História Twin Love - Love

UMA SEMANA DEPOIS

Os dias se passaram numa lentidão incomum, todos apenas resumidos em remoer as próprias dores e problemas, querendo o isolamento e a invisibilidade, que por ironia do destino, foram anuladas da vida de todos, depois da fofoca se espalhar pelo colégio inteiro.

As palavras usadas para caçoar Newt e Thomas, eram afiadas, cortavam com mais precisão do que qualquer faca considerada mortal, e a cada segundo a mais naquele lugar sufocador, a dor de seus corações só se concentrava em aumentar.

O orgulho se fazia presente, enquanto os dois irmãos, apenas olhares castos se trocavam, por que até isso parecia ser um crime para a sociedade de alunos julgadores, tudo parecia pauta para uma boa piada.

Arrumando seus pertences dentro de sua mochila, no quarto de Teresa, Thomas suspira, olhando a cada cinco segundos para seu celular.

– Qual é, Thomas? – Teresa indaga, arqueando as sobrancelhas. – Por que você simplesmente não bateu lá na casa do Minho e disse tudo isso aí, pessoalmente, para ele?

– Ele não me ouviria – O moreno responde, pegando o celular em mãos novamente. – Um texto e uma mensagem subliminar já bastam para ele decidir o que realmente quer.

– E se ele não responder? – A amiga questiona. – Você vai embora e deu?

Suspirando, Thomas viaja em sua mente.

Ok que a ideia de Ava de viajar por alguns meses era razoável e ele compreendia os motivos, mas obriga-lo a ir com ela? Para Thomas isso era um absurdo, mas como ainda tinha dezessete anos, obedece-la era a única coisa que poderia fazer.

– Não sei se vou conseguir ir viajar com ela – O moreno diz. – A minha raiva por ela já diminuiu, mas parece que ela quer fugir dos problemas dessa maneira.

– Talvez ela queira resolver primeiro os problemas com você, para em seguida fazer isso com o Newt – Teresa palpita, se pondo em pé. – Eles conversaram, será?

– Não sei – Thomas respira fundo. – Mas deixe isso para lá e vamos, ao meio-dia Ava que sair e se o Newt não aparecer em minha casa até lá, irei viajar e a merda vai continuar do jeito que está.

– Bela maneira de pensar, seu idiota – Teresa responde, revirando os olhos. – Ponha animo nesse corpo!

– Vou tentar!

Se encaminhando a passos curtos em direção a porta do quarto de Teresa, Thomas suspira, sabendo já o que teria pela frente.

Point of View of Janson Gillen

Agora, meus passos são largos, apenas me dedico em observar a paisagem caótica que se instala ao meu redor. Os altos prédios, as pessoas amontoadas entre as calçadas, a rua inundada de carros.

Todos parecem presos em seus próprios mundos, pensando em seu trabalho, nas contas que tem a pagar, e o quão odeiam o lugar onde moram. Mas eu, no momento, mantenho minha mente vazia, coisa que não me ocorre a muito tempo.

Avalio o ar impuro que adentra em minhas narinas e isso me lembra a ela, quando ficava bêbada. Sempre inconsciente, correndo em direção aos meus braços, procurando algum tipo de amparo pela dor que continha em seu coração. Eu, nunca neguei isso a ela, meu coração era estritamente de seu domínio, até que ela me negou algo, e bom, ela se tornou apenas uma vadia ingrata.

Saco meu celular do bolso, analisando o horário. Daqui a algumas horas o espetáculo irá começar, com direito a transmissão ao vivo da televisão. Mas, quem terá a visão privilegiada disso tudo, será eu, que depois de tantos anos, sendo a sombra que ela nunca reparou, sendo o silêncio que ela nunca questionou, sendo a morte que a esperava, iria ver seu corpo queimar entre as chamas, iria ver cada osso de seu corpo se desmanchar, iria ver tudo se tornar apenas cinzas.

Meu sorriso ao pensar nisso se alarga, por isso, adentro na cafeteria mais próxima numa distância de cinquenta metros, para comprar assim, um café preto forte. Eu precisaria de paciência e lucidez, para analisar a cara de desespero de Ava Paige O’brien ao descobrir que eu, Janson Gillen, nunca havia sumido de sua vista, que na realidade, eu sempre havia sido o pilar que sustentava sua vida fajuta, rodeada de mentiras, mas, infelizmente, como tudo um dia na vida acaba, o meu pilar de sustentação se desgastou, e agora eu simplesmente, iria sentar, e deixar sua vida acabar por completo, apenas como uma singela retribuição.

Point of View of Autora

Batucando seus dedos contra a cintura, Newt avaliava a situação de sua vida.

Primeiro que ele amava Thomas, segundo que ele amava muito Thomas e por terceiro, ele amava perdidamente Thomas.

Tudo plenamente se resumia a isso, tudo, e não importava para onde que ele olhasse ou fosse, poderia sentir e ver Thomas, era inevitável.

Seu coração se apertava bruscamente ao saber que seu orgulho o impedia de fazer qualquer coisa, até de olhar nos olhos de Thomas, ato que ele praticava constantemente a dias atrás.

Com o celular em mãos, Newt questionava se seria certo ou não ler a mensagem mandada a mais de uma hora pelo moreno.

Respirando fundo, ele decide que sim. Desbloqueando rapidamente o aparelho, o loiro diretamente vai para a conversa de Thomas, tentando controlar ao mesmo tempo, sua respiração, que estava descompassada.

TOMMY

10H30min

Newt, antes de querer apagar essa mensagem ou nem ler, peço apenas que me escute, por favor, Newt. Esse foi o único meio que encontrei de tentar realmente falar com você, pois seriamente, na escola você nem olha em minha cara e ir à casa de Minho estou estritamente proibido. Isso é demais para mim. Meu coração chega a sangrar ao saber que você nem se quer deseja trocar alguma palavra comigo.

Ok, eu te entendo pequeno, você ainda deve estar choque, revoltado e querendo que todos ao seu redor morram. O seu mundo desabou e o chão que sustentava seus pés, despencou. Isso apenas em dias, ou semanas? Eu não sei, agora sem você, sem seu toque, seu olhar, não tenho mais noção de tempo e espaço. Está tudo um caos. Tudo parece se misturar em minha mente.

Você, a única pessoa que realmente amei em minha vida, é meu irmão. Eu não consigo imaginar o ódio que você está sentindo de Ava, você nem consegue saber que ela está na casa ao lado, não é? É, eu sei disso, eu conversei com seus amigos, tentei me comunicar com Tasha e até mesmo Vince, tudo apenas para saber como você está.

Mas eu não sei isso olhe importa. Por que no momento, você está aí, tentando criar uma camada de mármore sobre seu coração, tentando ter algum tipo de orgulho ou sei lá o que. Eu sei que está tentando fazer isso, por que eu também tentei, mas falhei, pois apenas de pensar em você, tudo se desfez em segundos, ou até milésimos. Eu penso tanto em você.

Eu não mais o que fazer sem você aqui. Eu nunca imaginei que ficar sem alguém que nós gostamos fosse tão devastador, e ainda por cima por algo que não foi nós mesmos que causamos. Mas agora, você deve estar se perguntando o porquê de eu estar lhe dizendo essas coisas. Eu não quero piedade, só queria respostas, para coisas que perambulam pela minha mente noite e dia. Eu nem se quer sei se você pensou em mim nesse meio tempo, mas pode ter certeza que eu sim. Todas as manhas, tardes, noites e principalmente madrugadas.

Só de pensar em você, tudo dentro de mim se aperta bruscamente. Pensar que você está longe de mim, que está frágil, triste e desamparado, faz eu me afundar em lágrimas, pois eu estou imponente. Pois eu queria tanto te abraçar, te confortar com minhas palavras bobas, ou simplesmente me deliciar com o nosso silêncio cheio de palavras ocultas. Queria poder acariciar seu cabelo, enquanto sinto sua cabeça em peito. Ou sentir sua respiração calma, e ver sua boca entre aberta enquanto dorme calmamente como um anjo.

Um anjo. É isso que você é para mim Newt. Um anjo, que veio até mim e me salvou. Me deu alegria, me protegeu quando eu precisava e deu um significado especial a palavra Amor, que era tão desconhecida para mim.

Eu não sei se você se quer se sente assim em relação a mim.

Não sei se quando me vê seu coração acelera, se suas pupilas se dilatam, ou se suas mãos soam ao mesmo tempo que tremem. Não sei se você anseia meu encontro, ou se você se sente feliz apenas com minha presença. Não sei se você gosta de me analisar, pois para mim eu poderia ficar fazendo tal tarefa por horas, dias. Essa realmente é a coisa mais relaxante do universo.

Ver seus olhos chocolate refletindo seus sentimentos. Ver seus traços únicos sendo expostos ao mundo. Ver seus braços magros, brincar pelo ar. Ter como gratidão um belo sorriso apenas para mim.

Essas coisas tão simples, que faziam meu coração acelerar. Faziam minha garganta secar, e meu sorriso se alargar.

Coisas que eu sinto falta, pois agora você está longe de mim. Tão perto e longe ao mesmo tempo.

Eu não sei. Mas agora, sentado na cama de Teresa, eu acredito que sim, que você sente essas coisas, na mesma intensidade que eu. Mas tudo parece tão complicado. E eu não sei o que realmente fazer.

Minhas mãos tremem, enquanto minha garganta se fecha, tendo como reflexo, o choro que virá a seguir.

Sinto isso, ao mesmo tempo que apenas tenho vontade de me afundar em minha cama, assim como estou fazendo desde que você sumiu da minha vista.

Tudo está confuso e eu só tenho realmente certeza de uma coisa, e eu irei me amarrar a isto, até o final de nossas vidas.

Você é a pessoa que eu mais amo nesse mundo, a única que me entende apenas com um olhar, ou que me deixa bem com um simples sorriso.

E eu não quero desperdiçar esse sentimento, não quero que ele seja esquecido, e fique apenas como uma lembrança boa do passado.

Quero ele no meu presente, e no meu futuro.

Eu quero você na minha vida, quero me casar, quero construir uma família com você, quero dormir e acordar ao seu lado.

Eu quero ignorar que somos irmãos, que tudo ao nosso redor conspira contra nós.

Quero tacar o foda-se para quem quiser nos julgar, quero tacar o foda-se para tudo.

Eu apenas quero VOCÊ.

Essa é a única certeza que eu tenho.

E você pequeno, qual sua única certeza? Espero que você saiba, pois essa é minha primeira tentativa de fazer você ver a verdade que está escancarada em sua frente, pense, Newt, pense.

Ao meio dia irei sair com Ava, passaremos um mês fora, tome sua decisão, estarei te esperando, se não vier, já sei sua escolha.

Caso você tenha apagado o meu número, isso é do eterno garotinho de sete anos da casa ao lado, que te ama intensamente, até o seu último suspiro.

Com o rosto inundo de lágrimas e o coração caindo em um abismo, Newt se vê sem saídas e muito menos palavras.

Estava se sentindo um repleto idiota, babaca, otário.

Quase todas as palavras que definissem o quão burro ele havia sido por achar que conseguiria em futuro remoto esquecer Thomas e tudo que ele sentia pelo mesmo.

Suas mãos estavam num tremar incessante, e sua visão estava turva, o deixando deslocado.

Pondo a mão sobre o sofá da sala de estar da casa de Minho, ele tenta se estabilizar, enquanto limpava as lágrimas que corriam livremente ainda pela sua bochecha.

Seu peito estava prestes a explodir com tamanho da dor que sentia, tudo parecia frágil, uma ferida aberta, que ao pensar em tudo que estava causando a Thomas, era cutucada, o causando uma ardência nunca sentida.

Olhando para tela de seu celular, o horário no canto da tela faz seus olhos se arregalarem. Já eram 11h50min.

– Puta merda, puta merda – O loiro fala rápido, se pondo em pé. – Mas que merda, quantos minutos eu levo para ir até lá?

Falando sozinho, ele corre em direção a garagem da residência, se dando conta que nenhum carro estava ocupando o local.

– MERDA! – Ele grita, sentindo uma angustia e um medo irreconhecível pairar em si.

Correndo novamente para a sala, ele vai rapidamente em direção a porta, saindo em uma velocidade alta pela mesma.

Se pondo a correr pela calçada, ele tenta inspirar e expirar o ar corretamente. Quatro quadras o esperavam, e ele não tinha o mínimo de resistência física para correr aquela distância, sem sentir fadigas.  

Assim, depois de alguns minutos, o seu coração parecia doer pela falta de oxigênio, e suas pernas estavam prestes a fazê-lo desistir de tudo.

Engolindo em seco e sendo consumido pela ansiedade, seus pensamentos quase todos vão em direção a Thomas, e que, por uma possibilidade remota, ele mudasse o horário de sua saída.

Por favor Tommy, por favor!

Sentindo tudo tremer dentro de si, Newt finalmente alcança a rua desejada. Com a garganta seca, ele grita, numa missão inútil de Thomas ouvi-lo.

– THOMAS, MEU DEUS, THOMAS! – Estava sem fôlego, tudo parecia sair apenas como um murmúrio para seus ouvidos.

A poucos metros de estar em frente à residência do moreno, seu corpo sofre uma parada brusca.

Com os olhos ainda inundado em lágrimas, ele sente tudo desmoronar ao ver o carro de Ava estar prestes a virar a esquina.

Não podia ser possível, não podia. Merda, Newt, merda! Thomas vai achar que você não quer mais ele, merda, não!

Respirando e inalando o máximo de ar possível, ele se põe a correr novamente, ainda gritando o nome de Thomas, na esperança dele ouvi-lo.

Ao dar os primeiros dez passos, algo o faz parar.

Sentindo um calor queimante sobre seu rosto, um estrondo alto é ouvido.

Sendo posicionado para trás, no mesmo instante que põe a mão sobre o rosto, um cheiro forte invade suas narinas.

Tentando entender o que estava havendo, o loiro varre seu olhar rapidamente para todos lados, até os mesmos pairarem sobre algo.

Seu coração se desacelera no mesmo instante em que vê chamas altas escapulirem pelo carro de Ava.

Tudo parecia estar queimando e se desmanchando em simples milésimos.

Uma simples explosão, e tudo estava destruído, acabado.

Engolindo em seco novamente, ele sente suas pernas serem movidas inconscientemente em direção ao carro, que ainda estava se desfazendo aos poucos.

Sentindo seu pulmão necessitar de ar, ele respira fundo, no exato momento, que seu corpo é jogado para trás, num movimento violento e doloroso.

Batendo as costas contra o chão da rua, mais estrondos altos são ouvidos, enquanto outra chama alta sai do carro, juntamente com uma fumaça densa.

Tossindo ferozmente, Newt olha em direção aos pneus derretidos contra o chão. Seus olhos pareciam queimar, enquanto ele engatinhava rapidamente para trás, tentando se afastar.

Com o peito explodindo em medo, angustia, impotência, algo passa como um vulto em sua mente.

Thomas está morto.

Sentindo um choque em seu corpo, ele se levanta rapidamente, procurando por seu celular, em seu bolso.

Merda, não, dessa vez não!

Se arrependendo mentalmente por ter deixado seu celular sobre o sofá, ele sente seu braço ser puxado para trás.

– Garoto, saía de perto! – Uma voz grossa lhe invade.

Sendo puxado para longe do carro e da confusão já instalada ali, Newt sente seus joelhos falharem, e todo seu peso despencar no chão.

Sentindo um grito explodir de sua garganta, suas pupilas se dilatam por completo ao ver o fogo, a fumaça e os caminhões dos bombeiros se aproximarem.

Tentando encontrar forças para se recompor, Newt apenas ouve os murmúrios ao seu redor, todos dizendo a mesma palavra: Morte.

Passando a mão pelos cabelos e os agarrando, uma culpa lhe preenche.

Ele havia matado Thomas, era culpa sua, tudo culpa sua.

Se não tivesse sido orgulhoso, se não tivesse agido igual um idiota e se não tivesse pensado apenas em si mesmo, talvez Thomas estivesse em seus braços naquele instante, talvez ele estaria se reconciliando com Ava, talvez ele estaria sorrindo, mas não, isso não estava acontecendo, por que ele havia estragado tudo.

Thomas estava queimando, se tornando apenas um amontoado de feridas, sem vida, e tudo aquilo, era culpa dele.

Seus joelhos ainda permaneciam juntos ao chão, eles estavam fracos, assim como o resto de seu corpo.

Com lágrimas nos olhos, ele apenas enxerga o borrão dos movimentos ao seu redor, tudo parecia confuso, irreal.

E assim, tentando afastar todos os sentimentos que se faziam presentes em si, Newt grita, o mais alto que pode, numa tentativa, falha como as outras, de Thomas ouvi-lo, aonde quer que estivesse.