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História Última Pena Negra - Prefácio da morte


Escrita por: AmigaInvisivel

Notas do Autor


Hello, anjos! Uma loucura a vida de vocês? Espero, mas caso não esteja talvez a Becca melhore o seu dia. Sou a única maluca que fala de personagens como se fossem filhos? Pela sua cara não... Enfim, boa leitura!

Capítulo 3 - Prefácio da morte


O som do tiro nunca existiu, nem o tiro em si. Mas se a bala tem a capacidade de perfurar e causar uma dor alucinante, então sim... Fui baleada. Nunca havia me ocorrido de um sonho ser forte o bastante para me derrubar e aqui me encontro caída no chão.

    Não! Estou pisando em cores, tons e mais tons de roxo formando um túnel, passo por ele parecendo uma pena perdida num mundo a qual fui banida sem misericórdia. A passagem me leva para o meu quarto, a decoração infantil está de volta, mas minha visão só enxerga em violeta, como uma televisão quebrada.

    Meu lustre balança de um lado para o outro... Vai e volta marcando as batidas do meu coração, uma música angelical toca e desafina de modo que o violino a entona contando os segundos para o seu fim, um rosto baila com suavidade nas sombras assumindo cada vez mais a forma de um corpo.

    - Na onde estou? Quem é você? – Minha voz treme com o próprio frio temendo a resposta que nunca virá.

   Uma risada interrompe meus pensamentos, a cor passa para o vermelho, chamas giram entorno do meu corpo ardendo até o fundo da minha alma solitária e um espelho aparece na minha frente permitindo que eu assista o meu reflexo morrer.

    Grito com todas as minhas forças fazendo os meus olhos abrirem e o pesadelo se desfazer em pó, então percebo que realmente berrei no piso de Coldwater High, Ben e um rapaz me encaram com os olhos arregalados e os peitos arfando.

    - Becca! Ei, vem cá... – Ben se aproximou pegando no meu braço para ajudar a me levantar – Precisa de ajuda?

    Apoiei nos seus ombros e dei um sorriso fraco para amenizar a situação, minha cabeça latejava fazendo o meu mundo ficar sem eixo. Algumas pessoas olhavam curiosas, mas fui encoberta pelo alvoroço do almoço.

    - Conversa comigo, qualquer coisa.

    Meu pedido era um sussurro na imensidão de vozes do corredor.

    - Me deixe pensar... Ah! Becca este é o Jon, Jon esta é a Becca. – Ben colocou a boca próxima ao meu ouvindo sorrindo para o seu amigo de cabelos platinados – O cara é poderoso e justo, coloca as mi... Er os e-estudos acima de tudo, honesto e muito determinado. Certinho de mais para você, não acha?

    - Isso foi um aviso ou uma proposta? – Retruquei baixinho, o que fez o meu amigo segurar uma risada.

    Jon tossiu de leve para chamar a nossa atenção, seus olhos negros eram um contraste com as madeixas brancas, ele ergueu as sobrancelhas como uma pergunta indireta e disse:

    - Melhor te levarmos para a enfermaria, não quer desmaiar no meio do caminho e chamar mais atenção do que com o grito. – A voz de Jon era firme, uma calma fingida que era denunciada pelo jeito de me olhar, via a fúria contida no seu interior.

    Dei um passo para frente e me dirigi diretamente para o Senhor Exemplo.

    - Anjo, não sou uma menininha indefesa, muito pelo contrario: sou a garota que pode te fazer voar... – Falei em um tom como se explicasse para uma criança.

    Ben gargalhou de se dobrar, enquanto Jon me encarava com um ar de desdenho misturado com surpresa, pude ver que escondia um sorriso. Beijei a bochecha dos dois, recebendo um protesto do segundo, e parti em busca de ajuda. Vou conferir como estou antes que o desbotado tenha mais motivos para me provocar.

    As paredes deste lugar pareciam querer me contar suas histórias, uma sinfonia de segredos faziam um desfile para serem revelados. Andava a procura das velhinhas donas de gatos pensando no sonho que tive alguns minutos atrás... Não é normal, seria burrice dizer que nada está acontecendo comigo, eu sinto que sim. Estava morrendo, foi tão real quanto a minha moto estacionada na escola. A madrinha Vee sempre me disse que eu tinha herdado o dom em me meter nas piores confusões para descobrir a verdade, esse talento nunca foi tão útil quanto agora.

    Entro na secretaria pela segunda vez no dia, ótimo jeito de começar as aulas. Lembro-me que uma das mulheres – antes de falar sobre seus gatinhos – dirigiu um estudante para a Sala de Arquivos que ficava em frente à enfermaria. Vovó Britney me contou sobre minha mãe ir bastante para lá por ser anêmica, se não me engano essas salas tem acesso passando pelas donas dos felinos, mas não tem ninguém aqui. Eu poderia esperar alguém chegar, talvez do horário de almoço, mas isso é algo além das minhas habilidades, vou pegar um remédio e sair sem causar incomodo. Todo caso, peço desculpas depois.

    Passei pelo corredor que ligava as salas, uma porta estava com uma fresta aberta e a luz apagada. Caminhei ate lá com os passos ligeiros, empurrei um pouco mais para poder entrar, não tem nada de anor...

    Paf! Um corpo se choca comigo atrapalhando minha linha de pensamento.

    Um tronco saiu da sala escura, seus cabelos castanhos claros ficaram bagunçados pela trombada.

    - Ah! Desculpe, eu estava só conferindo, juro para... Espera, você estava tentando invadir, né? Bonito hem, saiba que é proibida de fazer isso, baby. – Sua voz era familiar, talvez mais velha, mas eu tenho certeza de já ter ouvido esse sotaque.

    - Anjo, a luz estava apagada e tentou se justificar quando nós esbarramos, ou seja, não acho que você tenha autorização para entrar. Um segredo por outro?

    - Eu trabalho de assistente da secretária nos horários de almoço, tá certo que não posso entrar aqui, mas posso arranjar uma desculpa e você não... – A frase dava impressão de que não tínhamos um acordo, entretanto seu sorriso apontava que a minha ideia era interessante e o que ela dizia era um blefe.

    - Eu sou apenas uma novata procurando a enfermaria! – Exclamei levantando as mãos em forma de rendição com uma voz chorosa.

    Nós suas caímos na gargalhada.

   - Sou Becca. – Disse com uma piscada.

    - Oi! Meu nome é Amy Sky. Então, falou serio de procu... Err-Becca, tipo Rebecca? Não acredito!

    Meus olhos se arregalaram assim como os delas e nos abraçamos. Ela era sobrinha da minha madrinha Vee, filha do caçula da família Sky. Éramos próximas quando crianças, mas o seu pai se mudou da cidade quanto tínhamos uns cinco anos, devem ter voltado.

    - Você ficou uma gata, nós temos que sair juntas e atacar a cidade de inveja – Para o desespero do seu papai, ela sempre foi muito parecida com a tia, só o cabelo e a pele são mais escuros – Eu pensei que nunca ia voltar para cá, e quando voltei todos tinham ido embora. Foi um tormento ficar cercada de adolescentes estúpidos, se não fosse o Ben... O pessoal melhorou ano passado, mas demorou. Ah, estou te perturbando muito? – Perguntou atropelando as palavras.

    - Eu estava com saudade da sua falação! Os alunos daqui parecem muito sem sal para mim, vamos ter que mudar isso. É bom estar de volta, parece que deixei algo incompleto aqui.

   Amy me ofereceu um remédio para dor de cabeça depois de eu ter explicado o que buscava, esperamos uma das senhoras voltarem para ela poder me acompanhar até a minha aula de biologia. No caminho contou sobre os alunos, os melhores eventos, brigas na família... Bem, ela me deixou a par de tudo. Compartilhamos algumas matérias juntas, mas não de segunda-feira, ao todo foi bom ter uma amiga de volta.

    - Não vamos nos ver mais por hoje, e pra ajudar tenho uma reunião de família, eu sei! Mas eu preciso de dinheiro então melhor ser boazinha... Até amanhã, baby. – Amy jogou um beijinho no ar para mim, seu cabelo pulava de um lado para o outro enquanto corria para a sua sala.

    A porta estava aberta, pelo menos não cheguei atrasada. Biologia se passava no laboratório, por isso todos tinham um parceiro. Os meus colegas de classe gritavam, formavam suas duplas, um casal aproveitava a demora do professor para desfrutar a pele um do outro... Eu não acredito que usei essa expressão, comecei a rir comigo mesma e me dei conta que estava sendo observada.

    Ben me olhava com um sorriso preso nos lábios, apontou para o lugar na sua frente e eu joguei a minha mochila lá.

    - Não pense que estou te excluindo como parceira porque não gosto de você, mas a verdade é isso mesmo, falar sozinho costuma ser bem estranho, sabe? – dei um soco no braço dele de brincadeira – Jon faz essa aula e nos somos um time, sem ressentimentos, Cipriano.

    - Eu? Nunca fui chegada a loiros mesmo... Cadê o seu amigo certinho?

    - Está ocupado com o baile de voltas aulas, ele faz parte do comitê e é o representante. Opa! Dei motivos para você implicar com ele né?

     - Com certeza! Se puder repetir, perdi alguns quando estava pegando o meu caderno pra começar a fazer uma lista.

    Rimos juntos. Sarcasmos, sempre unindo amizades.

    Ben olhou para trás de mim com as sobrancelhas levantadas e um sorriso largo tomando conta do seu rosto, se levantou esticando os braços como um convite.

    Virei-me e o rapaz da aula de Literatura estava ao lado da mesa do professor meio alheio a tudo, quando percebeu meu melhor amigo sua boca se curvou num sorriso maroto, abraçaram-se como velhos amigos.

    - O que está fazendo aqui seu maluco?! Não, é melhor eu nem saber. Só estou tipo, muito feliz mesmo em te ver. Verdade verdadeira, cara.

    - Ben, tranquilo. Também estou contente, já faz um bom tempo... Senhorita?

    Os olhares se voltaram para mim que aproveitei a deixa para matar a minha curiosidade aproximando para ficar no meio dos dois, formando uma meia lua.

    - Já conhece a Rebecca, Alec? – Perguntou Ben com a voz parecendo que carregava uma piada interna.

    - Sim, tivemos um dialogo promissor na aula do Carlos. – Disse o agora dominado, Alec.

    - Tenho altas expectativas para as próximas. – Respondi com um sorriso de cumplice.

    Ben olhou para nós dois e por fim exclamou:

    - Sutil hem... – Deu uma piscada e fez um sinal de joia.

    Nossas gargalhadas foram interrompidas pela voz do professor de biologia que – Pasmem – era o técnico de educação física. Musculoso, na casa dos cinquenta, com tufos brancos de cabelo e roupas joviais. McConaughy, um homem raro.

    - Bem vindos de volta, equipe! – Disse com autoridade para a sala – Na nossa primeira aula vamos falar sobre diversidade. Alguém pode me explicar? Não? Mais motivação, turma! Bom, vou passar um trecho na lousa para vocês ficarem por dentro.

    Enquanto o professor escrevia, Ben dá um salto na cadeira enquanto Alec tampava o rosto, olhei para os dois que tentaram disfarçar, mas sem sucesso.

     - Telepatia agora, anjos? – Perguntei e confesso que saiu na defensiva, tenha essa habilidade de deixar simples frases saírem de forma seca.

    - Não, estou mais para poder ficar invisível – Respondeu Ben com um sorriso zombeteiro e escondeu o rosto com o caderno.

     - Sonhei que tinha cabelos azuis claros... – Diz Alec mais para si mesmo, como se a nossa conversa tivesse o lembrado disso.

    - Quer dizer casamento, cara. – Responde Ben como se esse sempre tivesse sido o tema da falação.

    - Corre. – Digo.

Quando olho para os meninos, todos começamos a rir.

    A aula de Biologia foi essa bagunça, cada um falando uma besteira e um pedaço de mim foi se preenchendo com o som das risadas. Voa alto...

   

   Soldado Basso, popularmente chamado só pelo segundo nome, estava dormindo com a cabeça encostada no meu colo no balanço atrás do celeiro. Eu me perdia olhando para as árvores, os galhos no chão e para as nuvens que pareciam mudar de humor. Tive a sensação que o mundo não me esperaria, os relógios com ponteiros descontrolados e o caminho de todos sempre seguindo em frente.

    Pensava no dia de hoje, como tudo parecia se encaixar e formar um grande quebra-cabeça. Ben e Amy de volta é mais do que eu poderia pedir, eles me conheciam e sabiam da minha dor. Alec também foi uma surpresa agradável, a serenidade dele me tranquiliza como a lua pode acalmar os que têm medo da noite... Sinto que não deveria confiar, mas de certa forma já confio, minha consciência grita que é burrice e ilógico. Sei de alguma forma que não funciona assim e não vemos por cegueira do inacreditável, uma doença preocupante do nosso século.

    Temendo pelo pior, acabei adormecendo com a respiração de Basso como trilha sonora...

    Ao contrário dos meus pesadelos, este começou de forma tranquila. Não havia túneis, apenas uma porta de madeira com uma fresta aberta, que abri mais um pouco para poder passar o meu corpo, quando atravessei fiquei na dúvida se estava mesmo dormindo ou tinha acordado sem me dar conta.

    Vi a varanda da casa da vovó, as cercas estavam com a pintura começando a descascar, comparada como está agora essa ilusão deve se passar no passado. Tive um sonho assim uma vez, no dia da morte dos meus pais... Eu me vi bebê no colo da minha mãe com meu pai ao seu lado, essa lembrança sempre foi o que mantinha de pé a lembrança deles quando a saudade deles vinha me sufocar, ameaçando fazer o amor deles um esquecimento.

    Volto para a cena e percebo dois homens conversando: um encostado na parede e outro no cercado. Eu não consigo ver o primeiro direito, quanto mais tento focar em seu rosto mais a imagem some da minha mente. O segundo é alto e esquio, cabelos e olhos de uma imensidão negra, sua pele é bronzeada como a mi... Pai?! Papai!

    Vou para perto dele, mas não esperava que me visse. Faz muitos anos que deixou de poder me ver, mesmo assim sinto falta de poder abraça-lo, de não me sentir solitária.

    - Escolha de nome interessante, Patch – Diz o outro homem. Será um amigo de papai? Acho que sim, pois ele abre um sorriso torto e seu visitante, mesmo que não veja quem é, deixa a impressão de estar se divertindo também – Receio ser perigoso, significados tem uma grande força.

    O tom da conversa muda drasticamente, até o ambiente parece sentir o que está por vir.

    - Ela saberá se cuidar – Diz papai colocando as mãos no bolso, seu olhar ficou um pouco perdido.

    - O inimigo é outro. Nora foi surpreendente na Batalha do Último Dia, mas ela será uma criança contra milênios de idade. Preocupo-me do que serão capazes... - O outro homem abaixa a cabeça, não consigo reparar nos seus detalhes, isso é frustrante.

     - Ela precisará de coragem, talvez já tenha puxado isso. Tem um gênio difícil, parece arrumar problemas sem se esforçar e isso que tem um novato com ela.

    - Alguma ideia de quem pode ter puxado? – Pergunta o homem desconhecido.

    - Um parente próximo talvez. – Meu pai responde e ambos riem baixo, aparentam terem medo de mostrar que estão felizes.

    Meu pai vai ao lado do seu companheiro, sua voz rouca transparece preocupação. Fico mal por ter que ouvi-lo falar assim e não poder fazer nada.

   - Cuida dela para mim? – Diz Patch tirando um anel de cobre do seu dedo e entregando para o rapaz.

    O sonho se desfaz neste instante, fico sem ver a reação do outro e de ter meu pai por perto. Um buraco abre em mim enquanto faço o caminho de volta até a realidade.

    As férias acabaram Rebecca... Levanto do balanço e vou em direção à garagem, pego uma jaqueta preta no caminho. Preciso investigar o que está acontecendo, eu sei que tenho poucas pistas, mas há uma semana não tinha nada. Nomes, sonhos, a morte dos meus pais tudo deve ter uma razão escondida. O buraco que sinto no meu peito pode ser a falta de saber quem eu sou e o que realmente aconteceu com a minha história. Ligo a ignição da moto...

    Estou presa em uma jaula, não consigo sair dela e enxergar a verdade, mas isso vai mudar.


Notas Finais


Gostaram?! Querem me dar um abraço ou um tapa na cara? Aceito o primeiro de bom grado. Obrigada por continuarem lendo!


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