— Se você estiver em coma alcoolico, eu vou me culpar pra sempre. – escutei uma voz distante e abri os olhos com dificuldade, logo tendo consciência da dor de cabeça que eu estava sentindo. – Você acordou!!! – a Pri pulou ao meu lado na cama e eu a empurrei, fazendo com que ela caísse no chão.
— Por que você tá gritando? – perguntei enquanto cobria o rosto com as mãos.
— Bem-vinda à sua primeira ressaca. – ela falou baixinho, se sentando ao meu lado na cama.
— Eu to enjoada... – falei baixinho, me ajeitando na cama e me sentando.
— Toma. – abri melhor os olhos e enxerguei um comprimido em sua mão e uma copo de água na outra.
— Você já veio preparada? – falei sorrindo e pegando o comprimido da mão dela, colocando na boca e bebendo a água. Ela assentiu com a cabeça e se sentou ao meu lado.
— Como foi a sua primeira noite bêbada? – ela perguntou e eu fechei os olhos com força.
— Eu lembro de ter caído algumas vezes. – falei rindo e ela olhou pro meu pescoço, logo me lançando um olhar malicioso.
— Caiu na boca de quem? – ela arqueou apenas uma sobrancelha e eu arregalei os olhos, me virando pro criado mudo ao meu lado e pegando um espelho na gaveta, logo vendo o estrago no meu pescoço.
— Meu Deus... – arregalei os olhos e passei a mão. – Ai! – arregalei os olhos ao notar que estava um pouco dolorido.
— Viva a tequila! – a Pri disse sorrindo, enquanto eu continuava boquiaberta.
— Priscila... – falei balançando a cabeça negativamente e ela começou a rir.
— Pra quem senta no colo do Shawn de toalha e ainda por cima molhada, eu não duvido nada que...
— O que? – a interrompi. – Como você sabe disso? – perguntei rindo. – Você viu? – arqueei as sobrancelhas e ela balançou a cabeça negativamente.
— Não foi só você que ficou bêbada... – ela falou sorrindo, enquanto eu ainda não entendia o que ela queria falar. – O Shawn passou praticamente a noite toda desabafando comigo. – ela falou rindo. – Ele não vai resistir, Lana. – ela fez uma cara maliciosa, me fazendo rir, mas logo fiquei séria.
Levei alguns segundos pra me recordar de tudo o que eu lembrava, e o que eu lembrava parecia suficiente.
— Meu Deus... – olhei pra um ponto fixo e me lembrei de cada toque da noite passada.
— Relaxa... – ela sorriu, relaxada.
– É sério... – disse correndo pro banheiro e entrando debaixo do chuveiro.
Eu precisava tomar um banho demorado pra pensar direito no que eu tinha feito, eu tinha beijado o Shawn, mas ele está namorando, e o pior, com a minha amiga. Que tipo de pessoa eu sou?
Depois de um banho um pouco demorado, saí do banheiro enrolada na toalha e vesti a primeira roupa que vi, secando rapidamente o meu cabelo e descendo as escadas, encontrando a Pri no sofá.
— Vai pra onde? – ela perguntou me olhando, enquanto eu parecia mais perdida do que nunca.
— Eu... – falei sem ter pensado numa resposta. – A Mila! – sorri, aliviada. – Tenho que me desculpar, não é mesmo? – perguntei abrindo a porta.
— Você ainda não se desculpou? – foi a última coisa que eu escutei antes de fechar a porta e correr na casa da Mila.
Bati na porta algumas vezes e o Shawn abriu, me surpreendendo.
— Você? – franzi o cenho e ele sorriu sem jeito.
— Eu acabei de chegar. – deu de ombros e deu passagem pra eu entrar.
— Eu vim me desculpar com a Mila. – falei sem jeito, ajeitando o cabelo atrás da orelha e notando o seu olhar descer pro meu pescoço.
— Você foi atacada por que animal? – ele cruzou os braços e deu uma risada fraca, mas logo trincou o maxilar e pareceu ficar sério.
— Ah... – disse colocando a mão no pescoço. – Eu...
— Bom dia! – olhei pra trás e a Mila estava com um pote na mão e o lençol em volta de seu corpo. Ela sorriu e se sentou no sofá, eu me aproximei e me sentei ao seu lado, mas um pouco distante.
Ela começou a comer o cereal do pote, levando a colher até a boca e olhando pra gente.
— O que vocês querem? – ela perguntou arqueando as sobrancelhas e eu olhei de lado pro Shawn, logo voltando a olhar pra ela.
— Eu queria me desculpar, Mila... – falei me ajeitando no sofá. – Eu falei coisas que não devia, e eu sinto muito se eu te magoei. – suspirei e ela assentiu com a cabeça. – E desculpa pelo tapa. – falei com certo receio, ela me olhou e sorriu.
— Tudo bem. – deu de ombros, comendo mais um pouco do cereal.
Olhei de lado pro Shawn e franzi o cenho, estranhando a sua reação, e o Shawn me olhava da mesma forma.
— Você está bem? – perguntei me aproximando e ela assentiu com a cabeça.
— Estou ótima. – ela sorriu. – Tive uma noite maravilhosa. – ela sorriu mais ainda e eu olhei pro Shawn.
— Uma boa noite de sono, você quis dizer? – Shawn cruzou os braços e sorriu, mas eu sabia que era um sorriso meio desconfiado.
— Não. – ela deu de ombros.
— Bom dia. – escutei uma voz masculina e me surpreendi, me virando e vendo um garoto descendo as escadas só de bermuda.
Olhei pro Shawn e ele estava com os olhos arregalados, assim como eu.
— Tem suco, Jackie? – o garoto perguntou e a Mila assentiu com a cabeça.
— Na primeira prateleira da geladeira. – ela sorriu pra ele, que sorriu pra gente e foi pra cozinha.
— Jackie? – o Shawn perguntou ainda boquiaberto.
— Ah, não sou eu. – ela assentiu com a cabeça. – Na verdade, a Jackie teve uma boa noite... Agora eu sou a Sophie. – ela voltou a comer o cereal e eu não podia estar mais confusa.
— Mila, o que tá acontecendo? – Shawn perguntou se aproximando da Mila, que continuava sentada, comendo seu cereal.
— Eu sei que vocês estão falando da Mila, eu a conheço, ela é a personalidade original, mas ela não está aqui agora, ok? – ela arqueou as sobrancelhas e eu olhei pro Shawn, que parecia estar tão confuso como eu.
— Do que você tá falando? – Shawn se agachou na frente da Mila, que o olhava com desdém.
— Olha... – ela colocou o pote de cereal no centro da sala e se ajeitou melhor no sofá. – Eu sei que as coisas devem estar confusas pra vocês. – ela respirou fundo. – Eu sou a Sophie, a personalidade inteligente, digamos assim... – ela sorriu. – A Mila tomou remédio pra dormir e isso só aflora o transtorno que ela tem, revelando as outras personalidades.
— Transtorno de personalidade múltipla. – falei baixinho, mas ela me escutou.
— Isso! – ela apontou pra mim. – A mãe da Mila tem isso, né? – ela perguntou e eu assenti com a cabeça. – Todas as personalidades sabem o que acontece com todas, mas depende do momento pra cada uma aparecer...
— Então... O que fez a personalidade Jackie aparecer? – o Shawn perguntou, olhando pra ela, tentando entender.
— A Jackie é a parte safada. – ela disse sorrindo. – Ela que transou com esse cara. – ela disse apontando pra cozinha e o Shawn arregalou os olhos. – A Sophie aparece depois da transa, depois que a Jackie descansa. – ela sorriu e olhou pra mim. – A Mila aparece quando ela não toma remédio. – deu de ombros. – A Mila era normal, amiga... – ela olhou pra mim. – Mas isso está destruindo ela. – ela assentiu com a cabeça, enquanto eu não conseguia parar de olhar pro Shawn, que parecia não acreditar no que estava acontecendo. – A Mila agora é histérica, chata, ciumenta e tem uma pitada de loucura. – ela deu uma risada fraca. – Ela te ameaçou de morte, não foi? – ela perguntou apontando pra mim.
O Shawn olhou pra mim e eu olhei pra ele sem saber o que dizer.
— Normalmente, uma personalidade não sabe o que a outra faz, mas eu sei de tudo. – ela deu de ombros. – E ah, sinto muito, Shawn, deve ser um saco ser traído. – ela falou colocando a mão sobre a dele. Ele se levantou e se virou, colocando as mãos na cabeça e andando de um lado pro outro pela sala.
— Shawn... – andei até ele, que já estava perto da porta.
— Ela te ameaçou de morte e você não me disse? – ele falou com uma expressão de decepção.
— Eu não queria te preocupar... – eu disse tentando me aproximar, mas ele parecia não parar quieto.
— Ela me traiu. – ele disse passando a mão no cabelo e se encostando na parede.
— Ela tá doente, Shawn... – falei tentando acalmá-lo, mas ele parecia estar em choque, parecia não me escutar.
— Eu não sei se ela já foi a Jackie comigo, a Sophie ou outra que possa se desenvolver e a gente não vai saber. – ele fechou os olhos e eu não sabia direito o que fazer.
— Shawn... – tentei falar algo, mas ele passou por mim e foi até a sala.
— Mila... – ele falou e ela o olhou.
— Sophie. – ela falou com a boca cheia de cereal, logo engolindo e sorrindo. – A Jackie ama quando você dá o remédio controlado pra Mila e ela acaba tomando mais dois escondido de você. – ela falou rindo. – A Jackie é louca por você. – ela o olhou dos pés à cabeça. – E não vou negar que ela está totalmente certa. – ela deu um sorriso malicioso.
— Eu não estou brincando. – Shawn falou seriamente. – Eu to acabando com você. – ele assentiu com a cabeça e a Mila, Sophie, não sei, assentiu com a cabeça.
— Mas você precisa falar isso pra Mila, não é? – ela franziu o cenho e o Shawn passou as mãos no rosto.
— Eu sei que ela tá sabendo. Você não é a inteligente? Vai passar isso pra ela. – ele deu um sorriso irônico. – Eu cansei! – ele falou dando um sorriso aliviado. – Eu tentei cuidar da Mila, mas cuidar de três ou mais? Eu vou acabar enlouquecendo! – ele disse e suspirou. – Eu sinto muito, Mila, e eu sei que você tá me escutando, mas você não precisa de um namorado, você precisa de tratamento. – ele assentiu com a cabeça e se virou, me puxando pela mão e saindo da casa.
Shawn foi me puxando pela mão até a sala da sua casa, onde ele se sentou no sofá e depois se levantou, olhando pra mim.
— Lembra quando a gente era criança e fez o pacto que poderíamos chorar um na frente do outro? – ele perguntou e eu assenti com a cabeça. – Eu to morrendo por isso, mas eu não consigo chorar. – ele falou passando as mãos no cabelo, bagunçando-o e fechando os olhos com força.
— Você não precisa guardar tudo pra si. – falei me sentando ao seu lado. – Você sabe que eu to aqui por você. – ele olhou pra mim e os seus olhos estavam marejados, as lágrimas gritavam pra sair, mas ele não permitiria aquilo, eu sabia que não.
— Eu tenho que falar com o pai dela... – ele falou baixinho e eu balancei a cabeça negativamente.
— Ele sumiu, Shawn, ela falsifica documentos pra conseguir viver sozinha, seria bom se a gente conversasse com a Mila pra ela aceitar o tratamento, e depois...
— Ela não vai aceitar, Lana! – ele me interrompeu. – Você sabe, você a conhece, ela vai negar até a morte. – ele falou, voltando a olhar pro chão.
Depois de alguns minutos naquela situação, tentamos pensar em alguma saída, mas a única que conseguimos foi tirar os remédios dela, dar apenas a dose necessária e guardar o resto, sendo assim, ela não tomaria mais que o necessário.
Depois que conversamos muito sobre o assunto, resolvemos mudar um pouco e começamos a falar da festa.
— Você não vai me dizer quem fez isso no seu pescoço? – ele perguntou com uma expressão séria.
Eu balancei a cabeça negativamente e decidi entrar no seu jogo. Ou ele sabia que tinha sido ele e estava brincando comigo, ou ele não se lembrava de nada.
— Você conhece... – falei num tom de brincadeira, semicerrando os olhos e esperando a sua reação, mas ele se virou pra tv e me ignorou. – Shawn? – arqueei as sobrancelhas e ele olhou pra mim.
— O que foi? – ele perguntou e eu franzi o cenho.
Ok, ele não se lembrava.
— Nada. – falei sorrindo e me levantando do sofá.
— Vocês acordam cedo depois de uma festa? – escutei a voz do Brian e gelei. Por que eu gelei?
Me virei e ele estava descendo as escadas com a toalha de banho enrolada na cintura, seu peitoral estava todo molhado e seu cabelo ainda pingava.
Isso é Deus me testando.
— Já faltamos no colégio, o que é que custa acordar tarde? – ele passou terminou de descer as escadas e se aproximou do sofá. – E aí, irmãozinho? – falou bagunçando o cabelo do Shawn, que continuou calado, com cara de tédio.
Brian olhou pra mim e eu senti meu corpo estremecer. Es-tre-me-cer.
Seu olhar desceu pro meu pescoço e ele deu aquele sorriso de canto.
— Bonito esse hematoma, hein? – ele deu uma risada fraca e eu revirei os olhos. – Quem fez? – ele deu um sorriso malicioso e eu gelei, eu não podia falar que tinha sido o Shawn.
— Nem lembro... – falei colocando o cabelo na frente, olhando de lado e tentando sair daquela situação, mas quando eu olhei pro Brian, ele ainda me olhava.
— Cara, você não se enxuga depois do banho? Tá pingando em mim! – o Shawn se levantou com raiva, me fazendo rir. – Lana... – ele parou perto da porta e olhou pra mim. – Eu preciso ficar um pouco sozinho, ok? – ele perguntou e eu assenti com a cabeça. – Obrigado. – ele deu um sorriso sem mostrar os dentes e pegou a chave do carro em cima da mesa, logo saindo de casa.
— O que aconteceu? – o Brian se sentou ao meu lado e eu arregalei os olhos.
— Você acabou de se sentar no sofá e tá todo molhado... – falei dando uma risada fraca, enquanto ele me olhava com aquele olhar de reprovação.
— O sofá é de quem mesmo? – ele arqueou uma sobrancelha e eu bufei de raiva.
— Só não é seu, garoto. – revirei os olhos e me levantei.
— Vai pra onde? – ele perguntou e eu me virei pra ele, franzindo o cenho.
— Pra onde eu iria? Pra minha casa. – falei como se fosse óbvio. – Eu só estava aqui pelo Shawn. – me virei, mas ele segurou em minha mão.
— É sério que você só estava aqui pelo Shawn? – ele falou com aquele tom de voz que me deixava completamente, digamos, úmida.
Não respondi, apenas revirei os olhos e tentei me soltar de sua mão, mas ele se levantou e colou nossos corpos.
Vamos calcular. Ele estava com uma toalha na cintura, eu não estava usando sutiã e o tecido do meu vestido era muito fino. Nossos corpos estavam colados, eu podia sentir cada degrau de seu abdômen, o que já deixou a minha respiração desregulada.
— Esse cabelo úmido. – ele disse passando a mão no meu pescoço e agarrando o meu cabelo na parte de trás da cabeça, me fazendo fechar os olhos. – Aposto que ainda tá molhado do banho de hoje cedo... – eu abri os olhos e pude ver o seu rosto mais próximo do meu. – Porque você acordou perdida, querendo saber o que aconteceu na noite passada, procurou o Shawn, falou do beijo, mas ele não sabe de nada. – ele falou baixinho e foi ali que eu vi que eu já estava entregue a ele, não tinha mais volta. – E sabe por quê? – eu sentia a sua respiração cada vez mais perto.
Eu umedeci os meus lábios e senti o seu lábio inferior roçando no meu lábio superior.
—Ah, Lana... – ele olhou pra mim. – Don’t be a fool... – ele falou baixinho, se afastando e eu franzi o cenho.
— Ok... – disse ajeitando o meu cabelo e suspirando. – Tchau. – dei de ombros e me virei, mas ele segurou o meu braço.
— Eu provavelmente vou me arrepender disso, mas... – ele me puxou pra perto e ficou me olhando por alguns segundos, fazendo com que eu ficasse um pouco perdida naquela situação. Brian se afastou um pouco e suspirou. – É melhor você ir... – ele se afastou e se virou, caminhando até a cozinha.
Respirei fundo e tentei entender o que tinha acabado de acontecer, mas era difícil de processar.
Saí da casa do Shawn e cheguei na minha, a Pri ainda estava no sofá assistindo Friends.
— Você chegou! – ela se levantou, desligando a televisão. – Como foi? – ela perguntou, animada.
— Resumido? – arqueei as sobrancelhas. – A Mila tem transtorno de personalidade múltipla, uma das personalidades traiu o Shawn, que ficou muito mal, saiu de carro pra algum canto, o Brian brotou do inferno só com uma toalha na cintura, com o corpo todo molhado, quase me beijou, disse que era melhor eu ir embora, e aqui estou eu. – suspirei e ela me olhava de olhos arregalados.
— Como você está? – ela perguntou, alisando meu braço e me olhando preocupada.
— Confusa. – olhei pra cima e respirei fundo, voltando a olhar pra Pri. – Eu não gosto do Brian desse jeito, eu gosto do Shawn, mas tá tudo uma confusão. – senti meus olhos marejados e uma dor enorme no meu peito. – Eu deveria ter ficado em Miami. – assenti com a cabeça e a Pri balançou a cabeça negativamente, logo me abraçando.
— Vai ficar tudo bem... – ela falou se afastando e me olhando.
— E se não ficar? – ergui meus ombros. – Ah, que raiva! – falei passando por ela e me sentando no sofá. Ela se sentou ao meu lado e eu fitei o teto. – Eu não vou mais deixar o Brian ter esse poder sobre mim. Eu não vou mais ficar tão próxima do Shawn, ele precisa de espaço. – fechei os olhos e respirei fundo.
— Lana. – escutei a voz do Shawn e arregalei os olhos, me virando e vendo o Shawn encostado na porta e com uma expressão séria.
Me levantei do sofá rapidamente e fui em sua direção.
— Você tá bem? – perguntei olhando em seus olhos que gritavam pra chorar.
— Eu preciso de você.
SHAWN P.O.V.:
— Eu preciso de você. – falei baixinho e ela arqueou as sobrancelhas, parecendo surpresa.
— Ok, eu... – ela se virou e olhou pra Pri, que já estava se levantando.
— Qualquer coisa me liga, ok? – a Pri abraçou a Lana e depois me abraçou rapidamente. – Fica bem. – ela sorriu sem jeito e saiu da casa.
— Como eu posso te ajudar? – a Lana perguntou assim que fechou a porta. – Você quer falar da Mila? – ela perguntou enquanto subíamos as escadas.
— A última coisa que eu quero falar é da Mila... – suspirei e ela assentiu com a cabeça.
Ela abriu a porta de seu quarto e eu sorri ao ver que continuava a mesma coisa.
— Não entenda errado, eu te trouxe aqui porque é...
— O remédio. – completei e ela sorriu.
— Você se lembra. – ela falou sorrindo e se sentando na cama.
— Como poderia esquecer? – Eu encostei a porta e me sentei ao seu lado, logo me ajeitando na cama e me encostando na parede; ela fez o mesmo e eu suspirei.
Sempre que um de nós ficava triste, o outro o levava pro quarto e fazia de tudo pra pessoa sorrir, nem que fosse pagar o maior mico, a inocência que nós tínhamos era algo a ser admirado.
— Como você tá se sentido? – ela perguntou e eu me virei, olhando pra ela.
— Eu to me sentindo idiota. – disse e dei uma risada fraca.
— Por quê? – ela franziu o cenho.
— É como se eu tivesse namorado com uma pessoa por preocupação, o que foi que aconteceu, mas agora, depois de saber disso... – suspirei. – Eu me sinto o maior idiota do mundo, eu me privei de viver pra ficar cuidando dela, mas não ajudava, Lana, pelo contrário, isso pode ter piorado esse transtorno que ela tem. – falei e suspirei, ela assentiu com a cabeça e me olhou, parecia não saber o que dizer. – Eu perdi tanto tempo...
— Dois anos é muita coisa. – ela assentiu com a cabeça e eu sorri.
— Eu nem acredito que você voltou. – falei sorrindo e ela sorriu. – Como está sendo? – eu perguntei mais interessado em saber se ela falaria do Brian, e eu rezava pra que não falasse.
— Ah... – deu de ombros. – Eu to normal, mas tudo mudou... – ela falou olhando pra frente, me dando o prazer de fitar a lateral de seu rosto, cada detalhe, cada traço bem feito, cada sinal, a forma que a covinha dela aparecia quando ela sorria, mas eu desci o olhar e vi a desgraça daquele chupão.
— Você não se lembra? – apontei pro hematoma, ela me olhou e semicerrou os olhos, logo abaixando a cabeça.
— Eu não lembro de quase nada. – deu de ombros.
— Nem de quando você me jogou na piscina? – arqueei as sobrancelhas e ela ficou boquiaberta, me fazendo rir. – Relaxa, foi bom pra eu ficar sóbrio. – falei sorrindo.
Ela olhou pra mim e franziu o cenho.
— O que foi? – perguntei sem jeito, ela aproximou seu dedo do meu queixo e virou meu rosto, parecia observar a minha orelha.
— Você não tá usando o brinco? – ela perguntou.
— Só uso às vezes. – falei me lembrando de quando usava brinco, e fazia muito tempo que eu não usava.
— Ah. – ela levou a mão ao peito, parecendo aliviada.
— Por quê?
— Por nada. – deu de ombros, logo deitando a cabeça em meu ombro.
Eu queria falar pra ela que eu tinha visto ela com o Brian, que eu sabia quem tinha feito aquilo no pescoço, mas sempre que eu pensava no assunto, uma raiva surgia, o meu sangue ficava mais quente.
Eu mal consegui dormir naquela noite, tudo o que vinha na minha cabeça era a imagem dela no colo dele, beijando-o como se o mundo fosse acabar.
Pelo menos aquilo serviu pra eu terminar de compor uma de minhas músicas, Roses.
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