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História Um alguém especial - 6


Escrita por: FrancisClay

Notas do Autor


Olá meninas....vamos a mais um capitulo...Boa leitura

Capítulo 6 - 6


Tico e Teco estão em ordem, mas Clara redigiu uma prescrição médica e pediu para que eu fique alerta a qualquer alteração na visão, enjoos, zumbidos no ouvido e dores de cabeça.

Eu poderia ter saído da sala e voltado ao meu trabalho. Mas não. Eu e minha maldita boca gigantesca.

— Como está aquela mimada da Samantha? – quando vi, já tinha feito a pergunta com um cinismo peculiar.

Clara ergue as sobrancelhas um tanto surpresa. Em seguida, estreita os olhos esverdeados na minha direção, fuzilando-me.

— Está falando da minha noiva, Marina. É melhor medir suas palavras daqui em diante.

Murcho na hora. O que me deu na cabeça ao fazer uma pergunta dessas? Eu tinha mesmo que soltar uma alfinetada? Que droga, estava tudo indo tão bem!

— Me perdoe, Clarinha. – engulo com dificuldades. – Então estão mesmo noivas?

— Por que o espanto?

— Sei lá, nunca imaginei vocês duas juntas. – chacoalho a cabeça para os lados, nervosamente.

— Quando você foi embora, nós tivemos um caso. – seguro o ar nos pulmões. – Mas não foi nada sério. Fui estudar em Londres e ela no Rio de Janeiro. – ela leva as mãos aos bolsos da calça de cintura baixa e eu desvio o olhar. – Voltei há dois anos e retomamos o que ficou pendente. – silêncio sepulcral. – O Espírito não lhe contou?

— Sobre o caso ou sobre o noivado? – dou de ombros. – Quer saber, sua vida amorosa não me interessa, Clarinha. – as palavras saem queimando.

— Melhor assim.

— Sim, com certeza. – bufando, arranco a prescrição de sua mão e saio pisando duro dali.

                                                                                 ≈≈≈

 

Bato a porta do meu escritório com força. O único quadro preso à parede tremula em desacordo. Recosto-me na madeira laqueada de branco e vou escorregando o corpo, até dar com a bunda no chão.

Estou furiosa, mas não é só isso. Uma tristeza ácida, uma mágoa irritante começa a tomar forma. Meus olhos estão marejados, o corpo estremece, meus lábios se franzem e eu me sinto péssima.

Droga, estou chorando de soluçar. Amasso a prescrição médica e atiro longe, como se isso pudesse fazer eu me sentir melhor. Eu tinha fantasiado esse reencontro de outra forma, não assim.

Em meus pensamentos insanos, o vento estaria forte como em comerciais de shampoo e eu caminharia com o vestido sendo arremessado para trás juntamente com meus cabelos dourados. Clara estaria lá na frente, hipnotizada. Era assim que eu imaginava esse encontro! E em câmera lenta!

Abano-me com as mãos espalmadas, secando as lágrimas teimosas a seguir. Respiro fundo e me aprumo, dizendo ao meu ego catastrófico que eu me garanto, sou muito mais eu.

Levanto-me e ajeito a barra da saia, alisando os cabelos para trás das orelhas. Barriga para dentro, peito estufado, cara de matadora. Seco uma última lágrima, jurando a mim mesma não derrubar mais nenhuma. Afinal, não há motivo para tanto alarde.

Clara é só um alguém do meu passado. Tudo bem, reformulando: é só uma garota estonteante, maravilhosa, exuberante mega gostosa do meu passado. E ela cheira a orvalho com um toque amadeirado. Bem que todos falam que perfumes masculinos foram feitos pra mulheres. Ela é a prova cabal disso. Merda...mil vezes merda. Mas voltando ao meus devaneios insanos com Clarinha. Que boca escultural. E seu olhar queima ao toque. E tem um corpo fenomenal, daquele tipo que suspiramos “oh, lá em casa!”.

Merda novamente!

Ligo para Vanessa pelo Skype. Cinco segundos depois, numa tremenda sintonia mental, ela atende, já perguntando:

— O que houve? Sério, senti que você estava morrendo e precisava de mim. Já estava com o celular na mão para ligar.

— Ai, Van. – choramingo.

— O que aconteceu? Me conte tudo.

Van é minha melhor amiga no mundo e eu a amo. Ainda assim, arranco gargalhadas dela conforme minha narrativa ganha voz. Ok, sei que sou uma palhaça, mas ela poderia se segurar, não?

Numa irritação desmedida, faço menção em desligar. Vanessa guarda o sorriso, mas não consegue ficar séria e me aconselhar. Recosto na cadeira com fúria e cruzo os braços, na maior rebeldia.

— Não deve ter sido tão horrível como você contou, dona Rainha do Drama. Aliás, no dia em que escrever um livro, já tem um título. Até vejo, em alto relevo: Drama Queen – a rainha do mimimi.

— Cara, você precisa me levar a sério! – sacudo o monitor do notebook, como se fosse a própria Van quem estivesse na minha frente. – Estou dizendo, esse foi um dos piores dias da minha vida. Eu só fiz merda, falei besteiras, fui uma imbecil. Van, me mate, por favor.

— Matarei sim, dentro de quinze dias. – ela revela para meu alívio imediato. – Finalmente consegui as férias vencidas. Portanto, segure essa sua maré ruim, porque quando eu chegar, vamos abalar Paraty para sempre.

— Isso se eu não cortar os pulsos até lá. – cerro as pálpebras, derrotada.

— Cale a boca, Marina. Escute, deve haver algo legal para se fazer hoje aí na cidade. Dê uma checada, saia para uma balada com o Espírito. Encha a cara e seja feliz. – ouço alguém chamá-la. – Droga, eu preciso ir. Mas antes, um último conselho da sua best friend: fique longe da Clara. – uma pausa para respirar. – Promete?

— Ok, está prometido.

Estou terminando de arrumar a zona do meu quarto com a ajuda da vovó. Ela organizou todas as minhas caixas de sapato por modelo e cor. Respiro em alívio quando chegamos ao fim.

Após um banho rápido e uma maquiagem básica, troco de roupa, optando por um vestido descolado. Lanço um olhar triste para minhas caixas de sapato. Suspiro alto e entro em pânico:

— Droga, não tenho nenhuma rasteira legal para combinar.

— Como assim? – minha avó se sobressalta. – Nina, pelo amor de Deus, minha filha!

— É sério, preciso comprar uma rasteira nova. – lastimo.

— Sabe o que Freud diria nessa situação? – ela não espera minha resposta. – Ele falaria, com todas as letras, que essa sua fixação por sapatos nada mais é do que o seu eu tentando fincar os pés na realidade, buscando se fixar neste planeta, manter o equilíbrio.

— Uau, agora você foi profunda.

— Querida, o que está acontecendo com você? – ela me encara, naquela profundidade astuta de quem já viveu de tudo. – Encontrou-se com a Clara, não foi?

— Até você, vó! – revolto-me. – Caramba, eu sou tão transparente assim?

Ela me dá uma olhada de cima a baixo e então, um sorriso brinca em seus lábios rosáceos:

— Está mesmo precisando de um solzinho. Você está muito branca, Nina, transparente é pouco.

— Vó! – como ficar brava com essa pessoa?

— Minha linda, com relação a Clara, só joguei um verde e estou colhendo bem maduro. Esse reencontro não saiu como você esperava? – ela suspira, de forma apaixonada. – Ela está maravilhosa, não é mesmo?

— Valeu hein, vó. – balanço a cabeça, inconformada.

Puxo a primeira caixa de sapatos que vejo, bem no alto de uma das pilhas. Essa rasteira branca terá que servir. Deslizo os pés para dentro das tiras e dou uma olhada no espelho de corpo inteiro.

Combinei uma balada leve com o Espírito após o jantar. Segundo ele, é um barzinho pequeno, bucólico, aconchegante, com som ao vivo e uma batida de maracujá dos deuses.

— Volto cedo, beleza? – dou um beijo na testa suada da vovó.

— Marina, tente relaxar, está bem? Você é muito nova para esse estresse todo, parece que está a ponto de explodir. E tenho medo que nessa explosão, você acabe se machucando e aos que estão à sua volta.

— Sábio conselho, vó. – meus lábios desenham a linha de um sorriso. – Obrigada.

                                                                                   ≈≈≈

A baladinha se mostra mais agradável do que o esperado. O bar está cheio, a banda toca um rock nacional de qualidade e a companhia não poderia ser melhor. Adoro conversar com Espírito. Sem trocadilhos, ele pega o espírito da coisa e consegue elevar qualquer astral pisoteado. Meu amigo tem uma aura poderosa, que abraça qualquer um que se aproxime.

Essa batida de maracujá é das alturas, tanto que já estou acima do teor alcoólico recomendado. O riso é frouxo e agora engatamos uma conversa nada a ver, falando sobre a mudança de consciência da humanidade e o fim do mundo Maia que deixou a desejar em 2012.

Espírito é todo ligado nessa coisa de misticismo e eu sempre evitei o assunto a todo custo. Também pudera, qualquer aroma de incenso ou penduricalhos esotéricos lembravam a minha mãe. A paranoia passou, mas ainda há um resquício de raiva bem guardado no fundo do meu eu.

— Vamos dançar. – ele empurra a cadeira e se levanta, estendendo-me a mão. E você que está lendo isso, não se espante. Espírito é gay.

— Sabe que não sei dançar e vou pisar no seu pé.

— Ah, vamos nos divertir, Nina!

— Certo, mas eu avisei.

O rock nacional dá lugar ao forró e odeio esse ritmo com todas as minhas forças. Felizmente, com álcool na cabeça, tudo é lindo. Nesse caso, atrelo-me a Espírito, ali na calçada mesmo, e começamos a dançar como boa parte dos casais. Massacro seus pés e ele apenas ri, como se estivesse blindado. Para a sorte do meu amigo, não estou de salto.

Três músicas depois e estamos suados, cansados e rindo sem controle. Um tanto cambaleantes, voltamos à mesa, pedindo agora uma rodada de caipirinhas com pinga.

— Droga, Nina. – Espírito baixa a cabeça e franze os lábios. – Não olhe para trás.

— O que foi? – exalto-me.

— Prometa não olhar.

— É ela, não é? – fecho os olhos, maldizendo minha sorte.

— Merda, ela me viu. – Espírito começa a narrar a aproximação. – Está vindo para cá e prepare-se porque ela não está sozinha.

— Que saco! Ela não estava num congresso?

— Congressos não duram a vida toda, Nina. – Espírito se levanta, alegremente. – Ei, Clarinha! Como está, menina?

— E aí, meu amigo? Tudo bem com você?

Minha garganta se fecha e viro o restante da caipirinha numa golada só. Meus ossos estão congelados e minhas extremidades esquentam de nervoso. Tem algo dentro do meu estômago, se remexendo. Não são borboletas, está mais para um bando de morcegos vampiros.

Não sei se ela havia me visto, mas agora que seus olhos esverdeados estão sobre mim, noto certo desconforto. Não me mexo, nem penso em levantar daqui. Do jeito que estou, é bem capaz que eu caia de cara no chão. Divertido, não?

Cumprimento Clara com um aceno de cabeça e ela faz o mesmo. Então, desvio o olhar para aquela baranga agarrada ao braço dela. E não é que a cirurgia plástica ficou excelente? Como assim a filha da mãe ficou mais bonita? Eu me odeio!

Samantha está alta, usando saltos impossíveis para Paraty. Seus anos de balé lhe conferem aquela postura ereta, clássica, digna das divas. Os cabelos estão hiper compridos, castanhos e ondulados nas pontas. Os olhos cor de mel se fixam na minha pessoa e estou morrendo de vontade de falar um tremendo palavrão.

— Como vai, Marina? Há quanto tempo, não? – a voz dela perfura os meus tímpanos.

— Como está, Samantha? – entro no jogo e lanço meu melhor sorriso falso.

— Soube que veio para ficar, é verdade?

— Tudo é possível. – tento cortar o papo, mas ela continua:

— Nesse caso, mandarei um convite para a pousada. – ela checa as unhas cor de fogo e estreita os olhos na minha direção. – Clarinha e eu nos casaremos dentro de algumas semanas e adoraríamos a sua presença.

Puta que pariu!

E não é que a provocação da biscate funciona? O chão acaba de sumir debaixo dos meus pés. Meus olhos correm para Espírito e noto que meu amigo está tão abismado quanto eu. Clara limpa a garganta e o momento tenso se desfaz, como que por encanto.

— Se eu ainda estiver por aqui, será um prazer. – forço-me a responder.

— Ótimo! – ela se agarra mais firme ao braço de Clara, desferindo-lhe um selinho no canto dos lábios. – Vamos, querida?

Um tanto embaraçada, Clara alisa os cabelos  para trás, de maneira nervosa. Seus olhos se atiram dentro dos meus por poucos segundos e é o que basta para me deixar em chamas. A mimada cutuca sua barriga e ela parece acordar de um sonho particular, apressando-se em se despedir:

— Nos vemos por aí, até mais.

 


Notas Finais


Um bom fim de semana a todas...
Bjos
Fuuuiiiiiiii


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