História Últimas palavras - Capitulo Único

Querido Min Seok-ah,

Se lembra daquela nossa viagem para Incheon, onde pensamos que tudo daria errado e acabou... Dando errado? Eu sei que parece loucura dizer isso, mas foi a melhor viagem que já fiz em toda a minha vida.

Nós dois estávamos no meu carro, dirigindo calmamente, lembra? Você estava chateado por que tinha planejado uma viagem diferente – por sua causa, nós iriamos para a Itália – mas eu te fiz mudar de ideia por que achei que seria muito divertido visitar o porto.

Claro, meu plano inicial era te pedir em casamento na praia, com o belíssimo pôr do sol e nossos amigos mais próximos como testemunhas, todavia, acabou não saindo muito bem.

Primeiro, por que no meio do caminho, o carro tinha quebrado. Eu nunca fui muito boa em mexer no motor ou qualquer outra coisa e acabei deixando que você cuidasse disso.

Resultado: Passamos uma hora completa parados no meio da via expressa até que finalmente chamamos um guincho para nos levar até o posto mais próximo.

No trajeto, eu tentava me explicar sobre o que havia acontecido ao carro e você não dizia nada. Apenas me encarava com esses olhos de gato e sorriso curto, sabendo de sua capacidade em me desconsertar. Como se, no fundo, dissesse: “eu te disse que isso não ia dar certo, Minnie-ah”. Entretanto, eu nunca fui boa em te ouvir, não é?

Enfim, quando chegamos ao posto, você conversou com o mecânico e assistiu a todo o procedimento, enquanto eu me dirigia à loja de conveniência, a fim de comprar café – por que eu sei que você ama café – e água, por que nós dois estávamos com sede. Me lembro de você observando o trabalho do rapaz, que arrumava o motor do carro como se, além de avaliar, verificasse o serviço prestado. Quando finalmente terminou, recebi um sermão de dois minutos e seguimos viagem.

Foi engraçado quando paramos naquele restaurante na hora do almoço. Te convenci que pagaria como uma forma de ser perdoada pela besteira que havia feito. Eu pedi rámen e você, “Dori bang bang”. Quando perguntei por que, você disse que “havia comido isso quando participou do ‘Viagem sem o manager’ com o Jong Dae-ah”. Nunca fiquei com tanto ciúme quanto naquele dia.

Por que você é tão próximo dele? Quer dizer, só por que somos de universos diferentes, você tem sempre que estar com ele?

De qualquer forma, voltarei ao assunto.

Durante o almoço, tentei usar a mesma investida – ou persuasão, chame do que quiser! – que Jong Dae usou com você naquele programa. Infelizmente, você entendeu o que eu estava planejando e somente concordou por que não queria que eu batesse o carro ou causasse algum acidente. Até parece que você não confia em mim!

Eu sou muito boa dirigindo, sabia?

Enfim, após o almoço, visitamos alguns lugares que você somente olhou por um tempo e continuou me acompanhando, mas sem prestar atenção no que estávamos fazendo! Poxa, você... Você, por acaso, viu o tamanho daquele prédio que passamos de frente? Claro que não, né?

Aposto também que sequer se importou com o que eu estava dizendo...

Naquele dia, eu perguntei ao Jackson-oppa por que você agia assim. Ele me disse que algumas coisas haviam acontecido com você, mas que não era nada grave. Porém, ele estava errado. Por que, mesmo que você estivesse comigo, você a amava... Não era? Era com ela que você gostaria de estar.

É claro que eu não sou contra, quer dizer... Nós somos amigos desde aquela apresentação, então... O que é que eu estou dizendo? Esquece o que eu falei.

Quando chegamos na praia, você parecia tão encantado, tão feliz, tão... Completo! Isso! Era a palavra que eu queria encontrar. E oppa? Sabe o que é mais curioso ainda?

É que você estava lindo, mesmo usando aquelas roupas simples. Uma camiseta branca de polo, uma calça jeans, com os pés descalços e os cabelos negros ao vento. Parecia aqueles anjos da guarda que aparecem no momento mais inapropriado para o pobre humano e ainda torna a vida dele de cabeça para baixo.

Olha, de tudo o que eu havia feito de errado... Pelo menos, acertei em duas coisas: o café e o lugar.

Se lembra do que eu disse quando chegamos lá? “Vamos aproveitar a vista! Vai ser divertido!”, e você concordou. Mesmo relutante, você aceitou sentar ao meu lado na areia e apreciar o pôr do sol. Claro que, durante todo o tempo, eu queria te propor, ou pelo menos, deixar claro sobre o que eu sentia.

Tudo bem! Eu assumo a culpa de nunca ter revelado a verdade! Mas...

Como é que eu ia dizer? Eu não conseguia encontrar palavras para dizer quando você estava ali, quando nós dois estávamos ali, encarando o sol que sumia no horizonte do mar, no litoral de Incheon.

Eu sei que quando ler isso, vai ser tarde, até por que eu... Eu não te pedi em casamento por que você estava comprometido com a Ji Min, não é? Eu sei que gosta dela mais do que de mim. E eu entendo isso. Respeito, até.

Por isso, estou mandando essa carta pelo Jong Dae-ah, por que eu sei que ele é o mais próximo de você e... Vice-versa.

Com amor... Min Ha.

Min Seok releu rapidamente a carta em mãos e desviou os olhos para seu melhor amigo – e padrinho do casamento – Jong Dae, que apenas respirava fundo, dando de ombros. Em poucas palavras, o também membro do EXO explicou como havia recebido a carta e as últimas palavras de Min Ha a ele.

_ Ela me pediu para lhe dizer que está feliz por você. – relatou.

_ Ela sabia que eu iria me casar. – Min Seok murmurou.

Estava perdido e confuso. Algo que, há muito tempo, não acontecia.

_ O que pretende fazer? – questionou.

_ Eu... Definitivamente, não sei. – negou, caminhando até o divã e sentou-se. – Daqui a pouco, a Ji Min vai entrar e...

_ Eu sei, mas diga-me... Quer vê-la? – sugeriu. – Ainda falta duas horas para o casamento e...

_ Você me disse que ela viajou. – Lembrou-o. – Que está indo para Incheon...

_ Ela vai viajar para a Itália, mas está esperando por você em Incheon, Min Seok-hyung. – Explicou.

Min Seok repensou na ideia do amigo por alguns instantes. Ir ou não ir?

_ Eu levo você até lá.

E sem esperar muito, arrastou o moreno consigo. Às escondidas dos convidados, Jong Dae e Min Seok tentaram sair das cabines e antes que chegassem às portas dos fundos, se assustaram com Baek Hyun e Chan Yeol aos beijos. Ambas as duplas pararam simultaneamente, ao que o mais velho alternou os olhos entre os dois dongsaengs, ainda em silêncio.

_ H-hyung... – começou Baek Hyun, largando Chan Yeol e se aproximando devagar. – E-eu posso explicar.

_ Bastam fingir que vocês não nos viram e faremos o mesmo. – Apressou-se Jong Dae, arrastando o homem de madeixas castanhas para longe.

Logo que entraram no carro, Min Seok colocou o cinto e ligou o veículo, partindo em seguida. O tempo todo, seus olhos aguçados e felinos alternavam-se entre os retrovisores interno e externo, enquanto Jong Dae verificava o relógio de pulso e passava a mão pelo rosto. Entretanto, nenhum dos dois ousou dizer uma palavra, até que...

_ Há quanto tempo Chan Yeol e Baek Hyun têm um caso?

_ Desde a Era Overdose, quando Yifan nos deixou. – resumiu, encarando a janela.

_ Você sabia? – Min Seok o olhou rapidamente.

_ Bem... Eu fiquei bastante surpreso ao encontra-los na cama do Chan Yeol quase nus. – e sorriu. – Mas não devia se preocupar com isso agora, Min Seok-hyung.

_ Eu sei. – concordou. – Só que... Eu não sei o que dizer à ela. – e o olhou. – Min Ha ficou do meu lado até quando o EXO entrou em crise!

_ Eu entendo. – assentiu. – Mas... É melhor pensar em algo. Por que... Ela não vai ter muito tempo.

Desesperado, Min Seok acelerou a velocidade do carro e entrou na via principal, enquanto as lembranças daquela viagem retornavam a sua mente. Foi Min Ha quem o acompanhou na viagem para Incheon quando ele estava estressado com a situação do EXO e, em especial, do casamento. E... É claro que ele não conseguiria prestar a devida atenção nas paisagens por que... Ela estava lhe desfocando! Com seu jeito tímido, mas corajoso de conhecer o mundo, com aqueles All Stars azuis e o vestidinho branco. Ela, que sempre quando quer, se veste e transveste – ou como ele constantemente diz “faz cosplay” – de algum cantor ou algum personagem de anime. Que sempre esteve lá para ouvir suas piadas ruins e rir de suas atuações.

Porém... Ele já havia pedido Ji Min do grupo feminino AOA em casamento e ela... Havia concordado. Mas antes disso, Min Ha esteve com ele todo o tempo. Até quando não conseguia ligar para os pais em meio as suas viagens, ela o atendia e lhe desejava boa sorte.

_ Min Seok-hyung. – chamou Jong Dae, notando que o rosto alheio já estava lavado pelas lágrimas.

_ Nunca pensei que diria isso, Chennie... Mas... – e fungou. – Eu vou me arrepender muito.

Por fim, o carro preto foi estacionado próximo da praia, onde os dois homens desceram, caminhando rapidamente na direção do mar. E, não demorou muito para que ele a avistasse, com os cabelos escuros amarrados num coque frouxo, uma saída de banho cobrindo o corpo esguio e, principalmente, as lágrimas que escorriam livres por seu rosto e molhavam o braço do violão. Subitamente, Jong Dae parou de andar ao reconhecer os primeiros acordes da música que a moça dedilhava e sequer teve tempo de impedir que o mais velho se aproximasse.

“Peguei o meu velho violão

A confissão que não pude fazer

E a história que teimosamente engoli”

_ Min Ha! – chamou Min Seok, correndo até a garota. – Min Ha!

“Estão revelando uma música que estou prestes a dizer

Escute, eu vou cantar para você”

_ Min Ha, nós precisamos conversar! – definiu.

“Eu te amo muito, mas meu orgulho nessas palavras

Não me permitem dize-las a você”

_ Por que me mandou essa carta? – e, rapidamente tirou o pedaço de papel do bolso do terno, estendendo-lhe. – Por que só agora?

“Hoje vou juntar toda a minha coragem e te dizer

Então escute calmamente, eu vou cantar para você”

_ Será que pode parar de tocar? – subitamente, os olhos da garota se desviaram para os semelhantes de Min Seok, fazendo-o piscar surpreso. Não fazia muito tempo que ela estava ali, chorando baixinho e tocando seu costumeiro violão. – Min Ha-ah...

“O jeito que você chora, o jeito que sorri

O quanto isso significa para mim?”

“As palavras que queria dizer e que perdi a chance de dizer

As palavras que perdi a chance de dizer”

“Eu vou confessar, então escute

Eu vou cantar para você, cantar para você

Sorria pela menos uma vez”

Por que ela estaria cantando aquela música que eles cantaram após o comeback de Love Me Right? E por que Jong Dae não estava do lado dele? Min Ha ainda dedilhou nas cordas do violão e tornou a baixar a cabeça.

“É uma coisa engraçada né? Para mim há apenas você

Mas às vezes não consigo dizer muito

Como um estranho”

E, enquanto a morena continuava sua canção, Min Seok se acomodava a sua frente, apenas a observando em silêncio. Por que era apenas isso que ele podia fazer: ouvi-la.

“Estou em seus braços

Penteando seus cabelos com os meus dedos

Estou dizendo que quero ser abraçado”

Ao longe, Jong Dae também cantarolava com Min Ha, numa parceria improvisada, para o mais velho. Min Seok os olhos longamente, sem conter as novas lágrimas que ameaçavam cair. No fundo, o moreno queria passar mais tempo ali, com ela, com sua voz tagarela, com suas risadas engraçadas, com seu jeito diferente de ver o mundo. Mas não podia. Há alguns quilômetros dali, estava a sua esposa, numa espera ansiosa por sua presença, para que subam no altar e... Declarem ao mundo aquilo que sua garotinha não gostaria de ouvir.

“O jeito que você chora, o jeito que sorri

O quanto isso significa para mim?

As palavras que eu me arrependi quando olhei para trás

Eu vou me desculpar, então escute

Eu vou cantar para você, cantar para você

Apenas haja como se nada tivesse acontecido”

_ Estamos no mesmo lugar que da última vez... Não é? – comentou Min Seok, vendo-a assentir. – Você... Disse que tinha algo a me dizer... Não tinha?

Min Ha assentiu.

_ E por que não disse? – murmurou, com a voz embargada.

“Sou realmente agradecido por te ter

O presente que Deus me deu”

Mas ao invés de responder, Min Ha continuou:

“O quando este dia acabar

Eu devo voltar a ser estranho novamente”

E Min Seok completou:

“Mas hoje por todos os meios

Eu quero dizer esta palavra, então escute”

“O jeito que você chora, o jeito que sorri

O quanto isso significa para mim?

As palavras que queria dizer e que perdi a chance de dizer

Eu vou confessar, pode ser um pouco estranho

Escute, eu vou cantar para você

Cantar para você

Escute, eu vou cantar para você”.

Ao fim da música, Min Ha descansou o violão ao lado e encarou o amigo – e primeiro amor – por longos segundos, sorrindo gradativamente. Ela sabia que seria a última vez que o veria ali, com suas bochechas grandes e olhos de gato... O “Xiu-Min-Seok-hyung-oppa do EXO”, como costumava chama-lo.

_ Boa sorte com seu casamento. – desejou-lhe, levantando da areia. – Eu... Preciso pegar o voo para a Itália.

_ Vai... Mesmo viajar para longe? – murmurou.

_ Nós... Já tivemos a nossa viagem, Minnie-ah. – e sorriu. – Ver Incheon com outros olhos... De outra forma... É a viagem. A razão principal de trazê-lo até aqui foi... Por que eu queria que soubesse que... Incheon não é interessante sem você. Que meu mundo... Não faz nenhum sentido sem você.

_ Min Ha-ah...

_ Nos vemos por aí... – e acenou, afastando-se da dupla. – Adeus.

E tudo o que Min Seok pode fazer foi assisti-la entrar num táxi e sumir, enquanto o sol, como tantas outras vezes, se punha atrás de si.