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História Um alguém especial - 16


Escrita por: FrancisClay

Notas do Autor


Boa noite meninas, como prometido estou eu aqui novamente e enfim vamos saber o que aconteceu. Boa leitura.

Capítulo 16 - 16


 

Parte do incêndio foi controlado. Um ou outro foco teima sob os jatos d’água. E se eu estiver enxergando direito, o barco está submergindo. Cordas foram atreladas, para segurá-lo na superfície. Essa falta de informações está me deixando louca.

Como se tivéssemos combinado, eu e Van expelimos todo o ar dos nossos pulmões, em uníssono. Clara e Guilherme estão visíveis, um amparando o outro. Pessoas surgem na cena e fica claro que ficará tudo bem.

Obrigada, Deus. Estou devendo uma.

Guilherme acena e aponta para a lancha do hospital. Entendo o recado e corro para o cockpit, aguardando um contato de rádio. Vanessa está na minha cola, doida para xingá-lo de todos os palavrões conhecidos.

— Sigam para a Marina, nos encontramos no Píer. Câmbio. – Guilherme transmite.

— Seu desgraçado, você quer me matar é? – Vanessa brada e arranco o comunicador das mãos dela.

— Gui, vocês estão bem? Machucados? Câmbio.

— Estamos bem, fiquem tranquilas. E diga para a Van que vou matá-la sim, mas será de uma forma que ela vai amar. Câmbio final.

Perco o controle e estou rindo, de chorar. Vanessa leva as mãos aos cabelos desgrenhados e também desata a rir. O chef-capitão nos expulsa do cockpit e assim seguimos de volta à Marina.

A lancha do hospital se aproxima. Antes mesmo das cordas serem atreladas, nos jogamos para dentro da embarcação, a fim de conferir de perto o estado daqueles dois.

O enfermeiro mencionado é ninguém mais, ninguém menos do que o irmão do Espírito. Aparentemente ele está bem, com uma pequena queimadura no antebraço.

Vanessa se joga sobre Guilherme, sufocando-o. Ele sorri e diz que nunca foi saudado assim por nenhuma mulher antes. Segundo ele, pode ficar mal acostumado.

Clara desliga o motor e sua roupa branca está colada ao corpo. Gira sobre os tênis brancos e dou uma geral no seu estado. A camiseta está rasgada, há um corte em sua mão e parte do seu ombro está com a pele avermelhada, acho que se queimou.

Aproximo-me com o coração querendo escapar pela boca. Nossos olhares estão unidos por um fio invisível, que não nos permite enxergar nada ao redor. Estou ofegante e sei o que desejo fazer nesse instante. Só não sei se devo.

— Essa experiência de quase-morte poderá mudá-la drasticamente. – começo. – Pensou nisso quando pulou para dentro daquele barco em chamas?

— Não tenho nada a perder, Nina. – ela diz, tristemente.

— Como pode afirmar uma coisa dessas? – pergunto, indignada.

— O que você queria que eu fizesse? Assistisse apenas?

Não respondo. Avanço em sua direção, elevando minhas mãos. Toco os dedos em seu rosto suado e sujo de fuligem. Ela não se move, mas fecha os olhos e arqueja. Suas mãos estão sobre as minhas e me sinto pegar fogo. Juro que tento me controlar, mas é humanamente impossível.

Colo meus lábios nos dela e pensei que o beijo seria unilateral, mas não. Clara corresponde, com língua e tudo! Aê, palmas para a minha pessoa, eu mereço!

Suas mãos descem até a minha cintura, puxando-me para mais perto. Já eu, estou agarrada em seus cachos úmidos e não me canso de explorar cada milímetro de sua boca farta, cálida, vulcânica.

Meu peito parece que vai explodir e este beijo abrasador demonstra o quanto ela me deseja, o quanto me completa. Com ela, sinto que tenho o poder da minha vida nas mãos, que a felicidade existe e ela está bem aqui, beijando-me de forma ardente.

Clara foi feita sob medida para mim. Ele é o meu homem perfeito. Ahhh!!! Que coisa!!! Sera que nunca vou acertar.   Mulher sua maluca....minha mulher perfeita Clara se afasta, ofegante.

Seu olhar diz que perdeu o controle, que esse beijo não deveria ter acontecido. Eu entendo, perfeitamente. Ainda assim, uma facada não seria tão dolorosa e sangrenta.

Não me desculpo, não vejo motivos para tal. Ela também não se pronuncia e morde o lábio, com força, talvez para segurar as palavras que queiram sair por aquela boca macia e quente e selvagem e farta e perfeita.

O irmão do Espírito diz que precisam ir ao hospital, para verificarem os ferimentos e mais alguma coisa que não capto. Todos os meus sentidos estão desligados, apenas a visão funciona. E eu só vejo a ela.

— Eu preciso ir. – ela diz, com as mãos entrelaçadas às costas como se somente dessa forma, pudesse evitar me tocar.

— Clarinha, nós precisamos conversar.

— Eu sei. – seu olhar torna-se apático de repente. – Quando eu puder, procuro por você.

— Antes do casamento, por favor. – meu tom é de súplica.

— Farei isso.

                                                                                      ≈≈≈

De volta à pousada, estou sentada de frente para o meu avô, em sua mega biblioteca. Narrei os últimos acontecimentos no mar e ele ouviu atento, com os óculos na ponta do nariz.

Quando fiz menção em me levantar, ele segurou o meu braço, dizendo não se conformar com a forma com que tenho tratado minha mãe e que eu deveria, ao menos, dar uma chance a ela.

Nesse ponto, começo a folhear um livro bem antigo, desses com capa de couro e cheiro de papel envelhecido. É uma história de amor e dou uma olhadela no final. Como um romance pode ter um final tão desastroso? Arquejo, contrariada.

— Nina, seja inteligente. Converse com sua mãe, entenda-se com ela. Seu pai está feliz desde o reencontro, não notou?

— Eu tinha certeza de que havia um rabo de saia na jogada, mas nunca pensei que seria minha mãe.

— E isso não é bom? – vovô ajeita os óculos na ponta do nariz adunco. – Nina, não seja tão turrona.

— O que a vovó pensa disso tudo? – questiono, fechando a porcaria do livro.

— No início ela foi contra, tinha medo do seu pai sofrer novamente. Mas então, se deu conta de que ele a ama, sempre amou, independente do passado ou mesmo do que o futuro reserva à essa relação. – ele faz uma pausa e mira o fundo dos meus olhos. – Nina, seu relacionamento com Clara não é muito diferente disso. Que tapa na cara!

Minhas bochechas queimam com o óbvio. Eu nunca havia pensado por esse ângulo e não é que meu avô tem toda a razão?

— Você teve os seus motivos para abandoná-la. Sua mãe também teve os dela. Pense nisso. – ele suspira alto e volta para sua leitura.

                                                                                  ≈≈≈

 

Vanessa está Nas Costas do Padre com Guilherme. Espírito saiu com aquele cara bonitinho da outra noite. Não faço ideia de onde Clara esteja. Meu pai e meu avô jogam truco na sala de jogos. Minha avó já foi dormir há algum tempo.

Estamos apenas minha mãe e eu, na varanda da casa do meu velho. Ela se balança em uma rede enquanto eu finjo fazer as unhas. Já tirei o esmalte, mas estou trêmula com essa aproximação e não conseguirei passar o vermelho que escolhi.

— O que acha de recomeçarmos do zero? – fito-a, sem qualquer traço de raiva na voz.

— Acho uma ótima ideia. – ela ajeita as madeixas em um rabo de cavalo. – Nina, eu amo você, filha. Mesmo longe, nunca deixei de pensar em você, enviar vibrações positivas. Você é o meu bem mais precioso e sabe disso.

— Por mais que explique, ainda não entendo os seus motivos.

— Nina, eu era muito jovem e estava perdida, querendo me encontrar nesse mundo. Depois da morte dos seus avós naquele acidente de helicóptero, fiquei desnorteada. E quando aqueles turistas vieram para cá trazendo a fórmula mágica da felicidade, senti um chamado, uma vontade louca de largar tudo e buscar um sentido para a vida. Eu queria entender a morte.

— Eu me lembro bem dos meus avós. – e nesse instante derrubo uma muralha, permitindo que minha mãe entre e que eu possa compreendê-la.

— Seus avós eram meu porto seguro e me entendiam como ninguém. Quando morreram, eu surtei. Seis meses depois, fiz as malas e parti. Não sei se você recorda, mas não fui uma boa mãe, muito menos boa esposa desde que me deixaram para trás. Seu pai sabia que a única forma de me salvar, seria me deixar partir. Nina, eu realmente sinto muito.

— Você se encontrou? Está a salvo agora?

— Eu estou bem, filha. Por todo esse tempo que passei fora, nunca tive outro homem. Sempre fui do seu pai e sempre serei. – ela sorri. – Ele sabe disso.

— Ele teve algumas namoradas. – revelo, mas não para machucá-la.

— Eu sei. – ela diz, cabisbaixa.

— O que acontecerá agora? – indago, pensativa.

— Continuarei morando no Rio de Janeiro e assim ficaremos por um tempo. Não pense que uma reaproximação é fácil, existem mágoas profundas que necessitam de cura. Mas estamos progredindo e só o amor é capaz de um feito como esse.

— Está falando de você ou de mim? – sinto que ela argumenta com uma arma de dois gumes. E um dos canos está voltado para a minha pessoa.

— O que acabei de dizer serve para você também. – ela faz uma pausa. – Imagino que Clara esteja confusa com o seu retorno às vésperas do casamento com aquela chatinha.

Ah, mamãe acaba de ganhar pontos comigo.

— Mãe, não sei o que fazer.

— Não deixe a razão cegá-la. Em casos como esse, só o seu coração pode iluminar o caminho. Vanessa chega com um baita sorriso no rosto. Minha mãe se levanta da rede e as duas trocam olhares de cumplicidade. Tenho certeza de que elas andaram conversando sobre mim, está nítido.

Antes que minha mãe entre, fomenta uma ideia no ar.

— Por que não se muda para cá, Van? Você e a Nina bem que poderiam abrir uma agência de propaganda por essas bandas. Tenho certeza de que em pouco tempo, conquistariam todas as contas da cidade.

Vanessa e eu nos entreolhamos, incertas e ao mesmo tempo, sorridentes. Não é má ideia, longe disso. Eu realmente adoraria tê-la por perto e sempre nos demos super bem, inclusive no trabalho. Eu sou ótima em direção de arte e criação. E os textos da Van são perfeitos, aliás, sempre disse que ela deveria escrever um livro, uma comédia romântica, talvez. E que lugar melhor do que Paraty para altas inspirações? Aliás, ela não precisaria ir muito longe, já que minha vida parece ser uma eterna comédia pastelão.

— Pensarei nesse assunto, prometo. – Van responde, efusiva.

— E sei que está se envolvendo com o Guilherme também. – minha mãe dá uma piscadela e some das nossas vistas.

Van senta-se na rede, me encarando. Só está esperando que eu atire as perguntas que não querem calar. Não conversamos sobre esse relacionamento com o Guilherme, mas preciso muito descobrir em que pé está o envolvimento.

— Tenho milhões de perguntas para fazer, mas não quero ser invasiva, portanto, me diga o que está havendo entre você e o Gui. Conte somente o que achar necessário.

— Sei da sua opinião sobre ele e realmente entrei nessa parada armada e protegida, como você mesma aconselhou. Só que essa proteção caiu por terra quando ele me disse que nunca havia levado ninguém ao barco e sentiu uma vontade absurda de permitir que eu entrasse em sua intimidade.

— O cara é um Don Juan. Acreditou nele?

— Parecia sincero. – ela me encara com olhos brilhantes, de quem está apaixonada. – Nina, estou me deparando com sentimentos dos quais só tinha ouvido falar. Na verdade, estou começando a entender o que sente pela Clara.

— Van, não quero que se machuque.

— Nem eu quero isso! – ela rebate. – Há algo nele, não sei como explicar. É como se nos conhecessemos há séculos, consegue compreender?

— Como não? – abraço os joelhos contra o peito. – Van, eu só quero que você seja feliz, que encontre o cara da sua vida. Se é o Guilherme ou não, pouco importa. O que não quero, de jeito algum, é que você permita que ele arrase o seu coração.

— Eu estou bem e não deveria se preocupar comigo. – ela faz uma pausa breve. – A Clara voltou a procurá-la?

— Nem sinal dela. – suspiro alto e uma tristeza latente me abala. – Van, eu realmente acho que a perdi.

— Segundo o Guilherme, você está com a faca e o queijo na mão. Só depende de você, Nina.

— Sei lá, não quero pensar nisso agora. Aliás, por que voltou tão cedo da balada?

— Eu não deveria contar, mas vou. O Guilherme foi ter uma conversa com a charmosa doutora Clara.

– ela revela e me sobressalto.

— O quê? Por quê? Como assim charmosa?

— Ah, larga de ser besta. Não grila não tá?? Não é minha praia, sabe disso? Quanto a conversa, você sabe porquê. O Guilherme não se conforma com esse casamento e quer confrontar a Clara uma última vez. Já que você anda uma mosca morta e não quer melar esse casório, alguém precisa agir. E pela amizade desses dois, o Gui é a melhor escolha.

                                                                                    ≈≈≈

Revirei-me a noite toda.

Vanessa já está pronta quando saio do banho. Visto uma combinação de saia branca com blusinha cor-de-rosa. Estou louca para saber o resultado da conversa entre Guilherme e Clara, mas não deixo transparecer. Apesar disso, minha amiga saca minha inquietação.

— Vamos pular o café-da-manhã. – ela inicia. – O Guilherme está no boteco, fazendo o balanço do mês. Falei com ele e disse que estamos a caminho.

— Ele adiantou alguma coisa? Revelações bombásticas? – questiono, aflita.

— Nadinha.

Por mais que Vanessa o tenha pressionado, Guilherme alegou que esse não era um assunto para ser tratado por telefone. Sendo assim, passamos voando pelo gazebo, tapando o nariz para aqueles aromas coloniais deliciosos que se misturavam no ar. A fome terá que esperar.

Saímos para o Centro Histórico, caminhando apressadas, sem desviar nossos olhares para as inúmeras vitrines cheinhas de chamarizes. Nem para a loja de sapatos eu dou atenção. Meu rumo está traçado e não sossegarei até arrancar do Guilherme qualquer informação que salve o meu destino cruel e solitário.

Mas então, Van parece ter sido alvejada por tiros. Seu olhar embasbacado está fixo numa vitrine ao meu lado. Quando faço menção em girar o pescoço, ela puxa o meu braço tentando inutilmente me arrastar pelo calçamento.

Ah, de jeito nenhum!

Nesse momento, descortino a razão do seu choque.

Através de uma vitrine quadrada, vejo ao fundo uma linda mulher vestida de noiva. Está sob um pedestal de madeira e uma costureira marca a barra de sua saia branca, divinamente adornada com pedrarias prateadas.

Engulo o choro e tenho que encarar a face da verdade: Samantha está maravilhosa e o vestido é um luxo.

Vanessa me puxa com força e dessa vez me deixo levar. Já não sustento mais as lágrimas dentro dos olhos e elas vertem, queimando minha face derrotada. É claro que Clara a escolheria, afinal, ela é a miss perfeição, uma mulher bem resolvida e dotada de atributos físicos surpreendentes. Sem falar na inteligência e na cabeça centrada.

E eu, o que sou? Uma tresloucada sem noção, uma mulher que ainda não amadureceu, que não conquistou absolutamente nada na vida. E eu tenho celulite.

Quando viramos uma esquina, longe o bastante daquela vitrine, Vanessa me abraça e me permito chorar em seu ombro. Ela sussurra, pedindo que esqueça o que vi. Mas como? Essa imagem foi forte demais e não me abandonará tão cedo.

De repente, não tenho mais vontade de saber sobre a conversa que Guilherme e Clara tiveram. Não tenho forças para continuar caminhando ou vivendo. Certo, a última afirmação soou dramática ao cubo, mas é exatamente assim que me sinto. Estou sangrando, sinto a alegria se esvaindo, minha força de vontade se perdendo, meu amor me sufocando. Eu queria poder gritar até perder a voz e asfixiar com o ar. Eu queria… eu queria… ah, Deus, como eu a queria!

 


Notas Finais


Bem, dever cumprido meninas. Até quinta que vem e bom fim de semana.
Bjos
Fuiiiiiiii


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