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História Última Pena Negra - Fascino Assustador


Escrita por: AmigaInvisivel

Notas do Autor


Anjos, desculpem a demora para postar! Eu tento deixar um fresquinho toda semana para vocês, mas eu viajei nessa. Todo caso aqui está, espero que gostem!

Capítulo 4 - Fascino Assustador


A água batia nas rochas negras, meus pés afundavam na areia branca, a paisagem nublada refletia a confusão dentro de mim mesma. Minha mãe odiava essa praia porque via os seus fantasmas nadando, foi por esse motivo que vim aqui, para confronta-los. Estou tentando entender à visão antes que o mar de mortos me sufoque. Na lembrança, o outro homem disse algo sobre o nome ser interessante, meu ou do papai? Sei que Patch é apelido, numa briga dos meus pais por ciúmes, mamãe acabou chamando-o de Jev. Será o codinome de meu pai uma chave para desvendar o mistério?

    Tem algo a mais, quando penso nos detalhes da visão e na sutileza que ele veio simplesmente não encaixa ser um dos meus sonhos, parece uma mensagem para me avisar que tem alguém comigo, mas quem?  Além de pensar na hipótese de meus pais terem um jeito de falar comigo e fazerem isso só agora rasga o meu coração, ser ignorada é uma dor que lacera aos poucos. “Cuida dela pra mim?” se repetia como um eco nas minhas rachaduras...

     Está começando a escurecer, mesmo sabendo que vovó trabalha até tarde não quero decepciona-la. Vou até onde estacionei a moto, pego o capacete e... Droga. A gasolina vai acabar daqui a pouco, já que vim na praia que fica quase na saída da cidade. Melhor abastecer, tem um posto logo perto, ele fica na onde, antigamente, era o centro de Coldwater.

        Felizmente a viagem é bem curta. No estabelecimento, um homem aparece correndo gritando pela minha atenção, quando finalmente consegue me alcançar sua respiração esta ofegante. Está vestindo um uniforme azul, ergue a cabeça para olhar para mim com um sorriso de propaganda.

    - Moça, boa tarde! Que tal uma lavagem na moto, demora trinta minutinhos e estamos com uma promoção super especi...

    - Vou querer. – Disse deixando não só a moto, mas turbilhões de pensamentos.

    Para passar o tempo decidi andar pelas ruas que já foram as principais dessa vila esquecida. Havia casas com a pintura desbotando, calçadas gastas pelo tempo e ervas daninha em todos os cantos que olhasse. A praça parecia abandonada com certo pesar, os brinquedos quebrados me lembravam das historias que também se perderam, entretanto a igreja matriz continua intacta. Vou até lá ver como era por dentro, abro as grandiosas portas de madeiras e me fascino com a imagem.

     Uma pintura no teto, milhares de anjos e santos numa perfeição de arte. Fiquei admirando as pinturas da surpreendente bem conservada igreja até uma tosse desviar a minha atenção para o fundo da sala, mas quando me virei não tinha ninguém, apenas um folheto de promoção, acabei amassando ele por impulso, mas não achei nenhum lixo por isso guardei no bolso da minha jaqueta para joga-lo mais tarde.

     Espero que o moço já tenha terminado para poder sumir daqui.

      

    É o meu quinto dia de aula, também chamado de sexta-feira, as classes se dividiram em conversas com meus novos e velhos amigos, estudos e o mais surpreendente: normalidade. Não havia absolutamente nada fora dos eixos, me causando um frio na barriga maior do que se algo estranho tivesse acontecido. Sinto como se tivesse uma faca apontada para mim, e eu estou vendada... É esse o sentimento que invadiu a minha alma no resto da nada agitada semana.

    Adaptei muito bem a ColdHigh, talvez por Amy me atormentar com fofocas e comentários que fazem a lógica sumir da mente da minha amiga, ou por ter Ben de volta com suas ironias, até mesmo Alec com seu jeito tranquilo. Até a minha colega de literatura pareceu entediar-se comigo e não tentou mais me alertar, ou melhor, aborrecer. A minha parte preferida é a junção. Todos nós temos aula de educação física, naquela quadra podemos bater papos e jogar pra valer como uma grande equipe. Jon deveria participar, mas esse tal baile está ocupando todas as aulas não obrigatórias dele, nas classes que nos encontramos é o primeiro a sair, sempre longe e desdenhoso. Para meu desespero, tenho que ouvir Ben dizendo que o senhor certinho só está estressado com o evento dançante.

    Nesse momento estou observando os alunos rirem uns para os outros na frente da sala. Um baque na minha carteira dupla faz com que eu vire, Amy está capotada no seu lugar, olha para a luz da lâmpada como se fosse sua salvação. Demoro a perceber que está tentando espirrar, quando começa demora vários “saúde” depois.

     - Sou alérgica a fucking rosas, sério... Tive que cancelar altos encontros por causa de meninos com pouca criatividade para plantas. – Ela olha diretamente para Ben – Fica a dica para conquistar uma garota, baby.

    Ela bufa de irritação, desencadeando uma sequencia de espirros selvagens, um riso corta a minha boca por conta da sua ira por algo tão passageiro. Nem Jon, o justiceiro das lições ou Alec, anestesia em pessoa, fazem parte da minha turma de redação, o primeiro dizem que não chega a ser um desastre por ter técnica, mas não tem nenhuma criatividade, e o segundo por não se dedicar na escola. Descobri por Amy que o garoto mistério era da classe avançada, mas se revoltou por causa de um concurso que fizeram onde foi dito para uma garota que ela não tinha talento e deveria desistir, desde então ele faz textos para si mesmo e não preza nada pela sua nota de T.R. E, o que acabou tirando-o da aula.

    - Bom dia! Vamos abrir as janelas? – Professora Anne chega abrindo as cortinas com um sorriso bondoso no rosto, ela foi contratada este ano, uma pena que Alec não chegou a conhecê-la.

     Ela coloca a data na lousa, se senta e começa a fazer a chamada. A sala se iluminou com a luz vinda de fora, os alunos se arrumaram nas cadeiras conversando com os seus parceiros, no meu caso Amy que retocava o rímel, apontou para mim oferecendo, mas recusei.

    - Queridos, vamos começar pelo fácil hem? – a sala fez um coro de aprovação. – Nosso primeiro gênero será narrativa, metade técnica e a outra criatividade. Fique claro: as ideias são de vocês por tanto sugiro que abram as mentes e vejam de novos ângulos. Nossa primeira atividade será um texto narrativo, é claro, sobre a infância de vocês.

     Anne segurou o riso quando a sala tentou esconder a decepção vinda de uma atividade de uma professora que pelos boatos era surpreendente.

    - O exercício é em primeira pessoa e não poderão contar no papel de vocês, no caso a criança, alguém como, por exemplo, um de seus familiares devem narrar, mas precisa ser um momento da infância que realmente tenha acontecido. Dúvidas? - Ela sorriu enquanto se dirigia para a primeira carteira esclarecer o que havia falado.

     Eu entendi, acho... Um momento da minha infância contada pelos olhos de outro alguém, até que é interessante mesmo. Navegava nas minhas lembranças, mas em todas elas parecia que faltava uma peça, uma frase não contada ou um diálogo desaparecido. Por sorte meus amigos estavam aqui, ao perguntar para Amy recebi um rosnado por ter atrapalhado seu momento criativo, fui à busca de outra fonte.

    - Psiu, Ben – sussurrei para minha segunda opção que era mais simpática do que primeira – Ei, lembra-se de um dia legal quando éramos pequenos?

    - Hum... Teve aquela vez do luau no seu aniversário, foi supimpa.

     Comecei a gargalhar por conta da gíria antiga e o modo como ele disse, a professora pediu silencio e Ben se virou com um pedido de desculpas nos olhos.

     Quanto mais eu pensava nos detalhes mais se tornavam uma ponte para a escuridão na minha mente. Via-me pedindo uma festa diferente para os meus pais, mas tudo depois disso se tornou confuso. A fogueira e as risadas estavam lá, assim como meus pais dançando juntos, madrinha Vee e seu falecido marido bebendo em almofadas no chão, Ben, Amy e eu correndo por todos os cantos com musicas agitadas ao fundo. Uma imagem me acertou em cheio, o rosto do moço se uniu a voz dele na visão de meu pai, pude vê-lo chegando à festa com um presente nas mãos. E assim, do mesmo jeito que veio, a identidade se foi.

      Anne prevendo o tocar do sinal decidiu, por ser a primeira atividade, que seria permitido terminar em casa e entregar na próxima sexta-feira. Agradeci mentalmente aquela sorte divina, já que a frustação da pista perdida me incapacitou de escrever qualquer coisa. Deve ter ficado bem evidente, pois ninguém me incomodou durante o restante do dia.

 

       Estava fazendo o dever de casa, deitada de bruços na cama do celeiro. Coloquei algumas músicas para ajudar a me concentrar, mas acabou agitando ainda mais. Acabei por fazer as lições de Biologia ao modo dançante, depois do resultado da letra optei por dar um tempo nos estudos. Fiz um lanche e voltei à ativa, dessa vez me sentando na escrivaninha e realmente me dedicando.

    O meu celular começou a tocar em cima da pilha quando eu já estava quase no final, em um gesto rápido peguei-o e atendi.

   - Baby! Não sei o que te deu na aula, mas eu tive a ideia de ir ao parque de diversões curtir a sua volta decentemente. Lembra-se do Delphic? Você adorava, mas a gente era criança, e agora tipo, é muito frequentado pelo pessoal da nossa escola, um jeito de te apresentar a todo mundo. Diz que sim vai! – Disse Amy com sua voz carregada de euforia, fiquei internamente feliz pela intimidade que reconstruímos.

    - Estranhos à vontade por uma noite? Eu topo. – Desliguei e fui me arrumar.

 

    Minha antiga amiga e eu decidimos por mensagem que eu poderia ir sozinha, gostava da liberdade de sair com a minha moto sem depender de ninguém. Já tinha estacionado, comprado o ingresso para o parque e passado numa barraca de pipoca doce. A cobertura caramelizada derretia na minha boca enquanto procurava Amy entre milhares de adolescentes.

     No parque, ciganas com saias roxas dançavam com o vento, uma música de fundo hipnotizava os jovens, homens de perna-de-pau andavam sobre nós como se supervisionassem as nossas vidas. Vasculhei as passagens à procura de Amy, e nada dela. Uma vozinha dizia na minha mente que eu deveria me preocupar, a intuição dizia que não estava sozinha nessa procura. Olhei em volta, mas não vi nada, mesmo assim não fiquei convencida e aumentei o passo. Segui em frente até as Casa dos Espelhos, usei os reflexos para ver se tinha alguém me seguindo e... Ai, merda! Três homens, um deles apontou para mim e desataram a correr em minha direção. Coloquei o boné de Beisebol, que eu levava dobrado no bolso da jaqueta, saindo como um furacão no meio da multidão.

    Pense Rebecca! Eu posso entrar em algum brinquedo? Ótimo jeito de morrer aproveita e se joga da roda gigante... Virei na esquerda, mas quando olhei para trás não vi ninguém. Suspirei aliviada e senti um puxão no braço. Um dos homens olhava para mim com um sorriso malicioso no rosto, seus cabelos estavam desarrumados e sujos, era tão alto quando eu.

    - Uma meiana... – Sua voz embriagada soou no meu ouvido.

    Meus sentidos aguçaram e o mundo girava lentamente enquanto a frase se repetia na minha mente e imagens começaram a aparecer ocupando uma visão imaginária. Um pergaminho enrolado, um par de assas negras batendo, sinos de igreja tocando e por fim uma jaula pegando fogo.

    Quando abri os olhos o homem que me segurava parecia um corpo sem alma, hipnotizado. Aproveitei a deixa empurrando-o com toda a minha força para longe do meu corpo correndo o mais rápido que podia, ainda tinha dois atrás de mim. Passei pelas pessoas a cotoveladas e esbarrões, preciso me esconder...

    Estava perto do Arcanjo, a maior montanha-russa de Coldwater que fazia meus olhos brilharem quando era pequena, até hoje ela ainda me causa um fascino assustador. Os brutamontes tinham se formado novamente, encontravam a poucos metros de distância. A mulher que cuidava da fila do brinquedo anunciou para o próximo grupo entrar, num ato de desespero me joguei na entrada pulando a catraca e entrando no esqueleto do brinquedo imaginando que todos não pudessem me ver. Fui em direção ao norte no máximo do meu atletismo, mas era perigoso continuar na estrutura de metal por isso pulei da passarela usando os antebraços para proteger o rosto. Olhei em volta, uma escada levava a um galpão abandonado, corri até lá esperando não ter ninguém me observando.

    A porta estava trancada, mas a madeira podre facilitou para eu conseguir arrombar. O interior todo escuro fez o suor da minha testa continuar, dei alguns passos para frente na procura de algo para me localizar, cai em um buraco no mesmo instante. De joelhos sem enxergar tentei me guiar pela água que escorria em algum canto.  Um cheiro intenso amadeirado e floral invadiu o ambiente antes de escutar uma voz calma dizendo:

    - Senhorita?        

 


Notas Finais


O que acharam?! Não levei tapa até agora, espero que continue assim... Obrigada por lerem e até daqui a pouco hehe.


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