História Two Worlds: Monsters And Men - Piloto.

Eu era bem nova quando fui parar num orfanato para a adoção.

Não lembro de nada sobre os meus pais verdadeiros, e às vezes me pego pensando bastante neles dois. Talvez eu nunca os conheça.

Aos oito anos, finalmente consegui que um casal me adotasse. Eu odiava o orfanato, era um lugar assustador e nojento. Quando saí de lá me senti a pessoa mais vitoriosa do mundo.

Eu não tinha amigos lá, então imagine passar oito anos sem conversar com ninguém além de dar um simples "bom dia" à fachineira ou então à cozinheira... Era horrível.

As crianças que habitavam lá me olhavam de uma forma estranha e intimidadora, porém eu nunca me deixei intimidar. Sempre preferi acreditar que elas eram as estranhas. Óh céus, estava tão errada.

Desde sempre me olhavam estranho. No começo eu ignorava, mas agora é impossível, eu sou uma pessoa estranha, e eu tenho plena consciência disso.

Depois que me mudei para a casa dos meus pais adotivos, após todo o trabalho com a papelada, eu até que consegui levar uma vida mais comum. Não normal, e sim comum. Existe uma enorme diferença.

A minha família se tornou uma parte incrível da minha vida, eu tinha até um irmão mais novo! Porém minha mente fazia de tudo para estragar todos os meus dias felizes. Era incrível como toda vez que eu pensava que tudo estava bem, eu tinha mais um daqueles sonhos bizarros.

E um só sonho era capaz de me destruir por dias.

Até porque eu não sabia o que aquela droga significava.

Por anos, perdi a conta de quantas vezes procurei no Google:

"O que significa sonhar com pessoas sem rosto?"

"O que significa sonhar com um garoto que eu nunca vi em toda a minha vida?"

"O que significa sonhar que se está num vale coberto por neve?"

"O que significa sonhar com um castelo bizarro?"

Nenhum dos sites me respondia algo válido. Na verdade nenhum dos sites me respondia absolutamente nada relevante ou revelador.

Então eu passei a minha vida inteira sem ter uma base. Eu sabia que eu não era normal, eu estava bem longe de ser alguém normal. E o que piorava a situação ainda mais é o fato de eu não ter ninguém para conversar, e ainda ter medo de falar esse tipo de coisa à alguém. Eu iria parar num hospício!

Eu sou uma garota estranha. Minha mente é confusa.

Às vezes tudo se embaralha, e então eu apareço em um lugar onde nunca estive. Minha mente me leva até esse lugar.

As pessoas não me parecem amigáveis. Tenho medo de fazer novas amizades, tenho medo de que as pessoas percebam o quanto sou estranha por dentro, e o quanto minha mente é estranha.

Eu tenho medo de machucar alguém, essa é a verdade.

Minha mente programa coisas loucas, eu tenho alucinações, e eu acho que preciso de ajuda.

Eu sou um monstro.

Eu sou um monstro?

Minhas mãos estão geladas, tudo está muito frio, eu quase posso sentir a neve dentro de mim.

O castelo estava à apenas alguns metros de distância, e eu podia ver o casal abraçado de longe, a neve caía sobre eles também.

Me levantei lentamente, sentindo meu pé direito afundando naquela neve fofa, mas isso não me impediu de continuar a andar.

De repente ouvi o eco de algumas folhas secas quebrando, estava tudo em silencio então olhei para algumas árvores que estavam atrás de mim, e pude ver um garoto. O garoto. Aquele mesmo garoto de todos os outros sonhos.

Meus olhos se fixaram nele, mas ele apenas continuou andando enquanto olhava para o castelo, acho que ele não tinha me visto dessa vez.

Abri minha boca, e a movimentei, tentando falar algo, mas não saía nenhum som de lá. Como na maioria das vezes.

Quando eu me movimentei mais um pouco, notei que o garoto percebeu a minha presença, ele me olhou, e eu tentei novamente falar algo, mas nada saía.

O garoto parou de andar, bem ao lado de um pinheiro, e então eu pude ouvir um barulho estrondoso invadindo meus ouvidos que estavam tão acostumados com o silêncio profundo daquele lugar desconhecido.

O garoto deixou com que escapasse um grito desesperado, "Wendy!" ele me chamou, com seus olhos arregalados, e suas mãos para cima, ele parecia assustado, mas tudo bem. Eu também estava.

Ou pelo menos até o momento em que eu acordei.