História Two Hearts (Jimin) - Capítulo 11

Estava anoitecendo e o toque de recolher estava quase chegando, Jin me apressava para ir para casa, mas não conseguia, ver aquela garotinha definhando por causa de alguma doença desconhecida para a época, mas que facilmente poderia ser identificada como varíola, pedi para que Jin não deixasse ninguém se aproximar, afinal se essa menina estava assim era muito provável que logo alguém mais apareceria do mesmo jeito, febre, erupções, vômitos, manchas vermelhas...

Se eu conseguisse replicar a vacina para que todos pudessem tomar, mas infelizmente nesta época é quase impossível, principalmente com o tipo de situação que vivo...

-S/N. –Jin me chamou ao lado da porta. –Esta na hora de ir, não vai arriscar...

-Ok, ok... Já estou indo. –falei me levantando e olhando pela ultima vez a menina que dormia com uma expressão de dor no rosto. –Queria poder fazer mais para ela...

-Você já fez o suficiente, ela estaria com muita dor agora se não fosse pelo seu remédio... –falou andando ao meu lado até a saída, desci as escadas e percebi que Jin tinha uma sacola de pano em suas mãos.

-O que é isso? –perguntei e apontei para o saco.

-Comida... –respondeu me estendendo. –Para você, não quero que adoeça enquanto cuida dos nossos pacientes.

-Jin...

-Vamos logo com isso. –me deu a sacola e abri vendo frutas diversas que eram raras encontrar no mercado e quando as via eram ainda mais caras do que imaginava, além de alguns bolinhos de arroz. –Não quero que me devolva apenas coma e fique saudável...

-Tudo bem, não irei reclamar... –respondi sorrindo e me aproximei dele o abraçando e dando um beijo em seu rosto que era frio como um cubo de gelo. –Muito obrigada Jin...

-Ah... N-não precisa me agradecer, se eu pudesse faria mais. –disse dando as costas e entrando, fiquei sozinha ali na frente e voltei meu olhar para a rua, completamente deserta...

Caminhei por poucos metros antes de começar a ouvir gritos desesperados, parei de caminhar olhando em volta, mas não... Continuava a mesma coisa, ninguém na rua além de alguns soldados passando pela rua e me lançando olhares de desgosto.

Caminhei mais um pouco e assim que entrei em uma outra rua ouvi o grito mais alto seguido de um rosnado que fez meu sangue gelar e meu coração parar por alguns segundos, eu estava errada, não era brincadeira de algum maluco, não era uma onça ou um cachorro louco, se bem que era bem parecido, mas não... Não era um cachorro.

A fera na minha frente estava em cima de um homem que tentava com o resto de suas forças dar seu ultimo grito em vão, olhei em volta e nada naquela rua poderia me ajudar a escapar... Estava sozinha talvez se eu voltasse para o consultório, poderia trancas as portas e me esconder com Jin...

Dei um passo para trás tentando sair daquele lugar em silencio, mas parecia que nada estava ao meu favor, pois pisei em um galho seco que quebrou fazendo um barulho que naquele momento o som de mil baterias de samba passando pela rua.

A fera, um lobo enorme de pelos densos na cor castanho, olhos negros e os dentes afiados sendo mostrados para a mim cobertos de sangue, por um breve momento a fera passou a enorme língua pelos dentes mostrando sua vontade para se saciar...

Não era religiosa, mas neste momento estava rezando para que algo ou alguém me tirasse dali, a fera veio na minha direção em grandes passos lentos e como resposta dava outros menores para trás, ouvi vozes se divertindo e pensei nos soldados que vi minutos atrás, eles estavam nas ruas para isso certo? Matar a fera?

Então sem pensar muito nas consequências dos meus atos fiquei de costas para o lobo e corri o mais rápido que pude enquanto segurava com força a barra da minha saia para não tropeçar, conseguia ouvir as patas peludas do monstro pisando no chão atrás de mim, mas não me importei, eu tinha que alcançar os guardas, eu não posso morrer aqui...

Eu não posso morrer... Estava próxima dos soldados quando decidi grita-los, sua atenção foi voltada para mim e o olhar de terror tomou conta deles, enquanto os três empunhavam suas espadas, passei por eles e não olhei para trás, pois o que eu fiz pode ter sido a pior decisão que tomei, pois sem olhar para trás, consegui ouvir os gritos dos homens que deveriam matar a tal fera.

Cheguei à porta do consultório e a abri com facilidade, mas neste momento não conseguia dizer qual era a pior situação, a fera atrás de mim querendo me matar e estraçalhar, ou a fera na minha frente em corpo de homem, Jin estava com a garotinha em seus braços enquanto aparentemente sugava seu sangue pelo pescoço, o liquido vermelho escorria pelos ombros da garota e podia ver o maior sugando com toda sua vontade a apertando enquanto seus olhos tinham apenas prazer...

A porta atrás de mim bateu assustando tanto a mim quando Jin que olhou na direção assustado e acabou me vendo, seus olhos vermelhos vibrantes e em seus lábios carnudos manchados com o sangue da menina agora morta no chão escorria por ele...

-S/N. –me chamou, mas antes que ele pudesse se levantar corri para longe, o que ele era... O que aquela fera era...

Não conseguia pensar direito no que estava acontecendo, apenas corria o mais rápido que podia para longe daquele lugar, precisava chegar às terras dos Park o mais rápido que podia, sim... Aquele era o único lugar sem todo esse problema, se eu conseguisse ir até lá talvez eu ainda consiga viver...

Minhas pernas davam seus primeiros sinais de fraqueza, mas as forçava para continuar, não conseguia entendeu o que tinha acontecido, a fera que todos temiam parecia ser tão perversa quanto nas historias que o povo contava, o jeito que devorou aquele homem no meio da cidade, os botos diziam que ela só fica na floresta, mas agora do lado de fora seria ainda mais perigoso se ela aparecesse de manhã... E Jin, o que ele era... Que tipo de monstro ele é, seus olhos naquele tom de vermelho me causava arrepios, quando ele me viu que soltou o corpo da criança no chão sem vida, aquele não era o medico que conhecia... Era a face que no meu tempo, no meu século, em 2017, a face que aparecia em filmes de terror, o monstro sanguinário que se denominava vampiro, tomava o sangue de suas vitimas, mas antes as torturavam psicologicamente, mas como ele, SeokJin, o medico gentil que convivi nas ultimas semanas pode ser o mostro que amedronta apenas com o olhar. Será que esses monstros ainda existem atualmente, que vivem entre nós.

~QUEBRA DE TEMPO~

Estava no casebre na terra dos Park, encolhida em um canto enquanto Ji Soo, já curada dormia no meio do local, tentava não pensar no que aconteceu, mas foi em vão toda vez que  fechava os olhos a imagem do lobo vinha na minha mente, e quando os abria a imagem de Jin naquela forma estranha aparecia.

Meu medo só aumentava ao pensar que amanhã teria que ir novamente ao consultório, Jin tinha pedido autorização para que eu pudesse trabalhar no consultório o que deixou o senhor Park irritado, mas a senhora Park concordou prontamente, afinal seria um bom motivo para visita-lo algumas vezes na semana, Jimin não gostou nada e pelo jeito deveria ter ouvido o que ele disse sobre não confiar no medico.

Jimin neste momento parece ser o único que eu posso confiar e depois de tudo o que eu mais queria era estar em seus braços...

A manhã chegou rapidamente, sai primeiro que Ji Soo e fui preparar o café da manhã de Jimin, sinceramente estava alheia a tudo a minha volta... Queria saber o que fazer, queria voltar para casa, para o meu século, Queria encontrar a velha que me mandou para cá e encher a cara dela de tapas... Estava confusa, qualquer pessoa que passe por mim pode ser um monstro como SeokJin, a noite no meio de uma das minhas deduções, lembrei que ele caminhava tranquilamente pela luz do sol, vampiros não conseguem fazer isso...

Entrei no Quarto de Jimin após me anunciar e caminhei de cabeça baixo até a mesinha de centro onde ele comeria, vi que o garoto estava sentado na minha frente, mas não prestei muita atenção, apenas andei de costas sobre seus protestos e me sentei sobre os tornozelos, e pensar que nunca conseguia ficar nessa posição por mais de 10 minutos, agora posso passar horas assim.

-S/N. –ouvi Jimin chamar e olhei em sua direção, o mais velho tinha um olhar preocupado nos olhos e pela primeira vez naquele dia, o olhei prestando atenção nos detalhes, ele estava com o mesmo uniforme de quando o vi pela primeira vez, sua espada descansava ao seu lado igualmente. –Esta tudo bem?

-Sim... –menti, não falaria o que aconteceu.

-Não parece estar. –falou e se levantou andando em passos rápidos na minha direção, e ajoelhou na minha frente colocando uma de suas mãos em meu rosto. –Esta com manchas escuras em baixo dos olhos, não conseguiu dormir?

-Já falei que estou bem Jimin. –não respondi sua questão, não queria falar, não queria lembrar do que aconteceu e do que poderia ter acontecido, Jin sabe que o vi e provavelmente acha que contarei para alguém, ele pode tentar se livrar de mim e consequentemente de quem esta perto de mim...

-S/N...

-Para! – o interrompi e me levantei o olhando de cima, o lugar que ele tocou em minha bochecha formigava e implorava por um contato maior. –Você não esta vendo que eu não quero falar? Por que continua insistindo? Por que não me deixa em paz! Que saco...

-Não entendo o que você esta querendo dizer? Por que esta querendo que eu me afaste? –perguntou se levantando e ficando a poucos centímetros de distancia, tive que levantar a cabeça para olha-lo.

-Jimin eu estou confusa, ta legal? Eu preciso pensar e você não esta me ajudando com perguntas desnecessárias. –soltei um suspiro, precisava de um tempo. –Eu preciso de um tempo sozinha...

-Tempo sozinha? Esta terminando com o que temos? –perguntou confuso e uma pequena ruga surgiu no meio de suas sobrancelhas, suas bochechas estavam ficando vermelhas, ele estava lindo naquela roupa, parecia um príncipe, como na primeira vez que o vi...

-Sim, você não entende o que eu estou passando, não era para eu estar aqui Jimin, parece que estou vivendo em outro planeta e nem sei como eu cheguei neste lugar, um dia estava na porta da igreja me casando e no outro no meio da floresta sendo perseguida. –cuspi o que estava entalado na garganta. –Eu sou medica não escrava, minha vida estava toda planejada e eu estava feliz com ela, mas aquela senhora teve que aparecer e me jogar de cabeça em um lugar onde pessoas são tratadas como lixo, monstros caminham lado a lado com humanos comuns e ninguém percebe e agora me pergunto se tudo o que estou vivendo é real ou se estou apenas enlouquecendo, me imaginando no império Goryeo quando na verdade deveria estar na atual e democrática Seoul!

Soltei tudo o que tinha que falar, Jimin parecia mais confuso que antes, mas seus olhos estavam vermelhos e lacrimejados, provavelmente o meu estava do mesmo jeito, pois tentava me segurar para não chorar na frente dele... Alguém bateu na porta anunciando a chegada do general Gong Yoo. Jimin parecia não ter ouvido, pois continuava parado olhando fixamente em meus olhos, provavelmente tentando entender e buscar alguma explicação queria me aproximar, queria toca-lo e entrar embaixo dos seus braços o abraçando fortemente, sentir seus lábios conta os meus e ser tomado por ele durante todo o dia, mas com um suspiro longo e desviando nossos olhares Jimin ficou sério.

-Coma alguma coisa antes de ir. –falou passando por mim e abrindo a porta. –A cachoeira é um bom lugar para pensar... Ninguém vai te atrapalhar...

Saiu pela porta a fechando em seguida e sumiu pelo corredor da casa, não estava com fome então apenas peguei a bandeja me retirando do local em seguida, a senhora Shim estava lá com Hwasa, Ji Soo e algumas ouras meninas.

-Então Jimin vai mesmo? –ouvi Hwasa perguntar para Shim enquanto se apoiava no balcão.

-Sim, foi uma ordem do rei... Todos os soldados que antes estavam livres do seu serviço tem que voltar imediatamente para que possam montar um exercito e matar a fera que anda solta pela cidade. –Shim explicava enquanto preparava o chá da senhora Park.

-AH... Espero que o senhorzinho volte a salvo, ontem essa fera matou três soldados armados imagine o que não pode fazer com um exercito. –uma das meninas falou e a olhei, então era por isso que Jimin estava com o seu uniforme, droga ele estava indo para a boca do inferno e eu nem lhe dei a chance de contar, ou se despedir...

-S/N, no que tanto pensa? –Hwasa perguntou e olhei em sua direção, todas olhavam para mim.

-AH... N-Nada... –respondi olhando para baixo... –Jimin não comeu a comida dele e vocês disseram que ele iria caçar a fera...

-Ah... Ele deveria ter comido algo, é perigoso isso, ele vai ter que correr e matar a fera, sem energias ele pode acabar sendo morto. –Ji Soo comentou e todas assentiram, o pior era saber que ele não comeu por minha causa...

Por favor, fique bem...

-S/N. –Shim me chamou e eu a olhei, ela me encarava preocupada. –Jimin me informou que você iria fazer uma coisa para ele... Que você iria sair e voltaria apenas amanhã de manhã...

-S-Sim... –menti e Jimin também, ele não me pediu nada, mas deixou avisado para que não me procurassem, Jimin me desculpe por ter sido grossa quando você parece se importar tanto comigo...

-Posso confiar que você vai realmente fazer isso? Voltar? –perguntou e assenti, as meninas me olhavam curiosas, provavelmente para saber aonde iria...

-Sim senhora... –falei me curvando.

-O que ele pediu? –Hwasa perguntou e mesmo que a senhora Shim já tivesse virado e prestasse atenção no chá que fazia, sabia que estava atenta ao que eu falaria.

-Casa... –lembrei do que ele tinha me dito uma vez, ele não queria vir para a casa dos pais dele, pois tinha comprado sua própria casa no meio da floresta. –Ele quer que eu limpe a casa de um amigo, ele acabou de voltar de viagem e ainda não comprou nenhum escravo para fazer os serviços de casa.

JIMIN P.O.V

 As noites estavam ficando cada vez mais difíceis, a fera dentro de mim estava conseguindo o controle que tanto queria e eu estava perdendo o pouco que eu tinha, a noite passava em branco a não ser por alguns flashs de arvores, pessoas mortas e o cheiro de sangue em minhas narinas, acordava sempre machucado o que acabava levando algumas horas para cicatrizar, o que complicava no meu dia a dia, pois tinha que fingir que nada tinha acontecido quando na verdade eu estava com um corte nas costas, ombros e braços. O único dia que não consegui controlar a expressão de dor foi quando pensei ter quebrado ou ombro, mas na verdade foi apenas um deslocamento que S/N resolveu rapidamente.

Tinha que confessar ter ela ao meu lado me deixava extasiado, a felicidade tomava conta do meu corpo e coração e quando ouvia sua voz conseguia afastar até mesmo o lobo de tentar tomar o controle do meu corpo, mas infelizmente tem algo nela que também o atrai, seu cheiro, S/N tinha um odor maravilhoso exalando de sua pele, um cheiro doce misturado com flores silvestres, me deixava louco...

Era um sacrifício me separar dela, queria S/N ao meu lado todo o tempo, sua pele macia contra a minha, seu gosto em meus lábios, seu cheiro no meu interior, S/N tinha o melhor beijo que já provei, se bem que nunca tinha beijado uma garota antes, e nem feito... E nem... Nunca senti ou vi o corpo de uma mulher mais intimamente... Mas com S/N fica difícil me controlar, quando estou com ela só a quero ainda mais perto, colada em meu corpo, no meio dos meus braços, com os lábios contra os meus.

No exercito do rei o general Gong Yoo junto com os outros soldados quase todas as noites ele mandava trazer algumas Gisaengs para o campo, os sons que eles emitiam e a felicidade que demonstravam nos dias seguintes ficava curioso, mas não queria experimentar uma coisa intima com uma estranha...

Os dias que ela passou indo para o consultório do tal Kim SeokJin foram os piores, ela voltava com um cheiro estranho sobre o seu, não era ruim, mas... Talvez pelo que ele seja... Nunca vi um, mas sabia como eram e quando senti seu cheiro aquele dia em minha casa sabia quem ele era e o que, vampiro, em Goryeo existem poucos, mas as lendas contam como podem ser sanguinários, frios e assassinos, se bem que a fera dentro de mim não é muito diferente...

O cheiro do tal vampiro era uma mistura de cheiros, talvez pelo sangue que ele tomava, Então quando S/N chegava ficávamos alguns minutos juntos antes de eu começar a sentir o efeito da transformação e ser obrigado a me despedir...

Essa ultima vez não consegui vê-la chegar, meu lobo se transformou mais cedo e quando voltei ao normal estava com um ferimento no abdômen, corte de uma espada, tentei buscar na memoria o que pode ter acontecido e nada, por um vago momento pensei ter visto S/N correndo, mas pelo cheiro que vinha da cozinha de manhã significava que ela estava aqui e bem... Não tão bem, pois ela estava quieta demais, afastada e ansiosa, acho que senti um pouco de medo exalando dela também, mas fiz o erro de perguntar o porquê, pois ela se estressou e disse algumas coisas sem sentido e terminou o que tínhamos, mas o que nós dois tínhamos, um sentimento forte um pelo outro eu tinha certeza, amor talvez, nunca senti por nenhuma mulher antes então não sei ao certo... Mas como poderíamos nos denominar? Noivos? Ela já tem um noivo que pelo que ela falou queria muito estar ao seu lado, então eu não sou seu noivo... O que eu seria? Consorte? Amante?

Eu queria ser aquele que habita em seu coração...