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História Um alguém especial - 15


Escrita por: FrancisClay

Notas do Autor


Boa tarde meninas, como prometido aqui estou. Obrigada novamente pelos comentários e vamos ao capítulo.

Capítulo 15 - 15


 

Ando de um lado para outro nessa varanda mal iluminada. Estou a ponto de fazer um buraco no piso frio. Processo todas as explicações tanto na mente, quanto no estômago. Ai, cara, estou enjoada.

Segundo meu pai, que demorou algum tempo para me acalmar, essa pegação começou há mais de um ano. Eles se reencontraram em Foz do Iguaçu, onde meu velho participava de um congresso médico e minha mãe, de um congresso ufológico.

Mas o que está me tirando do eixo é essa falta de consideração. Por que não fui informada? Qual o intuito de me esconderem algo assim? O que pensavam, com essas cabeças degeneradas, estarem fazendo? Protegendo-me? Eu não sou criança, pô!

— Nina, você precisa entender. – meu velho leva as mãos aos meus ombros.

— Não, realmente eu não preciso. É por culpa dela que você ficou arrasado. Foi pelo egoísmo dela que minha cabeça entrou em parafuso.

— Não culpe a sua mãe pelas besteiras que fez na vida. – meu pai parte em defesa e eu fico irada.

— Como não? – elevo a voz. – Se ela não tivesse fugido, eu provavelmente seria alguém muito diferente e não teria tantas paranoias. Talvez fosse eu a me casar com a Clarinha e não aquelazinha.

Eu disse essa última frase em voz alta, em meio a lágrimas escaldantes? Ai. Meu. Deus.

Meus pais se entreolham, incertos. Minha mãe se levanta do banco que ela mesma pintou quando eu tinha uns dez anos. Até me lembro de tê-la ajudado a envernizar.

Ela se aproxima, na verdade parece flutuar na minha direção. Toca meu rosto com ambas as mãos e enxuga minhas lágrimas que queimam ao contato com a pele.

Ah, como ela está linda. Seus cabelos cor de mel caem em cachos até os ombros. Seus olhos, também da cor do mel, irradiam uma paz profunda e possuem um brilho etéreo. Algo me diz que ela encontrou o caminho para a iluminação, até o seu toque tem um quê de divinal. Tanto é verdade que sinto uma tremenda calma me invadir. Se foi o toque de suas mãos ou sua presença, eu não saberia dizer.

— Nina, me perdoe. Sei que já pedi inúmeras vezes, mas um dia você terá que deixar essa mágoa partir. E quanto a Clara…

— Não quero falar sobre isso. Esqueça o que eu disse.

— Como posso esquecer? – suas sobrancelhas se elevam. – Sei que está sofrendo, eu posso sentir. Filha, estou aqui para ajudá-la. Seu pai e eu só queremos o melhor para você. E quando houve aquele acidente na praia, nós decidimos lhe contar sobre essa reaproximação.

— Se você quisesse mesmo o melhor, não teria partido. – de repente me sinto pesar toneladas.

— Talvez um dia você entenda os meus motivos.

— Olhe, se meu pai está feliz, fico tranquila. Agora, se ousar machucar esse homem novamente, prometo a você que será a última vez. – dito isso, entredentes, sigo para o meu quarto, batendo a porta com tanta força que as paredes reclamam, gemendo.

                                                                                             ≈≈≈

Passa das oito da manhã e nada da Vanessa. Devo me preocupar? Ligar no celular? Chamar o Corpo de Bombeiros? Antes que eu pegue o telefone e disque para a polícia, ela entra no quarto, com aquela cara de quem comeu e se refastelou.

— Caramba, você está flutuando como a minha mãe.

— Ai, que noite! – ela se joga na minha cama e então me encara, inquisitiva: – Como assim flutuando como a sua mãe?

— Ela está aqui, no quarto ao lado, dividindo a cama com o meu velho.

— Você está me zoando!? A sua mãe? Aquela sua mãe?

— É, quer que eu desenhe? – pergunto, preguiçosamente.

— Nina, desembucha!

E eu despejo toda a tralha sobre a cama. Van está pasma, concordando e discordando com a cabeça, ouvindo atentamente minhas lamentações e rindo da minha fúria incontida.

— Cara, eu não entendo você. É a sua mãe, isso não é demais?

— Está de sacanagem comigo? Escutou alguma palavra do que eu disse? – estresso. – Ah, quer saber? Me conte sobre a noite com o Guilherme, deve ser uma história muito mais divertida.

E não é que a noite Vanessa versus Guilherme se mostrou uma grande surpresa? Ela conta, com os olhos em chamas, que dançaram e beberam até o boteco fechar. Depois disso, a bordo de um conversível, ele a levou para sua casa-barco. Sim! O cara mora num barco luxuoso, que fica ancorado na Marina.

De lá, navegaram algumas milhas náuticas e o Guilherme baixou a âncora no meio do mar, sem nada em volta para atrapalhar. Segundo ela, além de experiente – o que eu já suspeitava – também foi extremamente romântico e delicado. Está aí uma coisa que eu não imaginaria nem em mil anos.

Para fechar a noite, Guilherme ligou o som ambiente e os dois dormiram abraçadinhos, embalados apenas pelo balanço do barco e o pisca-pisca das estrelas.

Droga, tem uma ponta de inveja me cutucando nesse exato segundo.

Não! Não posso deixar esse bicho invejoso me picar. Van é minha melhor amiga no mundo e eu desejo, do fundo do coração, que ela encontre um cara bacana para chamar de seu. Mas tenho cá minhas dúvidas quanto ao Guilherme ser esse cara.

                                                                                                    ≈≈≈

Antes do café-da-manhã, invado a cozinha da pousada. Espírito leva um tremendo susto quando lhe dou um beliscão no braço. Meu amigo me encara, com uma interrogação gigante no semblante.

— Seu traidor, filho da mãe.

— O que eu fiz? – ele arregala os olhos.

— Manteve a Clara a par da minha vida amorosa em São Paulo. – cuspo.

— Ah, é isso. – ele baixa a cabeça e sorri. – Nina, a Clara é como uma irmã para mim. E ela sempre perguntava por você, especulava todos os detalhes.

— E o que eu sou para você? – ergo a voz, descrente.

— Você é uma das melhores amigas que tenho. – ele leva a mão ao peito. – Nina, eu amo você. E é provável que se tivesse perguntado sobre a Clarinha, eu também teria lhe contado. Mas você nunca demonstrou qualquer interesse, como se realmente a tivesse apagado da sua vida.

— Eu tentei! – choramingo. – Eu queria muito saber sobre ela, mas não tinha coragem de perguntar. E como você também não dizia nada, achei que deveria deixar do jeito que estava. – bato em seu braço, com força. – Você deveria ter dado com a língua nos dentes e me contado sobre a biscate da Samantha.

— Mas eu contei, Nina! – ele se defende.

— Foi tarde demais.

Cruzei com a minha mãe quando saí da cozinha.

Ela me fitou com aquele olhar amoroso de sempre e não consegui dizer nada ofensivo. Mas isso não quer dizer que os palavrões não povoaram a minha mente. Mamys até tentou puxar conversa, mas me esquivei dizendo que estava atrasada para um compromisso.

Aliás, a mais pura verdade.

Após o café-da-manhã e uma bronca bem dada nos meus avós, já que eles sabiam dessa reaproximação dos meus velhos, segui Vanessa para um passeio improvável ao lado de seu novo affair: Guilherme.

Estamos no Divino Poseidon. O barco é imenso e quando a Van disse que era luxuoso, minhas imagens mentais não chegaram aos pés do que vejo agora. O lugar se parece com uma casa de revista, com ambientes tão bem decorados que chegam a dar um nó nos olhos e até um certo receio em quebrar alguma coisa.

Espírito não pôde me fazer companhia e eu quase desisti. Mas Vanessa e Guilherme foram persistentes ao extremo. Sei que esses dois estão unidos em prol da operação “melando o casamento” e de alguma forma tentarão me dissuadir a ferrar com tudo.

Não estamos apenas os três na embarcação. Há um chef de cozinha e duas assistentes que perguntam, a cada cinco segundos: “Desejam mais alguma coisa? Estão bem servidas? Quer que ajeite o guarda-sol?”.

Coisa mais chata.

Vanessa está achando tudo o máximo, não consegue conter os suspiros apaixonados e começo a temer, silenciosamente. Eu não queria que ela voltasse para São Paulo, mas estou mudando rapidamente de opinião. O Guilherme é um cara sedutor, inteligente, rico, além de ser lindo de viver. Que mulher resiste a isso?

Como duas madames da high society, estamos deitadas em espreguiçadeiras, bebendo em copos altos, com frutas nas bordas e um guarda-sol colorido para arrematar. O drinque está perfeito, ultragelado.

— Vai me dizer o porquê do convite ou não? – atiro a pergunta.

— Você é perspicaz, já deve saber o motivo. – Van sorve o restante da bebida e deposita o copo numa mesa de apoio. – Só nos ouça. A decisão final é sua.

                                                                                                         ≈≈≈

Os planos daqueles dois soaram infalíveis aos meus ouvidos. Não tenho dúvidas de que surtiriam os resultados almejados. O que eles não conseguem entender – ou não querem – é que melar esse casamento é muito fácil, o complicado será manter minha consciência em paz depois de um feito como esse.

E se a Clara realmente estiver apaixonada pela bruaca? Duvido que ela se casaria se não sentisse absolutamente nada por ela. Quando dou voz a esses pensamentos, Guilherme atira, a queima roupa:

— O sentimento da Clara é um só: gratidão.

— Não pode ser somente isso. – levo as mãos aos cabelos, alisando-os impaciente para trás. – As duas são médicas, devem ter muito em comum.

— Qual é, Nina. – Guilherme ri na minha cara. – A única coisa que aquelas duas possuem em comum é o lugar onde trabalham. A jabiraca tem medo de água, odeia areia, não suporta os amigos da Clarinha… cara, é o diabo encarnado!

— Você está conjecturando. Talvez deva perguntar a ela os motivos desse casamento. – pondero.

— Eu já questionei, mas ela sempre se esquiva. – Guilherme revela. – Nina, a Clara vive do passado, se nutre do que tiveram juntas. E desde que vocês se reencontraram, ela é outra pessoa. Posso dizer, com toda a certeza desse mundo, que a Clara renasceu.

                                                                                          ≈≈≈

 

Acabamos de almoçar e a afirmação do Guilherme não me sai da cabeça. Na proa, sinto o vento bagunçar meus cabelos soltos enquanto inspiro e expiro pausadamente. Giro sobre os chinelos e a cena que vejo faz meu coração bater mais forte. Guilherme e Vanessa são lindos juntos. E para completar esse pensamento, minha voz interna sussurra, com todas as letras: “Eles foram feitos um para o outro.”

Uma lucidez alarmante toma conta dos meus sentidos. Se eu não tivesse fugido para São Paulo, nunca teria conhecido Vanessa. E se eu não tivesse conhecido minha melhor amiga no mundo, ela e Guilherme não estariam juntos nesse instante.

Caramba, minha mãe ficaria orgulhosa desse meu entendimento transcendental dos fatos. Mas agora, surgem as questões: estamos todos a mercê do destino? Não temos livre-arbítrio? Caminhamos nessa vida sempre regidos por um poder maior? Nossos finais já estão traçados, sem direito a barganha ou atalhos?

Antes que eu me afogue em devaneios, volto o olhar para o horizonte. Um tanto confusa com a imagem que se apresenta, estreito o olhar. Tiro os óculos para ter certeza e então, grito para que Guilherme chame a Guarda Costeira.

                                                                                     ≈≈≈

O iate está em chamas. Uma fumaça negra se desprende da embarcação, subindo em espiral. Duas lanchas estão bem próximas, ajudando como podem. Só então, reconheço o logotipo do hospital em uma delas. Da forma como o destino anda me sacaneando ultimamente, já posso imaginar quem a esteja conduzindo: Clara.

Mas onde ela está?

Meus olhos vasculham, apressados. Noto que o fogo parte dos andares abaixo e está se alastrando rapidamente. Pessoas se jogam na água, vestindo coletes salva-vidas. Um pavor insano queima a boca do meu estômago, não vejo Clarinha em lugar algum!

Guilherme aproxima-se da embarcação em chamas, jogando a âncora. Van aponta para duas mulheres que nadam freneticamente em nossa direção. Ajudamos no resgate e enquanto uma chora copiosamente, a outra conta o que houve com o iate.

— São cinquenta pessoas a bordo, talvez mais. Os turistas estão todos hospedados num Resort em Ubatuba. Ouvimos uma explosão e o fogo começou. Pelo que os tripulantes disseram, tem pessoas presas no andar debaixo. Uma médica e um enfermeiro que viram o que aconteceu, estão ajudando a apagar o fogo.

O quê?????????????

Agarro o braço da mulher dos cabelos cor de cobre. A princípio, ela se assusta, mas logo entende meu nervosismo. Descrevo Clara, atropelando as palavras. E então, meu sangue congela dentro das veias quando ela meneia a cabeça, positivamente.

Meu horror não passa despercebido. Vanessa me segura pelos ombros, mas não é rápida o bastante. Quando estou a ponto de me jogar na água, sou atirada para trás, presa numa chave de pescoço.

— Segure essa doida aí. – Guilherme pede para Van enquanto eu me debato, ensandecida. – Eu vou até lá.

— Guilherme, não! – minha amiga grita, mas já é tarde.

Ele salta do barco e tento segui-lo, mas Vanessa me segura pelos ombros, desferindo um tapa na minha cara. Foi bem de leve, mas o suficiente para escutá-la.

— Pare com isso, Nina. A Clara ficará bem. Agora venha, me ajude a resgatar esse povo na água.

Como Vanessa consegue ser tão centrada?

Ouço as sirenes dos barcos de salvamento ao longe. Olho para cima e vejo um helicóptero se aproximando, sobrevoando o local e jogando montes de água sobre o iate. Apesar de abalada, não me deixo paralisar e auxilio Van no resgate de mais duas pessoas: um senhor idoso e uma mulher de meia idade.

A outra lancha resgata três crianças. É nesse momento que os barcos de salvamento tomam posição e um bando de homens inicia o procedimento padrão.

Pelo rádio, nosso chef de cozinha avisa que existem pessoas presas dentro da embarcação. A resposta é curta, mas me dá esperanças: “Faremos o impossível.”

                                                                                                        ≈≈

Somos obrigados a nos afastar do local do acidente. De acordo com o último reporte, há riscos de novas explosões. Não tenho habilitação para navegar um barco dessa proporção e somente nesse momento, descubro que além de chef, nosso cozinheiro também é capitão.

Nenhuma notícia da Clara ou do Guilherme. Para distrair minha cabeça fervilhante, sirvo água com açúcar e pego toalhas secas para os nossos sobreviventes.

Noto que Vanessa está agitada e não quer transparecer. Abraço-a por trás, mirando o iate flamejante. Ela deita a cabeça em meu ombro e a sinto estremecer. Ouço seus murmúrios e acho que está rezando. Talvez eu devesse fazer o mesmo, mas não tenho a menor ideia de como rezar. Nesse caso, peço a Deus que tudo acabe bem, que Clara e Guilherme saiam inteiros daquele lugar.

Não sei como ainda estou de pé, mas o fato é que estou ligada, com a adrenalina correndo solta pelas veias. O medo dá uma estranha sensação de poder, como se pudéssemos erguer uma montanha. Talvez, por esse motivo, tantas pessoas se viciem em esportes radicais.

— Droga, onde eles estão? – Van choraminga, ainda com a cabeça em meu ombro.


Notas Finais


Por hoje é isso meninas...Ate quinta feira ou antes......só Deus sabe...
Bjos
Fuiiiiii


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