele ainda falava calmamente, agora com os olhos voltados para o livro que descansava em suas pernas. Eu queria ter uma conversa séria, olho no olho, e com esse pensamento arranquei o livro das mãos do outro quase o rasgando no processo.
- EU QUEM SEMPRE FUI IDIOTA O SUFICIENTE PARA FAZER ISSO! – Gritei vendo-o colocar uma expressão dura na face. – Enquanto isso você estava no seu “trabalho”. Este que para mim nem existe mais, pois você poderia estar em qualquer lugar! – Finalizei já sentindo as lágrimas descerem, mesmo que sem minha permissão.
- Você quer parar com isso? – Ele se levantou enquanto alterava, levemente, sua voz. – SeokJin, você está completamente fora de si. Não há nada, não há ninguém.
Ele tentava se aproximar de mim, em vão. Á cada passada sua, eu me distanciava com duas.
- Não há ninguém. – Repeti sorrindo amargamente, as lágrimas ainda banhando minha face. – Nem mesmo nós.
- Jin, por favor... – Ele falou cansado, tentando mais uma vez se aproximar. Eu apenas neguei com a cabeça e me retirei do quarto.
Não fora uma surpresa quando encontrei TaeHyung e seu namorado do lado de fora, com olhares hesitantes e preocupados. Alternei o olhar entre eles, tentando lhes passar segurança e uma confiança que não me pertencia.
Falhei ridiculamente, pois logo fui abraçado com força pelo meu irmão, enquanto o mesmo sussurrava coisas como “não se preocupe, hyung, eu estou aqui.”.
∞
Não me recordo de quando havia voltado para o meu quarto, mas quando eu acordei estava no conforto de minha cama e com um TaeHyung sorrindo fracamente acariciando meus fios de cabelo.
- Bom dia, dorminhoco. – Alcancei sua mão e entrelacei nossos dedos. – Você desabou hoje de madrugada.
- Que horas são? – Perguntei.
- Dez horas e alguma coisa. – Assim que arregalei meus olhos o mesmo voltou a falar. – E está bem cedo ainda, já que hoje é o seu dia de folga e você possui empregados nesta casa. Esqueceu?!
- Me desculpe. – Me recompus. – Onde está Hoseok? – Perguntei procurando pelo outro.
- Provavelmente, está tomando café da manhã. Ou dormindo. – Riu com a última afirmação, arrancando um sorriso meu.
- Tae, mudando de assunto. – Fiquei tenso por um momento, já sabendo qual seria a resposta para a minha pergunta. – Como eu vim parar aqui? Eu não havia dormido em dos quartos de hospedes?
Ele voltou a sorrir quadrado, pois sabia que eu já tinha noção de qual forma eu havia ido parar na minha cama.
- NamJoon hyung. – Respondeu sem rodeios. – Eu estava esperando que você dormisse o que não demorou muito a acontecer, para que eu pudesse voltar para o quarto onde Seok se encontrava. Mas antes que eu pudesse ter feito isso, um NamJoon com uma imagem acabada, entrou no quarto e perguntou se estaria tudo bem se ele o levasse para o quarto de vocês.
- Eu não me lembro de nada disso.
- Eu também achei estranho você não ter acordado assim que o hyung o pegou no colo. Seu sono fora sempre tão leve, qualquer movimento era capaz de acordá-lo, acho que você estava, realmente, cansado, Jin.
- É, eu estava. – Suspirei. – Mas o tempo não para.
- E os cuidados com sua saúde também não deveriam ser interrompidos, hyung. Você sabe o quanto é sensível, e se não estiver saudável como continuará trabalhando?!
- Eu prometo que vou me cuidar mais, só preciso de mais um tempo em minha agenda.
O outro apenas assentiu e logo saiu do cômodo, alegando verificar o que seu companheiro estava fazendo. E aproveitando o momento, me dirigi até o banheiro que ficava dentro do quarto, logo me despindo e tomando um longo banho. Usei deste tempo todo para divagar dentre as memórias construídas com meu marido, as quais não foram poucas e que variavam desde as mais incríveis até as mais dolorosas.
Assim que terminei, fui em direção á cozinha encontrando uma das cozinheiras mais próximas de mim e NamJoon, ciente de todo o caos que estávamos passando.
- Bom dia, meu menino. – Deu um sorriso enrugado.
- Bom dia, Yon. – Sorri leve. – Você sabe me dizer se NamJoon-
- Ele já foi trabalhar, meu querido. Saiu bem cedo, a propósito. – Lançou-me um olhar acolhedor.
- Obrigado, noona.- Agradeci brevemente e retornei ao nosso aposento.
Talvez, hoje fosse apenas mais um dia comum. Em que eu passaria a madrugada em claro á espera de alguém que, acredito eu, não faria o mesmo por mim.
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