História Última Chance - A Seleção - Revelações

Sarah P.O.V
Eu não iria contar nada para Alex. Eu tinha muito medo do que ele faria se descobrisse que eu havia mentido. Eu não podia contar a ele que estava indo embora por achar que ele merecia alguém melhor. Eu sabia que ele tinha sentimentos por mim, mas Alex era a pessoa mais gentil que eu já conheci... não, eu não poderia fazer aquilo com ele.
"O que? Sarah, do que você está falando? Você não pode ir embora!" Alex disse, ignorei ele e continuei colocando mais coisas em minha pequena mala. Fiquei correndo pelo quarto sem parar, com medo de que ele olhasse em meus olhos e compreendesse o que estava acontecendo.
Alex me parou e segurou meus braços delicadamente. Baixei o rosto, eu sabia que se olhasse para ele iria desistir de tudo. Alex ergueu meu rosto lentamente, me forçando a olhar para seus olhos.
"Por favor, me explica o que está acontecendo" ele suplicou, sua voz estava tão diferente, ele parecia estar com dor. Não a dor do soco, uma dor muito mais profunda.
Minhas três criadas entraram no quarto, me afastei de Alex e senti minha respiração mudando, eu havia prendido a respiração sem nem mesmo perceber.
"Não aqui" eu disse. Comecei a me dirigir para fora do quarto, Alex estava logo atrás de mim. Comecei a caminhar cada vez mais rápido, como se pudesse fugir de tudo aquilo.
Alex segurou minha mão, como se soubesse o que eu estava pensando. Ele ficou do me lado. Sua mão estava quente, eu estava gelada, sentindo muito frio.
Chegamos ao Jardim, mas não parei, continuei caminhando como se soubesse para onde estava indo. Quando passamos pela orla da floresta eu parei. O riacho bem em minha frente. Sentei em uma das pedras e observei enquanto Alex fazia o mesmo. Ele estava usando uma camiseta comum por baixo do terno, me perguntei se ele também estava com frio. Os dias estavam ficando cada vez mais frios e curtos com a chegada do inverno.
"Sarah, o que está acontecendo? Você está bem? Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?" Alex estava quase sussurando, ele parecia desconfortável sentado daquela forma.
"Eu estou bem. De verdade. Eu só... não posso mais ficar aqui, Alex. Eu preciso ir embora" falei o mais normalmente que consegui.
"Mas por que? Sarah, você precisa ficar" ele falou. Seus argumentos não eram muito bons.
Eu sabia que precisava mentir. Eu não falaria a verdade para ele.
"Eu preciso ir embora porque eu não pertenço a esse lugar. Eu disse a mim mesma que ficaria aqui por alguns meses, sinto muito Alex, mas eu não sinto nada por você. Não posso ficar mentindo para você" falei. Cada palavra me machucava tanto que senti que nunca mais seria feliz.
"Você... você sabe que isso não é verdade! Você sabe que sente alguma coisa por mim. Alguma coisa!" Alex dizia, quase gritava, ele estava ficando meio fora de controle. Doía cada vez mais me sentir culpada pela infelicidade que ele sentia.
"Sinto muito Alex. Eu vou embora" falei tentando acabar logo com tudo aquilo. O vento estava me fazendo sentir cada vez mais frio. Eu queria ir embora. Eu queria me esconder embaixo das cobertas e só voltar quando estivesse tudo bem novamente. E mais que tudo no mundo eu queria que Alex me abraçasse, eu queria que ele me desse adeus e não ficasse bravo por eu estar indo embora.
"Você está tremendo" ele disse, então ele tirou o casaco, levantou e colocou sobre meus ombros. Seu terno tinha seu cheiro. Hortelã, feno e loção pós-barba.
"Alex! Para! Por favor, só... me deixa ir embora!" Gritei retirando seu terno de cima de mim. Coloquei na pedra, ao lado de onde eu estava sentada. A pedra estava levemente úmida e cheia de musgo, seu casaco iria ficar molhado, mas ele não parecia se importar.
"Me diz a verdade! Por que você quer ir embora?" Ele disse recuperando a calma.
"Eu não preciso dizer mais nada a você, já disse que estou bem, só quero ir embora!" eu falei levantando.
Alex me segurou novamente, ele me sentou e se colocou ao me lado. Ele tinha um talento para me segurar de forma tão sutil que era como um sopro.
"Por favor" ele disse novamente, evitei olhar para seu rosto.
"Eu quero ir embora porque você nem me conhece direito, eu me certifiquei disso." Falei tentando evitar uma conversa.
 "Você sabia que quando mente, seu lábio inferior treme? Você mexe os dedos incessantemente e mexe no cabelo, mais do que o normal" Alex disse. Eu não sabia dessas coisas. "Então não fale que eu não conheço você. Porque eu realmente conheço" ele disse parecendo irritado.
"Tá legal! Você quer a verdade? Eu estou indo embora porque sou uma idiota! Eu achei que você fosse só um merdinha qualquer, então eu menti para poder entrar aqui! Você não sabe nada sobre mim, Alex! Você sabia que meu pai me batia? Você sabia que eu tenho uma cicatriz enorme na perna da vez que ele me esfaqueou? Você sabia que eu tenho medo? Eu morro de medo o tempo inteiro! E toda a vez que você me dá a mão, ou oferece seu casaco eu acho que você vai me machucar!" Eu havia jurado que não falaria nada, mas agora que eu havia começado parecia impossível de parar, eu estava falando tudo muito rápido e incessantemente.
"Você acha que me conhece, Alex. Mas na verdade eu nem poderia estar aqui. Eu quebrei tantas regras só para poder entrar na seleção..." falei me acalmando um pouco.
Alex parecia estar tendo problemas para digerir todo o conteúdo e informação que eu havia vomitado de uma vez só.
"Sarah... eu... eu não sabia. Me perdoa. Me perdoa por não ter percebido, por não ter ajudado você! Sarah, eu..."
"Alex... meu nome nem é Sarah". Falei completamente envergonhada "eu nem poderia ter entrado na Seleção. Eu menti sobre meu nome, sobre minha província, sobre ser vir... sobre tudo" falei, minha voz morrendo cada vez mais.
"Qual seu nome verdadeiro?" Ele me perguntou olhando em meus olhos.
"Samantha. Meu nome verdadeiro é Samantha" falei para ele, e senti um estranho alívio por ele saber meu nome verdadeiro "Alex eu quebrei tantas regras, você deveria me expulsar logo" falei.
"E daí se você mentiu na ficha de inscrição? Sar... Samantha. Isso não é importante" Alex disse e ele realmente parecia disposto a ignorar tudo aquilo por mim.
"Alex. Você não tem ideia de como dói. Toda vez que você se aproxima de mim eu sinto medo, mais medo do que posso explicar" falei sentindo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
"Como eu sou idiota! Você tentou me explicar! Quando eu falei sobre o projeto de lei e você disse... meu Deus! Sarah, você... eu sinto muito, você não merecia ter passado por nada disso... Eu sinto muito..." Alex disse, ele colocou a mão em meu rosto e secou minhas lágrimas.
"Alex, eu preciso ir embora. Eu só... sei lá, só... só me deixa ir embora" falei uma última vez.
"Por que você nunca me falou isso antes?" Ele perguntou.
"Eu não sei bem. Como você conta para alguém sobre isso? Como você fala que foi estuprada? Que levou uma facada? Como eu poderia simplesmente contar para você sobre isso?" eu falei.
"Eu não sei o que dizer" ele me disse "você deveria ter me dito. Eu poderia ter feito algo antes..." Alex falava como se ter dito algo antes fosse fazer alguma diferença.
"Sabe por que eu não contei? Porque estava com medo que você me olhasse desta forma. Exatamente como está me olhando agora!" eu disse empurrando ele para longe e abraçando meus joelhos.
"Aquele pesadelo... Você sonhou com seu pai naquela noite? Quando estávamos no abrigo?" Alex perguntou voltando a sentar ao meu lado.
Não falei nada, apenas continuei olhando para frente e mirando a água corrente.
"Samantha... se eu tivesse alguma ideia..." Ele disse novamente. Parecia estar se sentindo a pior pessoa do mundo.
"Vai embora" falei "me deixa ficar sozinha".
"Não. Eu não vou abandonar você" ele disse me estendendo seu casaco novamente, mas desta vez sem encostar em mim.
"Vai embora!" Eu gritei. Empurrei Alex para longe de mim com toda a minha força.
Ele relutou por um tempo, mas por fim se afastou e começou a caminhar em direção ao castelo. Levantei e respirei bem fundo, então me joguei no lago.
A água gelada pareceu perfurar minha pele, mas enquanto eu afundava ela parecia cada vez mais suave. Estava escuro, e demorei bastante tempo para atingir o fundo. A água turva me impedia de enxergar, mas eu me senti melhor embaixo da água. Ali eu não ouvia nada, não havia ninguém capaz de me machucar, eu não conseguia sentir as lágrimas. Fechei os olhos e tentei não pensar em nada.
Então fui repentinamente puxada para cima. Senti braços envolvendo meu corpo e me impulsionando para cima. Alex me deitou no chão e se largou ao meu lado. Abri os olhos e vi seu rosto preocupado. Ele estava encharcado, seus cabelos bagunçados entrando em seus olhos e pingando água em meu rosto. Ele estava sem camisa, e colocava seu casaco em cima de mim, devia estar com mais frio que eu, mas ele não parecia nem um pouco preocupado com si mesmo.
"O que você pensa que estava fazendo?" Ele perguntou gritando.
"Que merda VOCÊ pensa que estava fazendo?" Gritei de volta. Meu queixo estava batendo e eu estava muito agradecia pelo casaco, mas brava demais para agradecer a ele naquele momento.
"Salvando você, sua idiota! Ainda bem que ouvi quando você pulou na água!" Alex me colocou sentada e me abraçou firme. Me soltei dele e ele me olhou, acho que estava magoado por eu o ter afastado mas ele ainda parecia mais preocupado do que qualquer outra coisa.
"Eu estou bem! Não estava cometendo suicídio, idiota! Estava só embaixo d'água!" Gritei com ele. Levantei e atirei o casaco pra ele, cruzei os braços e comecei a caminhar em direção ao castelo. Então parei e me virei para ele, Alex estava parado no meio do caminho entre eu e o lago.
"Me deixa ir embora! Eu não quero mais ficar aqui!" Gritei batendo o queixo de frio. Alex segurava o casaco, parecendo não ter ideia do que fazer.
"Você pode ir embora se quiser, mas eu imploro que fique" ele falou sussurando.
"Eu sinto muito, Alex. Gostaria de poder ser a garota certa para você, mas eu não consigo. Você merece alguém muito melhor do que eu, e eu me importo demais com você para ficar aqui. Sinto muito por estar quebrada" eu falei me afastando cada vez mais. Não me atrevi a olhar para trás.
Passei pelos corredores deixando marcas de lama no piso, entrei no meu quarto e encontrei minhas criadas chorando. Abracei as três e coloquei um casaco. Elas não me perguntaram porquê eu estava molhada e agradeci elas por isso.
June me guiou delicadamente até o banheiro, ela encheu a banheira e disse que eu precisava de um banho quente. Agradeci e disse a ela que não, eu estava indo embora naquele momento. July e April me convenceram a trocar de vestido por um que não estivesse encharcado.
Peguei a mala que estava naquela cama, que já não era mais minha. Abracei todas elas mais uma vez, era impossível de agradecer por tudo o que elas haviam feito por mim. As três choravam, respirei fundo e me impedi de chorar.
Peguei a mala e fui passando pelos corredores, demorei um tempo até encontrar Alfred. Ele estava conversando com Spencer em frente a uma porta.
"Sarah! O que aconteceu?" Alfred me perguntou.
Caminhei até ele rapidamente e o abracei. Por mais estranho que fosse, Alfred me fazia sentir segurava.
"Eu estou indo embora" falei segurando as lágrimas. Ele me abraçou ainda mais apertado.
"Você ainda está com o isqueiro?" Alfred perguntou e confirmei com a cabeça "ótimo. Quero que fique com ele. Quero que sempre lembre-se de mim, Sarah" ele falou.
Agradeci ele. Caminhei até Spencer, ele me olhava com dúvidas.
"Eu não entendo. Achei que Alex tivesse ido falar com você. Vocês ao menos concersaram? Sarah isso é importante! Alex realmente gosta de você!" Spencer disse.
Abracei Spencer rapidamente e disse a ele a verdade que tanto me machucava.
"Eu sei. Ele realmente gosta de mim e eu realmente gosto dele. É por isso que estou indo embora" eu falei. Não esperava que Spencer me compreendesse, não esperava que ninguém me compreendesse.
Caminhei para longe de todos eles. Passei por lugar e salões que nem mesmo lembrava ter no castelo. Por fim cheguei a Aurora. Ela não me abraçou ou disse algo reconfortante, apenas me guiou até o avião que me levaria de volta para casa.
Casa.
Aquela palavra havia me assombrado por muito tempo, mas eu sabia que estava na hora de ir embora, já não havia nada ali que me prendesse.
Olhei para trás, com medo de que Alex não tentasse me impedir, e com ainda mais medo que ele tentasse.
Mas não havia ninguém ali. Apenas Aurora, que provavelmente havia levado todas as outras selecionadas eliminadas a seus respectivos aviões. Me perguntei se ela ao menos se importava comigo. Acho que não.
Entrei no avião, o cheiro de couro das poltronas me deixou nervosa, como se nada daquilo fosse real até agora. Passei por algumas fileiras de poltronas até chegar na fileira que ficava logo atrás da asa do avião.
Em uma das poltronas estava um casaco azul marinho bem grande. Peguei o casaco, cheirava a hortelã e loção pós-barba. Talvez Alex realmente me conhecesse bastante.
Sentei na poltrona mais próxima da janela, e abracei o casaco de Alex. Eu sabia que, por mais que doesse, eu havia feito a coisa certa. Alex merecia alguém melhor do que eu. Olhei pela janela e vi Alex. Ele veio correndo, estava com o cabelo molhado, havia trocado de camisa e estava sem casaco. Senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto. Coloquei a mão no vidro sentindo o meu estômago afundar. Alex me olhou e parou de correr. Ele não estava ali para me impedir, ele estava sendo gentil e estava me deixando partir, exatamente como eu havia pedido.
O avião começou a se mover. Eu estava indo para casa.