História Última Chance - A Seleção - Condenação

Passei a noite inteira acordada. Eu simplesmente não consegui dormir, estava ocupada demais pensando em milhares de coisas ao mesmo tempo. Minhas criadas entraram no quarto, elas sorriam bastante e pareciam animadas.

"É hoje, senhorita!" June falou "hoje é a Condenação!".

June e July me mostraram um vestido rosa claro e perguntaram o que eu havia achado. O vestido realmente era lindo, mas eu não tinha nenhuma vontade de sair da cama. Levantei mesmo assim. Era o dia da Condenação, e eu tinha coisas para fazer.

April e July me vestiram enquanto June prendia meu cabelo. Depois elas me maquiaram e repassaram comigo o que eu deveria dizer. Eu estava ficando nervosa, mas não queria admitir isso, então apenas fiquei em silêncio, sentindo que a qualquer momento as borboletas em meu estômago levantariam vôo.

Alguém bateu na porta e June saiu correndo para ir atender. Spencer apareceu usando suas roupas formais de guarda, mas parecendo mais arrumado do que o normal.

"Sarah eu vim tem acompanhar até lá. Mas ainda é cedo, acho que posso esperar" ele disse

"Vocês podem nos dar licença?" Pedi para minhas criadas, que concordaram e saíram do quarto. "Sério isso? Você vai me acompanhar?" Perguntei.

"Eu troquei de lugar com o guarda certo. Precisava falar com você" ele disse.

Sentei na cama e apontei o banco da penteadeira, Spencer sentou.

"Eu não acho que Alex tenha lhe traído, quer dizer, você conhece ele melhor que ninguém. Você não acha realmente que ele faria isso, acha?" Spencer disse.

"Eu não sei. Achei que conhecesse ele" falei.

"Alex te ama de verdade, Sarah. E mesmo se fosse diferente, ele é decente demais para fazer isso" Spencer falou.

"O que quer dizer?" Perguntei.

"Bom, você realmente acha que Alex dormiria com alguém e depois mandaria a menina embora? E ele jamais trocaria você, só não mandou todas elas embora ainda porque tem medo que você não queira casar com ele" Spencer falou enquanto ajeitava as mangas do casaco.

Suas palavras foram como um soco. Ele tinha medo que eu não quisesse casar com ele? E eu queria? Eu queria me sentir amada por ele, e com certeza amava Alex, mas ele havia me traído. Alex disse que me amava e ficou com outra, mesmo se eu conseguisse perdoa-lo eu sabia que as coisas não voltariam ao normal.

"Vamos. Está na hora" Spencer falou estendendo o braço para mim, aceitei e saímos do quarto juntos.

Me senti um pouco melhor sabendo que Spencer estava ali, mas estava com medo de ver Alex e desabar.

"Está nervosa?" Spencer perguntou.

"Morrendo" falei sentindo minhas mãos suando.

"Eu falei com Alex... Sarah ele..." Spencer falava quando o interrompi.

"Eu não quero saber nada dele. Não agora, eu já estou enfrentando um problema grande o suficiente" falei.

"Sarah! Por favor, me escuta!" Alex apareceu correndo.

Spencer parou, mas continuei caminhando e olhando para frente, eu sabia que se olhasse para ele começaria a chorar de novo.

Me juntei as outras selecionadas e esperei Aurora nos chamar. Haveriam sete cadeiras para nós, sete prisioneiros que seriam condenados. Entramos no salão e senti o clima pesado. Alex e seus pais já estavam posicionados, evitei olhar para Alex, eu sentia seu olhar, mas continuei olhando para frente.

Chamaram Aniya, um homem alto e forte entrou e parou em sua frente. Seu nome foi lido alto para todos no salão escutarem.

"Qual seu crime?" Aniya perguntou com voz alta, mas um pouco trêmula.

"Roubo, senhorita" o homem disse.

"E qual sua pena?" Aniya disse com a voz um pouco mais firme.

"Oito anos" ele disse.

"Vá sudito fiel, e pague sua dívida com o rei" sua voz ecoou no enorme salão, o prisioneiro fez uma estranha reverência e saiu, as correntes das algemas fazendo barulho alto.

Outro homem foi chamado, ele era alto e magro, usava um brinco grande de argola e parecia um pirata das histórias antigas.

Matilda fez o mesmo discurso e decretou a pena do homem. O mesmo aconteceu com Luana e Anastásia, Brittany, Tiffany e Gabriella. Por fim chegou minha vez.

Edmund Armstrong, foi chamado alto. Meu pai entrou no salão, senti vontade de vomitar e frio.

"Olá querida" ele falou.

"Qual seu crime?" Perguntei alto. Minha voz tremia e eu estava tendo dificuldade para respirar.

"Estupro, assassinato e roubo. Mas então? Como vai a vida no castelo, querida?" Meu pai perguntou parecendo confortável com a situação. Ele parecia estar cansado, estava com a barba por fazer e olheiras profundas, mas sei sorriso sádico continuava o mesmo. "Você voltou? Eu soube que havia sido eliminada. O que fez para voltar? Você trepou com o príncipe até ele aceitar você de volta?" Meu pai falou alto e riu.

Todo o salão ficou no mais completo silêncio, então os burburinhos começaram, as pessoas comentavam sobre toda a situação, sobre o que aconteceria e se o que ele falava era verdade. Eu era a única a ter voltado em toda a história de Seleções que haviam ocorrido na família real, e ninguém sabia o que eu tinha feito para voltar.

"Me diga, querida, ele foi bom? Você sabe o que vai acontecer agora, não sabe? Ele vai casar com uma dama, alguém com classe. Você vai continuar aqui, sendo só uma puta dele. Ele vai foder você e depois vai manda-la embora" meu pai falou. O rei e a rainha estavam horrorizados, Alex estava vermelho de raiva e os guardas se olhavam, sem saber o que fazer. A tradição dizia que eles não poderiam interromper a menos que houvesse alguma ameaça, mas meu pai não faria ameaças, ele estava no controle da situação. Olhei para Alex e pisquei várias vezes tentando espantar as lágrimas que queimavam meus olhos. Alex sorriu. Um sorriso pequeno, mas muito encorajador.

"Qual sua pena?" Perguntei alto querendo acabar logo com aquilo.

"A vida toda, queridinha. Mas me fale, realmente valeu a pena? Você é só uma puta, e nunca vai ser boa o suficiente..." Meu pai falava. Uma única lágrima escorreu pelo meu rosto. Não mais. Aquela era a última vez que ele me faria sentir assim.

"Vá!" Falei alto e todos os sussuros no salão pararam. Todos esperavam para ver o que eu faria "Vá sudito fiel, e pague sua dívida" falei.

Ele começou a rir. Parecia nem mesmo cogitar a ideia de ir embora. Então ele correu até mim. Senti seus braços em minha nuca, ele me segurava com força tentando fazer qualquer coisa. Os guardas levaram meu pai embora antes que ele conseguisse me machucar. Então todo o salão ficou em silêncio, o rei começou um discurso mas eu não prestei atenção, assim que as câmeras foram desligadas eu saí correndo.

Corri o mais rápido que pude, levantando a saia do vestido com medo de cair, chorando e soluçando e tremendo de medo. Corri até a clareira, adentrei as árvores e continuei correndo. Quando mergulhei na água gelada finalmente parei de chorar.

Fiquei submersa no lago por mais de um minuto, até sentir meus pulmões queimando. Nadei até a margem e fiquei sentada entre as plantas, tremendo de frio e sem saber o que fazer. Tudo estava errado e eu não conseguia fazer nada.

"Oi. Ahm... quer conversar?" Alex falou entrando na clareira e sentando na margem, fora da água.

Não respondi. Eu continuava chorando.

"Sarah, por favor sai da água. Você vai pegar uma pneumonia. Fala comigo" Alex disse e entrou na água para poder olhar meu rosto. "Sarah, por favor fala comigo" Alex disse. Olhei para ele sem expressar nada, Alex continuou falando, mas eu não conseguia ouvir, então apenas fiquei sentada, sem sentir frio ou fome, apenas sentada na água.

Alex levantou da água e segurou minhas mãos, ele tentou me fazer levantar, mas eu não tinha forças para ficar em pé. Ele me segurou pelos braços e me apoiou quando comecei a caminhar. Alex continuava falando e eu não conseguia ouvir. Pareceu levar horas para entrarmos no castelo de novo, e assim que entramos Alex gritou chamando alguém.

Spencer veio ao encontro de Alex, ele ajudou a me segurar e juntos os dois me levaram até a enfermaria.

Acordei usando um short e camiseta de pijama. Estava escuro, mas haviam algumas luzes ligadas na sala ao lado, e a enfermaria estava iluminada pelo feixe de luz fluorescente que passava pela fresta na porta. Eu estava coberta por um cobertor grosso e pesado e sem força para me levantar.

"Você acordou?" Alex disse "Como se sente?".

"Não sei. Mal, eu acho" falei.

Alex levantou e foi até a porta entreaberta. Nathalia entrou e me disse para sentar.

"Como se sente?" Ela perguntou e ligou as luzes.

"Cansada" falei em um fio de voz

"Acredito. Quando foi a última vez que dormiu?" Ela perguntou anotando algo em uma prancheta.

"Faz alguns dias" eu disse. Alex me olhava preocupado, ele segurava minha mão.

"E quando foi a última vez que comeu alguma coisa?" Nathalia perguntou.

"Faz uns três dias. No café da manhã, ri acho" falei.

"Como está sua menstruação?" Nathalia perguntou.

"Normal" eu disse.

"Está sentindo algum tipo de dor ou incômodo?" Nathalia falou.

"Dor de cabeça. Um pouco de enjoo eu acho" falei.

Nathalia anotou tudo o que falei na prancheta, então pegou uma lanterna e examinou meus olhos, depois colocou um termômetro em minha boca e mediu minha temperatura.

"Você está bem, querida. Pode descansar um pouco" Nathalia disse "quando acordar você vai precisar comer mais alguma coisa, mas por enquanto tente dormir um pouco".

Nathalia chamou Alex e os dois saíram da sala. Deitei e adormeci.

Quando acordei já era dia. Eu havia dormido por várias horas. Nathalia entrou no quarto e me entregou uma bandeja com vários pedaços de pão e uma sopa. Tentei comer, mas não consegui terminar a sopa. Nathalia me deu dois comprimidos para dor de cabeça e sentou na minha frente para falar comigo.

"Sarah, você está com depressão. Não tem nenhum problema fisicamente apesar de estar um pouco fraca por causa dos últimos dias, mas vai precisar tomar anti-depressivos e fazer terapia" Nathalia falou naturalmente.

Então tudo estava errado comigo. Fiquei parada, tentando entender quando eu havia começado a errar em tudo.

"Eu quero que você saiba que não há nada de errado com você. Nada do que está acontecendo é culpa sua. Você vai começar a tomar os remédios e logo vai se sentir melhor. Fique aqui pelo resto do dia, está bem? Amanhã você vai começar a terapia" Nathalia explicou.

Alex bateu na porta mesmo ela estando aberta.

"Posso entrar?" Ele perguntou, fiquei em silêncio. "Nathalia me explicou sobre tudo. Eu sinto muito, Sarah. Por favor, me perdoa" Alex disse parando em frente a minha cama.

"Eu perdoo você, Alex. Mas não acho que possa confiar em você novamente" falei.

Passei o resto do dia na enfermaria, tentei ler um pouco, mas não consegui. Tentei conversar com minhas criadas, mas eu não tinha nada para falar. No dia seguinte comecei a terapia.