“I've been drawn into your magnet tar pit trap
I wish I could eat your cancer when you turn black”
_Heart-shaped box.
Bom, o momento para a leitura chegou não é? Que minhas curiosidades serão todas saciadas eu não posso afirmar agora, mas ao menos não estarei mais caminhando no escuro.
Seguro o diário firme em minhas mãos, a capa aveludada me dava uma sensação boa ao toque; abro-o e me deparo com a primeira página, uma folha escura onde poderia ver apenas escrito: Pertence a K.C.
Virei para a página seguinte. Laf e Perry mantinham os olhos pregados em mim e no diário. A caligrafia de Carmila era simples e sem muito desenho, era de fácil compreensão por ser limpa.
“Junho, 18 ou 19, ano de Hum mil, quinhentos e oitenta e nove de nosso senhor”.
“Olá diário,
Eis que aqui há o preludio de minhas lembranças, dos acontecimentos que poderão ser ou não de alguma importância em meu cotidiano. Definitivamente posso eu afirmar o quão irônico é dar início a esse relato de um ser profano como eu datando tudo em nome deste “nosso” Senhor. Alguns daqueles que amam a este senhor tiraram tudo de mim... A quem eu tanto amara... Contudo é por ela que eu escrevo, àquela que tanto me amou, independente do monstro que sou... Não deixarei meus feitos tornarem-se apenas atos lançado a sorte do tempo; e mesmo aquela maldita perseguição aparentemente tido seu fim, eu ainda não possuo o deleite de pousar minha cabeça em meu leito de descanso. Quando os primeiros raios do sol surgem no horizonte, tingindo o negro do céu eu não consigo dormir relembrando a naquela noite... Em que chamas ela em meio a clamores de desespero deixava sua forma carnal. “E nestes anos de escuridão, vagueando por essas noites sombrias apenas a loucura e o sangue tornaram-se meus inseparáveis companheiros.”.
Interrompo a leitura. Não tenho palavras para expressar (E olha que eu não ter palavras é estranho). Perry apenas balbuciava sons incompreensíveis ao meu lado. Laf coloca a mão em meu braço e olhando-me afetuosamente pergunta:
_ Tem certeza que quer continuar a ler?
_ S-Sim – Respondo com a voz meio falhando.
_ E-la fora queimada...? Queimada viva? – Perry anuncia em assombro.
_ A caça às bruxas... Queimavam mulheres em nome da igreja... – Essa parte eu entendo. Conheço de história. Assombra-me é saber que Carmilla vivenciou tudo isso. Essa a quem ela amara...
_ Vamos prosseguir. – Digo-lhes e tanto Perry quanto Laf apenas acenam positivamente com a cabeça. Prossigo a leitura.
“(...) De tal maneira, estas lembranças que me assombram me mantiveram inerte a tudo que passara ao meu redor. E enquanto os clérigos tentavam encurralar e eliminar aos afáveis povos que não se misturavam a seus costumes, a corte continuava a regozijar-se com boa comida, vinho de boa safra e jovens damas dançantes. Creio que notável és minha ira neste pequeno desabafo, mas não há como ser de outra maneira, minha cólera contem-se apenas quando estou ébria. Dominada pelo consumo do único alimento que me sustem entre os vivos. Encerrarei por aqui. Não costumo expor tanto de meu ser, porém com a pena em mãos noto que seja menos difícil de fazê-lo.”
K.C.
Finalizamos o primeiro escrito. Estávamos em silêncio, apenas nos entreolhando. Tento digerir isto que acabamos de ler... Faz tanto, tanto tempo, que sequer parece real... Sequer parece ter acontecido. As coisas que Carmilla já vira... Já fizera... Ela vira o mundo que conhecemos hoje nascer.
_ Isso... É Historia pura. – Laf sussurra. – Você acha que devemos continuar Laura?
_ C-claro.
_ Estamos aqui com você. – Perry dá um leve aperto em meu braço, e com seus olhos azuis cintilantes me encara.
Viro a folha para a página seguinte. O relato prossegue:
“Junho, 25, ano de Hum mil, quinhentos e oitenta e nove de nosso senhor”.
"Caríssimo,
Eis que esta era tem se apresentado interessantíssima de uma maneira extremamente estranha. Agora que o tal novo mundo não é apenas boatos da mesa das grandes cortes, os olhos daquela que nos domina acima do rei, a igreja, voltaram-se para essas terras. Em meio a tanto, tenho me divertido em bailes e comilanças por todos os reinos que meu eu apresenta-se, ora marquesa, ora duquesa de um povoado ou reino longínquo, ora prima de alguém importante cujo todos juram conhecer, mas sequer possuem a confirmação de que existe. Os bailes são fartos de moças de pele rosada. O sangue delas que vertem de suas clavículas ao meus lábios deixam-me ébria e em êxtase. Entretanto o que venho relatar cá neste começo de noite é outra coisa. Conheci uma dama bastante interessante algumas noites, aqui em Hungria, possuías um porte bastante requintado e elegante para as mulheres desta região, veio a mim questionando-me quais regras alimentares eu mantinha, pois minha pele era sempre branca e reluzente, como se expelisse juventude. Ri dela. Gargalhei em sua face, não por achar graça, mas por escarnio da pobre mulher não entender que não haveria como o tempo faze-me murchar pois não há mais vida em meu ser. A expressão dela mantinha-se fechada e firme, então respondi-lhe como quem cospe absinto no prato imaculado da sarjeta, que o sangue mantinha-me viva. No instante não me dei conta do quanto aquilo significara ou revelara a ela, pois sua reação fora nada esperada, ainda com a mesma posição firme perguntara se precisavam ser virgens, disse-lhe apenas que o sabor era melhor ao paladar e saí-me de lá em busca de alguma presa. Tempos depois ouço falar de tal dama, chamava-se Elizabeth Bathory*, era condessa... O que assombrara era que algumas jovens de sua região começara a desaparecer aos poucos, e todos os desaparecimentos pareciam conectados a tal condessa. Agora pergunto-me: Tivestes meu ser influência em tamanha desgraça? Meus pensamentos acusam-me que sim, então enveneno-me novamente com sangue das meretrizes para acalentar minha dor latente."
K.C
_Bom... isso foi meio... - Começo a falar.
_ Assombroso? _ Perry completa histérica.
_ Prosseguimos? - Laf questiona olhando de Perry para mim.
_ Sim. - Digo
Continuamos a ler; grande parte do que era relatado era descrições de Carmilla sobre as noites escuras regadas à sangue e ao calor da luxúria que as damas lhe ofereciam antes do amanhecer, como no trecho datado pouco antes dos anos de 1600.
"(...) O seios dela era alvos como a luz do luar que adentrava o recinto e iluminava-nos. Não lembro-me da cor de seus olhos, pois nem sei se os vi. Apertei aqueles seios de maneira potente, e ao romper de sua pele com a tensão de minhas presas senti-a arfar. Não sei afirmar se seria dor ou prazer, mas ao pousar meu toque sobre sua intimidade notei que estavas integralmente úmida. Com aptidão de meus dedos, eu entrava e saia de dentro daquela que não era mais donzela ao mesmo tempo que seu sangue escorria para dentro de meu corpo. Pude senti-la tremer em todo seu vigor quando o ápice do prazer percorreu-a em todas as veias. O melhor golfar de sangue (...)".
Eu me sentia envergonhada e embaraçada lendo todas essas coisas, em alguns momentos Perry, como uma avó repreendida pelos costumes pigarreava e desviava os olhos. Laf parecia que absorvia toda a leitura como um nerd adquire mais conhecimento, tudo lhe parecia científico. Continuamos a ler durante mais algumas horas sem nada de muito novo... Até que me deparo com algo curioso:
(...) Havia um bom tempo que eu não despojava a fazer uso do amuleto... E por, talvez, um grande impulso fizera-me coloca-lo ao redor de meu pescoço, pude fazer algo que há tempos não fazia: Pude sair à luz do sol. O primeiro instante fora magnífico. Sentir o iluminar do sol sob meu ser... Mas depois veio a vertigem e a tontura, e precisei descansar por dois ou três dias seguidos para assim conseguir fazer-lhe uso novamente. Ao colocá-lo fui invadida pelas lembranças... Daquela noite em que ela o entregara para mim, sorrindo docemente ela disse que o havia feito para que eu pudesse caminhar pelos bosques e vales ao seu lado durante a claridade... Não precisaria mais fugir. Dissestes-me que os espíritos lhe concederam permissão para criar tal artefato. Ainda agora, muitas luas após esta noite, ainda posso sentir a força e a presença dela em mim.
Durante os meus passeios diurnos, pude notar o quão diferente os povoados e as cidadelas se apresentavam... E durante a manhã de, poucas horas após céu ganhar tons azuis, avistei ao longe uma donzela formosa a vista. Estremeci quando seu olhar cruzou o meu, pois havia reconhecimento ali. Irei retornar a tal local outra vez, pois posso estar enganada, ébria de uma loucura que apenas os anos me permitiriam adquirir, mas ela possuía a mesma chama que minha amada Lorelai.
Seria esta jovem a quem ela se refere à mesma daquela carta que certa vez li na biblioteca? O colar... Aquele que toquei naquela noite... É o mesmo que ela narra aqui, certo? Por que tudo parece não fazer sentido, mas ao mesmo tempo se encaixa perfeitamente? O que está acontecendo?
E por que pensar neste nome me dá um forte arrepio no corpo e uma terrível dor de cabeça?
Senti que meu corpo estava se tornando dormente aos poucos... Esvaindo e escapando de mim o que me mantinha acordada.
_ Laura? – Alguém me sacudia. Laf? Perry? Uma voz ao longe aflita. – LAURA?
Mas o buraco que se abria era tão acolhedor.
Lorelai...
...
A chuva escorria fraca e transformava as cinzas em um barro preto. Impuro. As lágrimas vertiam de meus olhos sempre que eu fitava a paisagem ao meu redor: O vilarejo completamente devastado. Minhas pernas me lavavam a algum lugar, eu não conseguia controla-las, a passos arrastados e cansados, eu queria ir mais depressa, sabia que precisava, mas não sabia o porquê e nem para onde estava indo, mas caminhava a passos vacilantes. Minhas mãos estavam arranhadas e sujas, os dedos não pareciam meus... E meus cabelos estavam suados, colados na minha fronte. Eu comecei a procurar por algo. Tentava gritar, mas a voz não saia... Apenas lágrimas e um berro de desespero. Eu precisava gritar gritar. As cabanas estavam todas no chão, eu olhava debaixo de tudo. De tudo. Mais depressa, mais depressa. Lá no horizonte, o céu começava a ganhar um tom menos negro... A minha busca se tornou mais intensa... Mais forte. Sinto uma dor horrível em meu braço. Sem querer acabo cortando-o em alguma peça cortante, faca, algo ali, no meio da sujeira, tento ignorar a dor e o sangue que escorria enquanto continuava a procurar ainda mais. Respiro fundo, sinto algo me puxar para baixo, uma mão agarrando meu braço. A sensação de algo áspero e úmido deslizando pelo meu braço indo até minha ferida. Assombro-me, enquanto sou puxada bruscamente para baixo, e uma cabeleira negra rompe-se para cima de mim. Encaro assustada aqueles olhos da noite, era Carmilla. Talvez minha cara de espanto estivesse maior que sua fome por sangue, porque ela me solta e se afasta.
_ Me desculpe... - Ela sussurra. As lágrimas desciam de meus olhos queimando minhas bochechas. Aceno com a cabeça positivamente e aponto para o céu que começava a clarear.
Eu precisava tira-la daqui, mas onde afinal de contas é este lugar?
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