História Twin Heart - "Coracão Gêmeo" - 4 - É Você

"Eu posso sentir", ele disse.

Naquele momento, ele parecia lembrar de tantas coisas que até me perdi nos nossos olhares. Queria saber no que ele pensava.

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Aoba's POV

França - Noite anterior, mansão da família de Noiz

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Nome: Seragaki, Aoba

Idade: 21 anos

Identificação: Convidado - Anfitrião (ã) : Wim, Noiz (Participante Empresarial)

País de Origem:  Japão  -   Local:  Nova Midorijima (Estado Livre)

Acompanhantes:   Seragaki, Tae (72 anos)      -      Parentesco: Avó

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  Faziam 3 dias que havíamos chegado na França. Ninguém teve muito tempo para olhar muito ao redor, mas ainda teríamos bastante. Mesmo com o fim da feira, ficaríamos mais um período aqui.

Um bom período...

Midorijima é nossa casa, sim. Mas por muito tempo foi nossa prisão. Sair era um grande passo. E sair juntos, maior ainda.

Depois de Noiz voltar de seu reencontro com a família,  na Alemanha, ele se mostrou competente o suficiente para administrar e ser o novo presidente de uma área que a empresa de seus pais pensava em crescer. A de Tecnologia.

E foi assim que ele fez. Começou voltando ao Japão e comprando todos os direitos da empresa criadora dos projetos tecnológicos da cidade, a Toue Inc., e também... os direitos de Rhyme. 

O jogo.

Esse provavelmente foi o maior negócio de Noiz. A ideia deu tão ceto que atraiu investidores, filiais, empresas e interessados em financiar e patrocinar e comprar os futuros projetos criados com a tecnologia do Rhyme.

No fim as ideias se transformaram num projeto maior. Os pais de Noiz cederam um grande espaço pra que ele trabalhasse, e ele quis nos colocar no meio.

Acompanhando ele viemos, eu, oba-chan Tae, Clear e Koujaku. Mizuki tem a intenção de vir em breve pra estudar (quem diria...), mas esteve ajudando os rapazes da Dry Juice*  a se  restabelecerem na Nova Midorijima. Agora somos livres da repreensão que comandava a cidade, vinda da antiga empresa que comanda o Rhyme.

Neste momento, estamos todos numa mansão que a  família de Noiz já possuía. Eles tem umas 6 por toda Europa.

E pensar que Noiz vivia apenas de pizza...

No geral, a oba-chan ainda faz os melhores bolinhos do mundo e é a melhor avó que alguém iria querer. Ela exitou um pouco em vir, mas certamente queria sair de Midorijima tanto quanto nós.

Clear continua o mesmo. Ele ainda tem a mania irritante de me chamar de "Master", mas é bem mais independente e seguro de si. Claro... Ainda chama atenção por onde passa, de qualquer um. Seja por sua "pura beleza artificial" , sua voz ou sua... Excentricidade. '-'  Ele ajuda Noiz na empresa e tem mais informações sobre Rhyme do que qualquer um. Sobre o SCRAP também... Afinal ele era uma tentativa de aperfeiçoar meu poder.

Koujaku... Nunca o vi tão bem. Começou a ficar famoso e procurado quando diversas garotas saíram de Midorijima, livres, e expuseram seus cortes de cabelo com o toque oriental de Koujaku. De uma forma até estranha, ela agora é um ícone para o mundo... Fashion.

É... Nós dois estamos... Bem próximos.  Ele sempre foi meu amigo e me ajudou quando mais precisei. Sempre.

Para ser sincero, eu não sei o que pensar e nem como agir em relação aos sentimentos que acabei nutrindo por Koujaku. Ele me faz feliz.  Me acalma... E as coisas acontecem...

Bem... Nada assumido. Não é uma relação esclarecida.

- Aoba? - avó Tae apareceu na porta. Estou me acostumando a usar francês e inglês mas não consigo deixar de dizer...

- Oba-chan! - sorri. - Entre. Estava preenchendo a ficha da feira. Já terminei. - Ela concordou olhando. E então... Deu um peteleco no meu queixo.

- Aiiiii! Oba-chan! - Reclamei esfregando o queixo dolorido. - Por queeeê?!

- Neto tolo. - disse séria. - Deixando tudo para última hora. Venha logo jantar. - suspirei e ri.

- Hai, hai... A senhora via conosco amanhã certo? - ela bufou.

- Vou. O que posso fazer... Você e esse bando de moleques não sobreviveriam sem mim nessa feira em um lugar desconhecido. Acho que tenha um lugar para eu  sentar... - Ri.

- Okay, Oba-chan, okay. Amanhã será um dia legal. 

- Assim espero. - ela sorriu, ao dizer.

*Dry Juice é a "gangue"/grupo de Mizuki, onde se uniam para as competições de Rhyme na antiga Midorijima.  

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A feira estava lotada. Noiz não parava e por N motivos Clear tinha que ficar ao lado dele. Koujaku foi reconhecido ainda perto do parque de diversões e foi arrastado pra um tipo de bate-papo com suas fans... Dão muito crédito pra quem está na mídia por aqui. Mas... Me virei bem sozinho.

Ninguém prestava muita atenção no cara de cabelo azul enquanto estava numa feira dessas.Haviam muitos cosplays diferentes, muitos outros cabelos coloridos (tingidos... Caham), e novidades mais legais.

Pude ver bastante coisa e ver todos se dando bem. vovó não said e perto do cafézinho no canto direito da feira, perto  dos outros quiosques e lanchonetes (tinham cadeiras lá.). Quando a apresentação do "Rhyme Senses"  , a ideia inovadora (e muito boa, por sinal) de Noiz , começaria, decidi passear um pouco com Oba-chan.

Ela sempre gostou de ler e a feira de literatura era logo mais a frente, na expo do lado.

A chamei e começamos a caminhar, ela levando seu frappé que dizia ser muito bom. Pensei logo em provar um pouco mais da culinária francesa até que...

- Ai! - Olhei para o chão e senti uma forte pontada na cabeça - Mas o quê...

- Aoba..? - vovó chamou por mim. O que é isso? Eu não tinha tonturas assim há mais de 1 ano. Pareciam as mesmas que eu tinha por causa... Das luzes de Rhyme.

Ouvi os dizeres em japonês  da apresentação do Rhyme Senses. Por um momento, lembranças  diversas passaram pela minha cabeça.

Os coelhos de luta que Noiz usou contra mim numa batalha Rhyme... As águas-vivas da música de Clear... As tatuagens que Ryuho fez que  Koujaku tanto amaldiçoava... Um forte cheiro de canela... Cheiro de... Do...

- Mink... - sussurrei. Saí do transe e a tontura passou.

- O quê? O que foi, Aoba? Está passando mal? - Oba-chan parecia mesmo assustada. Eu passei um longo tempo mal no passado, não queria preocupá-la.

- Tudo bem, Oba- chan, tudo bem. - Endireitei minha postura. - Estou bem. foi só uma dor de cabeça... Passou. - ela me analisou.

- ... Ora, pois não me assuste assim. - disse firme, mas apreensiva. - E tome um pouco disso, o café vai ajudar. - Ela me ergueu o frappé. Agradeci e cheguei o copo perto da boca enquanto voltávamos a andar para a outra feira. Quando a bebida encostou minha boca , senti o gosto e o cheiro... Canela. 

"Por que me lembrei de Mink?" - pensei - "Ele se foi. Sumiu. Foi embora depois que tudo acabou. Talvez até..." - suspirei, mandando o triste pensamento para longe. Olhei m direção a praia.

"Por que tive essa recaída?".

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- Aoba, busque mais desse café.

- Tem outra lanchonete ali, Oba-chan.

- Eu quero o de lá. Vá indo, vá. - disse. - Eu vou procurar livros de culinária.

- Oba-chan, tem gente pra cozinhar pra nós na mansão. - Ela revirou os olhos, bufando.

- Já disse que faço minha própria comida. Sou velha, não incapaz!

- Hai, hai, calma! - disse - Já vou.

Dei uma voltas na feira literária com Oba-chan antes de seu pedido inusitado. Não estava cheia como a tecnológica, mas atraia muitos interessados e tinha muitas editoras, lançamentos e títulos para mostrar.

Joguei o copo do frappé fora, e procurei voltar pelo mesmo caminho que dividia as duas exposições. Porém... Me perdi. Claro.

Comecei a me levar elevar pela multidão, tentando encontrar a porta por onde entrei. Acabei esbarrando em algumas pessoas, inclusive uma garotinha de cabelo violeta. Ela arregalou os olhos ao me ver, provavelmente por causa do cabelo.

- Goume... - me confundi de novo. - D-desculpe, moça. - Ela parecia confusa, mas continuei procurando.

- Por onde foi que eu vim..? - Pensei em voz alta, enquanto virava um corredor. Nesse momento, olhando por cima de todos, esbarrei, colidindo fortemente com alguém que estava ali.

- Goumenasai, é... Perdão. Eu... - falei extremamente envergonhado, me confundindo completamente.

A pessoa estava meio abaixada e pareia ser uma garota, uns 10 cm menor que eu (que nunca fui alto.).  Seu cabelo caía na frente do rosto... E... Seu cabelo era...

Era Azul.

Da mesma tonalidade que o meu., e muito parecido mesmo. Mas quando ela ergue a cabeça...

Eram meus olhos. Eram iguais. E brilhavam, certamente, como os meus. Eles se misturavam um no reflexo do outro. No meio da multidão, éramos eu, ela, e uma quantidade de eletricidade correndo todo meu corpo de forma indescritível. Eu sentia o que ela sentia, e sabia que ela sentia o mesmo sobre mim. Estávamos num silêncio ensurdecedor.

Mas nada precisava ser dito.

- Eu posso sentir...

- Aoba... - a voz de Oba-chan me fez acordar para o que havia ao meu redor. Ela pareceu se perder no que dizia, então olhei para ela. Parecia... Muito tensa. Parecia não acreditar na cena.

- Oba-chan, você... - Eu pretendia falar algo mas observei seu olhar caído sobre ela. Ela nos entreolhou e pousou o olhar nela. Estava boquiaberta e elas se olhavam. Ela parecia tão... Esperançosa. E oba-chan parecia... Emocionada? Tae Seragaki parecia ter... os olhos marejados? - Vó...

Ela pareceu se assustar com meu chamado. Num sobressalto, tomou minha mão.

- Temos que ir... Agora. - Disse extremamente focada.

- Oba-chan, mas... - ela grudou o olhar olhar em mim com desespero. 

"Agora" - ele dizia.

Ela segurou minha mão mais forte e me puxou, eu olhei para a garota. Era uma mistura de emoções.

Oba-chan deu dois passos e parou. Então se virou.

- Qual é seu nome, criança? - disse com um sotaque perfeito.

- ... - Ela não tinha palavras. Parecia até não ter voz. Mas quando falou, acho que pela primeira vez entendi o que os outros sentiam ao escutar minha voz. - ... Liz. É Liz. - vovó respirou ainda mais fundo e eu deixei sua voz sondar pela minha mente.

- É você. - Oba-chan afirmou, coma voz embargada, enquanto estudava a moça.

- ... Você, eu também... - ela me olhava com surpresa mas emoção, e não conseguia terminar a frase. E também não sei se terminou.

Oba-chan se mostrou bem mais forte e rápida do que eu imaginava, e me puxou, enquanto nos misturava a multidão. Eu queria dizer algo. E queria questionar vovó, me soltar e voltar lá. E falar com ela. Queria vê-la.

"É você" -  vovó disse.

É. É ela. As minhas sensações, os meus sentimentos, os pensamentos, as emoções... Liz.

Não sei quem é... mas, sim.

É ela.